PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE LXXXII: “OS TROVADORES E A IMENSIDÃO DÚBIA” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 29/03/2018 | História

Data: 22.10.98, horário: 10:50 horas,  “Reino Obtuso”:

Encontrei o Edson Fornerolli na recepção da Delegacia-Geral da Policia Civil:

  • Ôpa, como é que vai? (Felipe)
  • Olha não muito bem!
  • Como assim?
  • Você imagina um Delegado preso e revistado por um policial militar e depois que me identifiquei e que estava armado em serviço o PM disse:            “Delegado o quê? Você vai ser revistado e está acabado, não tem nada que andar armado!”
  • Mas onde é que foi isso?
  • Lá em Itajaí.
  • Tu estais lá?
  • Sim. Estou no Segundo DP.

(...)

  • E quem são os Delegados que estão lá?
  • Está o Rui e a Honorata.
  • Quem é o Regional?
  • É o Renato Ribas.
  • Ele ainda está lá é?
  • São vinte, vinte e cinco anos...
  • E como é que o pessoal viu essas reformas que vieram com a lei complementar cinquenta e cinco de noventa e dois, aquela que instituiu o sistema de entrâncias? (Felipe)
  • Olha seria muito bom se fosse cumprido, não cumprem! Eu e  o Peixoto somos quarta entrância e estamos lotados lá, agora eu estava na Regional e me tiraram para colocar uma substituta, onde já se viu uma coisas dessas, então eles não cumprem a lei, colocam quem eles querem.
  • Pois é, mas a legislação está aí para ser cumprida, não é?
  • Mas os policiais não estão lotados na Delegacia Regional, exceto o Delegado Regional.
  • Não. Na Regional não deve haver lotação.
  • Não. Tem que haver sim.
  • Bom. Realmente tem que haver Edson, tens razão.
  • Mas o que nós temos que acabar é como esse negócio de colocar substituto em Regional se a comarca é de quarta que o Delegado Regional seja também de Quarta, se é de terceira entrância que o Delegado Regional seja de terceira, não é?
  • Você tem razão Edson, é uma questão de hierarquia, isso é uma vergonha, colocar Substitutos como Delegados Regionais para comandar Delegados de quarta entrância, a gente sabe que a legislação tem que ser aperfeiçoada.
  • Não é uma vergonha para nós isso que estão fazendo?
  • É, e nesse governo a Secretaria de Segurança está toda nas mãos de Delegados que deveriam exigir o cumprimento da legislação, você sabe que o objetivo foi acabar com a possibilidade de que qualquer vereador ou outro político possa perseguir nossos Delegados. E, nesse sentido o exemplo deveria vir de casa, se nossa cúpula não cumpre as leis que garantem nossas prerrogativas o que se dirá dos próximos administradores?
  • E você vê o que estão fazendo comigo,  nesse caso lá em Itajaí, olha só os jornais, a situação em que eu fiquei e para meu azar estava sozinho e a Polícia Civil não tem efetivo, estão mobilizados para a Oktoberfest, enquanto a PM tem trezentos homens a Polícia Civil não tem gente nem para atender uma ocorrência.
  • Mas Edson eu quero crer que a Secretaria de Segurança imediatamente acionou o Governo e que a Delegacia-Geral já tomou todas as providências. A Delegacia Regional, a Adpesc,  todos esses órgãos já estão mobilizados, é um caso de extrema gravidade, não é?
  • O quê? Até agora ninguém fez nada, estão é rindo de mim lá em Itajaí, é verdade, estão é gozando da minha cara.
  • Espera aí, então tu não vais dizer que fosses abandonado numa situação dessas? Eu chego a ficar arrepiado só de ver a situação indigna por que passastes, como é que pode tu me dizer uma coisa dessas?
  • Sim senhor, vou agora ali em cima falar com o Diretor  para ver se eles ainda fazem alguma coisa porque até agora não fizeram nada, eu não sei se não gostam de mim, o que eu fiz? Mas não é o Edson Fornerolli, é um Delegado.
  • Sim, trata-se de um Delegado e se numa hora dessas não houver solidariedade, então a coisa fica difícil.
  • É verdade.
  • Edson soubestes o que fizeram com o Alcino?
  • Pois é.
  • Será que o rapaz merecia isso? Ele tinha vinte oito anos de serviço, não era melhor arranjar uma aposentadoria para ele? Já que ele deve está perturbado mentalmente há muito tempo...
  • Ah sim, desde a época que ele era meu Escrivão ele já tinha sérios problemas, era louco!
  • Então, até você Edson com anos de Polícia acaba ficando também com sérios problemas mentais, é tanta injustiça, perseguições e temos que lidar com coisa ruim nas Delegacias,  sem contar os problemas que aparecem todo dia, bom, não vê o que aconteceu contigo agora?
  • Sim, olha o meu estado, estou indignado.
  • Mais é isso Edson, se precisar de alguma orientação estou por aqui, um abraço!
  • Outro.

Fui compulsar os fatos, verificando a reportagem policial publicada no Jornal de Santa Catarina:

Dupla de PMs acusada por agredir delegado

Polícia Civil afirma que militares tiraram sua arma mesmo após exibir identificação

Balneário Camboriú – O capitão Humberto Garcia, tem 10 dias contados a partir de Segunda-feira, para concluir a sindicância interna que investiga a agressão do delegado titular da 2a Delegacia de Itajaí, Edson Fornerolli, que teria sido agredido, na noite de Quinta-feira, por dois  policiais militares que estavam em serviço. Segundo o major Euclides José da Silva, comandante da 2a companhia do 1° Batalhão de Polícia Militar, como há duas versões para a ocorrência, foi determinada a instauração da sindicância... Em depoimento à polícia, Fornerolli contou que estava  em casa descansando, quando escutou gritos de socorro. Foi à janela e verificou que a vizinha da casa ao lado estava sendo agredida. O delegado foi até a residência e apartou a briga. Quando os policiais militares chegaram, retiraram a arma do delegado, mesmo depois dele ter se identificado. Conforme major Euclides, a versão do delegado não corresponde à dos policiais militares. Eles contaram que ao chegarem no local da ocorrência, encontraram  um homem armado que não foi identificado. A primeira providência foi desarmá-lo – o delegado, que segundo os PMs até então não havia se identificado. Em seguida – conforme os PMs – o delegado teria mostrado a carteira, mas guardou logo em seguida, quando o sargento que comandava a operação tentou confirmar as informações da documentação. O delegado registrou queixa por agressão e invasão de domicílio, que agora está sendo investigada pela Polícia Civil de Balneário Camboriú.’

(Jornal de Santa Catarina, Sábado, 17.10.98, pág. 3)

Horário: 12:30 horas, “Nossos Deputados”:

Almoçando no restaurante DOLL, na Lagoa da Conceição assisti na televisão o programa: “Nossos Deputados e o personagem que estava apresentado era o Deputado ‘Heitor Sché’”. Fiquei curioso para ouvir, porém, acabei não conseguindo.porque o aparelho estava sem volume e acabei me arrependendo de não estar em casa naquele horário para poder gravar o programa.

Horário: 17:00 horas:

Ao chegar na Delegacia-Geral, encontrei Walter, Zulmar (servidor que trabalha na máquina copiadora) e mais o porteiro da tarde conversando e assistindo televisão. Cumprimentei a todos:

  • Boa tarde! (Felipe)
  • Viste o que o Heitor disse na televisão hoje? (Walter)

E lembrei que a pergunta só poderia estar relacionada àquele programa no  horário do almoço. Diante desse comentário resolvi me demorar um pouco para me inteirar melhor sobre os fatos:

  • E o que foi que ele disse? (Felipe)
  • Ele falou que Santa Catarina tem um das melhores polícias do país, no entanto, nos últimos tempos só tem entrado em decadência. (Walter)
  • Ah é! (Felipe)

E continuei minha trajetória até a “sala de reuniões” deixando para trás os risos daquele pessoal.  Evidente que aquela ponderação do Heitor Sché tinha um cunho bastante político, justamente ele que estava retornando à cena política, pleiteando a Pasta da Segurança Pública,  não poderia dizer outra coisa.

Horário: 17:20 horas, “A Questão dos Julius”:

Ao descer ao andar térreo para tomar um café e dar uma sondada no ambiente encontrei o servidor administrativo do protocolo Alexandro, cujo pai trabalha na Assembleia Legislativa, que me dirigiu uma pergunta:

  • Já sabe quem vai ser o Secretário? (Alexandro)
  • Olha por enquanto não se sabe nada, tem tantos nomes.
  • Será que vai ser o Heitor?
  • É um nome respeitável, afinal de contas ele tem méritos políticos, fez quase trinta mil votos.
  • Mas eu acho que o Heitor não vai ser não, não acha?
  • É difícil uma previsão ainda, talvez daqui alguns dias quem sabe?
  • O Júlio Garcia disse lá na Assembleia que o Secretário vai ser o Júlio Teixeira.
  • O quê?
  • É, eu não sei se tu sabes, o meu pai trabalha lá na Assembleia e é amigo do Júlio Garcia. Ele  disse isso para o meu pai.
  • Quando que o Júlio Garcia disse isso para o teu pai?
  • Esta semana ainda.
  • É, o Júlio Teixeira também é outro nome muito forte.

(...)”.

“Desafios para Heitor”:

Em seguida, já na salinha apertada do Osnelito:

  • Osnelito, tens o Diário Catarinense de hoje aí contigo?
  • Eu tinha, era emprestado e já devolvi.
  • Deixa!
  • Mas eu vi foi a entrevista hoje do Heitor.
  • E o que ele disse?
  • Ah, sim, ele disse que a prioridade dele vai ser a Segurança Pública, eu não sabia, é a quarta legislatura dele.
  • Sim, é a quarta.
  • Eu que pensei que ele só tinha duas, mas ele falou que na Assembleia vai dar prioridade para os assuntos de interesse da Segurança Pública, vai atender o pessoal tanto da Polícia Civil como da Militar.
  • Que bom!

Na sequência, subi as escadas em direção ao meu lugar cativo, pensando no grande desafio de Heitor quer seja na Assembleia Legislativa quer à frente da Pasta da Segurança Pública. Ele teria que priorizar um projeto que pudesse marcar definitivamente sua trajetória como Delegado e político, um projeto que revolucionasse o modelo de polícia... estava devendo isso.  E, pensei: “Talvez esteja aí o mapa para uma futura candidatura ao Senado em 2002, quando haverá duas vagas”.

 E não pude deixar de pensar no nosso “Plano”, todos juntos na mesma direção, o problema é se Heitor Sché teria capacidade de pensar grande, conseguiria se despir do orgulho, das vaidades, dos egos...? E, Júlio com uma votação expressiva  poderia pleitear a Câmara Federal em 2002?  Era bom de mais para ser verdade, se bem que aquilo tudo poderia ir de encontro a nossa proposta maior de suprimir a política da Polícia e esse seria outro desafio de Heitor Sché. Ele estaria preparado para aceitar mais esse desafio? Será que sem a política na polícia ficaríamos  mais vulneráveis já que a as polícias não possuíam garantias constitucionais, prerrogativas...?

Horário: 17:45 horas, “Amin na Rádio CBN-Diário”:

  • Boa tarde Governador, já que posso assim chamá-lo!
  • Estou aqui no Rio Grande do Sul com o meu companheiro Germano que integra a chapa do candidato do PMDB  Antonio Brito...(Amin)
  • ... Depois das eleições do segundo turno será que não vai haver um racha no partido...?
  • Não! Vamos estar unidos para vencer a crise...

(...)”.