PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE LXXIX: “A TURMA DO ‘BARRALHO’” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 28/03/2018 | História

Data: 21.10.98, horário: 17:25 horas, “O Padrinho”:

Liguei para Jorge Xavier:

  • Alô!
  • Alô, Leninha?
  • Sim.
  • O Jorge está aí?
  • Sim, um momento que eu vou chamá-lo.

Enquanto aguardo, Leninha conversava comigo:

  • Soubeste mais alguma coisa lá do Júlio?
  • Não. Por enquanto nada.
  • E o Kleinubing, está mal.
  • É verdade, está mais para lá do que para cá.
  • Ele é o padrinho do Júlio, né?
  • É, também.
  • Mas tu Felipe, vê ele bem que poderia deixar para ficar doente depois.
  • Tu, heim, vira essa boca para lá.
  • Mas não é verdade?
  • Que figuraço que tu és Leninha.

E Jorge Xavier entrou na linha:

  • Alô!
  • Oi Jorge.
  • O Backes me telefonou, falou comigo sobre a reunião. Eu disse que tu já tinhas me avisado, estais aonde agora?
  • Estou aqui na Delegacia-Geral, na sala do Osnelito, escuta tu vais sair depois?
  • Não. Eu nem fui para o escritório agora à tarde, estou envolvido com esgoto aqui em casa,  é direto.
  • Ê, mas eu estava pensando em dar uma passada aí para a gente conversar.
  • Pois é eu estou envolvido com o esgoto, não tem água,  nada, tu falaste com o Júlio?
  • Não, espero falar até chegar aí.
  • Ah sim, então é conversa comprida.
  • Eu passo depois aí Jorge, está bom?
  • Sim. Eu aguardo. Um abraço.
  • Outro.

Horário: 18:30 horas, “O Fator Macagnam”:

Depois liguei par Julio Teixeira:

  • Alô!
  • Júlio?
  • Sim.
  • Júlio é o Felipe.
  • Fala Felipe...
  • E daí, alguma novidade?
  • Não. Eu estou envolvido direto nesse negócio da doença do Kleinubing, não tem nada por enquanto, tenho estado com a família dele.
  • É, a situação dele é quase que irreversível.
  • É, Felipe temos que aguardar, por enquanto ainda nada, e depois o Amin anda viajando, já viste.
  • Mas o Braga esteve falando comigo ontem e tu sabes que ele tem contato direto com o pessoal do Heitor. Ele me disse que o nome do Macagnam que é Deputado está querendo o cargo de Secretário de Segurança. Júlio é esse aquele nome que tu tinhas dito que estava sendo trabalhado?
  • Sim. É ele mesmo, mas como é que isso já está na rua. Foi o Jorge  Bornhausen que colocou o nome dele para ser trabalhado para o cargo, eu não sei como é que o nome dele veio ao conhecimento do pessoal.
  • Olha Júlio se o Braga sabe é porque não é mais segredo, a coisa já é do conhecimento público.
  • É, mas não deveria ser. Esse foi o nome que o Jorge estava trabalhando.

(...)

“Por Netuno”:

  • Mas pelo que estou vendo o próprio pessoal do Heitor já está mais com os pés no chão (Felipe)
  • Sim, eles já botaram as barbas de molho.
  • Já viram que a coisa é mais embaixo, que não é fácil.
  • Felipe eles já caíram na real.
  • Pois é Júlio,  mas nós estamos participando das reuniões lá com o Backes, o Wanderley está lá, tá firmão, também está o Rachadel. Escuta ele está do nosso lado?
  • Sim, o Rachadel está do nosso lado, ele é nosso.

(...)

“Dois festeiros”:

  • Ah bom, eu fico mais tranquilo.. Júlio eu vou aproveitar, amanhã tu estais de aniversário,  então eu já vou aproveitar para te parabenizar.
  • É, mas tu estais também.
  • É,  mas no ano passado tu me surpreendestes, e telefonasse no dia me parabenizando, lembra?
  • É, mas desta vez foste tu que me surpreendesses.
  • Tá bom, que seja bom para nós dois então,  um forte abraço!

(...)

“Sexta-feira”:

  • Felipe eu até sexta-feira devo ter uma decisão, mas não vou te falar agora por este telefone.
  • Eu entendo, fica à vontade, tens o meu número do celular.
  • Sim, podes ficar tranquilo que eu te telefono.
  • Olha Júlio deixa que eu te telefono sexta ou sábado à noite,  eu não gosto de ficar ligando, mas tu sabes a gente tem responsabilidade com o nosso pessoal.
  • Eu sei Felipe,  me telefona,  fica tranquilo,  telefona aqui para casa, não tem problema,  você é o meu interlocutor.
  • Então tá, eu ligo sim. Um abraço Júlio.
  • Um abraço Felipe.

Horário: 22:00 horas, “Deputado Macagnam”;

Telefonei inicialmente para Krieger a fim de colocá-lo a par dos últimos acontecimentos, infelizmente aquela sua secretária eletrônica era um problema, caia na caixa postal e nada de retorno.

Depois tentei conversar com Garcez, e o telefone sempre ocupado.

Então não tive dúvidas, resolvi ligar para Jorge Xavier já que desisti de ir até a sua casa por causa do seu problema doméstico. E, quando voltei da minha caminhada da noite, fui avisado que o homem do “Ó Ká” já tinha telefonado. Retornei a ligação:

  • Alô!
  • Leninha já estais dormindo? O Jorge está por aí?
  • Estava deitada, pera aí que eu vou chamá-lo.

Depois de alguns instantes:

  • Alô!
  • Ôba!
  • Falastes com o Júlio?
  • Sim, conversei com ele agora à noite,  pensei que teria alguma novidade, mas não deu nada, e nem deu para ir na tua casa, surgiu um problema de última hora.
  • Certo.
  • Mas eu conversando ontem com o Braga ele me disse que o deputado que estaria sendo sondado para ser o Secretário de Segurança é o Macagnam, mais isso o Braga falou  confidencialmente.
  • Macagnam? O Júlio, Heitor, políticos, tá bom, foi preterido, ora, olha se acontecer uma coisa dessas aí eu vou te dizer, eu não vejo nenhum sentido nisso que tu me dissesse.
  • É, mas o Júlio confirmou. Ele me disse que o Jorge Bornhausen está trabalhando o nome dele e que ele tem interesse nesse cargo.
  • O que adianta aquele nosso corre-corre, aquela busca de espaço, o que será que já fez uma pessoa fora do circuito? Da licença...
  • Olha Jorge, eu não sei, mas a situação do Júlio é muito difícil, a não ser que ele tenha uma carta na marga e a gente nem saiba. Ele disse que sexta feira pode ter uma notícia para mim, mas que não pode passar por telefone.
  • É, talvez, vamos ver.
  • Mas Jorge aquela nossa reunião ficou também para sexta-feira.
  • Onde é que vai ser mesmo?
  • No mesmo lugar de sempre.

Enquanto isso ouviu tocar a outra linha e Jorge Xavier interrompeu a nossa ligação:

(...)

Em seguida retornou:

  • Felipe, não aconteceu nada.
  • Eu estive hoje lá na Adpesc conversando com o Mário, com o “Pedrão”.

Fiz um relato sucinto do que sucedeu na Associação dos Delegados.

“Turma do Barulho”:

  • Mas acho Jorge que o “Pedrão” trocou o teu nome, queria te chamar de Jorge Cesar Bornhausem,  disse que tu desses um soco na mesa lá na reunião com o Backes e falastes que tinha que ser eu, o Braga e o Wanderlei para compor aquela comissão.
  • Eu já conheço o estilo.
  • São realmente uma turma do barulho.
  • Será que eles interpretaram só porque eu falei que vocês eram finais de carreira?
  • Olha, tá aí, eu nem tinha pensado nisso, acho que o “Pedrão” já tá meio esclerosado e quando o “Sell” relatou para ele os acontecimentos deve ter entendido que estava impondo o meu nome para Delegado-Geral.  Isso ocorreu porque o Sell te contrariou dizendo que para ele não interessava se era ativo, inativo, final de carreira e, afinal,  o que ele quis dizer com isso? Acho que tu tens razão, trocou tudo, interpretou que se tratava de uma disputa pela Delegacia-Geral e chegou a trocar o teu nome, brincadeira.
  • Só pode ser, para ele ter dito isso.
  • É, nessa reunião da sexta-feira é bom que você vá também, era para ir só nos três, mas o Braga disse hoje de manhã que vai o Rachadel, o Sell... Acho a essa altura do campeonato nós não temos que correr, não temos nada a temer, muito pelo contrário.
  • O ideal seria ir só os três.
  • É o que eu também acho, mas diante das circunstâncias.
  • Somos seis e se for mais o “Pedrão” estaremos em sete.
  • É,  como eu te disse, o Júlio sexta-feira deve ter algo importante para me dizer, mas com essa doença do Kleinubing...

Jorge pediu licença e para ir atender a porta...

(...)

“Estado Crítico”:

  • Oi, eu fui abrir a porta, então a nossa reunião passa para a terça-feira da semana que vem?
  • É sim, mas voltando ao Kleinubing eu acho que considerando o seu estado de saúde a última palavra vai acabar sendo mesmo do Jorge Bornhausen e do ou do próprio Amin.
  • O Kleinubing está quase morto, coitado, ele era o trunfo do Júlio, agora a gente fica na dúvida se ele vaí ser ou não, se foi convidado?
  • É, eu que pensei que teria alguma novidade, mas tu me lembraste a piada que o Marcelo Fernandes contou ontem na CBN: “o cidadão estava sendo procurado por muitas pessoas que diziam que ele havia sido convidado para ser Secretário de Estado, no entanto, não havia nada de oficial, mas de tanto encherem a paciência ele resolveu ir direto ao Governador e perguntou: ‘Governador todo mundo comenta que eu fui convidado,  eu posso confirmar isso? E o Governador respondeu, sim você pode confirmar, porém, diga a eles que não aceitastes o cargo...’”.
  • Dá licença, né Felipe. Olha, o Heitor tem a Assembleia e não pode é o Júlio ficar chupando dedo nesta altura do campeonato.
  • Olha Jorge, eu acho muito difícil alguma coisa para o Júlio nessas circunstâncias, não que seja impossível.
  • Mas nem que o Júlio vá como adjunto na Secretaria de Segurança.
  • Nem tinha pensado nisso, talvez seria uma.

(...)

“E no Reino do Tucanato”:

  • Soubeste que vão pegar um do PSDB para ser presidente da Assembleia?
  • Sim, é o Jorginho Mello,  parece que dois anos ele fica e depois entra outro.
  • É, o problema disso tudo foi que não colocaram ninguém do PSDB na majoritária, poderiam ter colocado o Kuster como suplente ao Senado, aí sim teriam tudo, enfim, não seriam tantos compromissos com o PSDB, que coisa estranha isso.
  • É, mas o Kuster é cotado para Secretário de Estado.

(...)

“Visões Backianas”: 

  • E tu vistes o Gilson, foi lançado para a Fazenda, mas tem outro lá, o “Vieirão”, ele está com a Angela na Prefeitura, é um técnico. Mas o Gilson é político, é bom de articulação, o Gilmar andou falando bem dele. Mas na Fazenda tem que ser um técnico e agora querem pegar o Macagnam para a Segurança, tem cada coisa.
  • São cargos políticos né Jorge.
  • Só falta acabarmos todos nós morrendo abraçados, depois de tanto nadar, não o Backes, é claro.
  • Ah, sim.
  • Ele tem a Polícia Militar, falando nisso ele me disse que seria desnecessário mandar um ofício para o Celestino, eu já acho que sim.
  • Eu acho que não, depois nós vamos ter acesso, o que tem que ser solicitado para o Celestino são os documentos que eles colocaram a nossa disposição, se é que vão colocar, mas não estar pedindo neste momento eles acabam ficando antenados.

(...)

“Boa noite?”

  • E o nosso salário como fica, tu sabes, heim?
  • Uma calamidade.
  • Tem duas hipóteses, numa delas eles pagam setembro em novembro, outubro em dezembro e ficam devendo o resto. O Gilmar estava me dizendo que eles estão tentando aprovar a prorrogação do recolhimento dos impostos.
  • É, isso é o mais provável.. Mas então tá Jorge, eu não sabia que você já estava nesse embalo,  quase dormindo.
  • Tá tudo bem.
  • Então tá Jorge..
  • Esta certo. Boa noite!