PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE LXVIII: “A BOLA DA VEZ E O FATOR CELESTINO ROQUE SECCO?” (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 27/03/2018 | HistóriaPROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE LXVIII: “O FATOR CELESTINO ROQUE SECCO” (Felipe Genovez)
Data: 18.10.98, horário: 10:00 horas, “Laila Comigo”:
No meio daquela manhã resolvi ligar para a residência do Delegado Garcez:
- Alô! (Garcez)
- Alô!
- É da residência do Doutor Ruben Garcez?
- Sim. Quem quer falar com ele?
- É Felipe.
- Um momento que eu vou chamá-lo.
- Escuta ele está descansando?
- Está. Mas não tem problema que eu vou chamá-lo.
- Olha, deixa que eu telefono mais tarde...
- Não. Eu vou chamá-lo!
- Então tá!
Depois de alguns instantes:
- Alô, Felipe.
- E daí, estava descansando é, te tirei da cama?
- É realmente, a Laila foi numa festa ontem e nós estipulamos horário para ela voltar, e ela não cumpriu, aí eu tive que ir atrás dela, sabes como é adolescente, tens uma filha. Ah! é mesmo, a Camila.
- A Camila não mora comigo.
- Pois é, ela não mora contigo e já está grande, quantos anos ela tem?
- Ela está com dezenove anos.
- A Laila tem só quinze anos, mas sabes como é, acabei indo dormir às duas e meia da manhã, ficamos preocupados, os outros pais não estipularam horário para os filhos voltarem para casa e ela quis dizer isso. Eu disse que não tem não, ela tem que voltar no horário e depois sabes como é, arranjou um namoradinho.
- É, a Laila é muito bonita.
- O rapaz é daqui, é provinciano, melhor, a gente conhece todo mundo, agora se fosse de Florianópolis onde não se conhece ninguém, hum!
- É verdade.
- Mais e daí?
- Mas Garcez, anteontem o Backes me telefonou por volta de dezoito horas solicitando a nossa presença numa reunião amanhã de manhã, às dez horas, lá no Edifício Dona Angelina. Eu disse a ele que iria conversar com o nosso grupo para que todos fossem. Eu não sei se tu sabes que o Celestino Secco foi designado pelo Amin como interlocutor da transição de governo?
- Ah eu sei, estou acompanhando pelos jornais.
- Mas, já antes disso, eu e o Jorge tínhamos conversado com ele acerca desse assunto. Ele já havia solicitado que nós iniciássemos esse trabalho e eu disse a Backes que não poderíamos fazer isso sem uma credencial, mesmo porque no que diz respeito a Polícia Militar ele é unanimidade, enquanto isso, na Segurança Pública estamos com diversos grupos disputando espaços, projetos.
- Sim, eu também acho, o Backes é unanimidade na Polícia Militar, agora que certeza nós teremos de que seremos aproveitados depois, a nossa situação está bastante indefinida, não achas?.
- Depois Garcez, imagina chegar para a Secretária de Segurança, Delegado-Geral solicitando informações, sem um credenciamento? E, depois ficamos de fora do governo, que papel vamos fazer?
- É isso mesmo, e correndo o risco de sofrermos mais tarde represálias dos próprios companheiros, imagina se encontrarmos alguma irregularidade e depois como é que fica? Que segurança a gente vai ter? Acho que realmente fizeste bem.
- De mais a mais Garcez, na segunda-feira, suponhamos que estará lá também o pessoal dos outros grupos e nós acabamos sendo os escolhidos para ir atrás de informações, enquanto o “Pedrão”, o “Sell” e outros vão ficar só assistindo, nós carregando o piano e o Backes sai por cima apresentando os resultados?
- Sim, para depois ainda eles virem a criticar o que fizemos? Quer dizer, a gente se expõe e eles no final ainda saem por cima, escuta Felipe, tu já falaste com o Júlio sobre isso?
- Não. Ainda não, mas pretendo conversar com ele, até eu iria ligar antes para ele, mas não deu.
- Eu achava importante tu fazeres isso.
- Está certo, e depois te dou um retorno, talvez, ainda hoje até à noite.
- Eu espero.
- Mas tu não te esqueces da reunião amanhã.
- Fica tranquilo.
- Outra coisa, soubestes mais alguma coisa do Júlio?
- Não, só um dia depois que nós conversamos que eu vi no jornal que o Nelson Serpa iria participar da transição pelo PPB.
- Não, pelo PFL?
- Sim, é isso, aí tinha uma foto com o pessoal, o Júlio aparecia na foto, mas depois não saiu mais nada.
- É, a gente tem que aguardar ainda os acontecimentos, nada está definido, mas eu te ligo se possível até à noite.
- Tá bom, e obrigado por ter telefonado.
- Tchau!
Horário: 12:10 horas, “A Bola da Vez”:
Já havia telefonado por volta de onze horas para casa de Júlio Teixeira. A sua esposa havia dito que ele estaria em casa por volta do meio dia:
- Alô! (Felipe)
- Alô!
- Júlio?
- Sim.
- Júlio, sou eu Felipe. E daí tudo bem?
- Tudo Felipe.
- E daí como é que estão indo as coisas, alguma novidade?
- Não Felipe. Estou aguardando o desenrolar dos acontecimentos, é aquilo que nós conversamos naquele dia.
- Sim, mas por enquanto nada de novo?
- Não. Estamos naquele processo trabalhando para impedir, como tu sabes o Heitor é a bola da vez e o objetivo é evitar a indicação.
- Mas Júlio, o Backes me telefonou anteontem à tarde me convidando para uma reunião lá do grupo de trabalho. A reunião vai ser amanhã de manhã lá no edifício Dona Angelina.
- Aonde é que fica isso?
- Naquele mesmo lugar, lá na Praça Getúlio Vargas.
- Ah, sei!
- Então, a minha preocupação é que como você sabe o Backes vai solicitar que façamos o levantamento de como se encontra a Secretaria de Segurança Pública, só que tem um problema, o Backes é unanimidade na Polícia Militar, agora nós não somos unanimidade na Segurança Pública, temos o Wanderley do outro lado te apoiando, temos o pessoal do Heitor, e isso significa que...
- É, vamos ter um “caralhão” de gente lá, puxa vida!
- Justamente, eu estou te telefonando porque você sabe Júlio que a lealdade é importante e se nós formos lá vai ser para te representar, mas a essa altura do campeonato eu já não sei o que fazer? Lá no almoço você, inclusive, disse que não deveríamos faltar uma reunião, lembra?
- Felipe, eu acho que vocês têm que estar lá, inclusive, o Wanderley deve ir e ele é outra pessoa aliada, temos que estar bem com ele.
- Eu sei e entendo a importância dele nesse processo.
- Além disso, ele tem um bom relacionamento com o Celestino e até foi bom tu teres ligado porque eu vou ver se ligo antes para o Celestino.
- Mas Júlio, você estava falando antes que o Heitor é a bola da vez, quisesse dizer que o Heitor é a pessoa que tem a preferência para ser o Secretário de Segurança?
- Sim, e nosso trabalho é impedir isso, trabalhar numa outra direção.
- Pois é, mas essa terceira via a que você se refere vai levar ao nome do João Rosa, é isso?
- Não, não! Ele também bate de frente com o Heitor. Nós estamos trabalhando num outro nome.
- Certo. Mas o que o Kleinubing e o Jorge acham disso tudo? Veja bem Júlio, é certo que o Heitor tem seus méritos para ser nomeado Secretário de Segurança, mas de outra parte você tem uma história e isso também te credencia.
- As coisas estão andando muito bem no sentido de impedir o processo, você vê que antes o Heitor dizia que seria o Secretário e agora já não diz mais, isso significa que o trabalho dele gorou, ou melhor, vigorou, vigorou!. Tu não vê mais ele dizendo por aí isso, as coisas estão indo bem e até terça-feira eu devo ter uma decisão, vou te telefonar para te dizer como é que vai ficar, por enquanto não dá para falar muito, tem que se ter cautela.
- Júlio, não te preocupes que eu entendo isso, podes ficar tranquilo, diga aquilo que você acha que seja possível a gente saber...
- Não é isso!
- Não te preocupes, é isso mesmo, é preciso que você se resguarde nesse processo, para não haver muito desgaste, tu sabes muito bem que esse momento é decisivo e existe muita contrainformação. Tudo parece que está num marasmo, mas nós sabemos que na verdade as coisas estão muito quentes nos bastidores. É agora que vai se definir os próximos quatro anos e nesse sentido isso significa que se o Heitor assumir a Secretaria você vai ser alijado de todo o processo porque os projetos de vocês não batem, são antagônicos.
- Ah, sim, é verdade, mas foi bom tu telefonares porque eu vou conversar com o Celestino e vocês amanhã vocês vão lá.
- Mas Júlio, mais uma vez quero te dizer que estou nisso pelo nosso projeto. Meu interesse está centrado nisso, numa possibilidade de contribuirmos para o futuro de nossa instituição, agora se o nosso projeto ficar inviabilizado eu sou um que estou fora, não vou ficar disputando cargos para ganhar mais setecentos reais no meu salário.
- Eu sei Felipe, eu sei disso tudo.
- Bom, tu me desculpas ter telefonado aí para tua casa a essa hora, mais achei que era importante.
- Está bom meu irmão, valeu!
- Então tá Júlio.
- Depois tu me dá um retorno da reunião?
- Fica tranquilo que eu te dou um retorno. Um abraço.
- Outro.
Tão logo encerramos nossa conversa fiquei pensando no contato de Julio Teixeira com Celestino Secco e sua importância no futuro governo, especialmente, no processo de transição. Será que estaria do nosso lado? O objetivo desse contato seria prepará-lo para nos prestigiar já que outros estariam por lá desfilando seus corpos e espíritos na busca de holofotes, na defesa de interesses pessoais? E quanto a nós, seríamos as formiguinhas, os protagonistas ou a plateia?