PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE LIX: “'TRAMPAS' E TRAMPOLINS?” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 26/03/2018 | História

Data: 10.10.98, horário: 17:00 horas, “A Plantação”

Depois de ter tentado várias vezes conversar infrutiferamente com Júlio Teixeira no seu celular, resolvi consultar o catálogo telefônico e encontrei o número da sua residência, utilizando esse canal, fiz a ligação na esperança de encontrá-lo em seu apartamento e fui atendido por uma mulher que julguei ser sua esposa (conheci ela quando era bastante jovem).

  • Alô!
  • Alô, é da residência do Júlio Teixeira?
  • Sim.
  • Ele está em casa?
  • Está. Quem deseja falar com ele?
  • É Felipe Genovez, um amigo dele.
  • Um momento.

E ouvi aquela mesma mulher chamando Júlio Teixeira que perguntou para ela quem era (dava a impressão que eram ainda o mesmo casal jovem de antigamente)  e ela respondeu quase que aos gritos que era  o Felipe Genovez, seu amigo. Quase que de imediato:

  • Alô!
  • Oi Júlio, e daí como estão as coisas?
  • Está indo, não tem nada definido, aquela nota que saiu no Diário foi plantada.
  • Tu está falando da nota no Diário Catarinense de domingo que circulou hoje, é isso?
  • Isso. Ela foi plantada!
  • Mas por quem?
  • Aquilo ali foi jornalistas e colaboradores, o pessoal que anda por aí atrás de notícias, certamente encontraram alguma fonte que deu essa informação, mas não tem nada definido ainda.
  • É mesmo?

(...)

“A mão de Kleinubing”:

  • A coisa ainda não tomou corpo, estive ontem conversando com Kleinubing ele estava saindo do hospital, me disse para confiar na palavra dele. Felipe, tá na mão do Kleinubing, no final eu insisti e ele ainda perguntou se eu não confiava na palavra dele,  chegou a esse ponto, tu vê!
  • É, realmente.
  • Depois tem a bancada do PPB que está solidária comigo, o Ivan, Lício o Gilmar que vocês conhecem bem, estão todos dando o maior apoio, o negócio é esperar.
  • Olha Júlio, eu estava conversando com algumas pessoas lá na Delegacia-Geral ainda ontem e até sugeri que houvesse um encontro entre Heitor, você e o João Rosa, sinceramente, eu acho que passou a campanha e o Heitor foi o grande vencedor, mas não se pode desprezar a tua história também. Perguntei onde andava o Heitor em agosto do ano passado? Estava já em campanha, enquanto o Júlio estava envolvido no processo político das Letras, o que durou até dois meses atrás. Também argumentei que houveram retaliações do próprio PMDB, falta de recursos, tudo isso concorreu para esse resultado e agora vão virar as costas para o Júlio? E eles concordaram que você tem méritos, só que acham que deveria se destinada uma Secretaria ou algum órgão, não a Segurança. Eu acho Júlio que passou a campanha e eu sou um que não tem nada contra o Heitor, acho que tem que se virar a página.
  • Eu também não tenho nada contra o Heitor e sei que ele teve vinte e poucos mil votos, isso é muita força.

(...)

“O Aperto de Um Homem e Seu Destino”:

  • Exatamente. Eu acho que o interesse institucional é maior e para isso é preciso união de todos. Eu coloquei todo o teu trabalho nesse processo, fiz questão de enfatizar que te conheço há mais de vinte anos, que você teve um papel fundamental como parlamentar e isso não pode ser esquecido, você poderia ter negociado e não negociou,  tudo em nome de uma consciência.
  • Sim Felipe, veja bem, durante o processo das Letras eu poderia ter negociado a isonomia dos Delegados, a própria Secretaria de Segurança Pública, três milhões que me ofereceram, feito como o Mantelli e negociado os sessenta e oito por cento para os policiais civis que ficaria com o mérito, teria gasto um milhão na campanha que me reelegeria com folga e ainda teria sobrado uns dois milhões, mas aí eu te pergunto onde ficaria a minha honra, a minha família, os meus irmãos médicos lá em Rio do Sul? Jogaria tudo na lama.
  • Júlio, isso que você está me dizendo é importante e tem que ser colocado para as pessoas, no entanto isso não pode ser dito só dentro de um discurso político ou aqui, você sabe que o político está muito desgastado, ninguém acredita ou dá crédito, é preciso que isso seja colocado de uma maneira bem mais ampla.
  • Sim.
  • O que eu quero dizer é que essa tua postura é importante não só dentro de um discurso político, mas multifacetado, ou seja, deve ser avaliado dentro de outros planos, como sociológico, econômico, filosófico, histórico.
  • Exatamente.
  • Então, temos que futuramente estudar uma forma de registrar isso e que não fique só no plano do discurso político.
  • Certo.
  • Bom Júlio, você sabe que eu estou desde o primeiro momento te apoiando por causa do nosso “Plano”, nunca pedi qualquer coisa ou procurei negociar alguma situação pessoal futura para mim e é por isso que eu coloco esse meu posicionamento.
  • É verdade, sei disso, Felipe.
  • Mas tu me desculpa ter telefonado para o teu telefone residencial, é que eu tentei falar no teu celular e não consegui.

“O Esquema Pacheco”:

  • Felipe não tem problema algum, telefona para minha residência, o meu celular eu tenho que evitar, estão grampeando, fazendo contrainformação, fui avisado pelo esquema do Pacheco, não devo nem falar muito para não comprometer, tu sabes a que eu estou me referindo.
  • É o esquema do Pacheco?

“Ipsis litteris”?

  • Sim, eles inclusive me passaram uma informação a respeito de uma conversa por telefone que eu tive com o Kleinubing e fechou “ipsis litteris”.
  • Entendo, mas Júlio eu estou te telefonando porque o Jorge Xavier me ligou hoje de manhã avisando que aquele nosso encontro com o Gilmar, marcado para terça-feira, não vai poder ser realizado à noite, ficou para o meio-dia, tá bom assim pra ti?
  • Ótimo!
  • Isso significa da tua parte que não vai haver problema algum?
  • Sim, tranquilo, ótimo!
  • Porque o Geraldo vai reservar um local para nós, vai ser lá naquele mesmo Candeias da outra vez.
  • Sei, é lá no Candeias novo.
  • Sim e aí você e o Gilmar poderão conversar à vontade, inclusive, vão estar lá o pessoal do nosso grupo, agora eu acho que não vou convidar o Wanderley Redondo, tu sabes né Júlio, somos dois subgrupos te apoiando.
  • Eu sei, eu sei, não tem problema algum, não precisa convidar.
  • Mas se tu achas que a gente deve convidar ele...
  • Não. Não precisa.
  • Então tá, não vai te esquecer, já está confirmado é terça-feira ao meio-dia.
  • Está confirmado.
  • Então até lá.
  • Certo!.

E desliguei o telefone pensando naquele “ipsis litteris”, seria mesmo aquilo verdade ou algum esquema de “informações” funcionando pelos bastidores?, De onde que o Júlio foi me arranjar aquela informação e lembrei da nossa festa no “Ginásio da Cassol”, da minha conversa com o Delegado Krieger e conclui que esse “ipsis litteris” tinha tudo haver com aquela nossa conclusão acerca de Wanderley Redondo que dava a impressão de querer alçar outros voos.

Horário: 18:00 horas, “Pedro para  Ser Perdoado”:

Fui até a residência de meu pai no Bosque das Mansões, em São José, ele que era  Delegado aposentado me disse que na Associação dos Delegados naquela semana que passou o comentário era de que o Júlio Teixeira seria o Secretário de Segurança. Um deles que comentava o assunto era Pedro Fernandes Pereira (Delegado aposentado, aquele a quem Wilder havia ser referido anteriormente que esteve na Penitenciária de Florianópolis na companhia do Delegado Aposentado Ewaldo Villela). O raciocínio desse pessoal era que Júlio não se elegeu e o governo iria chamar só o primeiro suplente, já que o segundo – Júlio Garcia, por estar queimado com o esquema de governo, considerando as suas ligações com Paulo Afonso, ficaria de fora. Nesse esquema político Júlio Teixeira, como tinha ficado mais abaixo, não ficaria de fora do primeiro escalão, sendo convidado para a Pasta da Segurança. Meu pai aproveitou para lembrar seus colegas que havia votado em Heitor Sché, o que teria causado certa surpresa. Mais, ainda, disse que sempre votou em Heitor, todas às vezes que ele foi candidato. Aliás, eu não entendia muito bem esse posicionamento de meu pai, essa sua, digamos, falta de dignidade, porque nunca enquanto tiveram o poder nas mãos lhe deram uma oportunidade, mesmo sendo o Delegado mais antigo em atividade. Registre-se que o Delegado Pedro Benedeck Bardio que foi Chefe de Polícia entre 1983 e 1986 (quando ingressou na carreira meu pai já tinha chegado no último patamar), chegou a tirar meu pai do Subdistrito do Pântano do Sul para colocá-lo no Primeiro Distrito da Capital como adjunto de Valter Brasil Konell, Delegado ainda em início de carreira, com a determinação de que era para ele ser obrigado a trabalhar (isso dito pelo próprio Valter para mim, inclusive, que chegou a ficar sem jeito de ter que dar ordens para um Delegado já com mais idade, final de carreira, e que  achava tudo aquilo uma grande injustiça (nessa época meu pai já tinha quase trinta e oito anos de serviço, mas isso era outra história, mas que não dava para ser esquecida, apenas para Pedro ser Perdoado, porém, jamais esquecido! Mas Heitor Sché não sabia disso? Bom, para consertar essas injustiças somente uma reforma muito grande que pusesse um fim nas ingerências políticas, na polícia política e nos homens que usam a polícia como trampolim para seus projetos pessoais.