PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE CVIII: “FORNALHAS” (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 02/04/2018 | História
Data: 08.11.98, horário: 12:00, “O Conclave”:
Tínhamos acabado de encerrar o “Conclave” sob coordenação do Coronel Backes e seguimos para frente do prédio Dona Angelina. Estava ainda incomodado com a “unhecada” de “Pedrão”, como se a dor estivesse reverberando na minha mente. Também, aproveitei para olhar a palma da minha mão para ver se não havia machucado, mas havia apenas um leve hematoma avermelhado, quase imperceptível. O engraçado era que tudo aquilo aconteceu de maneira sutil, nossas mãos se cruzaram no ar, ainda em suspensão e, por frações de segundos, se tocaram. Foi o bastante. Não teria como contar esse fato porque, ninguém viu e, também, não reclamei porque tudo isso para mim já estava superado e esquecido. Quando me dei conta já estava me juntando a Jorge Xavier e Braga que conversavam:
- Essa para mim foi a melhor reunião até agora, até que enfim conseguimos falar de polícia. (Braga)
- É, falamos de polícia. Mas pô Jorge o que foi aquilo, o “Pedrão” não gosta de ti mesmo, heim? (Felipe)
- Tu não viste? Mas antes de tu chegares eles já estavam mapeando cargos e eu fui discutir com o “Pedrão”, depois tu chegastes. (Jorge)
- Eu estou brincando, não se pode dar muito bola para o que o “Pedrão” diz, ele gosta de provar, é mais brincalhão. (Felipe)
- Brincalhão? Ele quis me alfinetar e eu não aceitei. (Jorge)
- A gente sabe, a gente entende, eu só estava te provocando. (Felipe)
(...)
Na verdade o que eu quis era mostrar que “Pedrão” era da velha guarda e que anteriormente já havia pegado no meu pé e achavam que era só comigo. Só que agora “Pedrão” passou a investir sobre o Jorge Xavier, e tudo fazia parte de um jogo psicológico, como se quisesse minar nossos espaços, nos desacreditar perante Backes. Era visível que a preocupação do pessoal do Heitor agora não era mais comigo porque a minha ascensão era muito relativa, dificilmente poderia ser levada a sério porque não tinha ambições pessoais, diferente de Jorge Xavier.
E, finalmente, Garcez veio a se juntar ao trio:
- Pô Braga, mas tu falas, heim? (Garcez)
- Hoje a reunião para fim foi boa... (Braga)
(...)
“Os Seguranças de Amin”:
E , mais em seguida veio se juntar a nós Wanderlei Redondo... Em razão disso acho que Braga se despediu para retornar à Delegacia-Geral e nós fomos a pé pela Visconde de Ouro Preto, em direção ao centro. Durante o caminho se discutia quem seria o secretário, tendo eu concitado Redondo:
(...)
- Aqueles dois Oficiais que estavam lá estavam fazendo o quê? (Garcez)
- Eles são da segurança do Amin... (Felipe)
- Que segurança do Amin? O Amin não quer saber de seguranças, eles é que forçam a barra..., ele fica driblando a segurança, quando vai jogar dispensa o pessoal, mas não adianta, eles plantam a segurança ali, insistem... (Redondo)
(...)
“Heitor – Senador 2002”:
E, lembrei do que me disse Walter (Guarda-Chuva Velho) a respeito de militares na Prefeitura de Florianópolis durante as gestões do casal Amin. Também, que Redondo fazia trabalho de informações para Amin... Jorge e Garcez questionam sobre o nome do futuro Secretário... e eu observo:
- Olha o Redondo é quem sabe das coisas..., Redondo quem é que vai ser?
- Eu acho que deve ser o Júlio... se não for..., ele deve assumir como adjunto...
- É bem provável... o Heitor como Secretário e o Júlio como adjunto... (Felipe)
- O quê... isso eu não sei... o que o Backes falou ali na reunião...? Vocês ouviram...? Ele disse que seria quem...? Ele falou no nome do Júlio para adjunto..., tu não ouvistes? (Redondo)
- Não. Eu não ouvi..., isso foi dito antes que eu cheguasse... quem sabe ele quis dizer que o Júlio será o Secretário e o Heitor o adjunto...? (Felipe)
- O Heitor não vai ser... é muito difícil o Heitor ser alguma coisa... (Redondo)
- É o mais provável é o Júlio ser o adjunto e indicar o Secretário..., ainda mais agora com o Pedrinho nesse conselho que criaram... (Felipe)
- É verdade..., mas o que estão falando é o Heitor para Senador em 2002...(Redondo)
- Taí uma coisa boa... se isso for verdade... não vê o Tuma lá em São Paulo... (Felipe)
- É..., vai ter duas vagas para senador mesmo... (Redondo)
- Então..., fica uma para o PFL e outro para o PPB... eu só não sei se ele vai ter cacife para ser o indicado..., mas o Júlio vai ter que ajudar se for esse o processo... (Felipe)
(...)
"A Ressureição":
E já na frente da Igreja Universal de Deus, descendo em direção à Praça XV, próximo a entrada da Vidal Ramos... Jorge Xavier lembrou do papel do Delegado Landman na época do Governador Konder Reis:
- ... Nós temos é que ressusitar aquele cargo que o Landman possuia, temos que colocar um Delegado lá como assessor do governador...
- Assim, eu sei... (Redondo)
- Olha aí, Redondo até que tu serias a pessoa certa para esse cargo. (Felipe)
Olhei para Redondo e ele pareceu surpreso, porém disse algo incompreensível e Jorge Xavier voltou à carga:
- ... Estrategicamente é muito importante...
- Jorge você também seria o candidato certo para esse cargo, heim? (Felipe)
- Claro, se eu viesse a ser escolhido, claro que eu aceitaria...
- Então, quem sabe, é uma! (Felipe)
(...)
E na esquina da Praça XV Redondo seguiu à esquerda e nós descemos pela Rua Tenente Silveira. Na esquina como a Rua Deodoro, nesse curto trajeto, relembramos a indicação de Redondo para aquele cargo de assessor especial.e Jorge Xavier voltou a dizer:
- Se eu for convidado claro que eu aceito!
"Era uma Vez um 'Plano' um 'Grupo'":
E já na Deodoro Jorge Xavier se voltou para Garcez e disse:
- Olha Garcez é quase certo que o Felipe na condição de Delegado Especial vai ser aproveitado para algum cargo, mas o teu caso...
- Jorge, espera aí, eu penso em grupo... (Felipe)
- Eu sei, tu não estais entendendo, eu estou dizendo que tu pela tua condição...
- Não, eu já disse que eu penso em grupo, não interessa a minha situação isolada... (Felipe)
- Eu sei disso, antes de começar a reunião lá tu não tinhas chegado e eles estavam mapeando cargos e foi essa a discussão que eu tive com eles porque eu disse que nós inativos, todos nós, estávamos ali porque tínhamos interesse. O Ib quis falar alguma coisa e eu disse: "o que isso Ib, não vai querer me dizer que não, todos nós estamos aqui porque temos interesse, diferente do pessoal que está na atividade, a situação é outra...". (Jorge)
- Tudo bem Jorge, escuta, quando é que nós vamos reunir o nosso grupo novamente? Era bom reunir o pessoal lá no Candeias...
- Eu pedi para marcar a reunião para o dia dezoito, foi proposital, eu vou viajar, depois da viajem a gente conversa... (Jorge)
(...)".
E nos despedimos... os três... cada um com um rumo diferente...
Horário: 17:40 horas, "Virgem Santa!"
Já estava na Delegacia-Geral, recolhido na "sala de reuniões", quando apareceu o Delegado Ademar Rezende, devidamente trajado de traje social, chegando a parecer o mago Merlin, místico, solene, cheio de alquimia nos gestos e palavras, mas esbanjando habilidade e humildade. Logo que se aproximou veio a pergunta::
- Tu tens um estatuto daqueles teu no forninho?
- Sim, tenho!
- Tu poderias me arranjar um, eu tenho um teu, mas...
- Não tem problema Ademar, está assegurado, ainda mais você que sempre me homenageou, só que tem um problema ele está ainda na gráfica...
- Ah, sim.
- Mas tu estais lá na Adpesc?
- Não! Eu estou advogando. Estou com escritório. Estou defendendo os policiais e tu não queres anotar o meu celular?
- Sim. Um momento!
E após anotar o seu número (9617123), Ademar mostrou-se preocupado com a reforma administrativa, afirmando que daqui a algum tempo as corregedorias passariam a ter muito serviço, qualquer coisa eles iriam querer fazer sindicâncias...