PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE CI: “EMPASTELAMENTO À VISTA: UM 'TERCIUS’?” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 01/04/2018 | História

Data: 05.11.98, horário: 23:00 horas:

Estava em minha residência e liguei para Julio Teixeira já tarde da noite:

  • Alô, Júlio?
  • Tudo bem!
  • Júlio?
  • Olá, tudo bem, tudo bem!
  • E daí, surgiu alguma novidade?
  • Do quê?
  • Do Secretário.
  • Não, não, é como eu te falei, a coisa deve ser definida nos próximos dias, ainda não tem nada.
  • Mas eu estava conversando com alguém que é parente de um tal de engenheiro Mauro da Prefeitura e que é muito ligado ao Paulinho Bornhausem e ele disse que o Secretário de Segurança já está definido,  será o Heitor. Depois conversei com o Braga hoje e ele me disse que conversou com o Mário por telefone que teria dito que o Secretário já estaria definido, vai ser o Kurtz. Eu não liguei para o Mário para confirmar essa informação, qual seria a fonte dele
  • Felipe, é muita especulação, o Paulinho não poderia dizer uma coisa dessas.
  • Mas até aí tudo bem, mas o que deixa dúvidas é ele teria dito também que o Diretor do Detran será o Pacheco, aí a coisa deve ser olhada com um certo respeito, não achas?
  • O Pacheco? Eu duvido  que ele tenha composto com o Heitor.
  • Mas foi o próprio João Luiz lá do teu gabinete que disse que o Pacheco tinha feito um esquema com vários candidatos, disse que fez por região,  lembra o que eu te disse?
  • Sim, claro que lembro.

E fiz um relato para o Julio Teixeira acerca da minha candidatura a Deputado Federal em dobradinha com o Coronel Pacheco para estadual em 1986, depois de fazermos um pacto de honra, nós dois unidos, um para ajudar o outro até o final da campanha.  Disse que no primeiro mês na estrada descobri que Pacheco já tinha feito acertos com vários candidatos Deputado Federal e que ele havia também feito um acerto por região, sem me consultar,  o que foi considerado na época um ato de traição quanto ao pactuamos lá no Restaurante Candeias (com ele e com os Coronéis que estavam presentes...).  Relatei mais, que o Coronel Pacheco havia conseguido se eleger em último lugar naquele pleito eleitoral, não tendo ficado na suplência por algumas dezenas de votos, e  que apesar da sua traição (e dos Coronéis) eu continuei mantendo a minha palavra, votei nele e ainda canalizei  mais de mil votos em todo o Estado para ele. Claro que com isso pude fazer campanha na Polícia Militar, visitei residências...

(...)

  • ...Agora Júlio a situação do Amin é muito difícil, pois se ele te coloca como Secretário de Segurança desagrada o Heitor, se coloca o Heitor como é que fica a tua situação, talvez seja por isso que os nomes do Kurtz ou do Napoleão surjam nesse contexto, como uma forma de resolver essa equação política criado por vocês dois usando uma fórmula técnica.
  • Exatamente, esse “tercius” é que tem que ser definido de maneira que venha ao encontro de uma composição.
  • Pois é, mas é justamente aí que vem a nossa preocupação, numa composição como é que vai ficar esse potencial político?
  • Mas é isso que eu estou tentando te dizer, é a partir desse “tercius” que vai se definir a composição.
  • Mas o Heitor está garantido, tem o mandato e como é que fica a tua situação nessa história? O Maurício lá de São Miguel saiu com essa de Heitor Senador 2002, não sei se tu sabes disso?
  • Eu já ouvi isso por aí.
  • Fui eu que te disse?
  • Não, não, foi por aí.
  • Mais se isso fosse sério até que daria para pensar. Eu acho que estaria tudo resolvido, ele poderia ir para a Assembleia, você  poderia ficar na SSP e vamos todos trabalhar no nosso “Plano”. E nesse projeto político, como vai ter duas vagas para o Senado, quem sabe aquele teu sonho se nosso “Plano” vier a vingar?
  • Felipe, eu tenho toda a bancada do PPB, estão me apoiando, o meu nome é consenso.
  • E o Heitor tem algum apoio?
  • Não. Nenhum no PPB. E eu tenho ainda apoio de segmentos fortes dentro do PFL.
  • E o Pedrinho Bittencourt?
  • Esse tá comigo, tranquilo.
  • E o Paulinho Bornhausem?
  • Ele é neutro, mas quem manda é o doutor Jorge e ele está comigo. Depois o Paulinho ainda não tem uma base eleitoral definida, atropelou todo mundo, mas eu me dou bem com ele, mas o que existe é muita especulação, é isso aí!
  • Bom Julio eu me senti na obrigação de te colocar a par dessas informações, assim como já te falei anteriormente acerca do Kurtz e do Napoleão Amarante, como tu sabes não se pode subestimar qualquer informação neste momento crucial.
  • Certo, Felipe, muito obrigado mesmo!
  • Qualquer coisa a gente se fala no correr.
  • Certo. Boa noite!
  • Boa noite!

“Quebra-cabeça”

Fui consultar o jornal “Diário Catarinense” e na página política constavam as avaliações  de Adriana Baldissarelli:

COMEÇA LUTA POR ESPAÇO NO SECRETARIADO DE AMIN

Siglas aliadas já têm nomes que serão sugeridos para integrar 1° escalão do novo governador

‘...Qualquer exercício para desenhar o perfil que terá o novo governo de Santa Catarina a partir de janeiro não vai muito longe de algumas linhas redondas, encimadas por uma careca e partidas por um óculos de lentes grandes e um nariz adunco de descendência libanesa: a cara de Esperidião Amin. Porque não seria desta vez que ele deixaria de imprimir uma marca absolutamente pessoal àquilo que faz. O governador eleito deve anunciar o novo secretariado no dia 17 de dezembro – dia da diplomação dos eleitos pelo Tribunal Regional Eleitoral, na véspera  de sua viagem com a família para os Estados Unidos. Até  lá (e principalmente até 15 de novembro, data que marcou para o início das negociações com os partidos), não parece disposto a facilitar a montagem do quebra-cabeças que dará o rosto de seu colegiado.

‘... Será um secretariado de configurações partidárias, desde que os escolhidos tenham um jeito de vencedores, de figuras arrojadas e criativas e nomes livres do desgaste de administrações anteriores. ‘Posso falar apenas genericamente sobre o novo colegiado que será fruto de uma coligação política. Vou procurar equalizar os critérios de representação partidária e regional com aqueles pessoais, de competência e probidade. Tem uma palavra que será muito importante na definição desses nomes: renovação’, afirma Esperidião, alertando aos que esperavam um repeteco do elenco que figurou em governos anteriores dos partidos que formam a coligação Mais Santa Catarina.

‘O presidente do PPB, Leodegar Tiscoski, ele próprio pertencente à galeria dos cotados à equipe do novo governo, explica que os partidos coligados poderão negociar espaços – a participação deverá ser proporcional ao número de deputados estaduais eleitos, no caso 10 do PPB, nove do PFL, três do PSDB e um do PTB, mas a indicação será de caráter particular e exclusiva do governador...’

Estrutura – A atual estrutura do governo comporta 15 secretarias... o governador eleito afirma que o Estado terá que se adaptar ao ajuste fiscal de FHC, promovendo cortes de 20% entre os cargos comissionados, ele deverá contar com pouco mais de uma dúzia de nomes para o topo da pirâmide administrativa.

Quebra-cabeças:

(...)

Gilmar Knaesel (PPB) – deputado estadual reeleito, pode assumir órgãos do sistema financeiro como Besc ou Badesc.

(...)

Heitor Sché (PFL) – delegado e deputado estadual eleito, cotado para a Secretaria de Segurança Pública.

(...)

Júlio Teixeira (PFL) – deputado que não foi reeleito, também tem possibilidade de assumir um cargo na área de Segurança Pública. Apresentou um projeto para incluir no programa de governo divisão da Secretaria de Segurança em seis macrorregionais.

Francisco Küster (PSDB) – presidente do PSDB, coordenou a campanha do presidente FHC no Estado.

(...)

Coronel Walmor Backes – amigo de confiança do governador eleito, cotadíssimo para o Comando da Polícia Militar.

(Diário Catarinense, 5 de novembro de 1998, pág. 8)

E  na Coluna do Paulo Alceu:

Um mau exemplo no governo

É difícil absorver uma demonstração de desrespeito para com o Estado. O governador Paulo Afonso, enquanto o secretário da Fazenda, Marco Aurélio Dutra, percorre gabinetes em Brasília em busca de recursos para pagar a folha, está na Espanha vendo cursos que pretende fazer quando deixar o governo. Tem esse direito, mas não é o momento adequado de um titular colocar em primeiro plano suas preocupações pessoais. Atitude que confirma a sábia decisão das urnas. A presença do governador em momentos difíceis se faz necessária. Perdeu uma oportunidade de mostrar nobreza através do cargo que conquistou e não soube manter.

Rapidinhas

Quem sabe um dia a segurança seja um direito de todos. Um policial com prisão preventiva decretada vivia de privilégios na 1a DP. Agora está envolvido com a morte de duas jovens. Novo governo e a esperança de uma nova mentalidade na Secretaria de Segurança.

Por unanimidade foi aprovado projeto de lei do deputado Júlio Teixeira que concede o título de Cidadão Benemérito Catarinense ‘Post Mortem’ ao senador Vilson Kleinubing. É a segunda vez que a Assembleia concede esse título. O primeiro foi para o inventor da vacina contra a poliomelite, Albert Sabin.

(Diário Catarinense, 5 de novembro de 1998, pág. 10)