Projeto Leitura em Ação

Por edmls | 01/06/2017 | Educação

Justificativa

Mediante queda do IDEB da Escola Estadual Brasil Tropical, no ano de 2014, constatei que o problema maior estava centrado na leitura dos nossos alunos. Como demonstrar conhecimento se a leitura não for boa?

Propus junto à direção e aos demais professores suspender o conteúdo programático para ensinar os nossos alunos ler. Era necessário tomar aquela atitude para que a escola pudesse dar prosseguimento com as atividades programadas. Se a escola não conseguir ensinar os seus alunos ler, acredito que se definhará ano a ano e os objetivos não serão alcançados. Cagliari, 1993, diz que:

A atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos é a leitura. É muito mais importante saber ler do que saber escrever. O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve está voltado para a leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa. (Alfabetização e linguística, p. 148)

Tomada a decisão foi consenso que não teríamos tempo para ensinar os nossos alunos ler pelas práticas corriqueiras, precisávamos de um acelerado processo de desenvolvimento da leitura.

Para isso criei uma tabela de classificação de níveis de leitura para que o professor pudesse se situar no contexto da leitura do aluno para promover intervenções e avanços. Essa tabela em parte dialoga com a divisão de níveis proposta pela ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização). O aceleramento da habilidade leitora partiria desse ponto do trabalho e culminaria com intervenções pontuais e objetivas para alcançar as metas relativas a cada aluno.

Esse projeto também seria aplicado no ano seguinte, com os mesmos objetivos, na Escola Municipal Valdeci Lima Soares, onde seria possível fazer um detalhamento dos resultados alcançados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Objetivo Geral

 

Ler como elemento fundamental para compreensão e desenvolvimento das atividades executadas no meio escolar.

 

Objetivos Específicos

 

Diagnosticar os níveis de leitura de cada aluno;

Diagnosticar as principais dificuldades de leitura;

Priorizar pontos de intervenções;

Elaborar estratégias de intervenções;

Fazer encaminhamentos para avanços na leitura;

Situar o aluno na sua leitura;

Estabelecer metas individuais;

 

Procedimentos

 

Entender onde o aluno está no contexto da leitura é o ponto de partida para promover o desenvolvimento. Em todo desenvolvimento existem etapas necessárias para o crescimento e aperfeiçoamento. Uma criança, por exemplo, tem suas etapas de desenvolvimento. Pedir para uma criança andar antes de engatinhar é incompreensível. Exigir que uma criança corra sem saber andar é ferir a ordem natural do desenvolvimento. A aprendizagem parte do simples para o complexo. A aprendizagem prioriza o que é fundamental. Partindo desse princípio não se pode ensinar palavras para quem não conhece letras; não se pode ensinar sílabas para quem não conhece letras; não se pode exigir compreensão leitora de quem não sabe ler. Portanto conhecer o nível de leitura de cada aluno e encaminhar para níveis mais elevados, considerando as etapas necessárias de compreensão e maturação, é garantir a criança o direito de percorrer o caminho e poder desfrutar de todas as experiências necessárias.

Segue abaixo uma tabela de orientação para diagnosticar níveis de leitura e as metas referentes a cada nível.

NÍVEIS DE LEITURA

METAS

I – Alunos que soletram – BA / LA

Ler sem soletrar. Nesse caso o aluno não muda de nível, mas avança dentro do próprio nível.

I – Alunos que leem palavra por palavra – A / FORMIGA / CARREGA / FOLHAS.

Juntar palavras – A FORMIGA / CARREGA FOLHAS. Quando o aluno alcançar essa leitura avança para o nível II.

II – Alunos que juntam palavras, mas fazem pausas indevidas (faz pausas onde não se deve fazer) – COMO PODE / PEIXE VIVO / VIVER FORA / D’ÁGUA FRIA

Fazer pausas devidas – COMO PODE PEIXE VIVO / VIVER FORA D’ÁGUA FRIA. Quando o aluno alcançar essa leitura avança para o nível seguinte.

III – Alunos que fazem pausas significativas, mas que ainda não é capaz de fazer uma leitura interpretativa: lê mecanicamente. Nessa fase os alunos só fazem pausa de ponto final – OUVIRAM DO IPIRANGA. AS MARGENS PLÁCIDAS. DE UM POVO HERÓICO. O BRADO RETUMBANTE.

O aluno precisa diferenciar pausas de ponto das pausas de vírgulas. A leitura deve se aproximar da fala e considerar os diferentes contextos de usos da linguagem. Agora o leitor interpreta a sua leitura e representa as vozes do texto. Quando alcançar esse nível de leitura considerando as variedades de gêneros textuais o aluno avança para o nível IV.

OBSERVAÇÃO: Quando o aluno avançar de nível precisa de um tempo de maturação no atual nível para desenvolver uma aprendizagem consistente. O tempo que cada aluno leva para consolidar a sua leitura em cada nível varia de aluno para aluno.

 

A partir do diagnóstico o professor vai fazer um atendimento personalizado para garantir a aprendizagem de cada aluno. Algumas considerações fazem-se necessárias: se quero que o aluno leia um texto preciso primeiro garantir a leitura de palavras; se quero que o aluno leia palavras preciso trazer palavras significativas. Exemplo:

- Um aluno que não conhece um pêssego, não pode ler a palavra pêssego porque ele procura na sua experiência e não encontra nada significativo, seria semelhante à leitura da palavra “house” (casa) para quem não sabe inglês – não teria sentido nenhum. Por isso para iniciantes na leitura é importante trabalhar com palavras do dia a dia: coco, cavalo, rio, feijão, e quando esse aluno encontrar dificuldades na leitura dessas palavras o professor pode mostrar a figura referente àquela palavra para que o aluno faça associação do significado com o significante. O aluno vai começar a compreender essa linguagem escrita como representação do que se vê e futuramente do que não se vê, mas que está presente no contexto da fala.

É importante ressaltar ainda que o aluno precisa compreender que a escrita é uma tentativa de representar a fala e algumas adequações se fazem necessárias: é um erro ensinar o aluno ler – LEITÊ/LEITÉ – ele não toma LEITÊ/LEITÉ, ele não compra LEITÊ/LEITÉ, ele toma – LEITI – ele compra LEITI. Às vezes o aluno soletra a palavra LEI-TÊ/LEITÉ e não sabe o que é porque não representa nada para ele. É comum esse equívoco na alfabetização. O professor quer facilitar a vida do aluno e acaba ensinando algo estranho.

O ensino da leitura precisa considerar a fala, pois os sinais não são suficientes para representar a variedade de sons executados na fala e quando são, precisa compreender a sua aplicação.

Voltando aos níveis serão significativos se os encaminhamentos forem direcionados corretamente. Exemplo:

- Se o aluno lê sílabas, não tem razão para eu ensinar sílabas. É uma habilidade desenvolvida pelo aluno, seria como diz o popular “chover no molhado”. O aluno que soletra, depois de consolidada essa etapa, não pode mais soletrar: o professor deve requere leitura de palavras sem o soletramento. O aluno precisa ler sem soletra: é a meta do aluno e o professor precisa intermediar para que o aluno avance com tranquilidade e assim será com os demais níveis. O importante é ensinar o que não se sabe sem queimar etapas. Nesse sentido o tempo é o do aluno e não o do professor. Vai ter aluno que em uma aula deixa de soletrar, mas outro pode precisar de mais tempo.

Cronograma

Dependerá da ênfase dada à leitura.

 

Avaliação

A avaliação se dará pelo acompanhamento dos avanços na leitura à medida que as metas forem sendo alcançadas pelos alunos.

 

Conclusão

Aprender ler é um caminho a ser percorrido considerando etapas necessárias. O professor precisa ter sensibilidade para perceber as etapas do caminho. Um detalhe pode ser decisivo para a aprendizagem do aluno. O caminho é o mesmo para todos, a didática pode ser diferente, o tempo também varia de aluno para aluno, contudo aprender ler não é uma coisa que demanda muito tempo. Usar a ferramenta correta é a grande sacada para otimizar o tempo de aprendizagem.

Uma pessoa às vezes vai a vários médicos para resolver um problema e só alcança êxito quanto encontra um profissional que faz o diagnóstico correto e orienta a medicação correta. O professor precisa fazer o diagnóstico correto e usar a metodologia correta. Desespero não ensina a ler. Muito trabalho e força não é sinônimo de grades resultados. O diagnóstico e a metodologia pode ser ou não responsáveis pela aprendizagem. Uma coisa é certa: se o professor não se apressar em acertar o diagnóstico e usar a ferramenta correta o caminho pode ficar muito longo, cansativo e desmotivador.

 

Bibliografia

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. 6. ed. São Paulo: Scipione, 1993.

https://avaliacaoeducacional.files.wordpress.com/2015/09/apresentacao_ana_15.pdf, 29/05/2017, 19h.