Programa Eja Indígena, Dismistificando A Idéia Que Papagaio Velho Nao Aprende Ler
Por nivanete lima sousa | 30/03/2008 | EducaçãoEducação de Jovens e Adultos Indígenas Xakriabá/ Alfabetização e
Historia
• Nivanete Leite de Lima
Resumo: O município de são João das Missões conta com duas culturas, a
indígena e do branco, cidade mista, reúne uma população de mais de
12.000 mil habitantes 70% da população e indígenas, situado no noroeste
do Estado de Minas Gerais.
O processo histórico de contato que se pode
verificar na origem mesma da área indígena, atestada no documento de
doação de terras aos cabloco remanescentes da Missão de São João
(Santo, 1997). Levou os Xacriabá a assumirem as modalidades
características da região quanto às atividades de subsistência (são
fundamentalmente pequenos agricultores e criadores de gados) em um
processo por um lado de imposição cultural, que caracterizou os
aldeamentos indígenas, e de intensa troca com outras populações, como
os negros no período após a escravidão.
Hoje o município é privilegiado
por ter a frente um dos diretores e professor indígena Jose Nunes de
Oliveira Prefeito da cidade.
E com base em ter uma população indígena, e uma política voltada aos
Jovens e Adultos Indígenas, que estamos implantando o projeto EJA, com
todo o apoio, de prefeitura, cacique, lideranças, secretários,
comunidade escolares e organizações, e a lei reza que, a educação e um
direito de todos aqueles que não teve oportunidade na idade própria, e
que seja respeitado cada cidadão, e seja voltada para a valorização e
aperfeiçoamento do homem no processo de vida e trabalho, e a interação
social desse homem , através do seu reajustamento à família, à
comunidade e a pátria.
A dança do Toré, o uso corporal de adereços e de pinturas adotados de
forma cada vez mais ampla e com orgulho pela população, a arquitetura
das escolas indígenas Bukimuju e Xukururank, revelam os “sinais
diacríticos” esperados pela sociedade nacional como referendos deste
processo de reconstrução cultural, que é interpretado como a renovação,
o reviver, nos dizeres dos índios.
Palavras – chave: faixa etária, políticas publica, formação de
professores, embasamentos legais.
A escola é uma invenção que depende dos registros,E a escrita
alfabética é o mais valorizados deles: Construir uma escola é criar um
espaço de leitura e reflexão,
De crítica, em fim, de pensamento. Mas também é criar um espaço de
belezas, e de encontros, de alegrias. (CAPEMA).
Introdução: A denominação “educação de jovens e adultos” é recente no
país. Desde o Brasil Colônia, quando se falava de educação para a
população não – infantil, fazia-se referencia apenas á população
adulto, que também necessitava ser doutrinada e iniciada nas “cousas da
nossa santa fé”. Como se pode perceber, havia um caráter mais religioso
do que educacional. Há que se ressaltar a fragilidade da educação ou do
sistema de educação (se assim pode ser chamado) naquela época via se a
produtividade a partir do aumento do numero de escravos, o que refletia
o descaso dos dirigentes com a educação. Vejamos que não é diferente da
historia indígena pois já se passaram aqui vários programas, como o
MOBRAL, o ensino elementar, cidadão nota 10, salto para o futuro EJA a
distancia, entre outros , por sua vez, o desenvolvimento contribui para
a valorização de adultos sob pontos de vistas diferentes. Havia os que
a entendiam como domínio da língua falada e escrita, visando o domínio
das técnicas de produção; outros como instrumentos de ascensão social;
outros ainda, como meio de progresso do país; e , finalmente, aqueles
que a viam como ampliação da base de votos. A reserva indígena não foi
diferente com os governantes que aqui passaram.
Não é sem objetivo a fala de uma liderança, em uma reunião para a
formação de demanda e de opinião para criação do projeto EJA Indígena.
Onde a liderança coloca bem claro: espero que este programa não seja
iguais a tantos que aqui passaram sem objetivo, sem saber ao menos a
quem procurar, nem se quer sabemos quem passa de ano, pois esta é uma
grande preocupação, pois nos estudamos, e ninguém deu certificado,
ficou professores sem receber até hoje, e quem vai pagar os
professores,
é a prefeitura? Ele pergunta e responde. E a escolha dos professores
somos nós que escolhemos não é? Fala da liderança Sr. Emilio.
Observamos nesta conversa desta liderança que é grande as incertezas,
pois os mesmo programas já tiveram passado por ali varias vezes sem
resposta nenhuma, e vejamos que não é diferente das políticas de
educação do governo por anos e anos. As dificuldades com a educação em
massa são acompanhadas de propostas técnicas - pedagógicas para a
educação de adultos que não se limitam à escolarização. As criticas aos
métodos de alfabetização da população adulta, por sua inadequação á
clientela, bem como pela superficialidade do aprendizado no curto
período de alfabetização, remeteram a uma nova visão sobre o problema
do analfabetismo e á consolidação de uma nova pedagogia de
alfabetização de adultos que tem como principal referencia o educador
Paulo Freire.
Alfabetização: a principal motivação dos jovens e adultos que procuram
programas de alfabetização ou iniciam sua escolarização é , certamente,
aprender a ler e escrever. Entretanto, muitos jovens e adultos que já
viveram essa experiência referem se a outras conquistas a ela
relacionadas que são igualmente importantes. Quando a opção é o
trabalho a partir de eixos temáticos, ou de temas geradores que são
realmente importantes para sua região e localidade, foi assim através
do método de Paulo Freire que iniciamos o primeiro curso de
capacitação, onde trabalhamos bastante a questão do nome seria o
primeiro eixo importante para a nossa região, depois trabalhar com o
dinheiro. Na percepção de Paulo Freire, os conceitos de alfabetização e
educação estão muito próximos, para não dizer que se confundem.
“Alfabetização é mais que o simples domínio mecânico de técnicas para
escrever e ler.
Com efeito, ela é o domínio dessas técnicas em termos
conscientes. É entender o que se lê e escrever o que se entende. (...)
Implica uma auto formação da qual pode resultar uma postura atuante do
homem sobre seu contexto. Por isso a alfabetização não pode se fazer de
cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma
exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, apenas
ajustado pelo educador. Isto faz com que o papel do educador seja
fundamentalmente dialogar com o analfabeto sobre as situações
concretas, oferecendo-lhe os meios com os quais possa se alfabetizar”.
Vale dizer que o homem, como sujeito e não como objeto de sua educação,
tem um compromisso com sua realidade e nela deve intervir cada vez
mais.
Uma versão que se ocorre entre alfabetizar adultos e que eles tem uma
enorme bagagem de vida, e por estes conhecimentos de vida que um adulto
em uma reunião destas para formação do EJA, onde a professora deu o
depoimento que estava muito feliz, em ser professoras dos analfabetos,
e terminando o seu depoimento o adulto pediu a palavra e falou: que ele
não era analfabeto, e que se fosse ver ele tinha ate mais conhecimento
que a professora pois era uma pessoa já idosa mas não podia saber ler e
escrever, mas tinha conhecimentos de mundo, e para ele era o que estava
valendo ate aquele momento. Falo do Sr. Vardinho.
Onde entrei depois e
conversei com cada um dos professores para se ter cuidado, ao falar,
pois e um publico muito frágil de se lidar, pois muitos ali já tinham
passado por uma escola e na qual já tinham sido discriminados, levado
palmatória na mão, ficado de castigo em cima de milho, levado pinicões,
chamados de burros e por ai vai, e cada um tem em mente o que passou.
Paulo Freire e seu livro Pedagogia da autonomia oferecem contribuições
valiosas para conduzir a reflexão sobre a competência do docente.
“Ensinar exige disponibilidade para o diálogo (...) nas relações com os
outros que não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no
respeito às diferenças entre mim e elas ou eles”....
Cabe ainda evidenciar alguns pontos importantes sobre o tratamento dado
pela Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei n. 9.394/96) no que se refere
á educação de jovens e adultos. Em seu artigo 3º determina a LDB,
dentre os principais que devem
servir de base ao ensino, “(...) pluralismo de idéias e de concepções
pedagógicas; (...) garantia de padrão de qualidade; (...) valorização
da experiência extra- escolar; (...) vinculação entre a educação
escolar, o trabalho e as praticas sociais”.
Tais princípios estimulam a criação de propostas alternativas visando a
promoção de igualdade para acesso e permanência do aluno, a adoção de
concepções pedagógicas que valorizem a experiências extra – escolar e a
vinculação entre educação, trabalho e praticas sociais.
A psicopedagoga Emilia Ferreiro em seus estudos que realizou com os
adultos analfabetos mostrou que eles, assim como as crianças, possuem
uma série de informações e hipóteses sobre a escrita que é desprezada
pela escola, com graves prejuízos para o processo de ensino -
aprendizagem.
Processo de perda da língua Tivemos em uma época marcada por aceleradas
transformações nos processo econômicos, culturais e políticos que
determinam novas exigências para que os indivíduos possam partilhar das
riquezas e conhecimentos socialmente produzidos, exercendo plenamente
sua cidadania e ensinando-se no mundo do trabalho.
Enquanto tivemos e estamos em épocas de aceleração transformação, o
povo Xakriabá fói proibido de falar sua própria língua materna, de
exercer suas cidadania de ser cidadão, foram muitos assassinados,
lembramos aqui de duas historia quase iguais, a historia bíblica de
quem falasse o nome de Jesus era morto; a outra a questão dos
portugueses que fez do Brasil escravos sem poder reivindicar os
verdadeiros donos para roubar o ouro, e aqui não dói diferente,
fazendeiros queriam tirar o ouro que eles tinham a terra mãe.
Um breve relato da índia mais velha Terra é mãe, meu fio.
Óia, meu fio,
Quando os possero invadiu aqui, quer dizer: foi invadido pelos talo
donos.
Porque muitos xacriabá vendero a metade deles da terra.
Vendeu, vendeu pros povo de fora.
Masimiro vendeu dois lugar, quer dizer:
Um lá em´riba vedeu pó finado Santo.
Vendeu e não recebeu, ficou lá de graça,
Lá na passage pra cá´sim, ante cá embaixo.
E que você não sobe lá, da posição adonde é, adonde tem um pe de manga
grande, lá na beira do riacho pra ca´sim dela, do Son Gonsale até cá
mais pra baixo.
Vimos aqui diversas formas de preconceito e de exclusão social, e, sem
duvida, a negação do direito de aprender a ler e a escrever. Penso aqui
um mundo como um lugar social e ecologicamente mais justo, um mundo
onde homens e mulheres mais que seres históricos sejam compreendidos
como a própria historia.
Neste sentido e que a vida de homens e mulheres se transforma em
existência a partir do momento em que estes se dão conta de sua
condição de seres que vivem em sociedades, talvez, o mais importante,
se sintam capazes de mudarem-se a si mesmos num primeiro momento e a
partir de um darem o mundo em que vivem. (BARCELOS, 2001)
Para Freire (1985) é desta relação indissociável que se deve partir no
processo educativo. Freire (19985) por toda sua vida tentou mostrar que
não é dentro da cabeça de educando e educador que sua educação. Mas
sim, que o educador - se é um processo que se dá em um contexto
histórico político, ideológico. Enfim, é um processo permeado pela
cultura de um tempo e de um lugar. Por outro lado, sabemos que as
relações ente os seres vivos em geral, e entre os seres humanos em
particular, é uma troca de significados e experiências. Entre as
importantes relações particulares que vem dão entre os seres humanos
estão (segundo GAUTHIER, 1998) as nossas praticas pedagógicas. Um dos
fatos decorrências disto é o fato de que a educação nunca foi não é, e
jamais será um processo neutro. Como seres inacabados são capazes
também da invenção e (ré) invenção deste processo de devir que é a
viabilização de nossa existência.
Temos um processo de formação que procura estar sempre em dialogo com a
memória, com os saberes, com as diferenças e com os diferentes, com o
contraditório e com os contrários, com os desejos, com os conhecimentos
científicos adquiridos de todos (as) aqueles (as ) envolvidos no
redemoinho que é a vida em suas más complexas e curiosas formas de
manifestação. Sim, por que a vida e todas as pessoas curiosas como fez
questão de lembrar o poeta Fernando Pessoa, nesta poesia:
Pela saudação poética:
A educaçao de jovens e adultos è uma modalidade que é direito quem nao
teve a oportunidade na idade propria, e este projeto vem dismitificando
os outros projetos que aqui teve na reserva indigena, no qual tem 8
meses de funcionamento, e temos varios depoimentos que os adultos de 70
anos ja estao fazendo o seu nome e estao ja reivindicando a sua
carteira de identidade como um cidadao que ja sabe sua assinatura, e
te- la para estar assinando, e falando hoje me sinto honrado em poder
assinar meu nome, estou enxergando, é com base nesse depoimento que
estamos dismistificando os varios projetos passado por aqui e nao
surtiram efeitos.