PROFISSÃO PROFESOR(A): PARA ALÉM DA COMPETÊNCIA CIENTÍTICA

Por Idanir Ecco | 23/04/2016 | Educação

PROFISSÃO PROFESOR(A):

PARA ALÉM DA COMPETÊNCIA CIENTÍTICA

 

Idanir Ecco[1].

 

A aprendizagem dos educandos tem que ver com a docência dos professores, com sua seriedade, com sua competência científica, com sua amorosidade, com seu humor, com sua clareza política, com sua coerência [...].

(Paulo Freire).

O exercício de uma profissão requer sólida formação científica, pois o mundo do trabalho, além de altamente competitivo, é dinâmico, bem como exigente e excludente; situação esta que requer de todo o trabalhador o comprometimento com processos permanentes de formação profissional.

Nesta reflexão tomaremos como referência a profissão docente a fim de tecer breves considerações considerando a temática anunciada. De imediato a pergunta que não quer calar formula-se: para o exercício da docência são suficientes os conhecimentos da ciência da educação?

Para encaminhar a resposta a essa provocação, faz-se necessário compreender, primeiro, em que consiste a função do professor, bem como a importância da sua própria formação e definir conceitualmente o que é educar.

Em tese, ser professor é cuidar da aprendizagem do aluno e contribuir para o seu desenvolvimento humano. Para isso, o professor deve, concomitantemente, cuidar da sua aprendizagem. Incontestavelmente, há que se cuidar de si para cuidar do outro. O zelo para com a sua formação e atualização é fundamental para quem decide atuar profissionalmente como educador.

O comprometimento do educador para com a própria formação confirma a crença de que o professor qualificado, melhor formado pode desempenhar com mais eficiência a atividade de mediar a aprendizagem e de possibilitar o desenvolvimento integral dos seus educandos.

Nesse contexto, julgamos de fundamental importância relembrar a advertência de Paulo Freire, expressa na obra “Pedagogia da Autonomia”, em relação à formação docente: “O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. A incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor.”

O profissional da educação, portanto, deve permanecer em contato com estudos, leituras, pesquisas, análises considerando o seu cotidiano, isto é, na formação do educador não pode haver interrupções, pois o conhecimento e a realidade socioeducacional, ambos, são multifacetados e dinâmicos, exigindo do profissional docente, distintas e constantes atualizações. Ademais, o conhecimento produz ideias. As ideias produzem sonhos (projetos). Os sonhos transformam realidades.

A prática educativa é algo muito sério que exige comprometimento, responsabilidade ética e profissional, pois lidamos com gente. E, na condição de educadores, participamos da formação dos educandos, podendo, com nossa competência, formação e preparação contribuir para que se tornem presenças marcantes no contexto em que estão inseridos. Portanto, educar é isso: “[...] crer e confiar no ser humano e estar disposto, permanentemente, engrandecer em todos, e em cada um de nossos alunos, a globalidade de suas possibilidades, isto é, aumentar neles o potencial de inteligência, de sensibilidade, de solidariedade, de ternura”, como afirma Lourdes Bazarra na obra “Ser Professor e Dirigir Professores em Tempos de Mudança”. À vista disso, o ato de educar está para a formação, para a promoção dos educandos, seu verdadeiro sentido e significado.

Considerando o esboço acima com relação à função e formação docente e quanto ao conceito de educação, estamos convictos que para o exercício da docência não basta apenas o conhecimento dos saberes das ciências da educação, fundamentais para a qualificação acadêmica e pedagógica.

A ação docente deve ser pautada, outrossim, por qualidades pessoais que as denominamos de virtudes, como por exemplo: a amorosidade que possibilita ao educador querer bem aos educandos e à própria profissão, qualificando-se permanentemente; a coerência que impede a dicotomia entre a teoria e a prática; a confiança, base para a convivência; a curiosidade condição fundamental para ensinar; a decência, que embeleza, cuida e protege a dignidade coletiva; a dialogicidade, condição primordial para se instaurar relações pedagógicas humanizadoras; o escutar, que possibilita a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro; a esperança, necessidade ontológica humana, que permite acreditar no vir-a-ser, no ser-mais tanto dos educandos, quanto dos educadores; a humildade, que exprime a certeza de que ninguém é superior a ninguém, pois somos interdependentes; o respeito, que demonstra o sentimento de estima para com o outro; a simplicidade, que revela sabedoria e anula a arrogância;  a tolerância, virtude que prima pela convivência humana e pelo respeito às diferenças.

Contudo, é primordial sublinhar que as qualidades/virtudes, não são faculdades herdadas biologicamente, mas geradas na prática, mediante opção deliberada.

O fazer docente contribui em grande medida para o êxito e para a qualidade da aprendizagem/formação dos educandos. Por conseguinte, soa como imperativo para todos os que assumirem o educar como profissão, que ajudem as crianças, os alunos todos a crescer sem perder a curiosidade, sem paralisar a imaginação e sem anular a capacidade de perguntar. E para isso há que se comungar conhecimentos científicos e qualidades pessoais (virtudes) no exercício da profissão professor(a).



[1]Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Erechim. E-mail: idanir@uri.com.br

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