Professor x Lixeiro

Por NERI P. CARNEIRO | 09/04/2009 | Educação

Na realidade não estou querendo contrapor os professores aos lixeiros. Esse título me veio ainda e 2007 (22 de junho de 2007), quando a coordenação do HISTEDBR enviou um e.mail aos associados, com uma "noticia" publicada em 1947 no Jornal Cruzeiro do Sul.

O HISTEDBR é um Grupo de Estudos e Pesquisas em "História, Sociedade e Educação no Brasil", com abrangência nacional, com sede na Faculdade de Educação da Unicamp e congrega pesquisadores das várias regiões do País.

A notícia, na realidade era um recorte do jornal, com data de 16/09/1947, em que se lia, no título:

"Lixeiro, Cr 650,00 e professor da normal, Cr 600,00". Em seguida um pequeno comentário:

"A triste situação em que se encontram os professores da nossa Escola Normal Municipal – revisão que se impõe pela justiça – Onde deve se fazer sentir a atenção administrativa. Até quando perdurará essa extravagância?".

Essa nota havia sido divulgada a pedido dos "Professores da Escola Normal Municipal", os quais, segundo o mesmo recorte do jornal: reclamavam contra os baixos salários. Não pode passar despercebia a data: "16/09/1947", que na verdade não representa nenhum evento marcante, mas sobre a qual pode se dizer:

Dois anos depois do fim da II Guerra Mundial e da criação do atual Estado de Israel, consequentemente da criação do atual problema Israel x Palestinos; Getúlio Vargas já havia saído do poder, depois de 15 anos de governo. Nossa moeda já era cruzeiro... Mas não é isso que importa, nem é nisso que estamos interessados.

Também não estamos querendo contrapor ou provocar atrito com os lixeiros, os quais são trabalhadores de uma dignidade impar e que realizam um serviço essencial à população. E a bem da verdade o profissional da limpeza, hoje é chamado de gari – mas estamos nos reportando a 1947 e a um documento jornalístico daquela época, que chama o profissional da limpeza de lixeiro.

Notemos que a nota jornalística, de 1947 compara o salário do lixeiro, da época com o do professor, da "Escola Normal". E nisso já se evidencia uma conclusão: não é de hoje que o poder público desprestigia o trabalho do professor. Constatamos que em nossos dias a situação apenas repercute o que ocorria em tempos passados, com o agravante de que atualmente no serviço público existirem profissionais com escolaridade de nível médio que tem vencimentos duas ou mais vezes acima do salário dos professores – e com isso não estamos querendo dizer que seus vencimentos devem ser achatados, mas que o do professor é aviltado... Portanto, se alguém deseja saber o por quê de estar faltando professor nas escolas a explicação é essa: vender CD pirata, contrabandeado é mais lucrativo do que lecionar. Com a extraordinária vantagem de não correr o risco de ser agredido pelos alunos...

Portanto não se deve estranhar que no estado de Rondônia tenha circulado, em vários jornais, a informação de que nos primeiros meses de 2009 estivessem faltando mais de 2000 professores. Por que isso vem ocorrendo? Porque os vencimentos são aviltantes e porque outras atividades são menos exigentes e mais lucrativas. Ou você vê outros profissionais, todos os dias, depois do expediente, levando serviço para casa, como fazem os professores?

Entretanto nossa questão, aqui, nem é o dinheiro. Nossa questão refere-se ao problema de prioridades: discute-se, fala-se, afirma-se que educação é prioritária! Mas a prioridade de qualquer pessoa, instituição ou nação é aquela para a qual se direcionam as atenções. A prioridade é o centro das atenções. Não é o que ocorre com o sistema educacional. Isso pode ser comprovado pela remuneração destinada aos profissionais da Educação: em geral estão entre os mais baixos do serviço público, desde o nível municipal até o estadual e federal. Por isso os professores, de 1947, foram aos meios de comunicação para explicar à população que os profissionais da limpeza estavam recebendo salários mais altos e com isso corria-se o risco de crianças ficarem sem aula porque alguns professores poderiam – podemos concluir isso hoje – querer deixar a sala de aula para ser lixeiro. Poderíamos, inclusive, afirmar que o recorte de jornal, do século passado, apenas mostra que os administradores do sistema escolar simplesmente atiram ao lixo o sistema educacional, da mesma forma que se faz hoje.

Além disso a priorização da educação passa pela qualificação dos profissionais da educação – instituições sérias que prezam os serviços prestados por seus funcionários cobram e oferecem oportunidades de cursos de atualização. Os gestores da educação pública não agem assim, pelo contrário, caso algum professor pretenda fazer curso de aperfeiçoamento precisa se humilhar para receber alguns "favores". Sem contar que, como tivemos oportunidade de ficar sabendo, excelentes projetos que propunham melhoria da escola, ou que pretendiam produzir material diversificado para as aulas, simplesmente foram rejeitados ou colocados "na geladeira" pelo fato dos proponentes "não fazerem parte do grupo do político fulano de tal".

Priorizar a educação é uma porção de coisas, menos o que se vem fazendo com o sucateamento das escolas, achatamento salarial, menosprezo em relação à qualificação e propostas dos profissionais da educação. Priorizar a educação é valorizar o profissional que faz esse trabalho!

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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