Professor, um deus?

Por LUIZ FERNANDO DE MORAES | 21/12/2011 | Educação

RESUMO

 

O professor, atualmente, ao adentrar no ambiente escolar, depara-se com uma enorme quantidade de desafios. O principal deles, me parece, fruto da exigência pedagógica, é a demanda de conhecimentos necessários  para que possa compartilhar com os alunos. Além do notório desinteresse de boa parte dos mesmos naquilo que o professor tem a lhes oferecer.

 

ANÁLISE INTERPRETATIVA

 

Antes de mais nada precisamos considerar as relações. Pessoais, com colegas, dirigentes ou até com os próprios alunos, sem contar a realidade social em que vive  o docente.Vygostsky (1989) afirma que cada sujeito não é apenas ativo, mas interativo, construindo conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com os outros e na intrapessoalidade, que internalizamos informações, papéis e funções sociais. Para o autor, a vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de ser biológico em ser humano. É pela aprendizagem nas relações com os outros que construímos os conhecimentos que permitem nosso desenvolvimento mental.

A formação profissional do professor depende de um projeto educacional composto de ensino e pesquisa, baseado também na experiência de vida. Sob a ótica de Paulo Freire, é fundamental que o professor faça de sua própria experiência, uma fonte de construção de saberes, permitindo uma melhor compreensão das formas de enfrentamento dos problemas da vida escolar e a utilização do conhecimento na criação de novas maneiras de aprender e ensinar. Segundo Freire, o educador precisa inteirar-se de sua história e cultura, tornar-se consciente de ser e vir-a-ser-no-mundo, o que implica também em mergulhar em sua experiência e sentimentos, num mundo de conotações, valores, correspondências afetivas e interesses sociais.

De forma genérica, as palavras professor e profissão possuem significados semelhantes. Professor é quem diz a verdade publicamente, professa. Verdade é o fato real. Logo, professor é aquele que expõe corretamente, socializa o conhecimento. Já a palavra profissão significa atividade especializada, vinculada ao ato de professar. Nóvoa (1996) nos trouxe que toda profissão afirma uma identidade e esta, por sua vez, "não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e de conflitos, é um espaço em construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Por isso, é mais adequado falar em processo identitário, realçando a mesma dinâmica que caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor". Conclui-se que a crise de identidade é a crise na maneira de ser do professor.

Pesquisando sobre o tema, descobri premissas interessantes: PARA SER PROFESSOR: seja presente; seja pontual; seja cordial; seja educado; seja prudente e prepara as aulas com antecedência; seja ativo, seja profissional. Ou ainda, de uma professora de educação infantil, quando questionada sobre o que é ser professor/educador. “É vir para a escola, ser alegre, simpática, ensinar. Possuir mala, caneta, livros, lápis. Usar óculos, escrever no quadro, orientar o recreio, brincar, jogar bola. Desenhar, ensinar a escrever o nome, ler histórias, falar baixo e não bater nas crianças. Ter muita luz ao redor.” Em tal concepção, ser professor é ser dotado de virtudes morais.

O artigo em estudo cita o professor-astro, que dá show em sala de aula, formatado pela educação neoliberal. A nova corrente do pensamento liberal trata a educação como mercadoria, um negócio. A universidade nada mais é do que uma empresa capitalista.

Cita ainda Lacan, quando diz que o agente do ato educativo se torna um repressor. Vale lembrar, o objetivo do premiado filme Sociedade dos Poetas Mortos, foi mostrar métodos americanos da década de 50 e como eles influenciaram alunos, demonstrando como tal ensino poderia contribuir na formação de caráter. Após a rebeldia inicial de alunos e familiares, manifestada pela falta de ânimo e vontade de aprender, surge uma luz no fim do túnel, representada por um professor John Keating, que colabora para que os alunos abandonem a perseguição à disciplina, inspirando-os na mesma perseguição, só que de suas paixões individuais.

Ao encontrar a expressão fenômeno transferencial, logo pensei em Freud e Reich. Pesquisando, descobri não ser termo exclusivo da psicanálise. Serve para muitos outros campos. Como disse Freud, é um  “fenômeno psíquico que se encontra presente em todos os âmbitos das relações com nossos semelhantes.” Na relação professor aluno, pautada pela confiança, valorização do conhecimento, revelação de potencialidades e habilidades, segundo os psicanalistas, possível através da afetividade. Como disse a professora Denise Quaresma, da disciplina Formação Docente, Subjetividade e Desenvolvimento Humano da Unilasalle, acolhimento. Lembro também, do artigo de Daniel Conte, cuja leitura foi recomendada pela mesma professora, quando descreve os agradecimentos em seu trabalho.

Voltando ao ideal neoliberal, no aspecto pedagógico, o sistema incentiva o individualismo e a competição, diferente de Paulo Freire por exemplo, que elegeu a solidariedade como forma de luta capaz de promover o que chamou de “ética universal do ser humano”, que aliás, segundo seu ponto de vista vai permear o processo educativo, e dela, a ética do trabalho docente, não poderemos escapar.

A produção de seres inacabados mencionada no artigo em análise, me leva à concepção de ser humano estabelecida por Paulo Freire. "A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente". A formação docente parte do sujeito, de suas experiências, transformações e seu desenvolvimento profissional se dá quando sente-se capaz de mudar o curso da história, aprendendo, refletindo, pensando, agindo.

A proposta análise do artigo objeto deste trabalho, permitiu-me reflexão sobre a subjetividade da vida dos professores e sua memória. Não há como desvincular vida pessoal da profissional. O perfil de cada aluno faz com que o professor se reconheça em algum deles, causando ou não sentimentos de amódio.

Galeano, nos Estudos Culturais disse que “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos."

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Concluindo, me permito citar a teoria de Vygotsky, segundo a qual, estamos em um patamar no qual o aluno deve descobrir o conhecimento através da visão do professor. Este não é um mero transmissor de conhecimento e sim um mediador, disponibilizando ferramentas e instrumentos para aquisição deste conhecimento.

O docente não é um ser especial, um Deus. Trata-se de um ser humano que compartilha com seus semelhantes aprendizados bons e ruins de sua existência.

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREUD, Sigmund. Conferência XXVII – Transferência (1917b). In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

 

LACAN, Jacques. O seminário - livro 8: a transferência (1960-1961). Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor, 1992.

NÓVOA, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, A.

(org). Vidas de professores. Porto, Portugal: Porto Editora, 2 ed.

1995.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo:

Martins Fontes, 1989.