Produção de palma forrageira no semiárido brasileiro

Por Alberto Jefferson da Silva Macêdo | 05/03/2017 | Adm

INTRODUÇÃO

     Segundo Lopes e colaboradores (2012) o Nordeste brasileiro ocupa 1.600.000 km² do território nacional. Em 62% da sua área, se encontra o Polígono das Secas que são áreas abaixo de 800 mm de pluviosidade por ano. O Polígono das Secas é a área de maior incidência das secas e estende-se por 980.000 km2, é o Semiárido. Nele, situam-se várias províncias florísticas que entremeiam essa grande área nordestina em diversas escalas botânicas, desde os remanescentes úmidos da Mata Atlântica até as essências vegetais hiper-xerófilas já no limiar das formações desérticas. Sua predominância botânica é de vegetação chamada caatinga (mata-branca) representada por 73% de plantas xerófilas, entre essas muitas cactáceas, resistentes a longos períodos de estiagem, em ajustamentos fisiológicos único no mundo dos vegetais para condições adversas do meio.

     No Brasil, se for considerada a aptidão agrícola por regiões, se evidencia fração reduzida de áreas apropriadas para a agricultura (Lira et al., 2006), sendo a produção animal uma das grandes aptidões do país. Pela irregularidade na distribuição de chuvas, a pecuária é a grande vocação da região Nordeste do Brasil, tendo a caatinga como importante recurso forrageiro, a qual pelas características sazonais das plantas, pelas condições adversas de clima e solo, e principalmente, por parte da vegetação ser de plantas não forrageiras, apresenta baixa capacidade de suporte (Santos et al., 2010).

     Assim, o cultivo de espécies forrageiras perenes, adaptadas as condições do semiárido, é importante alternativa para a sustentabilidade de produção nessa região. A palma forrageira de gêneros mais utilizados (Opuntia e Nopalea) é de metabolismo MAC (Metabolismo Ácido das Crassuláceas) e apresenta elevada eficiência no uso da água. Os requisitos para suportar os rigores de clima e as especificidades físico-químicas dos solos das zonas semiáridas diz respeito à sua capacidade de captação diária de CO2 e a perda de água, fenômenos que ocorrem geralmente à noite, cujo intercâmbio de gases, diferindo da assimilação fotossintética das plantas clorofiladas C3 e C4, caracterizadas por formarem como primeiro produto da fotossíntese, ácidos com três e quatro moléculas de carbono, respectivamente. Essas características são extremamente importantes do ponto de vista ambiental, podendo a palma ser utilizada para reduzir os danos causados pelo efeito estufa ao ambiente, resultante do aumento na concentração de CO2 e outros gases na atmosfera (Nobel, 2001).

     Conforme Farias et al. (2005), para a obtenção de elevadas produtividades da palma e manutenção dessa produtividade ao longo dos sucessivos cortes, aspectos como correção do solo e adubação, técnica de plantio adequada, controle de plantas daninhas e manejo correto de colheita devem ser considerados, além da utilização de uma cultivar melhorada.

     Segundo Lopes e colaboradores (2012) a palma se consolidou, no semiárido nordestino como forrageira estratégica fundamental nos diversos sistemas de produção pecuário, no entanto, é uma planta de enorme potencial produtivo e de múltiplas utilidades, podendo ser usada na alimentação humana, na produção de medicamentos, cosméticos e corantes, na conservação e recuperação de solos, cercas vivas, paisagismo, além de uma infinidade de usos. É a planta mais explorada e distribuída nas zonas áridas a semiáridas do mundo, contudo sua real dimensão produtiva ainda não foi plenamente conhecida no Nordeste.

Palma forrageira

Figura 1 - Palma forrageira na época da estiagem

 

     A palma apresenta-se como uma alternativa para as regiões áridas e semiáridas do nordeste brasileiro, visto que é uma cultura que apresenta aspecto fisiológico especial quanto à absorção, aproveitamento e perda de água, sendo bem adaptada às condições adversas do semiárido, suportando prolongados períodos de estiagem. A presença da palma na dieta dos ruminantes nesse período de seca ajuda aos animais a suprir grande parte da água necessária do corpo, a energia da palma é similar a do milho podendo substituir na dieta dos animais o milho pela palma. Segundo Silva et al. (1997) um fator importante da palma, é que diferentemente de outras forragens, apresenta alta taxa de digestão ruminal, sendo a matéria seca degradada extensa e rapidamente, favorecendo maior taxa de passagem e, consequentemente, consumo semelhante ao dos concentrados. A palma frequentemente representa a maior parte do alimento fornecido aos animais durante o período de estiagem nas regiões do semiárido nordestino, o que é justificado pelas seguintes qualidades:

  1. a) bastante rica em água, mucilagem e resíduos minerais;
  2. b) apresentam alto coeficiente de digestibilidade da matéria seca;
  3. c) tem alta produtividade;

     Cultivos em sequeiro bem conduzidos de palma forrageira produzem uma biomassa superior a 100 toneladas de matéria verde/ha/ano, desde que se associem práticas agronômicas adequadas e variedades de elevado potencial produtivo juntamente com um manejo cultural adequado e uma adubação química e orgânica. Nas principais regiões semiáridas do Nordeste a palma se constitui no principal alimento fornecido aos rebanhos, independentemente da época do ano.

     Apesar da adaptabilidade, seu crescimento e desenvolvimento variam com as oscilações das condições meteorológicas. Souza et al. (2008) relatam que o potencial produtivo dessa cultura se expressa de forma mais significativa em regiões com precipitações anuais entre 368 mm e 812 mm e temperaturas médias mínimas e máximas variando de 16,1°C a 25,4°C respectivamente. Em regiões produtoras de palma, quando a precipitação pluviométrica local não atinge os níveis considerados ideais, faz-se necessário o uso de irrigação para atender a necessidade hídrica da referida cultura.

     Em anos de anomalia, os níveis pluviométricos tendem a ser abaixo dos normais e a demanda atmosférica aumenta demasiadamente, como resultado do incremento térmico e redução da umidade do ar. Podendo ocorrer a morte de palmais em regiões de elevadas temperaturas diurnas e noturnas, pesquisas já comprovaram tal fato como é o caso em algumas regiões do sertão central e cariri do Rio Grande do Norte.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

     As alterações no ambiente socioeconômico e institucional vem impondo às cadeias produtivas familiares ou agroindustriais significativas mudanças. Provavelmente além das dificuldades econômicas a mudança mais difícil seja a da própria cultura do produtor rural. Sem acreditar que essas transformações são necessárias para enfrentar a intensa competição, a chance de sucesso se reduz bastante. 

 

REFERÊNCIAS

FARIAS, I.; SANTOS, D. C. dos; DUBEUX JR, J. C. B. Estabelecimento e manejo da palma forrageira. In: MENEZES, R. S. C.; et al. (eds). A palma no Nordeste do Brasil: conhecimento atual e novas perspectivas de uso. Recife: Editora Universitária da UFPE, p. 81-103. 2005.

LIRA, M.A.; SANTOS, M.V.F.; DUBEUX JR., J.C.B. et al. Sistemas de produção de forragem: alternativas para a sustentabilidade da produção. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2006, João Pessoa. Anais…João Pessoa: SBZ., 2006. p.491-511.

LOPES, Edson Batista (Org.). Palma forrageira: cultivo, uso atual e perspectivas de utilização no Semiárido Nordestino. João Pessoa: EMEPA-PB, 2012.

NOBEL, P. S. Biologia ambiental. In: BARBERA, Guiseppe; INGLESE, Paolo (Eds.). Agroecologia, cultivo e usos da palma forrageira. Paraíba: SEBRAE/PB, 2001. p. 36-57.

SANTOS, M V. F.; LIRA, M.A.; DUBEUX JR, J.C.B. et al. Potential of Caatinga forage plants in ruminant feeding. Revista Brasileira de Zootecnia. v.39, p.204 - 215, 2010.

SOUZA, L. S. B. et al. Indicadores climáticos para o zoneamento agrícola da palma forrageira (Opuntia sp.). In: III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTIFICA DA EMBRAPA SEMIÁRIDO, 2008, Petrolina. Anais... Petrolina: Embrapa Semi-Árido, 2008.