PROCISSÃO
Por Vicente alves batista | 08/09/2012 | PoesiasPROCISSÃO
“Não se sabe se essa criança teve que passar
pela via crucis. Todos passam”.
Clarice Lispector, A via crucis
A cada passo, o suor
Lentamente, caminho no asfalto...
Na mente, carrego a cruz
De repente, sinto-me Cristo.
Carrego a cruz dos que sentem
a dor, o desespero, o tormento,
a falta de sentido, as marcas
dos açoites do poder, da vida.
A estrada, a via crucis
Vejo aqueles que pouco me querem,
Gritam: “Crucifica-o, Crucifica-o”
Ouço poucas vozes que clamam
a minha liberdade,
a sensação, nestes, se faz presente de verdade.
Ao calvário, chego forte
Duas cruzes ao lado,
os ladrões, os subversivos,
Sou eles, eles me são.
Crucificam-me num mundo
Certo, previsível,
Onde não há espaço
Para o diferente,
Para a poesia
Para o indizível.
“- Por que me abandonastes? Por que me abandonastes?
Grito aos céus,
A resposta vem,
vem apenas com a escuridão.