PROCESSO RACIONAL DE TOMADA DE DECISÕES

Por MELISSA SCHIAVON LIMA | 04/08/2014 | Adm

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo geral analisar o modo como as pessoas decidem dentro das organizações e explicar o processo decisorial racional nas organizações, tendo como base de apoio a Teoria da Decisão, que faz parte do livro Comportamento Administrativo1, de Herbert A. Simon2. Sabemos que apesar de ser extremamente importante em todas as áreas de atuação no mercado de trabalho, a constante tarefa de decidir também pode se tornar árdua para o indivíduo tomador de decisão. Porém, ao tomarmos uma decisão com bom censo aliada a um conjunto de fatores tornarão este processo mais fácil e ágil para os indivíduos e para as organizações. Para auxiliar nesta tarefa a Teoria da Decisão analisa o comportamento humano nas organizações como se cada pessoa fosse um sistema de decisões na empresa. Simon considera o ato de decidir um processo, sendo este processo o objetivo principal da administração, considerando que as teorias comportamentais anteriores se preocupavam muito com o processo de execução e negligenciavam o processo de decisão. Como metodologia de pesquisa foi adotado a revisão bibliográfica através da leitura de artigos científicos, livros e periódicos sobre a Tomada de Decisões.

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1 Obra publicada em inglês no ano de 1957, cujo escritor é considerado o autor pioneiro na constituição da Abordagem Decisória da Gerência através da publicação do livro "Comportamento Administrativo: estudo dos processos decisórios nas organizações administrativas”.

Herbert Alexander Simon (1916-2001) graduou-se em Ciência Política pela Universidade de Chicago em 1936, onde obteve o título de Ph.D, na área, em 1943. Seus trabalhos sobre a decisão e o comportamento humano têm até hoje influência marcante nos campos da Administração, Economia, Psicologia e Ciência da Computação, e lhe renderam, além do Prêmio Nobel de Economia em 1978, o prêmio Turig em ciência dos computadores e a primeira Medalha Nacional da Ciência concedida por seu trabalho em ciências do comportamento.

  1. INTRODUÇÃO

Decidir é julgar, é escolher uma alternativa entre várias que nos são apresentadas, tomamos decisões em todos os momentos da nossa vida, sejam elas pessoais ou profissionais. Tomar boas decisões é importante para qualquer atividade profissional, porém no caso da Administração o ato de decidir é fundamental e imprescindível.  

Desde o final da década de 40 vários pesquisadores contribuíram com estudos a fim de explicar como o indivíduo atua nas organizações, como este escolhe e decide entre as inúmeras opções que lhe são apresentadas.

A abordagem clássica de comportamento na administração foi o primeiro estudo de comportamento na organização, um modelo no qual o problema está bem definido, todas as alternativas e informações são completas e claras, assim como suas conseqüências. Com todos esses requisitos preenchidos o gerente toma uma decisão otimizada, sendo a solução escolhida ótima entre todas as opções que foram analisadas.

O modelo comportamental de decisão, a Teoria Behaviorista, é a teoria da administração cujo objetivo central é de que para o indivíduo é impossível conhecer e processar todas as informações disponíveis, além da racionalidade ser limitada, nossas percepções não refletem a realidade e variam conforme o momento. Esses fatores acarretam em uma decisão satisfatória e não a melhor decisão. Conforme Simon (1965, p. ) ”uma teoria geral da administração não deve incluir apenas princípios que assegurem uma ação efetiva, mas também, princípios de organização que assegurem decisões corretas”.

Mas como podemos decidir entre as inúmeras alternativas a nossa disposição para a resolução do nosso problema? Qual o método mais indicado para obtermos uma solução que satisfaça corretamente o obstáculo apresentado?  

Este trabalho tem como objetivo geral verificar o modo como o indivíduo decide, utilizando como base a Teoria da Decisão, do livro Comportamento Administrativo, de Herbert A. Simon.

E como objetivos específicos: analisar os estágios do processo de decisão; descrever os fatores e as etapas que influenciam e fazem parte deste processo.

Desta maneira, o assunto abordado justifica-se por ser o primeiro processo racional de tomada de decisões, sendo até hoje utilizado como base de apoio para outros estudos envolvendo o processo de decisão, assim como base para treinamentos de gerentes e colaboradores dentro das organizações.

2.         FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

            A seguir é apresentada a fundamentação teórica, assim como as variáveis, estágios, fatores e as etapas que influenciam e fazem parte deste processo nas organizações.

2.1       VARIÁVEIS QUE INTERFEREM NO COMPORTAMENTO DECISÓRIO

Ao nos deparamos com uma situação que nos exija uma tomada de decisão não podemos agir impulsivamente ou intuitivamente. Devemos avaliar a situação não como ela se apresenta, não podemos decidir pela alternativa ótima e impossível, mas sim decidir pela alternativa satisfatória para o problema que precisamos resolver, assim, nossos objetivos serão alcançados da melhor maneira possível. A fim de tomarmos a decisão correta é imprescindível o uso de todos os dados disponíveis, sejam eles internos ou externos.

As variáveis mais importantes que interferem no processo de decisão são a percepção e o raciocínio, conforme March e Simon “essas variáveis não podem ser tratadas como fatores independentes e inexplicadas, mas como fatores determinados e previstos pela teoria: o indivíduo decide em função da sua percepção da situação”.

O comportamento de cada pessoa é o reflexo da sua percepção da realidade, esta pode ser alterada conforme o perfil do indivíduo que a observa, do momento que ela ocorre e do contexto da situação que o envolve, conforme Maximiano (2008, p. 163) “percepção é o processo de selecionar, organizar e interpretar estímulos (informações) que o ambiente oferece”. O ato de perceber se refere a qualquer tipo de interação que envolve uma pessoa e mundo em que ela vive, cada um de nós percebe, sente e reage de maneira diferente a realidade. O primeiro passo para termos uma percepção fiel das pessoas e das situações é pensar com clareza, o que nos permite escutar melhor para detectar possíveis falhas na comunicação interpessoal, nos auxiliando a ter uma percepção mais fiel da situação, consequentemente nos permitindo tomar uma decisão mais adequada para a solução do problema.

2.1.1    O PAPEL E OS TIPOS DE RACIONALIDADE

O que é considerado um comportamento racional e como a racionalidade interfere em nosso comportamento ao tomarmos uma decisão? O comportamento do indivíduo é racional quando visa aos seus objetivos pessoais ou aos objetivos da organização?

Veremos a seguir uma situação descrita por Simon:

“Dois soldados estão escondidos numa trincheira defronte a um ninho de metralhadoras. Um deles permanece oculto, o outro, com o sacrifício de sua vida, destrói o ninho de metralhadoras com uma granada. Qual deles de conduz de maneira racional?”

(SIMON, 1965, p. 79 e 80).

            Para explicar este exemplo precisamos definir os tipos de racionalidade empregando esta palavra juntamente com advérbios capazes de explicar os tipos de situações em que a racionalidade não seja facilmente deduzida pelo contexto. Para solucionar este problema Simon indica seis tipos de racionalidade: a Racionalidade objetiva, a Racionalidade subjetiva, a Racionalidade consciente, a Racionalidade deliberada, a Racionalidade organizada e a Racionalidade pessoal.

1)     Racionalidade objetiva: se apresenta quando o comportamento é realmente o comportamento correto para aumentar certos valores em uma situação;

2)     Racionalidade subjetiva: é observada quando as decisões aumentam o alcance ao se ter um conhecimento atual de um certo assunto;

3)     Racionalidade consciente: é verificada quando as decisões visam ajustar os meios aos fins por meio de um processo consciente;

4)     Racionalidade deliberada: é observada quando o ajuste dos meios aos fins é deliberadamente procurado pelo indivíduo ou pela organização;

5)     Racionalidade organizada: se apresenta quando os objetivos do indivíduo forem a favor da organização;

6)     Racionalidade pessoal: é verificada quando são visadas aos objetivos pessoais do indivíduo.

No exemplo citado acima, o comportamento do soldado que permaneceu escondido é subjetivamente racional, pois ele salvou sua vida ao permanecer escondido, porém é objetivamente irracional porque não se adaptou as atitudes esperadas por um soldado na guerra.

“O comportamento é planejado sempre que é guiado por objetivos ou metas; e é racional quando escolhe as alternativas que levam à consecução das metas previamente selecionadas” (SIMON, 1965, p. 5).

A racionalidade tem como objetivo selecionar as alternativas de comportamento escolhidas baseadas em um sistema de valores permitindo avaliar as conseqüências desse comportamento. O comportamento real não alcança a racionalidade objetiva (a melhor escolha), pois o indivíduo é limitado e influenciado, muitas vezes, por sua capacidade física, pelos seus valores e pelos seus conhecimentos. Consequentemente é impossível tomarmos decisões ótimas para a solução dos nossos problemas, visto que o ser humano possui um conhecimento muitas vezes fragmentado das condições que cercam o referido problema que exige uma solução, como foi mencionado anteriormente a percepção do indivíduo diante do problema apresentado também exerce grande influência nessa tomada de decisão.

2. 3      ELEMENTOS COMUNS A TODO TIPO DE DECISÃO

Segundo Simon uma escolha eficaz envolve a observação de três itens:1) analisar o problema e listar e relacionar todas as possíveis estratégias a serem adotadas, 2) organizar todas as possíveis conseqüências destas estratégias, 3) comparar cada uma das estratégias juntamente com a sua conseqüência, fazendo sua escolha a partir de valores pessoais e organizacionais.

Para complementar a análise destes itens é importante entender os elementos que fazem parte das decisões administrativas e como esta serão avaliadas. Na opinião de Simon “toda decisão compõe-se de dois tipos de elementos, denominados elementos de fato e elementos de valor, respectivamente” (SIMON, 1965, p. 47). Significa que “cada decisão envolve a seleção de uma meta (elemento de valor) e de um comportamento (elemento de fato) com ela relacionada” (SIMON, 1965, p. 53). Resumindo, “uma decisão representa uma conclusão de um conjunto de premissas de fato e de valor” (SIMON, 1965, p. 144).

Antes de optarmos por uma alternativa precisamos estabelecer o que pretendemos alcançar ao efetuarmos a nossa escolha, qual a nossa meta, qual é o nosso objetivo. Ao fazermos nossa escolha estaremos consequentemente excluindo outras, se a nossa opção for satisfatória esta poderá nos direcionar para a concretização do objetivo que foi traçado inicialmente.

Simon definiu seis elementos clássicos que estão presentes no processo de escolha: 1) O tomador de decisão; 2) Os objetivos; 3) As preferências; 4) As estratégias do tomador de decisão; 5) A situação e 6) As conseqüências.

1) O tomador de decisão: é a pessoa ou uma equipe que faz uma escolha entre os planos de ação apresentados;

2) Os objetivos: o que o indivíduo ou a equipe almejam através de sua escolha;

3) As preferências: quais os critérios/normas utilizados pelo tomador de decisão ao escolher uma alternativa de ação;

4) As estratégias do tomador de decisão: são os planejamentos de ação, estes dependerão dos recursos disponíveis do decisor;

5) A situação: são os fatores que fogem do controle do tomador de decisão, envolvendo o ambiente ao seu redor, afetando seu discernimento para fazer uma opção;

6) As conseqüências: são o resultado da estratégia utilizada levando em conta a situação que envolvia o tomador de decisão.

CONCLUSÃO

            Logo, este primeiro processo racional de tomada de decisão, foi de suma importância para o estudo do comportamento humano na tomada de decisões. Esta análise de Herbert Simon, foi um dos primeiros materiais de estudo ou reflexão para administradores públicos e privados, economistas, cientistas, políticos, psicólogos e sociólogos. Atualmente observamos vários autores expondo outras teorias administrativas de comportamento nessa área, porém todos utilizam como base o livro Comportamento Administrativo – Estudo dos Processos Decisórios nas Organizações Administrativas.

Neste estudo, os trabalhadores opinam, decidem e colaboram para a resolução dos problemas, diferentemente das teorias anteriores que buscavam somente a máxima eficiência. Simon salienta para os administradores ou gerentes que todas as pessoas em diversas áreas dentro das organizações, independente do nível (operacional, técnico ou gerencial) estão sempre tomando decisões, por isso é tão importante estudar como as organizações e outros fatores (como foi citado anteriormente) afetam o processo de escolha dos indivíduos. O comportamento do indivíduo é afetado e decorre da situação em que ele se encontra dentro da organização e como ele reage/responde a essa situação.

Podemos definir a organização como um complexo sistema de comunicações e inter-relações que existem em um grupo de pessoas, este sistema permite a cada membro um conjunto de informações, objetivos e atitudes que fazem parte das suas decisões, também proporciona as atitudes e expectativas dos outros integrantes do grupo e como estes reagirão ao comportamento e as decisões do indivíduo.

Conforme Simon: “a principal preocupação da teoria administrativa reside nos limites entre os aspectos racionais e irracionais do comportamento social dos seres humanos” (SIMON, 1965, p. XXIII). A teoria administrativa, em síntese, é a teoria da racionalidade intencional e limitada dos indivíduos, pois o comportamento real do indivíduo não alcança a racionalidade ilimitada e objetiva, assim não tem maneiras para maximizar e encontrar a solução considerada ótima para a organização. Além das limitações de cada pessoa: da falta de conhecimento da questão, alguma limitação física ou do estado de espírito do colaborador, às vezes uma das razões da racionalidade limitada é porque não lhe são fornecidas todas as informações necessárias, assim ele não tem conhecimento de todas as alternativas possível para a resolução do problema.

Peter Drucker, considerado pai da Administração Moderna afirma que nas organizações fundamentadas no conhecimento, tomar decisões é crucial em todos os níveis – Precisa ser ensinado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 1 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração. 2 ed. v.2 São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1979.

CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento Organizacional. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Teoria Geral da Administração. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

ROBBINS, Stephen P. Fundamentos do Comportamento Organizacional. 8 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SIMON, Herbert Alexander. Comportamento Administrativo, Estudo dos Processos Decisórios nas Organizações Administrativas. 2 ed. Rio de Janeiro: Fund. Getúlio Vargas, 1965.

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