Processo de Desindustrialização - Uma visão geral

Por Marcos Roberto Rodrigues | 23/11/2017 | Economia

INTRODUÇÃO

Contextualização do tema

O processo de desindustrialização pode ser entendido como sendo uma redução persistente da participação do produto industrial naprodução total de um país ou região, como entendem Rowthorn e Ramaswany citados por Oreiro e Feijó (2010). Tregenna, citado por Oreiro e Feijó (2010), redefine de forma mais ampla o conceito "clássico" de desindustrialização como sendo uma situação na qual tanto o emprego industrial como o valor adicionado da indústria se reduzem como proporção do emprego total e do PIB, respectivamente. Os autores destacam que uma economia não se desindustrializa quando a produção industrial está estagnada ou em queda, mas quando o setor industrial perde importância como fonte geradora de empregos e/ou de valor adicionado para uma determinada economia.

Neste sentido, a ideia também corrobora com a de Cano (2012) ao afirmar que a desindustrialização é a queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Setor Industrial frente ao PIB Nacional e acrescenta que a indústrias de transformação é a que sofre as maiores quedas do produto comparado a outros setores da indústria como a da construção, serviços de utilidade pública e a mineração.

Para exemplificar, Cano (2012) destaca em seu estudo que o Brasil vem sofrendo reduções seguidas do PIB da industrial do setor de transformação, como o autor demonstra em 1970 a participação do PIB deste setor passou de 27,5% para 33% nos anos de 1980. Já nos anos de 1990 caíra para 25,5% e nos anos 2000, declina para 17%. Em 2010 chegou a 15,7%, o autor conclui que o produto da indústria caíra para menos da metade do era em 1980.

Cano (2012) entende como característica do processo de desindustrialização o aumento do peso do setor de serviços no PIB nacional devido a uma ”[...] elevação dos padrões do nível de vida e de renda das economias mais avançadas [...] Desse modo, o peso dos serviços cresce em relação ao PIB, e o peso da indústria de transformação cai”. Emeconomias que já se desenvolveram e industrializaraé comum que ocorra pela força e capacidade de expansão do setor de serviços da mesma maneira que a queda da participação da indústria de transformação não signifique necessariamente uma “situação adversa”, como afirma Cano (2012). Este seria um processo natural para estes países.

Feijó e Oreiro (2010) chamam a atenção que não necessariamente a desindustrialização está necessariamente associada a uma "re-primarização da pauta de exportação". Os autores explicam:

Com efeito, a participação da indústria no emprego e no valor adicionado pode se reduzir em função da transferência para o exterior das atividades manufatureiras mais intensivas em trabalho e/ou com menor valor adicionado. Se assim for, a desindustrialização pode vir acompanhada por um aumento da participação de produtos com maior conteúdo tecnológico e maior valor adicionado na pauta de exportações. Nesse caso, a desindustrialização é classificada como "positiva". (FEIJÓ; OREIRO, 2010, p.222).

Entretanto os autores entendem que:

Se a desindustrialização vier acompanhada de uma "re-primarização" da pauta de exportações, ou seja, por um processo de reversão da pauta exportadora na direção de commodities, produtos primários ou manufaturas com baixo valor adicionado e/ou baixo conteúdo tecnológico então isso pode ser sintoma da ocorrência de "doença holandesa", ou seja, a desindustrialização causada pela apreciação da taxa real de câmbio resultante da descoberta de recursos naturais escassos num determinado país ou região.(FEIJÓ; OREIRO, 2010,p.222).

Bresser Pereira e Marconi (2008) afirmam que em países já industrializados esse deslocamento de mão de obra da indústria para setores de serviços com valor adicionado per capita maior é um fato, mas não é o caso do Brasil. Nossa desindustrialização é para produzir mais commodities e concluem que nesta situação a desindustrialização é classificada como “negativa”.

De acordo com estes autores o Brasil detêm vantagens comparativas na produção de variadas commodities, tendendo a ser afetado pela doença holandesa. Sinaglio (2010) ao citar Pererira (2007) define doença holandesa como uma “falha de mercado que se origina na existência de recursos naturais ou humanos baratos e abundantes que mantêm a taxa de câmbio sobre-apreciada por um tempo indeterminado, o que impede a produção de bens de maior valor agregado”.

Bresser Pereira e Marconi (2008) afirmam que até os anos de 1990 a doença holandesa estava sob controle já que era neutralizada por políticas que taxavam as receitas obtidas com exportações de commodities primárias e desestimulava a importação de produtos manufaturados, resultando no incentivo á sua produção interna. Entretanto a abertura economia altera este quadro estável, Cano (2012) destaca que “com a queda das tarifas e demais mecanismos protecionistas da indústria nacional evidentemente dificulta e diminui o grau de proteção perante a concorrência internacional”. Feijó (2005) também compactua com a ideia de que as mudanças na estrutura industrial foram provocadas pela abertura econômica e por políticas macroeconômicas adotadas pós 1990, promovendo a redução da importância do setor industrial brasileiro tanto no que tange produto quanto o emprego, ambos diminuíram. De acordo comFeijó(2005), em 1986 a indústria de transformação detinha participação de 32,1% do PIB, mas já em 1998 sua participação era de cerca de 19,7%, o que para o autor garante a ideia de que o Brasil passava por um processo de desindustrialização.

Bresser Pereira e Marconi (2008) destacam que a apreciação dos preços das commodities, comparados aos dos manufaturados, ou seja, os bens produzidos pela indústria de transformação, gerada pelo cenário de apreciação cambial e taxa de juros elevadas, fazem com a indústria nacional perca competitividade e fazdas commodities o novo motor da economia. Feijó (2005) completa afirmando que esses “novos líderes não tendo a mesma força e os mesmos impactos que a indústria apresenta sobre a sua própria dinâmica e sobre a dinâmica de outros setores, não abriram caminho senão para um crescimento econômico apenas”.

Lamonica e Feijó (2010) citam Kaldor (1966) da mesma maneira entende que a indústria é de relevante importância para o desenvolvimento econômico, mostrando que uma indústria tecnologicamente sofisticada apresenta “encadeamentos intra e inter setores mais sólidos em complexos, possibilitando um potencial de crescimento maior para a economia”.

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