PRINCIPIOS E PRESSUPOSTOS ANDRAGÓGICOS PARA O SUCESSO NA EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO DO ADULTO

Por Hermínio André Zualo | 06/02/2025 | Educação

PRINCIPIOS E PRESSUPOSTOS ANDRAGÓGICOS PARA O SUCESSO NA EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO DO ADULTO

 

Herminio André Zualo1

 

 

RESUMO

Este artigo aborda sobre os Princípios e pressupostos andragógicos para o sucesso na educação/formação do adulto. Procura-se através deste, reflectir sobre os aspectos que possam contribuir para um sucesso dos programas de alfabetização e educação do jovem adulto ou seja, sobre a educação/formação do adulto. É um estudo de natureza qualitativa, com uma característica descritiva. Sua metodologia concentrou-se basicamente na revisão bibliográfica e estudo documental das Leis ou instrumentos legislativos de educação Moçambicana. Andragogia é a arte de ensinar aos adultos, que não são aprendizes sem experiência, pois o conhecimento vem da realidade. O dulto busca desafios e soluções de problemas, que farão diferenças em suas vidas; busca na realidade acadêmica a realização tanto profissional como pessoal, e aprende melhor quando o assunto é de valor imediato. Na arte ou a ciência de orientar adultos a aprender, que se contrapõe à pedagogia, que se refere à educação de crianças é necessário o conhecimento e domínio dos princípios e pressupostos da educação do adulto, o que irá contribuir para o sucesso da educação desta faixa etária.

 

Palavras-chave:  Princípios andragógicos, pressupostos andragógicos, educação do adulto.

ABSTRACT

This article discusses andragogical principles and assumptions for success in adult education/training. Through this, we seek to reflect on the aspects that can contribute to the success of literacy and education programs for young adults, that is, on adult education/training. It is a qualitative study, with a descriptive characteristic. Its methodology basically focused on the bibliographical review and documentary study of Mozambican education laws or legislative instruments. Andragogy is the art of teaching adults, who are not apprentices without experience, as knowledge comes from reality. Adults seek challenges and problem solutions, which will make differences in their lives; seeks both professional and personal fulfillment in academic reality, and learns best when the subject is of immediate value. In the art or science of guiding adults to learn, which is opposed to pedagogy, which refers to the education of children, knowledge and mastery of the principles and assumptions of adult education are necessary, which will contribute to the success of education in this range age.

 

Keywords: Andragogical principles, andragogical assumptions, adult education

 

 

 

1.      Introdução

A Pedagogia como arte e ciência de ensinar às crianças, foi desenvolvida para seres dependentes, indefesos, que precisam ser auxiliados nos primeiros passos do seu desenvolvimento, porém, Andragógia é a arte e ciência de ajudar os adultos a aprender, ou seja, está voltada para educação/formação do adulto, que busca desenvolver habilidades e conhecimentos através da sua história, experiências de vida, aprendizados com erros e análise crítica das informações que recebe. Nesta ordem de ideia, a noção de educação de adultos, remete-nos a perspectiva de educação contínua e permanente da aprendizagem ao longo da vida, pré-requisito para o desenvolvimento humano e para os desafios advindos de uma economia globalizada e das demandas individuais e colectivas requeridas num mercado de trabalho em constante mudança.

Por esta razão, é importante perceber através deste artigo os princípios e pressupostos andragógico que concorre para a eficiência e sucesso da educação/formação do adulto, uma vez que esta modalidade está relacionada com a alfabetização e práticas de reintegração social, financeira e económica dos adultos através de programas ministrados nos centros ou instituições a vários níveis.

 

2.      Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens Adulto (AEJA) em Moçambique

Qualquer país do mundo define suas políticas públicas educacionais tendo em conta o horizonte ou a perspectiva de formação que se pretende para a sociedade, ou seja, que tipo de sociedade se pretende construir através da educação, segundo MATIAS & LIMA (2021:82). Portanto, com isso permite a definição do foco principal e das estratégias para o alcance dos objetivos pré-determinados. Uma das premissas que influência a definição das políticas públicas tem a ver com a necessidade de promover o bem-estar de todos, através de educação para todos.

Em Moçambique a educação é um direito e dever de todo cidadão, consagrado na Constituição da República de Moçambique (C,RM, 2004:26) no artigo (Art.) 88 alínea 1 e na lei 18/2018 de 28 de Dezembro, alínea a) do artigo 3, do Sistema Nacional da` Educação (SNE) vigente.

A lei 18/2018 de 28 de Dezembro no seu artigo 7 e 8, estabelece a escolaridade obrigatória e gratuita da 1ª a 9ª Classe, no sistema de Educação Geral. Não tendo tido a oportunidade de ingressar ao ensino no tempo previsto, o artigo 14, preconiza a realização da modalidade de Educação de Adultos, a qual destina-se a alfabetização e educação para o jovem e adultos, de modo a assegurar uma formação científica e o acesso a vários níveis de educação técnico-profissional, ensino superior e formação de professores. Segundo esta lei, do Plano Estratégia de Alfabetização e Educação de Adultos (PEAEA, 2010-2015) e do Plano Curricular para a Alfabetização de Adultos (PCAEA) do Ministério da Educação de Moçambique, considera a educação de adultos como sendo a aquisição de noções básicas de leitura, escrita e cálculo e, por outro lado, um processo que estimula a participação nas actividades sociais, políticas e económicas e permite uma educação contínua e permanente, MEC (2003:57).

3.      Conceitos

a)      Educação/formação do adulto

Não existe uma definição uniforme e muito menos linear, sobre a Educação/formação do adulto. Da Estratégia (2010-2015:4) do MINEDH, remete-nos ao entendimento segundo o qual a educação de jovens e adultos desenvolve-se em três vias fundamentais: Educação Formal (EF), Educação Não Formal (ENF) e Educação Informal (EI). Portanto, o conceito de Educação/formação de adultos vai-se definindo em função do campo de acção por onde se vai- trabalhar.

Segundo UNESCO (1997:16), entende-se de Educação/formação do adulto como um conjunto de processos de aprendizagem, formal ou não, graças as quais as pessoas consideradas adultas pela sociedade a que pertencem desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos, e melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais. Estas acções, oferecem-lhes uma nova orientação, fazem evoluir as suas atitudes ou o seu comportamento na dupla perspectiva de um desenvolvimento integral do homem e de uma participação no desenvolvimento socio-econômico e cultural equilibrado e independente.

b)     Andragogia

O termo provém do grego (andros – adulto e gogos – educar), caminho educacional que busca compreender o adulto. A andragogia significa, “ensino para adultos”, pedagogia que se concentra nas necessidades e características específicas dos alunos adultos. Segundo TEXEIRA (2006:56), Andragogia é a arte de ensinar aos adultos, que não são aprendizes sem experiência pois, o conhecimento vem da realidade (escola da vida). Portanto, ela reconhece que os adultos têm experiências prévias, preferem a autonomia na aprendizagem e estão mais motivados quando a educação é relevante para sua vida pessoal ou de trabalho.

4.      Diferenças entre Andragogia da Pedagogia

Andragogia e Pedagogia são duas abordagens distintas no processo de educação, cada uma voltada para diferentes grupos etários em contextos de aprendizagem, KENSKI (2009). A pedagogia é tradicionalmente associada ao ensino de crianças e adolescentes, focando em métodos e técnicas adequadas ao desenvolvimento infantil. Ela se concentra na instrução direta, estruturação do conteúdo e no papel do educador como facilitador do aprendizado. Por outro lado, a Andragogia se refere à educação de adultos e se baseia em princípios diferentes. CANÁRIO (1999:108), considera que nessa abordagem, valoriza-se a experiência prévia do aluno, sua autonomia e responsabilidade pelo próprio aprendizado. Os adultos são vistos como aprendizes autodirigidos, capazes de participar activamente do processo educacional, definindo seus objectivos de aprendizagem e buscando recursos para alcançá-los. O papel do educador na andragogia é o de um facilitador do aprendizado, que orienta e apoia os alunos em sua jornada educacional, promovendo a reflexão e a aplicação prática do conhecimento. De acordo com DE AQUINO (2007:45), éis as principais diferenças:

PEDAGOGIA

ANDRAGOGIA

·         Aprendizes são dependentes;

·         Aprendizes são independentes e auto-direcionados;

·         Aprendizes são motivados de forma extrínseca (recompensas, competição, etc.);

·         Aprendizes são direcionados de forma intrínseca (satisfação por colocar em prática o aprendizado);

·         Aprendizagem caracterizada por técnicas de transmissão de conhecimento (aulas, leituras designadas);

·         Aprendizagem caracterizada por projectos inquisitivos, experimentação, estudos independentes;

·         O ambiente de aprendizagem é formal e caracterizado pela competitividade e por julgamentos de valor;

·         O ambiente de aprendizagem é mais informal e caracterizado pela igualdade, respeito mútuo e cooperação;

·         O planificação e a avaliação são conduzidos pelo professor;

·         A aprendizagem é baseada em experiências e trocas entre os aprendizes;

·         A avaliação é realizada basicamente por meio de métodos externos (notas, teste e provas).

·         As pessoas são centradas no desempenho em seus processos de aprendizagem.

 

5.      Contextualização sobre a educação de adultos em Moçambique

A Educação de Adultos e da escolarização das populações em Moçambique começaram a ser desenvolvidas em 1960, ainda no período colonial, nas vésperas e durante a luta armada de libertação nacional. Assim, enquanto a guerra se intensificava, as práticas educativas de Educação de Adultos eram cada vez mais relevantes nas zonas libertadas através das escolas do povo, como forma de preparar os moçambicanos a independência nacional alcançada em 1975.

Segundo o SNE (1983), desde os primeiros momentos da sua existência, a Educação de Adultos teve como uma das suas principais preocupações a erradicação do analfabetismo por isso, nos Congressos da FRELIMO, sempre se recomendava o combate ao analfabetismo como tarefa prioritária a ser realizada por todos os moçambicanos. Neste contexto, o seminário de Ribáwé (1975) “recomendou a criação de um órgão central que deveria definir e especificar os objectivos e as metodologias da alfabetização” ALTUNA (1993:225).

Depois da independência, foi criada a Direção Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos (DNAEA) com o objectivo de orientar e controlar centralmente todos processos relacionados com a alfabetização e educação de adultos no país, com a excepção da formação profissional. Tinha ainda como objectivo, a organização das campanhas Nacionais de alfabetização que haviam sido agendadas pelo III Congresso da FRELIMO realizado em 1977, as quais priorizavam a classe operária, veteranos da luta de libertação nacional, quadros da FRELIMO, organizações democráticas de massas, forças de defesa e segurança.

Como podemos aqui entender, desde há muito a essência de educação ou formação do adulto vai além de aprender a codificar e descodificar o sistema de simbologias de escritas pois, a alfabetização está em constante ocorrência na vida do educando porque, existem vários motivos que levam um adulto a decidir voltar a estudar ou fazer uma formação, desde a necessidade de melhorar as suas perspectivas de emprego, desenvolvimento pessoal ou profissionalmente e adquirir competências transferíveis, como o pensamento crítico.

 

6.      Princípios fundamentais na educação e aprendizagem de adultos

Os adultos não aprendem como crianças, eles precisam ressignificar, desaprender para aprender novamente, precisam concordar em desaprender, quebrando resistências internas e modelos mentais conservadores incrustados. Entre os objetivos da Andragogia, é possível mencionar questões relacionadas ao tempo, tendo em vista que adultos têm mais compromissos por isso, para que os aprendizes adultos aprendam de forma efectiva, o ensino precisa ser desenhado de modo a ir ao encontro dos seguintes princípios de Andragogia:

a)      A necessidade do saber

Consiste em o aprendizado em questão provar o seu valor agregado ao profissional, ou seja, para que o adulto aprenda, deve entender sobre a necessidade novo conhecimento para aprimorar sua actuação, nas diversas esferas sociais. Isto é, a eficiência e o sucesso na andragogia do adulto, é preciso justificativas do porquê a pessoa aprende pois, segundo UNESCO (2009:2), o objectivo do adulto é desenvolver suas habilidades, enriquecer seus conhecimentos, melhorar suas qualificações técnicas ou profissionais que provocam mudanças em suas atitudes e comportamentos, na dupla perspetiva de desenvolvimento pessoal da participação plena na vida social, económica e cultural.

b)      Autoconceito do aprendiz.

 Esse princípio da Andragogia propõe que o aprendiz tenha mais autonomia para decidir como e quando na medida do possível, o que aprender. Por serem indivíduos com intenções claras, os adultos tendem a ser mais autônomos e autodirigidos na busca do conhecimento, porque conseguem enxergar suas lacunas e buscam o que precisam para supri-las de forma independente. Entretanto, o adulto aqui não é o da definição biológica, ou jurídica, mas sim da definição psicológica.

c)      Experiência (anterior) do aprendiz

Diferentemente das crianças, adultos já tiveram muitas vivências logo, estas experiências formaram um repositório de significados prévios e também delinearam um modelo mental de como ele enxerga e lida com o mundo. Pois, segundo KOLB (1984) citado por MWAMWENDA (2005:251), o processo de aprendizagem é um processo social; portanto, o curso de desenvolvimento individual é determinado pelo sistema cultural e social de conhecimento. Aliado a experiencia na aprendizagem, a abordagem ambientalista, também denominada empirista ou comportamentalista, tem os factores ambientais, os estímulos externos, como os agentes responsáveis pela aprendizagem, PAPALIA (2006:72). Este princípio, prepondera a função ambiental sobre a biológica, advogando que o indivíduo desenvolve suas características, hábitos e comportamento condicionado aos estímulos que recebe do meio em que está inserido.

d)     Prontidão para aprender

Andragogia está voltada para educação/formação do adulto, que busca desenvolver habilidades e conhecimento através da sua história, que trás experiências de vida, aprendizados com os erros e análise crítica das informações que recebe. Assim sendo, este princípio considera que os adultos sentem se preparados para aprender, para enfrentar situações relacionadas à vida ou seja, a necessidade de aprender é puxada pela vontade de se adaptar ao mundo e de se cumprir tarefas de desenvolvimento.

 

e)      Orientação para aprendizagem

Os adultos assimilam mais facilmente quando aprendem de forma contextualizada, isto é, valorizam a aprendizagem quando esta o ajuda a resolver problemas de seu dia a dia. Neste princípio, deve-se estimular mais a aprendizagem baseada em problemas, a superação de desafios e as abordagens mais práticas. Este princípio defende o concílio da teoria e a prática pois, considera que trazer exemplos ou propor exercícios para imaginar os conceitos e técnicas aplicadas no dia-a-dia do adulto melhora a fixação do aprendizado.

 

f)       Motivação para aprender

Este princípio, se expressa na satisfação pessoal, na autorrealização, no reconhecimento profissional, no aumento da autoestima e entre outros pois, para PAPALIA (2006:456), a verdadeira energia mobilizadora para aprendizagem está nos factores intrínsecos, ou seja, sua satisfação, reconhecimento obtido e sua autorrealização.

 

7.      Pressupostos andragógicos na educação/formação do adulto.

 Para que o ensino do adulto possibilite uma melhor aprendizagem, é importante que o educador conheça certos os pressupostos andragógicos, que se apresentam como elementos facilitadores, articuladores e orientadores na relação de aprendizagem entre adultos.

a)      Autonomia

Para Knowles (1990), pai da prática andragógica, afirma que sem a possibilidade de autonomia a aprendizagem do adulto se restringirá ao que se pode denominar “aprendizagem bancária”, a qual Freire (1996:174), considera como sendo um aluno repositório de informações, é um ouvinte passivo por isso, ele defende que ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.

A autonomia no processo de ensino e aprendizagem refere-se a participação activa dos alunos na construção do próprio conhecimento, para se tornarem protagonistas do seu projecto de vida. Nesse sentido, o método andragógico estabelece algumas referências para que haja autonomia no processo de aprendizagem do adulto de modo a criar condições para que o participante possa intervir por meio de diálogos que favoreçam a interação, colaboração e cooperação, de modo a incentivar que ele apresente propostas de mudanças, questionamentos ao que está posto. O adulto aprende mais e melhor quando percebe que é dada a autonomia para o seu crescimento pessoal e profissional.

 

b)      Humildade

Constitue um referencial andragógico pois, exerce o papel de articulador nas acções humanas de conciliação, autonomia, liberdade e expressão, levando ao fortalecimento da relação entre os pares no processo de aprendizagem. Está associado aos processos psicossociais das relações intra e interpessoais na aprendizagem colaborativa e cooperativa pelo facto de a humildade, permitir que o adulto possa descobrir suas limitações, fraquezas na aceitação pelo outro no processo de aprendizagem.

Segundo o pedagogo Freire (1996), um andragogo nato, ensinar exige humildade na acção docente. Na andragogia, esse pressuposto é considerado o articulador da acção humana na busca da conciliação, da autonomia, da liberdade de ação e expressão entre os pares da aprendizagem. É considerada também, como referencial andragógico para ouvir, para o crescimento e a capacidade de o adulto descobrir as suas limitações, fraquezas e a sua capacidade de aceitação do outro. Este pressuposto, está associado aos processos psicossociais das relações intra e interpessoais na aprendizagem colaborativa e cooperativa. A humildade na andragogia significa o fortalecimento da capacidade de ele estabelecer um canal aberto de confiança, aceitação e democracia no diálogo com seus pares em processo de aprendizagem. Associa-se também ao fortalecimento da sua competência em momentos de crise e divisão de responsabilidades.

c)      Iniciativa

Todo o processo de andragogia deve ser pautado por iniciativa, e Rocha (2012:2), afirma que o incentivo à criatividade, à capacidade de assumir novas competências, e a sensibilidade para novos desafios e descobertas, constituem um dos factores que possibilita uma melhor aprendizagem do adulto.

d)      Dúvida

PAPALIA (2006:265), considera como sendo o elemento importante das teorias da aprendizagem, agindo como um grande aliado na cognição, especificamente no processo de metacognição, que é a capacidade que o sujeito tem de pensar sobre a maneira como resolve os problemas que se apresentam na realidade e as várias tarefas do cotidiano. Sem esse pressuposto na planificação, na construção do conteúdo e de actividades de aprendizagem do adulto, a possibilidade de apropriação do conhecimento ficará vulnerável ou desprovida de intervenções ou de análises crítica- reflexivas. Isto é, não há possibilidade de diálogo   quando o adulto não se depara com a dúvida sobre o que foi posto, quer como teoria ou problema concreto.

e)      Mudança de Rumo

Para ROCHA (2012:8), esse pressuposto andragógico funciona como uma bússola no processo de aprendizagem do adulto. Está intimamente ligado à humildade epistemológica da acção do instrutor, do professor ou do tutor. Estabelece um clima de confiança, de transparência, de humildade e respeito ao adulto em processo de aprendizagem. Na andragogia, mudar de rumo não significa um acto de fraqueza, de falta de planificação, mas uma consciência das possibilidades e necessidades de mudanças para o alcance das metas estabelecidas no processo de aprendizagem. Isto é, está associado à necessidade do Plano de Contingência muito bem visto pelo adulto aprendente.

 

f)       Contextos

O processo andragógico deve apresentar-se coerente quanto ao campo teórico e as realidades. Dessa maneira, os contextos educacionais, ambientais, culturais, socioeconómicos e políticos devem ser levados em consideração na planificação, execução e gestão dos resultados do aprendizado. Pois, sem este pressuposto considera-se uma agressão ao participante, ou seja, a falta desse pressuposto nas acções de planificação, execução e gestão de resultados de um curso, evento ou actividade cujo público-alvo seja o adulto, é um fracasso.

g)      Experiência de vida

Pelo facto de a sociedade ser, nas palavras de Rocha (2012:3), uma “universidade ambulante”, a experiência de vida de cada um dos participantes do processo deve servir como referência para os momentos críticos que necessitem de análise, avaliações e decisões. Desconsiderar esse pressuposto é reduzir drasticamente a possibilidade de reconstrução do saber entre os adultos pois, PAPALIA (2006:427) afirma que John Dewey, considerava o valor da experiência como sendo inestimável para a aprendizagem.

 

h)      Busca

ALVES (2004) citado por DEMO (1997:98), afirma que “não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas”. A busca é considerada uma forma de metodologia activa de aprendizagem baseada na pesquisa pois, visa a participação do adultona construção do seu conhecimento. Segundo ROCHA (2012:4), a arte de ajudar o adulto a prender com sucesso, ocorre quando se tem a oportunidade de investigar, trilhar novos caminhos. Buscar/pequisar é preciso por servir de âncora para a inciativa e a autonomia. Também, possibilita um jeito diferente de ver as coisas, de questionar supostas verdades absolutas; possibilita ainda a análise de contextos e cenários nos caminhos da aprendizagem. A andragogia deve incentivar a criatividade e a curiosidade porque possui uma forte ligação com a acção de pesquisa investigativa, analítica e critica dos factos e objectos da aprendizagem.

i)       Objectividade

Objectividade associa-se ao jeito de o adulto examinar as realidades e os contextos em processo de aprendizagem. Contribui fortemente para o acerto ao alvo das metas estabelecidas no objectivo educacional. Todo o processo, de acordo com ROCHA (2012: 4), estabelece um canal de coerência e respeito à atenção do adulto, enquanto participante activo e que dispensa rodeios, falácias, perda de foco. Na andragogia, se o conhecimento ou a aprendizagem não consegue explicar ou enquadrar, a objectividade tende a desconsiderar essa aprendizagem.

 

j)       Valor agregado

O pressuposto dita que no processo de aprendizagem há a necessidade de agregar-se valores em todas as etapas, pelo facto de o adulto ser concedido o poder de aplicar tudo o que aprendeu ou está aprendendo em sua vida pessoal e profissional. Sem essa visão, o processo de aprendizagem não criaria reais resultados.

Esse pressuposto representa um dos principais elementos da orientação andragógica na aprendizagem do adulto. Segundo ROCHA (2012), afirma que “pessoas aprendem o que realmente precisam saber (aprendizagem para a aplicação prática na vida diária)”.

 Com essa afirmação, entendemos que há necessidade de inserção do olhar andragógico do valor agregado nas etapas de planificação, execução e gestão de resultados em cursos e eventos direcionados aos adultos. Associada a isso está há necessidade de reconhecimento das possibilidades de o adulto aplicar na vida pessoal e profissional aquilo que ele está aprendendo ou aprendeu. Sem essa perspectiva de valor agregado fica difícil a aceitação, compreensão e comprometimento do adulto em processo de aprendizagem

 

 

 

 

8.      Considerações finais.

O sucesso da educação/formação do adulto, está em conhecer suas características, preferências e respeitá-lo, envolvendo-o em um processo de dialógico acerca das decisões sobre sua aprendizagem pois, a andragogia é a arte de ajudar o adulto a aprender. E em Moçambique, a educação ou formação do adulto data desde período colonial, como forma de preparar os moçambicanos a independência nacional alcançada em 1975, mas actualmente segundo UNESCO (1997), é uma forma de oferecer oportunidades aos adultos para que possam adquirir as competências em literacia, numerária, capacitando dessa forma os cidadãos para os desafios que eles enfrentam diariamente. Contudo, é importante que o educador não desconsidere o conhecimento prévio ou experiências dos seus alunos para que se chegue a um resultado positivo da aprendizagem, que ocorre quando faz sentido para o adulto e de acordo com sua relevância na sua vida (adulto). Para tal, a Andragogia possui pilares ou princípios e pressupostos que quando acopladas pelo educador durante as suas actividades podem auxiliar-lhe a organizar e conduzir o processo de ensino e aprendizagem de adultos com resultados positivos.

 

 

9.      Bibliografia

 

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