Prevalência de microrganismos em uroculturas de pacientes atendidos em um laboratório privado de Macapá, AP
Por EDILSON LEAL DA CUNHA | 29/10/2013 | SaúdePrevalência de microrganismos em uroculturas de pacientes atendidos em um laboratório privado de Macapá, AP
Edilson Leal da Cunha*
*Farmacêutico – Bioquímico, Mestre em Biodiversidade Tropical, Major Farmacêutico do Exército brasileiro, Doutorando em inovação Farmacêutica. edilsonlcunha@ig.com.br
INTRODUÇÃO
As infecções do trato urinário (ITU) estão entre as doenças infecciosas mais comuns na prática clínica, particularmente em crianças, adultos jovens e mulheres sexualmente ativas, sendo apenas menos freqüentes que as do trato respiratório. No meio hospitalar são as mais freqüentes em todo o mundo (ANVISA, 2004).
A ITU pode ser definida como sendo a invasão e multiplicação de microrganismos nos tecidos do trato urinário, desde a uretra até os rins (HASENACK et al, 2004).
Os sítios mais comuns de ITU, na mulher, são a uretra e a bexiga (HOOTON et al, 2000).
A prevalência dessas infecções varia de acordo com o sexo e a idade. Em neonatos e lactentes, são mais comuns no sexo masculino, geralmente relacionadas a anomalias uretrais congênitas. Durante a infância, principalmente, na fase escolar, as meninas são acometidas por ITU numa proporção 10 a 20 vezes mais do que os meninos. Na fase adulta predominam no sexo feminino, com picos de maior acometimento no período de atividade sexual, na gestação e na menopausa, após os 60 anos as taxas de incidência da infecção, geralmente são maiores no sexo feminino, mas podem acometer os homens, conforme a existência de condições predisponentes (KONEMAN et al, 2001; HEILBERG et SCHOR, 2003).
O diagnóstico de infecções urinárias só pode ser confirmado através da urocultura, que representa 40 a 70 % dos exames realizados nos laboratórios de Bacteriologia (CARDOSO et al, 1998; MARTINO et al, 2002).
OBJETIVO
Realizar uma análise sobre a prevalência de microrganismos que acometem o trato urinário de pacientes atendidos em um Laboratório de Análises Clínicas privado na cidade de Macapá-AP.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospectivo e descritivo através do levantamento de dados, a partir da análise dos laudos, dos exames de uroculturas de pacientes que foram atendidas no Laboratório de Análises Clínicas BIODIAGNÓSTICOS na cidade de Macapá. AP. de faixa etária de 0 a 100 anos, atendidos no período de Janeiro de 2007 a dezembro de 2010.
Os laudos de exames microbiológicos foram produzidos a partir dos procedimentos a seguir: Semeadura da urina no sistema Uribac com três meios de cultura, possibilitando a contagem dos germes, e identificação de E. coli, semeadura em meio de Eosina azul de metileno (EMB), e Ágar sangue de carneiro, identificação das colônias através de provas específicas para Gram Positivos e Gram Negativos.
RESULTADOS
Nas tabelas e gráficos são demonstrados os resultados encontrados
Tabela 1 Resultados das culturas realizadas ao longo de 4 anos
Nº de culturas realizadas |
Nº de culturas positivas |
% |
Nº de culturas negativas |
% |
1.723 |
784 |
45,5 |
939 |
54,5 |
Tabela 2 Germes isolados ao longo de quatro anos
Germe |
Nº de isolados |
% de isolamento |
E. coli |
543 |
69,26 |
Klebsiella sp. |
55 |
7,02 |
Enterobacter sp. |
23 |
2,93 |
Proteus sp. |
57 |
7,27 |
Pseudomonas aeruginosa |
22 |
2,8 |
Staphylococcus aureus |
55 |
7,02 |
Staphylococcus (coagulase -) |
29 |
3,7 |
Tabela 3 Resultados das culturas por faixa etária
Faixa etária |
Total de culturas |
Culturas positivas |
Culturas negativas |
0 a 14 anos |
332 |
160 |
172 |
14 a 45 anos |
883 |
350 |
533 |
45 a 100 anos |
508 |
274 |
234 |
DISCUSSÃO
A prevalência de uroculturas positivas encontradas neste estudo foi de 45,5%. Esse dado diverge com os resultados alcançados nos trabalhos de Vieira et al. (2007) no Pará, Kazmirczak et al. (2005) no Rio Grande do Sul e Bandeira (2004) na Paraíba, onde foi detectado número de uroculturas positivas (22,6%; 23%; 35%, respectivamente).
No que se refere à etiologia das ITUS, as Enterobactérias classicamente são responsáveis pela maioria dos casos. Os resultados obtidos neste estudo concordam com a literatura, demonstrando que a grande maioria das bactérias isoladas foram bacilos Gram negativos entéricos, destacando-se a Escherichia coli, espécies de Klebsiella e Proteus sp.
Os indivíduos pertencentes à terceira idade formam os mais afetados.
CONCLUSÕES
A prevalência de ITU e os microrganismos relacionados podem variar de acordo com a idade dos pacientes.
A pesquisa realizada revelou que, em culturas de urinas a nível ambulatorial, as bactérias Gram negativas tem predominância sobre as Gram positivas em todas as faixas etárias e a Escherichia coli aparece como o germe de maior percentual de isolamento.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA), Principais Síndromes Infecciosas-Módulo I – Infecções do trato urinário- Disponível http://www.ccih.med.br/mod_1_2004.pdf. Consultado em Abril de 2011.
CARDOSO, C. L.; MURARO, C. B.; SIQUEIRA, V. L. D.; GUILHERMETTI, M. Simplified Tecnique for detection of significant Bacteriuria by Microscopic Examination of urine. J. Clin. Microbiol. 36 (3): 820-823, 1998.
HASENACK, B. S.; MARQUEZ, A. S.; PINHEIRO, E. H. T, et al. Disúria e polaciúria: sintomas realmente sugestivos de infecção do trato urinário? RBAC 36(3): 163-166, 2004.
Hooton, T. M.; Scholes, D.; Stapleton A. E.; Roberts, P. l.; Winter, C.; Gupa, K.; SAMADPOUR, M. & STAMM, W. E. A prospective study of asymptomatic bacteriuria in sexually active young women. N. Engl. J. Med. 343: 992 – 997, 2000.
KAZMIRCZAK, A.; GIOVELLI, F. H. & GOULART, L. S. Caracterização das Infecções do Trato Urinário Diagnosticadas no Município de Guarani das Missões – RS. Rev. Bras. Anal. Clin., 37(4): 205-207, 2005.
KING, SUSAN. S.; MARJORIE S. D. L.– Urinálise e fluidos corporais. 5a. edição – LMP. Editora, 164, 165 (p) 2009.
KONEMAN, E. W.; ALLEN, S. D.; JANDA, W. M.; SCHRECKENBERGER, P. C.; WINN JR., W. C. Diagnóstico Microbiológico – Texto e Atlas Colorido, . 5ª MEDSI, Rio de Janeiro, RJ, 2001, p. 141-147.
MARTINO, M. D. V.; TOPOROVSKI, J.; MÍMICA, I. M. Métodos bacteriológicos de triagem em infecções do trato urinário na infância e adolescência. J. Bras. Nefrol. 24(2): 71-80, 2002.
MOURA, R. A., WADA, C. S., PURCHIO, A., ALMEIDA, T.V., Técnicas de Laboratório 3ª. Ed. 1999, PP 2007.
VIEIRA, J. M. S.; SARAIVA, R. M. C.; MENDONÇA, L. C. V.; FERNANDES, V. O.; PINTO, M. R. C. & VIEIRA, A. B. R. Suscetibilidade antimicrobiana de bactérias isoladas de infecções do trato urinário de pacientes atendidos no hospital universitário Betina Ferro de Souza, Belém – PA, Ver. Bras. Anal. Clin., 39 (2): 119 – 121, 2007