Pressa

Por Heloísa André Donato | 18/06/2015 | Contos

Olhava pro lado e reparava em cada sorriso no rosto das pessoas, sabia que estes estavam apenas tentando disfarçar o inevitável medo estampado em seus olhos.

Nada poderia mantê-los calmos, nada poderia mantê-la calma. Todos sabiam o que estava por vir. A guerra  estava cada vez mais próxima.

Seis meses depois, novamente na rua, ela  torna a observar o rosto das pessoas. Com pressa ela percebe que não existem mais sorrisos, nem mesmo falsos. Há apenas o desespero.

Com pressa ela olha para os prédios e casas agora destruídos ou abandonados.

Com pressa ela repara nos corpos estirados no chão, alguns ainda quentes. O sangue parece querer competir com as lágrimas, vendo quem se derrama em maior quantidade pelas ruas, becos e casebres da cidade.

Com pressa  ela ouve o som das balas que partem de todos os lados, sem um lavo certo mas acertando todos.

Com mais pressa ainda uma dor invade seu peito e como se corresse por  suas veias logo domina todo  o seu corpo.

Então ela cai.

Seus olhos ainda abertos e atentos começam a observar o céu azul, decorado com pequenas nuvens  brancas. Nem parece parte deste cenário de horror.

“Finalmente consigo ver algo belo novamente”, ela pensa .

Com calma seus olhos se fecham e  ela não mais observa. Um delicado sorriso se forma em seu rosto.

Sua pressa acabou.