Presente ou ausente

Por Vlademir Nei Suato | 08/02/2015 | Crônicas

Ao voltar das férias, nem sequer me lembro da senha de acesso do sistema informatizado. Era nesse clima de completa alienação que, de longe, dei uma olhada para minha mesa e vi uma caixa de presente enorme. Pense numa caixa grande... 
Naquele momento, preciso socorrer-me de clichês, um filme passou pela minha cabeça. Eu havia pedido tantos presentes de aniversário no último ano, que a minha memória passou a fazer o check list de tudo que eu havia sugerido e que talvez pudesse ser daquele tamanho, mas a coisa não tava muito boa; se não conseguia lembrar da senha, quem diria dos presentes. 
Pelo tamanho da caixa, poderia ser até um cortador de grama, já que ultimamente resolvi adentrar nessa seara. O lema para 2015 será “mexa-se”. Isto mesmo, sendo inevitáveis os exercícios físicos pós quarenta anos, vamos ao que se tem de fazer aqui em casa mesmo, pra ver se me livro da esteira.
Não pude abrir naquele momento o presente porque, obviamente, colocaram o embrulho sobre a minha mesa quando eu estava em reunião e ao sair da reunião estava comprometido com a turma do almoço e não pude escapulir para a abertura apoteótica da caixa.
Pequenas garfadas de arroz integral com míseros caroços de feijão, por causa do regime de começo de ano, e a cabeça a martelar: que teria na caixa? 
Tcham, tcham, tcham, hora da caixa.
De volta, todos se reuniram, uns quinze indivíduos, para apreciarem o momento festivo de se abrir o presente dos coleguinhas de trabalho. Lá vou eu, com toda a sutileza de dinossauro, a abrir aquele mimo.
“Não precisava!”
“Como eles gostam de mim!”
“Fiz amigos aqui no serviço.”
“Cala a boca e abre.”
Ao retirar o papel de presente, encontrei uma caixa de papelão hiper lacrada. Ao abrir um dos seus lados disseram:
- O presente está de cabeça para baixo!
Virei e começamos novamente aquela cena de suspense.
Ao abrir do outro lado percebi que dentro da caixa havia outra caixa, mas desta vez não era de papelão. Era uma caixa linda, bonita mesmo, tipo objeto de decoração.
- Ah! Pessoal, o presente é a caixa, adorei, é linda!
Silêncio sepulcral.
Não teve uma viva alma manifestando-se, o que levou este ser que escreve a imaginar:
“Nossa! Se a caixa é linda assim, imaginem o presente!”
Sendo o foco de todos, ansiosíssimo, abri a caixa e o que encontrei?
Ausência. Vácuo. Espaço.
- Bem que eu disse, era a caixa. Muito obrigado, adorei, vamos trabalhar.
Adorei o “baú” que compraram numa loja badaladíssima aqui em Campinas, mas que mico paguei.
Fica a dica, ao dar um baú, preparem o terreno.
Até o próximo aniversário.