PRESBIACUSIA - O Envelhecimento da Audição

Por Jacqueline Gomes Pinto | 20/05/2011 | Saúde

O envelhecimento da Audição
JACQUELINE GOMES PINTO FORTALEZA - CE DEZEMBRO 2009


"Envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo".
Charles Saint Beuve Palavra chave: Audição - Envelhecimento - Idoso - Ouvir - AASI - Fonoaudiologia 2009

INTRODUÇÃO

A comunicação se traduz em uma necessidade vital do ser humano. É por meio da comunicação que o indivíduo mantém as possíveis trocas em suas relações sociais, permitindo o aproveitamento pleno das experiências já vividas. Comunicar é compartilhar idéias e pensamentos por meio da linguagem, sendo a linguagem falada a mais utilizada no mundo e, para tanto, entre outros aspectos, é necessária a preservação da audição.
Cada vez mais o tema envelhecimento vem sendo abordado, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. No Brasil, o envelhecimento da população é um fenômeno relativamente novo e os estudos sobre o tema não são ainda numerosos.
CAPITULO I 1 - FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO
Por via aérea: a orelha externa capta os sons ambientes e os dirige para a membrana timpânica que vibrando junto com a cadeia ossicular transmite e amplifica os sons para a janela oval. A vibração do estribo faz vibrar a perilinfa desencadeando uma onda de vibração na membrana basilar da base para o ápice. Para freqüências altas a onda é maior na base da cóclea (cada região ao longo da cóclea corresponde a uma freqüência). (GUYTON, 1981) O órgão de Corti que se encontra apoiado na membrana basilar acompanha seus movimentos e como as suas células ciliadas estão em contato com a membrana tectória os cílios são deslocados. Isso provoca a despolarização das células ciliadas aparecendo o impulso nervoso que é transmitido para o sistema nervoso central. (GUYTON, 1981) A orelha possui portanto um segmento que transmite e amplifica o som para a o órgão de Corti (aparelho de transmissão ou condução) e um segmento que transforma a vibração em impulso nervoso e o transmite para SNC (aparelho de recepção ou neuro-sensorial). (GUYTON, 1981) Por via óssea: a vibração do crânio, por exemplo tocando-o com um diapasão, faz vibrar a perilinfa desencadeando o impulso nervoso. Por inércia a cadeia ossicular também vibra existindo um componente condutivo na audição por via óssea mas para facilitar o raciocínio clínico considera-se que a audição por via óssea estimula diretamente o aparelho de recepção. (GUYTON, 1981) CAPÍTULO II 2 - PRESBIACUSIA Presbiacusia ou perda de audição relacionada à idade, é o efeito cumulativo do envelhecimento no sentido da audição. É uma perda simétrica progressiva e bilateral.
A presbiacusia ou surdez do idoso constitui-se em um dos mais importantes fatores de desagregação social. Estudos recentes demonstram que de todas as privações sensoriais, a perda auditiva é a que produz efeito mais devastador no processo de comunicação do idoso.
De acordo com Academia Brasileira de Otologia, presbiacusia é o envelhecimento natural do ouvido humano, resultante da somatória de alterações degenerativas de todo o aparelho auditivo.
Consiste em uma perda bilateral da audição para sons de alta freqüência, acompanhada, geralmente, por uma perda desproporcional do reconhecimento da fala, sem história prévia de doença sistêmica ou auditiva severa, com início gradual e curso progressivo (Willott, 1991 em Neves, 2002).
As deficiências auditivas acometem 70% dos idosos (mais ou menos 10 milhões de pessoas em nosso país), sendo a segunda inabilidade física mais comum e a quarta afecção mais comum nos EUA.
Os principais agentes agravantes da presbiacusia são: exposição a ruídos, diabetes, uso de medicação tóxica para os ouvidos e a herança genética, e a diminuição da acuidade auditiva na terceira idade. Muitas vezes a deficiência auditiva pode vir acompanhada de um zumbido que compromete ainda mais o bem estar, esse zumbido tem como característica à percepção de som na ausência de uma fonte sonora externa e afeta cerca de 20% da população mundial. Suas queixas principais são: "chiado", "grilo", "apito no ouvido", "panela de pressão na cabeça", etc.
Segundo Seidman, (2004) presbiacusia é definida como diminuição auditiva relacionada ao envelhecimento, por alterações degenerativas, fazendo parte do processo geral de envelhecimento do organismo. Com o avançar da idade, ocorre diminuição da capacidade de mitose de certas células, acúmulo de pigmentos intracelulares (lipofucsina) e alterações químicas no fluido intercelular. A presbiacusia não deve ser interpretada como comprometimento apenas do osso temporal, mas também das vias auditivas e do córtex cerebral. Vale lembrar que com o envelhecimento o labirinto posterior também é afetado. Há degeneração do plexo nervoso sacular e de seu neuro-epitélio, com perda de otólitos saculares e, em menor grau, dos otólitos utriculares.
presbiacusia não é patológico e sim fisiológico e suas características mais comuns são: diminuição da audição e, da compreensão da fala prejudicando a comunicação verbal.
Assim como a pele, os olhos, os cabelos e outras partes do corpo, o ouvido humano também envelhece. Em algumas pessoas acontece mais precocemente devido ao meio ambiente que a pessoa está exposta e o tipo de vida que ela leva. O ouvido é um dos primeiros órgãos a se formar durante a gestação, mas também é o primeiro órgão a entrar em deterioração, pois as células ciliadas que estão localizadas no interior do ouvido vão perdendo suas principais funções, principalmente quando estão expostas a um ruídos em intensidades elevadas ao longo da vida. Torna-se difícil definir em cada indivíduo, a proporção de perda auditiva que é devida ao processo de senilidade em si, daquele causado por fatores metabólicos, traumáticos ou definidos hereditariamente. Chega-se então à conclusão de que o fenômeno da presbiacusia é de origem multifatorial, como demonstrou Rosen, em seu trabalho epidemiológico (1966) que sugeriu a relação entre perda auditiva no idoso e o ruído ambiental, sem excluir a atividade física, dieta, uso de drogas ototóxicas, arteriosclerose e doenças associadas nas populações comparadas. No processo de envelhecimento, ocorre uma perda progressiva no epitélio sensorial e nos componentes do labirinto, assim como na cóclea. A redução progressiva do número das células começa aproximadamente aos 40 anos CAPÍTULO III 3 - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Com a diminuição da sensibilidade auditiva ocorre uma redução na inteligibilidade da fala, o que vem a comprometer seriamente o seu processo de comunicação verbal. A perda auditiva em altas freqüências (agudos) torna a percepção das consoantes muito difícil, aos idosos, especialmente quando a comunicação ocorre em ambientes insalubres ou ruidosos. "Não entendem o que é dito".
Observa-se predomínio do sexo masculino na presbiacusia, segundo as pesquisas a perda auditiva é significativamente maior em homens.
A presbiacusia no idoso pode acarretar alguns problemas psico-socias tais como: Isolamento social, Incapacidade auditiva (igrejas, rádio e TV), intolerância a sons de moderada à alta intensidade (agudos). Se a pessoa fala baixo o idoso não ouve se ela grita, o incomoda.
Problemas de alerta e defesa: incapacidade para ouvir pessoas e veículos aproximando-se, panelas fervendo, alarmes, telefone, campainha da porta, anúncios de emergências em rádio e TV.
Quando questionados sobre a patologia os familiares descrevem o idoso como:
Principais sintomas: Dificuldade de participar de conversação ou falar ao telefone, sensação de que não consegue compreender as palavras, necessidade de aumentar o volume da TV ou rádio, dificuldade de localizar uma fonte sonora.
4 - CLASSIFICAÇÕES Schuknecht (1964), classificou a presbiacusia em quatro tipos, baseado na correlação entre os achados histopatológicos de ossos temporais de idosos e os achados audiométricos:
1) presbiacusia sensorial;
2) presbiacusia neural;
3) presbiacusia metabólica;
4) presbiacusia mecânica.
Deve-se entender que esta é uma classificação didática, já que raramente o paciente apresenta um tipo puro de presbiacusia, sendo em geral um quadro misto, com envolvimento dos quatro tipos acima, em diferentes proporções.
* Presbiacusia Sensorial Representa o tipo mais comum de presbiacusia. É uma perda auditiva neurossensorial bilateral e simétrica, que começa na meia idade, progride lentamente, mesmo na idade avançada e determina queda auditiva em agudos, podendo poupar as freqüências da fala (acometimento acima de 2000Hz). Quando esse tipo é visto em pacientes jovens sem história de outros agentes etiológicos, é denominada de presbiacusia idiopática.
* Presbiacusia Neural Em contraste com o tipo anterior, alguns idosos apresentam uma perda auditiva rapidamente progressiva com grande dificuldade no entendimento da fala. A audiometria revela moderada perda de audição para os tons puros quase igual em todas as freqüências, com uma discriminação muito comprometida.
* Presbiacusia Metabólica Apresenta um padrão que se caracteriza por perda neurossensorial com uma curva plana e excelente discriminação da fala. Quando os limiares auditivos ultrapassam 50 dB, a discriminação começa a cair. A hipoacusia tem início insidioso, na terceira e sexta décadas de vida e progride lentamente.
* Presbiacusia Mecânica (coclear condutiva) Distúrbio na motilidade mecânica coclear devido enrijecimento da membrana basilar e alteração nas características de ressonância do ducto coclear. A audiometria mostra, em geral, um traçado retilíneo, descendente, bilateral e simétrico. A discriminação da fala é excelente. Meyer, em 1920, descreveu alterações na membrana basilar, como calcificações e hialinizações, que poderiam explicar a perda auditiva. Não há alteração significativa no órgão de Corti.
CAPÍTULO IV 5 - DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO A presbiacusia é responsável pela maior parte dos casos de perda auditiva neurossensorial entre os idosos, mas antes de se confirmar o diagnóstico, é necessário que outras causas sejam descartadas.
O idoso com dificuldades auditivas deve ser encaminhado ao otorrinolaringologista e ao fonoaudiólogo para um teste que poderá indicar ou não a utilização de prótese auditiva.
Como não há tratamento capaz de restabelecer a audição normal do indivíduo, a primeira meta é tratar todas as possíveis causas que estejam se somando ao processo de envelhecimento e acelerando, portanto, o declínio da função auditiva O tratamento da perda da audição nos idosos, resultante da presbiacusia, se faz através da utilização de próteses auriculares, e mais recentemente do implante coclear.
A reabilitação auditiva por meio de próteses de amplificação sonora é medida efetiva e fundamental para a manutenção da função social do idoso e deve ser proposta precocemente durante o curso evolutivo da perda auditiva. Apesar de ser capaz de amplificar seletivamente a audição nas freqüências afetadas, a compensação da perda auditiva com o uso de próteses não proporciona audição normal, e isso deve ser sempre esclarecido ao paciente e aos familiares para se evitar decepção e não-adesão ao uso do aparelho no futuro.
Tipos de Próteses:
Analógico Ajustável: Neste aparelho, o audiologista determina o volume de amplificação e outras especificações. O aparelho será então fabricado por um laboratório de acordo com essas especificações, tendo o audiologista ainda a liberdade para pequenos ajustes.
Estes circuitos são geralmente os mais baratos.
Analógico Programável: necessitam da manipulação da pessoa para ajustes de volume de recepção sonora. Através de um computador, o audiologista programa o aparelho auditivo de acordo com as necessidades do paciente Digital Programável: multi-processadas permitem perfeita adaptação às necessidades de amplificação sonora, podendo ser intracanal ou microcanal. Estes aparelhos apresentam maior versatilidade eletroacústica Cuidados com as Próteses: Devem ser testadas nas condições em que o paciente normalmente realiza suas atividades (compras, passeios, etc.). O paciente deve ser treinado para manipular adequadamente sua prótese (troca de pilha, higiene, e inserção no ouvido).
A reabilitação fonoaudiológica: Avaliar a audição e a percepção dos indivíduos idosos sobre a sua condição de audição. Oralismo puro, oral multissensorial e comunicação total e o acompanhamento psicológico estão sempre indicados.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Tratado de Fonoaudiologia - Otacilio de C. Lopes Filho Seidman MD et al. Age-related Hearing Loss and its Association with Reactive Oxygen Species and Mitochondrial DNA damage. Acta Otolaryngol 2004; 552: 16-24.
Carvalho Filho E. , Papaléo Neto M. - Geriatria fundamentos, clinica e terapêutica - Atheneu 2. ed.
S. Paulo 2006 Neves V.T., Feitosa M.A. - Envelhecimento do processamento temporal auditivo - 2002 Bento RF, Miniti A, Marone S. Doenças do Ouvido Interno. In: Tratado de Otologia, 289-311 Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad Saúde Pública = Rep Public Health. 2003;19(3):793-8.
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Tratado de Fisiologia Médica de Guyton & Hall