Prelúdio em sete sonhos

Por FELLIPE KNOPP | 13/10/2017 | Poesias

17-12- 07

Sonho 1:

Sonhos que dormem no Jardim do Breu

Olho continuamente tua face, num movimento grave e viciado, como se tua imagem me fosse palatável, com se me descesse à boca ou me corresse às veias como orgasmo quente e licor-de-luz sobre a neve alva de tua pele, corroendo minha verve... e eu, querendo-lhe roubar um beijo como quem tenta furtar um pão, alimentando-me de teu sorriso, até que não mais possa vê-lo.


FELLIPE KNOPP

17- 12- 07
Sonho 2:

A Cantilena do Alpinista ou sobre Lágrimas que viraram Pedras


Engulo em gotas cáusticas
A inapetência pro mundo
Estraçalhando dentro em minh?alma
Uma dor egoísta e quase mesquinha
Do zelo incongruente de angústia e de trauma
De querer preencher tua solidão com a minha
Vida fugaz, num sem tempo de amor fugidio
Os algozes já estão a postos
Vem a ora do meu sacrifício
Pois sei que logo te vais
E tua partida será meu suplício
Já sem dolo ou sem culpa
Apenas uma imagem num céu rasgado
E manchado de carmim
A escarlate do desejo fende meu peito
Bebo as brasas estéreas
De absinto e cauim
Até que não haja jeito
Pois no alto das montanhas (muito longe)
Fincaste meu coração
E ele não suportou
A neve vertical

FELLIPE KNOPP


17-12- 07


Sonho 3:


O Limiar do Semblante


Por não ter uma vida alegre
E a história de amor e de prazer que gostaria
Junto a ti
Apego-me às lembranças de momentos imaginados
Onde a privação humilhante da indiferença
E a castração mutiladora de tantos "nãos"
E de tantos "sinto muito mais não posso"
Não mais nos prende em seus grilhões
Em seus calabouços ?
Onde aponta da lança trespassa obtusamente
A coronária da subjetividade
Liquefazendo nosso mais caro desejo
Que se reverbera numa sublimação
Tão perversa contra ela mesma (subjetividade)
Amordaçando um sentimento já coalhado
Fermentado...
Lembrança de momentos imaginados
Será o amor mera ilusão?
Mas o que seria da vida sem esses sublimes e belos momentos
Em que a gente inventa o outro
Para descobrir-se em seu semblante?
Talvez o amor esteja mesmo na diferença
Entre o "K" do teu e de meu nome
Ou na razão entre os tons de nossas peles
Ou nossas línguas
És do jeito me quero,
Me quieras entonces
"Moça de sonho e de neve" ¹
Se pudesse ser algo teu
Queria ser teu espelho
Pra beber tua imagem
E nela me afogar


FELLIPE KNOPP



1 ? Extraído do poema "Cantiga para não morrer" ? Ferreira Gullar


17-12-07

Sonho 4:


Gardênia do Submundo


Hipotermia
Num frio de quarenta e dois graus
Sob o Sol de minha terra
Semi-árida
Semi-amor
Semi-gente (semi-eu)
Tentando me aquecer
Teimando, sempre,
Mais uma vez,
Em ver
Os olhos tão vidrantes
Que um dia terei de esquecer

FELLIPE KNOPP


17-12-07


Sonho 5:


Kalêndula


Amor das trevas de minha solidão
Semeia
A que profundezas terás de descer ?
Vive seco e sufocado ? no solo do peito
Tentando respirar, sobreviver
Brota sem germinar
Morre sem florescer (?)

FELLIPE KNOPP


20-12-07

Sonho 6:

Kara-a-Karin


Registrar teus traços em minha pele
Ler tuas feições com a palma das mãos
Apalpar tua imagem
Translúcida
Sem pretensão alguma
Pois de antemão sei o que seria, o que dirias
Alimento meus delírios e fantasias
Um pensamento infortúnio
E um desejo pulsante
Sem sonho e sem ilusão
Por isso já, desde sempre,
Estar apaixonado é estar de luto
É laborar a perda
Do que nunca se pôde ou se poderá ter
Sem sonho e sem razão
É já não sofrer de falta,
Mas da presença do Outro
Fanal fulvo da alvorada
No brilho furta-cor de tuas pérolas
Sei que não posso tê-la,
Mas quero apenas vê-la
Liberte minha alma
Que você mantém aprisionada
Em seu olhar !


FELLIPE KNOPP


23-12-07

Sonho 7:


O Dia em que Beijei a Luz


Naquele dia me veio uma Anja
Anjo-Mulher
E me deu de presente um Sol e uma Lua
Uma Luz na concha, muitas cores
E um copo de fogo
Seu cabelo reluzia
Seu rosto me afixava, aficionava
Depois ela passou por mim
Não me disse (H)ádeus
Deu-me um beijo com as mãos
E eu lhe dei meu coração
Embrulhado num papel-de-seda

FELLIPE KNOPP



das flores a mais bela e delicada
...Mas eu prefiro dar-te um beijo a fazer um poema