Preconceitos Sofridos pelos Travestis que Atuam como Profissionais do Sexo em Relação ao Atendimento no Sistema de Saúde, na Cidade de Barreiras ? BA
Por caline libanio | 03/10/2009 | SaúdeA sexualidade humana é o conjunto da vida sexual, envolvendo um comportamento pré-formado característico da espécie com um parceiro e uma meta. Observa-se formas diversas da expressão da sexualidade, dentre elas a homossexualidade. São apresentadas diversas teorias sobre a questão, que pode ser de natureza biológica, social ou por escolha própria. Por apresentarem um comportamento diferenciado os homossexuais sofrem preconceitos em diversas áreas. Por isso, objetivamos verificar a existência do preconceito na área de saúde na cidade de Barreiras - BA. Os procedimentos metodológicos envolveram pesquisa de campo, de natureza qualitativa, através do método dedutivo. Aplicamos 03 entrevistas, semi-estruturadas ao qual os profissionais do sexo relataram que não sofrem preconceitos ao procurarem ajuda no Sistema de Saúde, observando que a principal reivindicação deles foi à falta de um órgão que os apóie na prática preventiva de doenças.
I. Introdução
Noyori (2007) afirma que a homossexualidade desde tempos antigos não era tolerada, como no século XII onde a Igreja condenava considerando como algo anormal e diabólico em que alguns paises existia até a pena de morte para a homossexualidade como, por exemplo, na França. Hoje, mesmo com tanta informação, ainda não é fácil para o jovem entender o que é ser gay, identificar e aceitar esta outra forma de desenvolver sua sexualidade. O preconceito ainda é a maior barreira, a homossexualidade não é crime, não é doença e não é contagiosa. O preconceito sim, é contagioso e destrói.
Como segundo Costa e Torres (2007), a Cartilha Direitos Sexuais (Ministério da Saúde s/d) garante ao cidadão o Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do (a) parceiro (a), o Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual, bem como o Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças.
Este artigo científico basea-se na pesquisa de campo que tem como tema, preconceitos sofridos pelos travestis que atuam como profissionais do sexo em relação ao atendimento no Sistema de Saúde. Assim, procurou-se averiguar a existência do preconceito sofrido pelos travestis que atuam como profissionais do sexo, no Sistema de Saúde na cidade de Barreias – BA, bem como levantar o índice de participação destes profissionais do sexo junto ao Sistema de Saúde e averiguar como o preconceito interfere na procura pelo atendimento.
Diante desses fatos, observamos a importância do tema se dá pela análise da real situação desses profissionais do sexo que podem em virtude do preconceito dos profissionais da saúde, não procurar ajuda no Sistema de Saúde.
Consideramos a hipótese que os travestis que atuam como profissionais do sexo podem não buscar atendimento no Sistema de Saúde devido ao preconceito existente entre os profissionais da área da saúde.
Quanto aos aspectos metodológicos, a pesquisa foi de natureza exploratória que de acordo com GIL (2000) visa buscar maior integração com o problema. Utilizamos também, uma abordagem qualitativa que não tem qualquer utilidade na mensuração defenômenosemgrandes grupos, sendobasicamente úteisparaquembusca entenderocontextoonde algumfenômeno ocorre (VICTORA, 2000).
A homossexualidade será tratada neste projeto através de um método de abordagem dedutivo, pelo qual irá alcançar com base nas produções dos autores e deste modo, a partir da análise de uma realidade geral, teremos condições de formar idéias a respeito do problema e dimensões particulares (GALIANO s/d).
A entrevista foi aplicada após a aceitação verbal na assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme a resolução 196/96.
II. Desenvolvimento
A pesquisa de campo foi realizada no local de trabalho dos pesquisados aos quais entrevistamos 03 deles. Todos ressaltam que a descoberta sexual ocorreu na faixa dos sete anos. Essa afirmação vai de encontro a teoria de Noyori (2002) ao qual defende que a tendência sexual começa a se delinear ainda na infância, motivo pelo qual se considera inadequado o termo opção sexual, período em que a criança ainda não possui uma capacidade avaliativa que lhe permita realizar o que poderíamos chamar de escolha. Conforme a fala a seguir:
"Mulher, como é que pode uma criança de oito anos já esta interessada em meninos? Eu acho que já nasci assim. Tanto que eu nunca beijei uma mulher"
No entanto, somente por volta dos doze anos alguns passaram a se apresentar travestidos em todos os momentos. Contudo, hoje todos se apresentam travestidos até mesmo no momento em que buscam atendimento médico. Não obstante, pode-se salientar que ao preencher a ficha de atendimento eles fornecem o nome do seu registro, no entanto acrescentam o seu codinome feminino, com o objetivo de evitar constrangimentos e preconceitos.
A faixa etária dos participantes ficou entre 25 e 30 anos de idade, alguns estão trabalhando como profissionais do sexo no local da pesquisa a mais de 4 anos.
A maioria relata que o preconceito é mais acentuado na sociedade, contudo na área da saúde todos declararam a não existência do mesmo, de acordo com o depoimento abaixo:
"Toda vez que eu vou procurar atendimento no postinho eu sou bem tratada"
" Lá no HO, ave maria! Tem umas meninas que eu nunca tinha conhecido mas que quando cheguei lá fui bem recebido"
Contradizendo as falas anteriores, os homossexuais na sociedade brasileira sofrem todo tipo de discriminação e preconceitos, representado hoje um dos setores mais vitimizados. As estatísticas demonstram que cresce o numero de crimes contra os homossexuais. A violação mais comum a eles, é a discriminação e o preconceito que acontece cotidianamente nos locais públicos e instituições (MIRANDA, 1999).
Homossexuais são discriminados nas escolas e trabalhadores perdem seus empregos por assumirem publicamente sua orientação sexual. Como descreve a fala a seguir:
" Eu só estou nessa vida por falta de opção porque se eu tivesse oportunidade estaria trabalhando mesmo se fosse para ganhar menos"
Muitos buscam o atendimento preventivo realizando exames periódicos com mais ou menos um mês de diferencia ou menos, se mostrando muito informados e cuidadosos.
III. Conclusão
Com base na analise dos dados, observamos que nossa hipótese não foi comprovada, o preconceito sofrido pelos profissionais do sexo homossexuais masculinos é social. Na pesquisa efetuada não comprovou-se nenhum caso de preconceito na busca de atendimento ao Sistema de Saúde da cidade de Barreiras, pelo contrário, foram feitos elogios.
O principal problema apresentado por eles foi à falta de um órgão de atendimento que os oriente na prática de prevenção de doenças.
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