Preconceito linguístico

Por joao victor pacheco fos kersul de carvalho | 13/11/2016 | Direito

 

Leon Manoel Campos dos Santos Filho[1]

Victor Hugo Santos Nogueira[2]

Ney Geraldo G. de Miranda Júnior[3]

João Victor P. F. K. de Carvalho[4]

Marcos Santiago P. Guimarães[5]

Eduardo Henrique Jesus[6]

Msc. Nilzanil M. J. Soares Pinheiro[7]

Resumo

O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa de campo aplicada entre os alunos do campus Pantanal da Universidade de Cuiabá, cujo objetivo foi constatar e graduar o preconceito linguístico existente. O método de graduação, apesar de não ser inovador, não encontrou semelhante aplicação na literatura, podendo ser usado como modelo introdutório em trabalhos similares. Inicialmente é feita uma introdução ao conceito geral de preconceito linguístico, passando pela discussão do método adotado e pelos resultados obtidos. Finaliza com as conclusões e ponderações para futuros trabalhos.

 

1 INTRODUÇÃO

O preconceito linguístico apresenta-se como um importante fator de discriminação social, fortalecendo o uso da língua como instrumento de dominação. Nesse sentido, a identificação da existência e do grau de abrangência do preconceito linguístico em suas variadas formas, é instrumento básico para proposição de estratégias de combate ou pelo menos de minimização de seus efeitos na sociedade. 

O presente trabalho é sobre o preconceito linguístico existente na Universidade de Cuiabá – UNIC, mais concretamente quanto à percepção dos acadêmicos quanto as diversas formas do uso da linguagem escrita e oral, além dos aspectos que influenciam na diversidade linguística dos alunos que levam em consideração diversos fatores, tais como: status socioeconômico, grau de escolaridade, e demais informações pertinentes à estratificação de dados socioeconômicos. 

O objetivo deste trabalho é observar o grau de preconceito linguístico existente entre os alunos que frequentam o campus Pantanal, procurando identificar sua origem e seus aspectos relevantes, demonstrando como essa intolerância está presente no meio acadêmico. A conscientização e elucidação sobre o assunto é de extrema importância para combater este tipo de comportamento e promover uma convivência mais harmoniosa e igualitária. 

Para atingir os objetivos propostos, foi realizada uma revisão bibliográfica tomando como base o trabalho do professor Marcos Bagno, um dos mais expressivos linguistas brasileiros da atualidade, corroborada com uma pesquisa de campo, cujo instrumento foi a aplicação de questionários onde foram colhidos dados para retratar o grau de preconceito que permeia a população dos estudantes do campus em análise, de modo a possibilitar uma avaliação ampla quanto aos aspectos econômicos, sociais, culturais e educacionais envolvidos. 

O trabalho está organizado em três partes: Fundamentação Teórica sobre o Preconceito Linguístico, Apresentação e Análise dos Resultados e Considerações Finais.

   2 REFERENCIAL TEÓRICO

   2. 1 Preconceito linguístico

Segundo o dicionário da língua portuguesa produzido por Antônio Houaiss, o termo preconceito traz como significado: “juízo preconcebido, um sentimento hostil, repercutido por uma generalização precipitada resultado de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio”. Seguindo este entendimento, concluímos então como um ato de intolerância. De forma enfática, classificamos como uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças e opiniões. 

A linguística tem como papel principal estudar particularidades da linguagem humana. O dicionário Houaiss assim define: “ciência que tem por objeto: a linguagem humana em seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico. As línguas consideradas como estrutura; Origem, desenvolvimento e evolução das línguas; as divisões das línguas em grupos, por tipo de estrutura ou em famílias, segundo critérios tipológicos ou genéticos”. 

Por conseguinte, o preconceito linguístico, como já se define o termo, trata-se de um pré-julgamento dos indivíduos com base na linguagem. Ele parte da conjectura de que só existe uma língua portuguesa merecedora deste título, a ensinada nas escolas, explanada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. A partir daí aquele cujo discurso desvia dessa língua “correta” é discriminado e reprimido. 

Seção 4.02     2. 2 Variação linguística

Apesar do Brasil apresentar apenas uma língua reconhecida oficialmente, o fato é outro: concomitante a diversas línguas indígenas, é de conhecimento comum o reconhecimento da grande variedade linguística no país. Nas cinco regiões geográficas do Brasil, são notórios diferentes modos de falar a mesma coisa. Desta forma somos detentores de um universo linguístico bem diversificado. Nesse sentido, Tarallo (1986, p. 08) afirma que "variantes linguísticas são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade”. Ao considerar a veracidade observável dessa afirmativa, concorda-se também com a posição adotada por Marcos Bagno, quando rebate em sua obra o mito de que ““A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”” (Bagno, 2007, p. 15).

 Santos(2007), relata que fatores sociais e culturais são também responsáveis por elevar o conjunto de variantes linguísticas. Dessa maneira, a população é passível de ser desmembrada em grupos e classes a partir das variantes linguísticas que utilizam. Assim, percebe-se que a variedade linguística nada mais é do que o reflexo da sociedade. Nas palavras de Bagno:

[...] uma abordagem antropológica da questão da norma é a constatação de que a língua é um fato social. Sabe-se que a língua serve para comunicar.  Ora, a comunicação implica, por definição, a existência de vários falantes. Quanto à definição do ato de comunicação, digamos que ele se apresenta como uma interação entre um emissor e um receptor, sendo o conteúdo desta interação suscetível de tomar as formas mais variadas. (BAGNO apud SANTOS, 2013, p. 9) 

Entende-se, portanto, que a variação linguística é um evento corriqueiro que acontece dentro de um idioma, quando fatores históricos regionais e culturais moldam os aspectos característicos da língua do seu falante.

Seção 4.03     2. 3 Diferenças entre as linguagens oral e escrita

Embora o idioma oficial do Brasil seja o Português, linguistas defendem que há, de fato, duas modalidades principais dessa língua circulando no país: uma língua oral e outra escrita. Por isso, a língua falada não segue regras estabelecidas pela gramática normativa, e sim se refere a uma linguagem estabelecida pela sociedade e a cultura a que o falante está exposto no dia a dia. A comunicação oral pode então adaptar-se em diversas formas, sendo possíveis várias mudanças de vocabulários e até mesmo de pronúncia. 

Marcos Bagno avalia que a língua escrita, por sua vez, definida como português seria aquela encontrada em jornais, livros, etc. Segundo ele, a língua escrita possui uma maior valorização social, sendo preponderantemente imposta como uma língua considerada padrão e culta. Nesse segmento, a maneira de como se deve escrever é determinada ao usuário de forma impositiva, e na grande maioria das vezes não é condizente com sua realidade. 

Compreende-se que além de ser obrigatória uma forma de escrever, mesmo incompatível com a realidade dos usuários, a língua portuguesa no Brasil denominada padrão ressalta que o cidadão deve falar como se escreve, além de impor que a capacidade de escrever e falar de forma correta são restritos ao conhecimento gramatical. O Professor e Doutor em Linguística Sírio Possenti, da UNICAMP, contrário a esse ordenamento gramatical, assim se posiciona:

[...] são os gramáticos que consultam os escritores para verificar quais são as regras que eles seguem, e não os escritores que consultam os gramáticos para saber que regras devem seguir. Por isso, não faz sentido ensinar nomenclaturas a quem não chegou a dominar habilidade de utilização corrente e não traumática da língua. (POSSENTI,1977 apud SANTOS, 2013, p.11)

Dentro dessas combinações, não é possível admitir uma lógica em impor uma gramática aos que não a conhecem e, nessa perspectiva, o que pode ser considerado não é a terminologia, mas a capacidade de entender e relacionar os termos usados no discurso seja ele oral ou escrito. 

As discórdias entre a linguagem oral e escrita ficam mais claras quando levamos em consideração suas formas, pois cada uma tem seu caráter: enquanto a linguagem oral mantém uma interação que prioriza uma comunicação livre, com várias oportunidades de usos e formas, a linguagem escrita se conserva através de formas estabelecidas, normatizada e padronizada, julgada como linguagem padrão que deve ser seguida pelos seus usuários.

Artigo V.     3          PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A técnica de coleta de dados utilizada foi a aplicação de questionário, buscando abranger aspectos econômicos e linguísticos que subsidiassem a pesquisa. Para facilitar tanto a coleta quanto a tabulação dos formulários, o questionário foi dividido em uma parte socioeconômica, viabilizando a estratificação da população, e uma parte linguística, que procurou capturar o grau de preconceito do respondente.

[...]

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