Preconceito Lingüístico: O que é. Como se faz

Por Wasley Santos | 02/07/2009 | Resumos

Por Wasley Santos

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico. O que é. Como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

 

O livro de Marcos Bagno, doutor em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, mestre em Lingüística, poeta, tradutor e contista renomado, é composto de 186 paginas em 4 capítulos, assim distribuídos: A mitologia do preconceito lingüístico; O círculo vicioso do preconceito lingüístico; A desconstrução do preconceito lingüístico; O preconceito contra a Lingüística e os lingüistas. E, em anexo, uma carta do autor destinada à revista Veja.

 

A obra do professor Marcos Bagno tem por objetivo discutir, através de reflexões sistemáticas, o uso da língua em sociedade, comentando, sobretudo, o vil preconceito embutido no uso da linguagem. Procura na obra atual responder às questões de “certo” e “errado”, contrapondo os preceitos da Gramática Normativa. No contexto da obra, percebe-se o quanto as pessoas ditas marginalizadas: o negro, o pobre, o rural, e ainda tantos outros que estão longe do uso da variante prestigiada da língua são vítimas de um exacerbado preconceito lingüístico. Para explicar tal fato, Bagno faz uma excursão à realidade de algumas escolas brasileiras e relata o cotidiano dos professores de Língua Portuguesa, então explica e comprova, através de exemplos claros e verdadeiros, o tanto que a escola está distante da realidade do falante vivo e ativo da língua; desprezando, assim, as numerosas variedades lingüísticas que seus alunos trazem para sala de aula. O autor ainda, no decorrer do livro, ratifica o despreparo dos professores de Língua Portuguesa quanto às metodologias didáticas para o verdadeiro ensino do português.

 

A obra é coesa ao longo das páginas, pois Bagno costura suas idéias apoiado na enumeração de mitos, que são oito, para desfazer idéias como “brasileiro não sabe português” e “o português é mais bem falado em Portugal que no Brasil”, explicando coerentemente que são culturas diferentes, histórias diferentes e simplesmente jeitos de falar diferentes. O autor desconstrói tais mitos baseado na fala e registros de outros autores, professores e lingüistas, esclarecendo-os. Explica que a causa de toda esta mitologia exasperada está no ensino (mal) da Gramática Normativa, que delimita o “certo” e “errado” enaltecendo o dialeto culto, e erradia quem/o que está fora do paradigma imposto. Assim, com um ar de ironia, às vezes crítica contundente, o professor Bagno cita o Pasquale Cipro Neto, gramático tradicional reconhecido nacionalmente, sobre suas formulações à lingüística, sobretudo à língua e seu ensino. O professor rebate veementemente a postura de Pasquale quando diz de certa “corrente relativista” e escreve absurdos como “trata-se de um raciocínio torto”, ambas com relação à ciência lingüística. Marcos Bagno apóia-se em passagens do documento do Ministério da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, para dar ênfase à sua visão com relação à existência de muitos preconceitos conseqüentes do prestígio social que é atribuído à diversidade no modo de falar dos brasileiros. Complementa que, para haver boa qualidade no ensino do português, é necessário o desarmamento da escola com relação à postura fixa da mesma, e a extinção da forma única que todos os alunos devem enquadrar-se.

 

Diante deste aparato: críticas e pesquisas fundamentadas e reflexivas, e de todo este paradoxo: posições e contraposições, mistificação e desmistificação, o livro é dedicado a todos que vivem à revelia por tais injustiças, envoltos do preconceito lingüístico. A obra, também, apresenta-se como excelente material para pesquisadores, estudantes e prioritariamente aos estudantes das faculdades de Letras para que, desde a sua formação, possam ter um olhar diferente à língua e ao falante (aluno), um olhar mais humano, mais sociolingüista.