Pre-conceito linguistico, os dizeres de Matinhos
Por LEANDRO SILVEIRA TAVARES | 07/01/2011 | EducaçãoQuem não se pegou ou ainda se pega, fazendo cara de reprovação para alguém que de repente fala algo como "malemar", "disgramado", ou qualquer palavra que nos parece errada, incorreta aos olhos de quem viveu a vida em meio ao progresso, escolas e a vida moderna das cidades, mas que foram por anos, o falar típico do morador das pequenas cidades, como acontece e aconteceu em Matinhos.
Confesso que ao ouvir alguém, geralmente pessoa de uma certa idade, falar algo como "siminino" me vem logo na mente a imagem da minha vó, recordação de um tempo de criança em que comum era o linguajar típico, já que aqui habitavam na maioria moradores nativos, as famílias tipicamente Matinhense, dessa maneira o correto modo de falar era o que se fazia entender nas rodas de conversa ao pé do fogo, junto a quentura de um fogão de lenha ou no banco de um bar tomando um trago de cachaça da boa.
Havia entre os caboclos a cumplicidade de quem nasceu em meio aquele linguajar e detinha o mesmo como sua língua oficial, já que o mesmo atendia suas necessidades e trazia consigo uma particularidade com o local, sendo nos nomes de caças, apetrechos e até mesmo nos apelidos dados aos amigos.
Porem nossas terras e nossas casas foram aos poucos sendo povoada por um povo estranho, sem identidade com o lugar, não vejo neles culpa, já que defendem seus interesses, entendo que seja culpa nossa, os descendentes e detentores da cultura e o linguajar caiçara os verdadeiros culpados do sumiço do que nos foi delegado como herança, a cultura, nossa identidade local, já que muitas vezes nos envergonhamos de dizer "apinchar" ao invés de dizer jogar, em dizer "malemar" invés de mais ou menos, vergonha de dizer as coisas como diziam nossos antepassados, por que alguém pode torcer o nariz e dizer que estamos errados, que somos analfabetos ou coisa parecida, quando na verdade maior analfabeto é aquele que não respeita a identidade cultural alheia, seja por desconhecer seja por se achar superior.
Concordo que se há um linguagem padrão, ela deve ser respeitada, porem em um dialeto tão modificado ao longo do tempo como foi o português, quem somos nos pra afirmar o que é certo ou errado, o que é correto e o que não é? Esses dias, fui visitar uma tia, coisa comum ao povo de cidade pequena, geralmente nos finais de semana, e quando falava com ela, eu, conhecedor dos costumes antigos, das palavras dantes ditas e usuário habitual das mesmas, solto em meio a conversa um ?CRENDIOS PADRE" , que se seguiu de uma serie de criticas e chateações sobre o significado literal da palavra e demais chateações, e foi nessa ocasião que pensei e refleti sobre isso, a cultura amigos não se torna sua por herdar-la dos seus pais, cultura, é nossa identidade com o todo, com o povo, a língua, costumes entre outras coisas não menos importantes, dessa forma, minha tia, nascida e criada aqui, é muito menos Matinhense do que alguém que vive aqui a pouco mas que ama e defende o que o povo tem de mais sólido, a cultura.