Práticas de Incentivo ao Hábito da Leitura
Por elizabete elizabete rodrigues nascimento soares | 15/12/2010 | Educação1. INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos atribui-se, no que se refere ao insucesso escolar no Brasil, as dificuldades sociais e econômicas da população. Causa que vem se alastrando há décadas, sendo uma questão eminentemente política. Mas não é por motivos como estes que nós, como futuros educadores, deixaremos de dar a nossa contribuição para reverter essa situação.
Nesta perspectiva iremos abordar o processo de leiturização através de um trabalho realizado na 3ª série B, da Escola Municipal Profª Guiomar Maria da Silva, localizada em Poxoréu, Mato Grosso, mostrando como ocorre o processo de leiturização e letramento enfocando a oralidade, a leitura e a escrita, como trabalhamos e sua contribuição para a diminuição do insucesso escolar.
A opção pelo tema é uma forma de incetivar o hábito da leitura e a formação de leitores, contrbuindo para a melhora da qualidade da educação. Refletiremos sobre a possibilidade dos educandos terem a oportunidade de escreverem seus textos livremente, poderem contar suas histórias de vida e os vê-los respeitados e valorizados, além de trocarem experiências, se reconhecendo, dessa forma, como agentes de seus textos.
O objetivo da pesquisa é de levantar informações sobre as questões que envolve a leitura com os alunos das séries iniciais e contribuir para a formulação de política de leiturização na escola e na comunidade. Procuramos responder questões envolvendo a estrutura, o ambiente e o acervo disponíveis para a leitura na escola, sobre a forma de trabalho e incentivo da leitura pelos educadores e como os os educandos absolvem e aprendem os conceitos sobre a leitura e a sua materialização. Usamos a metodologia de aplicar conceitos, selecionar livros, trabalhar individual e coletivamente, ler diversos textos, produzir textos e desenvolver atividade lúdicas.
Com esse trabalho demos oportunidade ao aluno para que ele não seja somente um leitor de textos, mas também um leitor crítico dos mesmos e de sua realidade, para que possa transformá-la tornando-se assim, um sujeito ativo em sua aprendizagem e um cidadão responsável para consigo e com a sociedade.
O ATO DE LER
"É na escola que identificamos e formamos leitores..." Bamberger (1988). Quando se fala em criança, pode-se perceber que a literatura é indispensável na escola como meio necessário para que a mesma compreenda o que acontece ao seu redor e para que seja capaz de interpretar diversas situações e escolher os caminhos com os quais se identifica.
Entende-se que a leitura é um dos caminhos de inserção no mundo e da satisfação de necessidades do ser humano. No entanto, muitos professores desconhecem a importância da leitura e da literatura mais especificamente por ignorar seu valor e/ou por falta de informação. A prática educativa com a literatura nas séries iniciais do ensino fundamental quase sempre se resume em textos repetitivos, seguidos por cópias e exercícios dirigidos e mecânicos, onde o espaço para reflexão e compreensão sobre si e sobre o mundo raramente encontra lugar.
Não podemos nos referir à leitura como um ato mecânico sem a preocupação de buscar significados. Desse modo, é necessário que dentro do ambiente escolar o professor faça a mediação entre o trabalho e o aluno, para que assim sejam criadas situações onde o aluno seja capaz de realizar sua própria leitura, concordando ou discordando e ainda fazendo uma leitura crítica do que lhe foi apresentado.
Daí a importância em se propiciar a leitura e a literatura de modo a permitir ao aluno criar e recriar o universo de possibilidades que o texto literário oferece. Pode-se dizer que a escola tem a oportunidade de estimular o gosto pela leitura se consegue promover de maneira lúdica o encontro da criança com o trabalho.A esse respeito Zilberman (2003, p. 16) descreve que:
... a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Por isso, o educador deve adotar uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da criança.
Hoje se percebe também que quando bem utilizado no ambiente escolar, o trabalho de literatura pode contribuir ainda para o desenvolvimento pessoal, intelectual, conduzindo a criança ao mundo da escrita. Dessa forma, a literatura infantil tem sua importância na escola e torna-se indispensável por conter todos os aspectos aqui levantados, sendo de grande valor por proporcionar o desenvolvimento e a aprendizagem da criança em sua amplitude.
ORALIDADE, LEITURA E ESCRITA, NOSSAS EXPERIÊNCIAS
A oralidade, a leitura e a escrita estão presentes em nosso cotidiano de forma articulada. Uma contribui para o desenvolvimento da outra. Diante disso uma das principais tarefas da escola seria fazer com que todos os educandos tenham o conhecimento e domínio das múltiplas funções da linguagem, onde esta possui diferentes manifestações e tem por objetivo a ação da comunicação entre as pessoas.
De acordo com DIAS (2001, p. 25) nossa tarefa, como educadores, seria abordar os mais variados tipos de textos em sala de aula, analisando as semelhanças e diferenças, a estrutura textual de cada um, o vocabulário utilizado, buscando incentivar a leitura, a interpretação e a produção pelos próprios alunos dos mais variados portadores de textos existentes e utilizados em nossa sociedade.
O trabalho realizado na turma da 3ª série B, da EM Profª Guiomar Maria da Silva baseia-se em uma avaliação diagnóstica, onde registra em qual nível de leitura e escrita as crianças se encontram, para que, a partir das dificuldades apresentadas, possa planejar suas intervenções.
Para estabelecer uma boa relação entre as crianças, procuramos promover atividades que contribua para que haja uma boa adaptação das crianças ao ambiente escolar. Procuramos sempre planejar uma semana bem acolhedora e divertida trazendo, por exemplo, brincadeiras que gerem interação e convívio em grupo.
Trabalhamos a oralidade, a leitura e a escrita de forma articulada. Assim, elencamos as ações desenvolvidas.
a) Apropriação de livros:
Inicialmente classificamos os livros de maneira que os alunos pudessem observar a capa do livro (frente e verso), tipo de capa, título, nome do autor, ilustrador, editora, etc. Todas essas observações foram importantes, pois os alunos construíram outro livro, a partir do livro lido. Depois dessas observações, os alunos emitiram todas as hipóteses possíveis sobre o conteúdo do livro a partir das ilustrações e do título.
b) Oficina de leitura:
Na oficina, lemos o início da história de um livro ou deu um breve resumo, ou apresentou os personagens. Isto para provocar nos alunos a vontade de ler o restante do livro. Contamos uma história completa ou em episódios ou um aluno apresentou aos colegas o livro que leu em casa. Convidamos os alunos a dar vida ao painel da sala através de desenhos, slogans, histórias em quadrinhos, etc. de acordo com a história apresentada. Lemos um episódio ou capítulo, os alunos inventaram uma continuação possível para o próximo capítulo. Compara-se a produção dos alunos com a continuação escrita pelo autor. O importante neste trabalho não é verificar o sentido do texto do autor com o dos alunos, mas sim, tomar conhecimento com prazer e precisão do texto do autor e descobrir que as continuações inventadas são também de "autores" e dignas de interesse. No final do trabalho, propomos aos alunos a escrita das histórias modificadas por eles para exposição em forma de livros, jogos dramáticos ou fantoches. Mais tarde os alunos vão escrever seus livros sozinhos.
c) Organização de jogos e advinhas:
O trabalho com jogos e advinhas aconteceu em grupo e consistiu em deixar alguns livros em cada grupo e algumas tarefas para os alunos responderem. Por exemplo: procurar o livro onde a galinha pede a outros animais que a ajude a fazer um bolo; procurar todos os livros cujo título contém o nome de uma cor, um nome de pessoas, etc.; quem vai encontrar o livro que fala de um rato na pág. 16?
d) Produção de texto:
É um momento importante de leitura e produção para outros. A regra era cada grupo prepara para outros, recria para outros (para seu prazer imaginário). A hipótese era que, lendo para comunicar aos outros o fruto de sua leitura é que se vive uma situação de leitura exigente. O procedimento foi cada grupo escolheu o seu livro de leitura. Depois de lido escolheu a forma de apresentação para os outros: Reconto da história, cartaz propaganda, música, apresentação cênica, jornal falado, fantoches, mímicas, revistas em quadrinho, poemas, entrevistas, etc.
O nosso papel nesta hora foi só de dar condições às apresentações: Alunos bem instalados, atentos, curiosos e que respeitem os trabalhos uns dos outros. O intercâmbio entre os grupos aconteceu na avaliação: sobre o conteúdo (o que foi entendido, o que agradou ou não); sobre a técnica utilizada para apresentação; sobre a participação e complemento de todos (que foi bom no geral e o que precisa melhorar); deve sempre evitar uma critica negativa; é preciso encorajar o que deu certo e sugerir melhorias para o próximo.
e) Roda de leitura:
Apresentamos para a sala uma relação de livros com a sinopse de cada um. Os alunos escolheram um livro para todos lerem. Em sala, formaram grupos de trabalhos para escolherem a melhor forma de divulgar o livro que leram. É importante que o grupo esteja unido, pois os trabalhos deverão atrair a atenção dos colegas. Os alunos encontraram várias formas de apresentação como: propagandas; teatros; jornais falados; comparação entre o livro lido e o filme; sinopses, paródias, murais; histórias em quadrinhos; júris simulados; criação de histórias; continuando o enredo da história lida; criando novos enredos com as mesmas personagens; reescrevendo a história em outra época; recriando a história em outro ambiente.
Outra atividade desenvolvida foi o trabalho com livros paradidáticos, em que os alunos, espontaneamente, escolhem os livros e levavam para casa para realizar a leitura. Em dias determinados os alunos apresentaram suas conclusões de diversas formas. Observamos que é uma atividade onde todos se envolvem, alguns querem recontar, outros, desenhar e escrever.
Uma conseqüência visível desta atividade é que todos os dias acontecem empréstimos de livros paradidáticos que são levados para casa por interesse das crianças. Esta atividade acaba estimulando até mesmo os pais a se envolverem na aprendizagem dos filhos aproximando-os afetivamente.
Quando os pais se envolvem no desenvolvimento das crianças é perceptível. Assim, os pais foram chamados para participar das atividades e dos trabalhos, para se envolver com o projeto. Procuramos conversar com os mesmos diariamente e principalmente nas reuniões em sala de aula.
Pedimos para que os pais leiam com as crianças diariamente, sejam rótulos de embalagens e propagandas, sejam anúncios e os livros que as crianças levam para casa.
Não se trata, simplesmente, de se ensinar a criança a falar, mas de desenvolver sua oralidade e saber lidar com ela nas mais diversas situações. (DIAS, 2001, p.36)
Procuramos trabalhar a leitura de forma prazerosa, lúdica e formadora de leitores. Em um trabalho conjunto com a escola, incentivamos a leitura através do empréstimo de livros pela biblioteca e mini-biblioteca nas salas de aula, atividades lúdicas, jogos, entre outros. Durante a semana todo processo de leitura e produção textual foi feito juntamente com a professora.
A escola acredita na contribuição da leitura para a alfabetização e o letramento, pois, segundo ela, quando se incentiva a criança a ler, na contação, por exemplo, ela já quer recontar a história, quer escrever mesmo sendo pré-silábica. A partir daí vai tendo vontade e o prazer de aprender, de escrever, de falar aos colegas.
Tudo isso não deve ser cultivado só na escola, mas também pela família e todos os segmentos político-governamentais. Deve-se ter em mente que são de fundamental importância para o desenvolvimento de um país que "clama" por uma educação de qualidade.
Observamos que a escola e a professora procuram contemplar as etapas e os níveis de compreensão leitora. Percebe-se que a criança já chega à escola com o conhecimento sobre os objetos e suas funções, procurando fazer relações entre a palavra falada com a imagem do objeto.
A linguagem das crianças vai se tornando cada vez mais próxima da dos adultos, através da imitação e comparação. Trabalha para que as crianças alcancem de forma significativa os outros níveis da compreensão leitora, que consistem na compreensão do material utilizado no meio social e finalmente escrever, saber como se representa a fala no papel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embasadas nestas reflexões e nas atividades e nos trabalhos desenvolvidos consideramos relevante que o sucesso do processo de leiturização se dê através do posicionamento do professor em sensibilizar o aluno a encontrar o caminho e o prazer pela descoberta de falar, de ler e escrever, utilizando-as para desenvolver a capacidade de pensar e crescer, proporcionando atividades significativas como: trabalhos em grupos, debates, contação de histórias, dramatização, considerando o nível de desenvolvimento cognitivo do aluno.
Sendo assim um sujeito atuante, que sente liberdade, prazer e gosto em ler, sentindo-se valorizado ao participar desse processo.
Segundo Paulo Freire (1989) "A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela pouco a sociedade muda." Percebemos que a sociedade moderna nos bombardeia com uma série de informações, na maioria das vezes sem significados, fazendo com que essa violência simbólica nos torne individualistas, consumistas e meros reprodutores do sistema, ou seja, alienados, impossibilitando nossa reflexão sobre as relações e problemas sociais, sobre a nossa práxis pedagógica.
Devemos então quebrar os grilhões que nos aprisionam a uma prática mecanicista de ensino, onde os alunos ainda são vistos como meros armazenadores de "determinados" conhecimentos. Devemos sair do discurso e buscar uma práxis para formarmos não apenas leitores de textos, mas leitores de mundo e agentes transformadores da realidade.
Devemos trabalhar a oralidade, a leitura e a escrita como base para a formação do educando, proporcionando a oportunidade se apaixonar. De se apaixonar pelas letras. Pois a finalidade da educação é formar apaixonados pela vida, pelo conhecimento, pelo outro, para tornar o ambiente em que vivemos mais humano e significativo, comprometido consigo e com a sociedade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. PCN?s ? Parâmetros Curriculares Nacional ? Língua Portuguesa, 1ª ed., SEB/MEC, Brasília.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 4 ed. São Paulo: Ática, 1988.
BRANDÂO, Helena; MICHELETTI, Guaraciaba. Teoria e prática da leitura. In: Ensinar e aprender com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 1997.
DIAS, Ana Iorio. Ensino da linguagem no Currículo. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. 23ª. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MAGNANI, Maria do Rosário M. Leitura, literatura e escola: a formação do gosto, São Paulo, Martins Fontes, 1989.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1989.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura & Realidade Brasileira. 2 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
SOUZA, Renata Junqueira de. Narrativas Infantis: a literatura e a televisão de que as crianças gostam. Bauru: USC, 1992.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11. ed. São Paulo: Global, 2003.