Praça Anthenor Navarro: análise dos pontos positivos e negativos de sua revitalização.

Por Roberta Paiva | 19/05/2009 | Arte

Praça Anthenor Navarro: análise dos pontos positivos e negativos de sua revitalização.[1]

Roberta Paiva Cavalcante

Roberta Paiva Cavalcante, arquiteta e urbanista pela Universidade federal da Paraíba, mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal da Paraíba.

Resumo

Baseando-se nos processos de revitalização ou requalificação de trechos degradados ou abandonados que vêm sendo desenvolvidos em diversas partes do mundo desde o final do século XX, a presente pesquisa buscou avaliar o processo de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa, escolhendo como alvo o Bairro do Varadouro e realizando a avaliação da proposta de Revitalização da Praça Anthenor Navarro.

Palavras-chave: Revitalização, Requalificação e Centro Histórico de João Pessoa.

Abstract

Based on the process of revitalization and rehabilitation of degraded or abandoned stretches that have been developed in various parts of the world since the end of the twentieth century, this research sought to evaluate the process of revitalization of the Historic Center of João Pessoa, choosing to target the neighborhood of Varadouro and performing the evaluation of the proposed revitalization of the Plaza Anthenor Navarro.

Keywords: Revitalization, rehabilitation and Historic Center of João Pessoa.

Introdução

Os processos de revitalização ou requalificação de trechos degradados ou abandonados vêm sendo desenvolvidos em diversas partes do mundo desde o final do século XX, procurando, em sua maioria, dinamizar novos usos ao patrimônio urbano na tentativa de viabilizar o sistema econômico através de recursos culturais e turísticos nos sítios históricos, artísticos, arqueológicos e ambientais.

Os projetos de revitalização e requalificação englobam vários setores, entre eles o cultural e o habitacional. Os eventos culturais em centros históricos, por exemplo, têm estimulado a população a apropriar-se dos elementos urbanos e monumentos. Muitos centros urbanos vêm sendo pensados apenas como espaço de grandes festas e belos cenários. O planejamento dessas áreas deve ser guiado de forma diversificada atribuindo diferentes usos, para diferentes classes, preservando assim a principal característica do centro de uma cidade que é a diversidade cultural e social, devendo estar garantida a integração das diferentes atividades e a compatibilidade dos usos com o espaço físico e social.

Segundo Del Rio [2], a importância das áreas centrais está profundamente ligada as lógicas histórica e sócio-espacial e é por isto que elas se destacam na percepção e vivência de quaisquer cidades. O centro das cidades, de uma forma geral, está repleto de simbolismos, história, valores e, sobretudo da identidade daqueles que dela fazem parte, funcionando assim como dinamizador da sociedade, com suas diferentes funções e características. Porém, alguns centros, devido às suas especificidades geográficas e a evolução das cidades têm sofrido com a desvalorização e o abandono, tornando-se muitas vezes áreas vazias e esquecidas.

A cidade de João Pessoa é um exemplo desse processo, onde a expansão urbana tem deslocado grande parte de sua população para a área litorânea (setor leste) estimulada por um "marketing" imobiliário bastante agressivo. Com isto, o centro de João Pessoa vem passando por um processo de esvaziamento e alterações de suas funções originais, sendo implantados serviços e usos, muitas vezes incompatíveis com o valor arquitetônico e histórico das edificações, acabando muitas vezes, com parte do registro de uma época que caracteriza as raízes históricas da cidade. Do ponto de vista urbanístico, este processo negativo tem causado o abandono e a perda das potencialidades que estas áreas centrais apresentam, com sua convergência estrutural e notável articulação espacial e de acessibilidades com o restante da área urbana, além de sua infra-estrutura já instalada, porém subutilizada gerando o desperdício de um espaço em potencial.

Em João Pessoa, esta preocupação nasce na década de 1980 quando foi firmado um acordo entre Brasil e Espanha, para revitalização de seu centro histórico. Mais de 20 anos passados, observa-se que muitas das propostas ainda não foram implementadas. Alguns atos provocaram essa demora, entre os quais a falta de representação política capaz de angariar fundos para realizar a revitalização. De maneira a avaliar este processo, escolheu-se o Bairro do Varadouro como alvo, através da análise da Revitalização da Praça Anthenor Navarro. A proposta apresenta objetivos que juntos se enquadram nas dinâmicas urbanas necessárias para a transformação do espaço urbano.

A análise realizada utilizou como metodologia o estudo do desenho urbano e de seus critérios de qualidade setorial (uso do solo, configuração espacial, sistema viário, espaços livres, atividades de apoio e mobiliário urbano). A partir dessa análise foram definidas as problemáticas urbanas existentes dentro do Centro Histórico de João Pessoa observando-se a percepção das mudanças reveladas no espaço, resultantes da proposta de revitalização da Praça Anthenor Navarro apresentando transformações urbanas tanto positivas como negativas.

1. Praça Anthenor Navarro: análise das propostas e verificação dos pontos positivos e negativos

A revitalização da Praça Anthenor Navarro pode ser considerada como o grande marco do processo que motivou a conscientização da população, que até então não conseguia perceber a beleza existente nos casarios antigos da cidade, onde só haviam existido até o momento recuperações pontuais em igrejas e importantes monumentos históricos. Sua revitalização, foi o primeiro projeto dentro do Centro Histórico de João Pessoa a recuperar, além de um espaço público, todo um conjunto arquitetônico, devolvendo a população um espaço de convívio e lazer e se enquadrando em alguns projetos já existentes em centros históricos brasileiros, como a Rua do Bom Jesus localizada em Recife.[3]

1.1 Aspectos Históricos

Localizada no núcleo Cidade baixa a Praça Anthenor Navarro está situada no Bairro do Varadouro. A Praça Anthenor Navarro passou a existir a partir de uma reforma urbana realizada após a revolução de 1930[4], quando a cidade por ocasião de seu desempenho durante a revolução foi favorecida com verbas do governo federal para que fossem realizadas obras de melhoramento visando a modernização de diversos espaços.

1.2 Revitalização da Praça Anthenor Navarro

Foram necessários mais de 10 (dez) anos para a realização da revitalização da Praça Anthenor Navarro, que estava prevista desde o início do plano de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa, iniciado no ano de 1987, como um dos projetos presentes. Um dos grandes impasses que aparecerem logo no início foi a localização de um posto de combustíveis no local, cujo proprietário se negava a sair da área. No início do século XX os postos de combustíveis eram de propriedade do poder público, sendo dada apenas a concessão de uso em troca do pagamento de um aluguel. No caso da Praça Anthenor Navarro o posto que ali se encontrava estava há anos sob este regime.

Vários recursos espanhóis e franceses foram perdidos no decorrer desses 10 (dez) anos de tentativa de retirada do posto e apenas após ser constatada a sua falência que se pôde iniciar o projeto de revitalização. A comissão acelerou o projeto e foi em busca de parceiros que pudessem investir na área, a empresa Tintas Coral e o Instituto Brennand foram os que apostaram no projeto. A prefeitura municipal, que tinha como prefeito Cícero Lucena na sua primeira gestão, entrou com o espaço público e com a negociação para a retirada do posto de combustíveis alegando sua falência. A maior parte dos recursos veio do setor privado e foi utilizada na área pública. A restauração e reforma dos edifícios ficaram por conta dos proprietários, que também foram investidores durante o processo de requalificação.

A recuperação da Praça Anthenor Navarro representava o início de um processo que buscava a conscientização e o resgate da importância histórica e cultural por parte da população, sendo mais tarde, junto com o Largo de São frei Pedro Gonçalves, a Igreja e o prédio número 2, localizado também no Largo, o primeiro núcleo revitalizado do Centro Histórico de João Pessoa.

1.2.1 A Proposta e os Efeitos de Revitalização

Associada ao plano de Revitalização do Varadouro e do Porto do Capim, a revitalização da Praça Anthenor Navarro teve como objetivo a dinamização da área através da melhoria das edificações que abrigavam prestadores de serviços, assim como a inserção de atividades de cultura e lazer. A proposta buscou transformar a Praça em um espaço destinado a eventos culturais, através de apresentações da cultura local, principalmente as musicais. Inicialmente as edificações de entorno deveriam estar destinadas ao lazer, cultura e diversão.

Após a sua requalificação ocorrida no ano de 1998, a Praça Anthenor Navarro transformou-se num espaço de eventos culturais, principalmente nas quintas e sextas- feiras à noite e durante os finais de semana. Segundo SCOCUGLIA[5], as pessoas que passaram a freqüentar a área revitalizada tratavam-se de grupos de diferentes gerações que buscavam fugir dos circuitos de consumo de massa e estavam em busca de espaços alternativos.

Devido a importância readquirida, aos poucos passaram a atuar no local entidades e associações civis vinculadas aos temas culturais e à cidadania.

A Praça Anthenor Navarro conseguiu despertar na população uma consciência desconhecida e um respeito pela sua história e arquitetura. Até então muitos desconheciam o valor arquitetônico presente nos edifícios do centro que estavam sendo perdidos devido ao uso indevido por parte de muitos comerciantes.

Uso do Solo

Durante muitos anos a Praça Anthenor Navarro assim, como as áreas adjacentes, as Ruas Maciel Pinheiro, Barão do Triunfo, Cardoso Vieira, João Suassuna, e outras áreas nas imediações, representaram o grande centro comercial da capital, onde se localizava um comércio diversificado e os grandes armazéns e estivas que se fixavam próximo ao antigo Porto do Capim. Mas, apesar do comércio ser o uso de maior predominância nesta área, existiam ainda no Largo de São Frei Pedro Gonçalves algumas residências, uma igreja que leva o mesmo nome, e que hoje também se inclui como um dos edifícios restaurados pelo plano de revitalização, assim como alguns edifícios administrativos.

A elite que residia nos trechos próximos à Praça Anthenor Navarro ainda resistiu até a década de 1940/50, mas logo depois acabou se tornando inevitável a sua transferência para as novas áreas surgidas com a abertura da Av. Epitácio Pessoa e que retratavam a modernidade, através de projetos que seguiam as novas tendências arquitetônicas[6].

A partir da década de 1960 intensificavam-se as mudanças sociais e os usos existentes no centro. Os antigos moradores vendiam ou alugavam os seus imóveis que passavam a abrigar atividades nem sempre correspondentes com a área ou a edificação. Instalaram-se na área oficinas mecânicas, carpintarias, prestações de serviços e com o decorrer dos anos, com a desvalorização e degradação do espaço, famílias de baixa renda também passaram a se abrigar na área, atraídas pelos baixos aluguéis e pela proximidade com o comércio e trabalho, pois neste período apesar da mudança de moradores para as novas localidades da cidade, os serviços públicos, administrativos e o comércio em geral ainda permaneciam no centro de João Pessoa.

No ano em que se realizou a delimitação da área do centro histórico e o seu levantamento pelos técnicos que faziam parte do grupo responsável pelo Plano de Revitalização, existiam muitos imóveis em ruínas, descaracterizados. Não havia nenhum tipo de consciência de preservação dos bens patrimoniais por parte dos moradores, comerciantes e até mesmo pelos políticos, que há muito tempo não intervinham na área do centro.

Apenas após o convênio firmado no ano de 1987 entre Brasil e Espanha, com a realização do levantamento da cidade e da criação do plano de revitalização, é que se pode considerar o início da conscientização da população com relação à preservação do centro histórico. Era necessário naquele momento chamar a atenção da população para a preservação, cessar o processo de degradação que se intensificava, e para isto, iniciar o plano de revitalização de uma maneira que abrangesse uma área importante da cidade.

O fato é que apesar da Praça ter se tornado um grande palco de eventos culturais para a cidade de João Pessoa, ainda predominava o uso pelo comércio e prestação de serviços que não se beneficiavam por esses eventos já que os mesmos ocorriam em horário diferente do funcionamento daquelas atividades. O objetivo da Praça era bem mais intimista do que acabou se tornando. Logo após a sua inauguração ainda se podia observar jardins bens cuidados e um público mais seleto que freqüentava principalmente o Parahyba Café[7]. As noites estavam destinadas para aqueles que tinham poder aquisitivo e podiam consumir nos bares ali presentes, ambulantes com suas barracas de comidas e bebidas ainda não haviam chegado por ali, mas, aos poucos essa realidade se modificava e foi justamente a presença de ambulantes na praça que mais tarde passou a atrair o público de várias classes sociais.

À medida que este público aumentava, o número de ambulantes crescia e aos poucos começava a gerar conflitos com os donos dos bares da Praça Anthenor Navarro. Mesas e cadeiras eram colocadas pelos ambulantes na praça e impediam o acesso de pessoas ao local, ocupando os dois lados da rua. Naquela época não existia a fiscalização e o cadastramento do comércio informal e a desorganização era visível, o que acabou acarretando o fechamento dos bares. No ano de 2002 a Praça já não tinha o mesmo uso, com bares e galerias de arte fechadas e com a diminuição de eventos.

Porém, embora a freqüência de uso da Praça tenha diminuído muito e não corresponda mais àquele inicial que atraia várias pessoas no período noturno, ela não se encontra morta, todos os seus imóveis se encontram ocupados e sendo utilizados, apresentando hoje outras atividades que surgiram no decorrer dos anos e se ajustaram de acordo com as necessidades da população.

Tornar o centro histórico um ponto de permanente freqüência no período noturno é um grande desafio. Principalmente quando a população está vinculada à cultura litorânea e a contemplação da paisagem do mar, e um centro histórico que está em uma posição contrária a isso. Ao mesmo tempo em que, estar instalada próximo ao rio e distante do mar traz um diferencial a João Pessoa com relação a outros centros históricos, gera também uma grande barreira.

Configuração Espacial

As edificações existentes no entorno da Praça Anthenor Navarro foram construídas no início do século XX sob a influência da nova modernização que se instalava no Brasil no estilo art-décor e art-nouveau. As 13 edificações existentes no espaço foram construídas num curto espaço de tempo, por volta de 10 anos, fato este que lhe introduz uma maior singularidade e torna as características de construção dos imóveis muito próximas.

No período anterior a revitalização, o estado de conservação dos imóveis era considerado razoável. Estavam preservadas parte da estrutura física e espacial dos edifícios, no entanto era visível a falta de manutenção e prevenção, o que deixava alguns com aspecto de abandono.

O uso das edificações era o mesmo desde o seu surgimento, projetadas para fins de comércio e prestação de serviços. Porém, além das interferências ocorridas nas fachadas que era o resultado da falta de conscientização da população com relação à importância de se preservar espaços antigos[8], acontecia o processo de decadência econômica que pairava em todo o centro histórico, transformando o comércio da região e áreas antes disputadas em espaços subutilizados.

Foi para mudar esta situação que medidas foram propostas para a configuração espacial da Praça Anthenor Navarro. Visando um espaço para convívio e lazer, onde se pudessem realizar alguns eventos culturais que representassem a cultura local, algumas mudanças foram realizadas como: a pavimentação do espaço da lateral oeste do tráfego para eventos culturais; ampliação dos passeios públicos e recuperação do meio-fio substituído buscando assim recuperar as características geométricas originais do passeio existente anteriormente na área.

As intervenções propostas para as edificações buscaram resgatar as características originais das fachadas através de estudos e observação de fotos antigas.

Atualmente, pode ser constatado nos dias de grandes atrações um volumoso número de pessoas que se distribuem por todos os lados, afetando até mesmo os espaços verdes ainda existentes no local.

Circulação Viária e Estacionamento

Anteriormente à requalificação, a localização da Praça Anthenor Navarro gerava um fluxo intenso de carros, principalmente por se encontrar próximo a Rua Maciel Pinheiro, um dos grandes pólos comerciais da cidade.

Algumas medidas foram tomadas para a reorganização do fluxo de veículos existente nas proximidades da praça de forma a cumprir apenas uma primeira etapa do projeto de redefinição do sistema viário presente no plano de revitalização em estudo para o Varadouro e Porto do Capim.

Essas medidas resultaram em melhorias na área, que necessitava de uma organização, e o problema hoje existe apenas nos dias de grandes eventos. Como se sabe, em todos os centros históricos as áreas de estacionamento são poucas e disputadas, principalmente durante as grandes festas que atraem muitas pessoas, tornando difícil aos a locomoção de automóvel na área.

É imprescindível que haja uma integração dessas atividades com o movimento de pedestres e veículos. Se no caso da Praça Anthenor Navarro já se conseguiu verificar as dificuldades com relação ao trânsito e ao estacionamento, prevê-se que esse problema se agrave quando os eventos ocorridos no Centro Histórico de João Pessoas forem ampliados e o número de pessoas se multiplicar.

Tornam-se cada vez mais necessárias, com o decorrer dos projetos que visam a revitalização do centro histórico, soluções para os meios de transporte. É visível a impossibilidade de se receber grande quantidade de automóveis. Seja qual for a área, as ruas do centro histórico não foram projetadas para grande fluxo de automóveis. Seu traçado deve ser preservado, sugerindo-se assim que a solução esteja em melhorias para o transporte público, capaz de fazer com que as pessoas deixem seus carros em casa e se dirijam de outras formas (ônibus ou táxi) para o centro histórico.

Atividades de Apoio

Com o objetivo de vitalizar o espaço através da atração de pessoas, eventos culturais passaram a acontecer nos finais de semana na Praça Anthenor Navarro e no Largo de São Frei Pedro Gonçalves. Manifestações da cultura popular, literatura e da cultura intelectual trouxeram para o local uma diversidade de eventos.

Atraindo um público diferenciado, a revitalização da Praça, em seus primeiros anos, foi um grande sucesso, recebendo apoio da Prefeitura Municipal e da iniciativa privada. Vários eventos atraiam a população para o local – Carnaval, São João, Centro em Cena, Festival da Cultura Popular, Festival de artes, entre outros.

A Praça Anthenor Navarro havia se tornado palco e cenário de animação cultural. De forma gradual os moradores do Largo São Frei Pedro Gonçalves e da Comunidade Porto do Capim começaram a colocar suas barracas na Praça para venda de bebidas e comidas, aproveitando-se do movimento gerado no local com a revitalização, para aumentarem sua renda. A partir daí começam a surgir os conflitos entre as atividades permanentes e as temporárias. Aos poucos os ambulantes passaram a invadir os espaços que eram destinados aos bares, disputando os espaços que estavam destinados a colocação de mesas e cadeiras para atender a clientela. Esse fato provocou o afastamento dos consumidores dos bares da praça.

Outra questão é que para se garantir o sucesso da revitalização, era necessário que houvesse a atração de um grande número de pessoas para o local de forma contínua. Entretanto, isso não acontece, em virtude do que já foi exposto anteriormente.

Hoje na área ocorreram algumas mudanças, o comércio e os prestadores de serviços existentes na Anthenor Navarro têm seu funcionamento apenas em horário comercial. Outros estabelecimentos foram abertos no Largo São Frei Pedro Gonçalves como a Boate Intoca e o Galpão 14 que atraem um público alternativo. E, apenas com os eventos promovidos em datas estratégicas pela PMJP a praça volta a receber público e a ter alguns estabelecimentos abertos para a venda de bebidas. Os ambulantes que comercializam nestas festas são todos cadastrados pela Secretária de Desenvolvimento Urbano (SEDURB) que fiscalizam a área durante os eventos para evitar a invasão por ambulantes não cadastrados.

Mobiliário Urbano

Como forma de garantir um bom funcionamento do espaço, algumas mudanças foram propostas durante a revitalização da Praça Anthenor Navarro para melhorar a qualidade do mobiliário urbano existente.

Para a proposta foram escolhidos materiais de longa durabilidade, considerando o grande fluxo de pessoas que esta poderia vir a ter com a revitalização do espaço. Os bancos de concreto escolhidos para o espaço revelam bem esta preocupação, embora não trouxessem tanta beleza estética para o ambiente, lhe garantiam uma melhor manutenção. A iluminação pública também foi pensada, sendo feita a instalação subterrânea da fiação elétrica e telefônica.

Mudanças também aconteceram no paisagismo do espaço público onde foi removida a vegetação existente e substituída por outra considerada mais adequada. Palmeiras Imperiaais trouxeram ao local uma maior valorização, em conjunto com as edificações do entorno, além de caracterizar uma área verde para o espaço.

As alterações ocorridas no espaço público tiveram como linhas gerais o retorno de um espaço de convivência dentro do Centro Histórico de João Pessoa ,que entre seus objetivos pudessem atrair a população para o lazer e a cultura, assim como para o conhecimento da beleza das edificações existentes no entorno da praça, sendo assim capaz de promover uma conscientização patrimonial involuntária para aqueles que a freqüentassem.

Contudo, os eventos promovidos pela PMJP, atraem para o local um número de pessoas superior a sua capacidade de suporte, ficando evidente que sua configuração não possui estrutura para grandes eventos. Para que na Praça pudesse se distribuir o grande público, foi retirado o gramado existente no local sob a promessa de serem recolocados posteriormente, no entanto hoje o que se vê é uma grande área descampada, quase sem jardim. A falta de manutenção do espaço público, de reparos após os grandes eventos, está desgastando a imagem de espaço revitalizado da Praça, embora os edifícios ainda continuem conservados.

6.3 Pontos Positivos e Negativos

Como primeiro área revitalizada do Centro Histórico de João Pessoa, a Praça Anthenor Navarro, foi uma resposta aos esforços que vinham sendo realizados, desde o acordo de 1987 entre Brasil e Espanha.Assim como toda inovação está sujeita a erros e acertos, não poderia ser diferente com a Praça, que trazia um cenário totalmente inovador naquele momento, estabelecendo vida a um lugar a muito considerado morto e esquecido. Sua avaliação, realizada através dos critérios de qualidade setoriais relacionados ao espaço de convívio e lazer, serviu para buscar os pontos positivos e negativos da proposta, relacionando-os da seguinte maneira:

·Com relação ao Desenho Urbano: a intervenção realizada na Praça Anthenor Navarro visava a melhoria da qualidade do ambiente, e conseqüentemente da qualidade de vida para o conjunto da população usuária, assim como uma integração coerente com a macro-estrutura urbana na qual está inserida. Enquadrando-se nestes pontos, conseguiria se ajustar perfeitamente no conceito e nos objetivos do Desenho Urbano. Contudo, era necessário um conjunto de ações que pudessem reger todo o espaço urbano, considerando todas as condicionantes que interferem no desenvolvimento: espaciais, arquitetônicas, ambientais, jurídicas, econômicas, sociais, culturais, políticas, etc. Infelizmente a proposta para a requalificação da Praça, apesar de possuir algumas das ações citadas não poderia por si só solucionar problemas tão complexos, por obrigação regidos pelo Poder Público, que durante o processo deve permanecer como coordenador das ações e incentivador das atividades, capazes de despertar nas empresas e na própria sociedade civil a vontade de contribuir para a criação de espaços urbanos democráticos e de qualidade. O afastamento da classe política paraibana para os assuntos do centro histórico pode ser considerado como responsável pela grande demora para a realização dos projetos. O fato da inexistência de outras propostas, que juntas integrariam o conjunto de ações necessárias para o bom funcionamento daquele espaço, acabou por colocar a Praça Anthenor Navarro sob forte pressão, concentrando toda responsabilidade de revitalizar o Centro Histórico em um único projeto.

·Com relação ao uso do solo e a configuração espacial: No primeiro momento os usos destinados ao local conseguiram se adaptar a nova realidade, que buscava transformar o local em uma área destinada à cultura, a diversão e ao lazer. Com o sucesso do projeto e a boa receptividade da população, aos poucos foram surgindo alguns conflitos. Resultado da falta de compromisso do Poder Público em gerenciar suas ações de forma a solucionar problemas. A falta de controle com relação à chegada dos ambulantes ao local acabou por transformar a praça em um ponto de disputa entre os comerciantes locais (permanentes) e ambulantes (temporários). Apesar dos conflitos, pode-se enxergar um ponto positivo nesta invasão. Até aquele momento a praça estava servindo como um lugar elitizado, onde o poder aquisitivo das pessoas que a freqüentavam acabava por servir de barreira para o acesso de pessoas de outras classes sociais. A partir do momento em que a praça passa abrigar o comércio ambulante, também passa a receber pessoas de todas as classes sociais, criando assim o sentido de espaço democrático, sem barreiras sociais. Contudo, a falta de controle e organização acabou por tornar a convivência entre os comerciantes permanentes e temporários bastante delicada, acarretando na ausência gradativa dos clientes e, por conseguinte do próprio comércio. Os eventos de grande porte que passaram a existir no local também podem ser vistos de maneira controversa, pois ao mesmo tempo em que conseguem divulgar o local e atrair pessoas ao centro histórico no horário noturno, a falta de estrutura para receber esse grande público dentro da configuração espacial existente na Praça Anthenor Navarro acabava por deteriorá-la. Aos poucosem vez do projeto transformar o espaço urbano, irradiando a revitalização através da cultura de preservação, foi o projeto que acabou sendo modificado, perdendo suas características iniciais para se adaptar às novas necessidades que os grandes eventos exigiam. Assim é o caso dos jardins existentes na praça, retirados pela falta de espaço durante os grandes eventos, fato este que poderia ser solucionado se os planos de revitalização tivessem prosseguido e espaços projetados para grandes eventos tivessem sido criados.

·Com relação à circulação viária e estacionamento: esta discussão torna-se muito semelhante aos debates realizadas nos outros projetos estudados nesta pesquisa, o que pode se justificar pela proximidade existente entre estes. Sabendo-se da carência de vagas de estacionamento existentes em qualquer centro histórico e das problemáticas geradas pelo grande fluxo de carros em suas ruas estreitas, a atração de muitas pessoas durante grandes eventos resultará certamente em congestionamentos. Infelizmente este é um ponto negativo que demorará bastante a ser solucionado, cabendo não somente a melhoria dos transportes públicos coletivos como também a conscientização da população.

Considerações Finais

Muitos são os pontos discutidos, porém percebe-se que grande parte se relaciona ao fato da inexistência de outros projetos semelhantes que pudessem balancear as responsabilidades, assim como proporcionar outras atividades de maneira a alcançar todos os níveis necessários para um Desenho Urbano democrático. A falta de compromisso político também se agrega a esses fatores, já que a execução e manutenção dos projetos conta com a participação da classe política. A demora existente no Plano de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa demonstra bem essa questão. Hoje, apesar da existência de propostas que associam em seus projetos grande parte das dinâmicas sociais fundamentais para a gestão do espaço urbano, a inexistência de políticas públicas voltadas para a questão patrimonial e até mesmo a falta de parcerias público/privadas nestes projetos tem levado a demora de sua execução.

Através do exemplo da Praça Anthenor Navarro, desde seu planejamento, passando pela sua execução e chegando até a sua situação nos dias atuais, pode-se tirar muitos ensinamentos. Nenhum projeto conseguirá se manter, se depender apenas dele a revitalização de todo um espaço, pois o que conta é aquilo que está executado, já que propostas só poderão transformar o ambiente urbano se estiverem cumpridas.

Notas



[1] Elaborado a partir dadissertação de mestrado em Engenharia Urbana, Intervenções de Recuperação no Centro Histórico de João Pessoa: Bairro do Varadouro, março de 2009, Universidade Federal da Paraíba.

[2] Del Rio, V. . Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini, 2000.

[3] Na cidade do Recife, para efeito de planejamento do processo de revitalização, foram definidos três pólos de ação: Pólo Alfândega, Pólo Bom Jesus e o Pólo Pilar. Pela sua centralidade e por abrigar a rua mais antiga da cidade, às primeiras ações concentraram-se no Pólo Bom Jesus, com a desapropriação dos cinco imóveis mais deteriorados para uma intervenção exemplar em termos de restauro arquitetônico. Foi feito um plano de marketing para alocação de atividades de comércio e serviço, a criação de incentivos fiscais, além do Projeto Cores da Cidade para recuperar as fachadas e tornar visível para a população a riqueza do acervo arquitetônico do bairro

[4] Com a crise causada pela quebra da bolsa de Nova York no ano de 1929, acontecimento conhecido como o "Crack" de 29, o café brasileira não foi exportado e por conta disso várias discordâncias políticas passaram a surgir. Na época a política vigente no país era a do Café-com-Leite, comandada pelos estados de São Paulo e Minhas Gerais que alternavam no poder. No ano de 1929 o presidente era Washington Luís (1926-1930) do Partido Republicano Paulista, o próximo presidente deveria ser um representante do estado de Minas gerais, mas devido a crise Washington Luís acaba quebrando o acordo e indicando um candidato paulista com medo de que Minas Gerais não respeitasse o interesse paulistano no período da crise. Júlio Prestes (PRP) foi o candidato paulista indicado, com isto Minas se une ao Partido Republicano Riograndense (PRR) passando assim para o lado da oposição e criam a Aliança Liberal que tem como candidatos Getúlio Vargas (RS) para presidente e João Pessoa (PB) para vice. A Aliança Liberal possuía o maior número de votos em todas as regiões e deveria ter ganho as eleições senão tivesse ocorrido fraude que acabou por eleger Júlio Prestes. Após o assassinato de João Pessoa por motivos pessoais, o fato foi utilizado como motivo político para suscitar a insatisfação da Aliança Liberal e com a ajuda do povo conseguir dêpor do governo Júlio Prestes, instalando-se um governo provisório, ficando este caso conhecido como revolução de 1930.

[5] SCOCUGLIA, J. B. C. . Revitalização urbana e (re)invenção do centro histórico na cidade de João Pessoa (1987- 2002). João Pessoa: Ed. Universitária / UFPB, 2004.

[6] A elite paraibana neste momento se dirigia em direção ao mar e aos poucos até mesmo a classe média foi se transferindo gradativamente da região. Criavam-se novos bairros e os incentivos as novas moradias multiplicavam-se com a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) pela ditadura militar e até mesmo a classe média passou a financiar os seus imóveis através do Projeto Cura, o grande financiador de muitas residências existentes na área litorânea como os bairros de Cabo Branco e Tambaú.

[7] Naquele momento os moradores do porto do capim e das adjacências ainda não se sentiam a vontade para participar daquele local, até mesmo porque ele se iniciou de forma elitista e apenas usuários-consumidores em potencial podiam se beneficiar da área.

[8] Esta falta de conscientização ocorria não só por parte da população, mas principalmente por parte do poder público que somente em 1982 através do Decreto N.º 9.484 de 13 de maio de 1982 veio a realizar a delimitação e tombamento do Centro Histórico de João Pessoa, até então a própria prefeitura aprovava os projetos de reforma e construção dos edifícios presentes no centro da cidade.