PR WELLINGTON WANDER SILVA - SERMÃO DA MONTANHA

Por Wellington Wander Silva | 17/03/2016 | Bíblia

Estudo de Mateus - cap. 5:1 a 12
A natureza do povo do reino

 

Toda nação tem a sua constituição e aqui nos capítulo 5, 6 e 7 de Mateus nós temos a constituição do reino dos céus. É a revelação do viver espiritual e dos princípios do reino dos céus.

 a. No monte

 O decreto da constituição do reino foi liberado em cima de um monte.

 Na palavra de Deus os acidentes geográficos são simbólicos e o monte possui um sentido espiritual.

 Grandes acontecimentos da Palavra de Deus aconteceram num monte:

 þ  A arca pousou sobre o monte Ararat;

þ  Abraão ofereceu Isaque sobre o monte Horebe;

þ  A lei foi dada no monte Sinai;

þ  A bênção e a maldição eram proferidas sobre os montes Ebal e Gerizim;

þ  Jesus foi transfigurado num monte, morreu no monte do Calvário e vai voltar no monte da Oliveiras.

 O monte nos fala de uma posição para receber a revelação de Deus.

 Se desejamos conhecer a Deus e seus princípios precisamos sair do vale da incredulidade e do mar da morte e subir ao Monte da revelação do Senhor.

 Esta constituição é também conhecida como Sermão do Monte.

 b. Para os discípulos

 A constituição do reino não foi dada para a multidão, mas para os discípulos.

 Isto significa que a mensagem do reino não é para receber a salvação, mas para aqueles que já foram salvos.

 Ninguém pode ser salvo por nenhuma das obras de justiça ensinadas por Jesus, antes somos salvos pela graça mediante a fé.

 Entretanto, uma vez que somos salvos somos conduzidos a um estilo de vida de outro reino, o reino dos céus.

 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos. Mt. 5:1

 Embora a multidão estivesse presente o Senhor Jesus se dirigiu aos discípulos.

 O Sermão do monte, portanto, não foi endereçado nem aos judeus do Velho Testamento, nem aos gentios sem Deus, mas os discípulos do Novo Testamento que mais tarde foram chamados de cristãos.

1. A natureza do povo do reino - 5:1 a 12

 A primeira seção do Sermão do monte trata da natureza do povo do reino dos céus. Não trata de um padrão para pessoas excepcionais, mas o padrão para todo o povo de Deus.

 Entretanto o cristianismo atual tornou-se algo anormal e a maioria dos cristãos não estão no nível do povo do reino por aqueles que vivem como cidadãos do reino são tidos como excepcionais.

 Os nove aspectos da natureza dos filhos do reino são acompanhados da palavra “bem-aventurado” que é “Makários” que no original e significa feliz.

 a. São humildes de Espírito

 Não é uma virtude natural. Não é supressão da personalidade. Não é auto sacrificar-se. Não é ignorância cultural. Não é pobreza material, pois não há mérito na pobreza.

 Porque os pobres não tinham a quem recorrer senão a Deus, com o passar do tempo a pobreza adquiriu nuances espirituais e passou a ser identificada como uma dependência de Deus.

 Quando reconhecemos que não temos a quem recorrer e então clamamos a Deus estamos sendo humildes de espírito.

 Isto nos faz lembrar da igreja de Laodicéia que julgava ser rica e abastada e não precisar de coisa alguma (Ap. 3:17).

 Ser humilde de espírito é ser livre do orgulho. O pobre de espírito é aquele pecador que subiu ao monte para orar com o fariseu.

 O pecador batia a mão no peito e dizia: “ai de mim que sou miserável pecador!”

 Assim, ser humilde de espírito é reconhecer nossa necessidade suprema de Deus. Nada temos a oferecer e nada a reinvindicar diante de Deus.

 Ser humilde de espírito é ser livre da independência e auto-suficiência.

 Há uma relação íntima entre quebrantamento e ser humilde de espírito. Jesus disse que fora enviado aos quebrantados de coração (Is. 61:1).

 Também está ligada com contrição.

 Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos. Is. 57:15

 Ser humilde de espírito é exercitar o próprio espírito para contactar a Deus e não meramente seguir uma religião.

 A primeira condição para estar no reino é ser humilde espírito. Jesus assim contradisse todas as expectativas correntes naqueles dias.

 O reino é concedido ao pobre e não ao rico; ao frágil, não ao poderoso; às criancinhas, não aos soldados que pensavam poder alcança-lo pela própria bravura; não ao fariseu que se achava santo e merecedor, mas às prostitutas e pecadores, o refugo da sociedade humana.

 b. Choram com a tristeza segundo Deus

 Esta bem-aventurança é um paradoxo pois Jesus está dizendo que felizes são os infelizes.

 Não é um choro por coisas naturais como a perda de um ente querido, mas é o choro por causa do arrependimento, da condição de pecado, é o choro por causa da injustiça.

 Paulo nos diz que existe uma tristeza segundo a carne e uma tristeza segundo Deus. Os que choram e são felizes são aqueles que choram por causa da tristeza segundo Deus.

 Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte. II Cor. 7:10

 Não é aparência de piedade. Sabemos que Jesus chorou.

 Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos. Lc. 19:41-42

 É aquele que chora mas sem depressão ou melancolia. É triste, mas sem ser miserável. É sóbrio, mas não sombrio. É grave, mas nunca frio e distante.

 No final sabemos que o Consolador limpará de nossos olhos toda lágrima. Hoje, todavia, é uma época de choro.

 Estamos apenas saindo e chorando enquanto semeamos, para a vida eterna quando colheremos os frutos da glória de Deus.

 Pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. Ap. 7:17

 c. São mansos

 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mt 11:28-30

 Jesus mesmo se declarou manso, gentil e atencioso, mas devemos rejeitar toda imagem que evoca uma figura fraca e efeminada. É manso é gentil, porém forte em Deus.

 Manso é aquele que não esmaga a cana quebrada.

 Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito. Is. 42:3

 Ele não esmaga os outros porque ele mesmo tem uma percepção correta de si mesmo. Ao ver a si mesmo torna-se manso, tolerante e paciente para com os outros.

 Muitas vezes nos humilhamos diante de Deus e nos declaramos miseráveis pecadores diante dele, mas se saímos à porta e alguém nos chama de miserável pecador subimos pelas paredes com ele.

 Aceitamos falar diante de Deus, mas não reconhecemos diante dos homens. Esta hipocrisia é fruto da falta de mansidão.

 O homem manso é aquele que fica pasmo ante o fato dos homens pensarem tão bem a respeito dele e que o tratem tão bem.

 O mundo hoje pertence aos arrogantes, aos valentes e aos fortes, mas o Senhor diz que a terra por fim será dos mansos, dos gentis, dos dóceis.

 Não é indolência. Não é complacência. Não é mera gentileza.

 d. Têm fome e sede de justiça

 Na Palavra de Deus a justiça tem pelo menos três aspectos: a justiça para com Deus, a justiça moral e justiça social.

 A justiça para com Deus é a justificação, um relacionamento certo com Deus. É levar o homem a se reconhecer pecador e receber a salvação e a justiça de Cristo.

 A justiça moral é aquela relacionada com a conduta, o caráter que agrada a Deus. Não a justiça do fariseu que era exterior, mas aquela justiça que é interior, do coração, nas motivações.

 A justiça social refere-se à luta pela libertação do homem da opressão e da tirania das desigualdades e faltas de oportunidades iguais para todos.

 É a promoção dos direitos civis, da justiça nos tribunais, da integridade nos negócios, da ética na política e no governo, da honra no lar e nos relacionamentos familiares.

 A nossa fome e sede de justiça deve incluir todos esses três níveis de justiça.

 É ter fome do próprio Jesus. Não é ter fome de bênção ou de experiências espirituais.

 É ter fome da justiça de Deus, da sua santidade. A maior causa do raquitismo espiritual que acomete muitos crentes é a falta crônica de apetite e sede espiritual.

Certa vez um jovem aproximou-se de homem muito usado por Deus e lhe disse que gostaria de ser seu discípulo. O homem de Deus concordou com a condição de que antes eles fizessem um batismo para iniciarem o discipulado.

O homem de Deus levou o garoto a um rio e o mergulhou na água como se fosse um batismo, mas segurou o jovem debaixo d’água. Depois de algum tempo quando o jovem se debatia furiosamente já quase se afogando o homem de Deus o tirou da água. O jovem ofegante, mal conseguia falar, mas recriminou o homem de Deus dizendo: porque você queria me matar?

Eu não queria matar você, respondeu ele. Eu queria apenas fazer um teste com você . Responda-me sinceramente: o que você  mais desejou quando estava debaixo d’água? O jovem respondeu sem exitar: “ar, mais que tudo na vida eu desejava ar.” O homem de Deus então lhe disse: quando você  desejar a Deus como você  desejou aquele ar você terá o que eu tenho e fará o que eu faço. E então o despediu.

 A sede possui as seguintes características: É profunda. É forte. É dolorosa. É contínua. Traz desespero.

 Todas as características do povo do reino mencionadas nas bem-aventuranças são por toda a vida.

 Enquanto estivermos aqui precisamos ser humildes de espírito, mansos e cheios de fome e sede de Deus.

 e. São misericordiosos

 A misericórdia é diferente da graça. Misericórdia é quando Deus não dá o que você merece; e graça é quando Deus dá o que você não merece.

 É interessante que quando temos fome e sede de justiça podemos nos tornar implacáveis no castigo e na punição dos injustos, mas Jesus vem em seguida e nos conduz à misericórdia.

 Existe uma seqüência nas bem-aventuranças. Primeiro temos de ser humildes de espírito e reconhecer o nosso pecado diante de Deus.

 Uma vez que reconhecemos choramos contritos por causa de nosso pecado.

 Esse reconhecimento de pecado e quebrantamento nos fazem mansos para com Deus e os homens pois vemos a nossa real condição espiritual.

 Mas, não ficamos apenas lamentando os pecados passados, passamos a ter fome e sede da justiça e santidade de Deus e nesta busca nos tornamos misericordiosos com aqueles que ainda não entraram no processo.

 Os que têm fome e sede de justiça clamam por castigo, mas os misericordiosos oferecem perdão. A misericórdia está ligada com a compaixão.

 Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. Mt. 9:36

Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfermos. Mt. 14:14

E, chamando Jesus os seus discípulos, disse: Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça pelo caminho. Mt. 15:32

Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe, de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me. Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou -o e disse-lhe: Quero, fica limpo! Mc. 1:40-41

 A misericórdia se manifesta no perdão.

  Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão. Mt. 18:35

e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; Mt. 6:12

f. São limpos de coração

 A grande questão de Deus não é tanto a mente ou a conduta, mas o coração. Somos limpos de coração quando rejeitamos a hipocrisia.

 O limpo de coração está livre da falsidade, é inteiramente sincero.

 Precisamos ser limpos e puros de coração.

 A limpeza está associada com a ausência da sujeira do pecado, mas a pureza é uma questão de não ser misturado.

 Existem coisas que não são sujas, mas que tornam o nosso coração misturado e impuro.

 Somos limpos de coração quando rejeitamos a contaminação e a impureza.

 Jesus certamente estava enfatizando o fato de que a verdadeira pureza é no íntimo, no coração e não meramente exterior e cerimonial como ensinava os fariseus.

 Os limpos de coração verão a Deus. Ver a Deus aponta para a revelação de Deus hoje. Se desejamos conhecer a Deus precisamos de um coração limpo.

 Além disso sabemos que tudo o que está oculto será manifesto diante dos olhos de Deus, assim os limpos de coração não temem porque eles não têm nada a ocultar ou esconder.

 g. São pacificadores

 Jesus disse que não viera trazer paz, mas espada. Ele queria dizer com isso que o conflito seria o resultado inevitável da sua vinda até mesmo dentro da família.

 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Mt. 10:34-36

 Entretanto fica mais que explícito que jamais deveríamos nós mesmo procurar o conflito ou ser responsáveis por ele.

 Pelo contrário, somos chamados para pacificar e para buscar a paz e a reconciliação.

 Aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la. I pe. 3:11

Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; Rm. 12:18

 Precisamos, porém, lembrar que paz é diferente de apaziguamento. Apaziguamento é quando buscamos paz a qualquer preço.

 Não podemos abrir mão da justiça, da verdade e da palavra de Deus.

 A verdadeira paz tem um preço. As vezes haverá a dor do pedido de desculpas a pessoa que prejudicamos, ou a dor de repreender a pessoa que prejudicou.

A paz barata pode ser alcançada com um pedido de desculpas sem arrependimento ou retratação.

 A paz barata pode ser comprada com um perdão barato.

 h. São perseguidos por causa da justiça

 Não é ser perseguido por fazer algo errado. Não é ser perseguido por fanatismo. Não é ser perseguido por defender uma causa, doutrina ou denominação.

 As bem-aventuranças pintam um quadro do discípulo de Cristo, de um vencedor.

 Ele é humilde de espírito reconhecendo sua pobreza espiritual chora por causa dela. Isto o torna manso e gentil em seus relacionamentos.

 Mas longe de se conformar com o seu pecado ele tem fome e sede de justiça, anseia crescer em Deus e na sua santidade.

 Seu relacionamento com Deus faz dele misericordioso para com os outros e é puro de oração, sincero e transparente para com todos. 

Assim ele procura ser um pacificador, um reconciliador, mas ninguém lhe agradece os esforços, antes ele é hostilizado e perseguido por causa da justiça que defende e por causa do Cristo que ele segue.

 Assim ser perseguido é a conseqüência natural daqueles que praticarem as bem-aventuranças anteriores. Precisamos nos lembrar daquilo que Jesus disse em Lucas:

 Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas. Lc. 6:26

 A popularidade universal está para o falso profeta, assim como a perseguição está para o verdadeiro discípulo de Cristo.

Pr Wellington Wander Silva