POSITIVISMO E MARXISMO

Por Antonio Roberto | 08/08/2009 | Filosofia

Introdução

O presente artigo objetiva discutir duas vertentes clássicas do conhecimento exaustivamente debatidas e estudadas no âmbito acadêmico. As vertentes do Positivismo e do Marxismo foram desenvolvidas em seus respectivos contextos por teóricos que visavam compreender e explicar o mundo ocidental em desenvolvimento à base de um racionalismo lógico herdado do mundo moderno.

 

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É válido ressaltar, em linhas gerais, que essas duas vertentes clássicas do conhecimento estão vinculadas às origens de um tradicional dualismo idealismo-materialismo. Especificamente o positivismo é pertinente ao idealismo e o marxismo está vinculado ao materialismo. Através de uma ou outra dessas vertentes o sujeito pesquisador observa um objeto captando-lhe a realidade aparente. Ao intensificar seu trabalho de investigação sobre esse objeto e, dependendo da concepção dispensada, o sujeito definirá, ao final, a maneira de olhar e de interpretar seu objeto de pesquisa.

 

Aborda-se neste trabalho os fundamentos originários, a expansão e as influências de cada uma das vertentes em discussão sobre o mundo ocidental moderno e contemporâneo. Procura-se fazer contrapontos entre essas duas vertentes levando-se em consideração os contextos nos quais o positivismo e o marxismo estão inseridos.

 

Devido à importância dessas duas correntes clássicas do conhecimento, sobretudo no mundo acadêmico, pretende-se, contribuir com a publicação deste texto. Sabe-se que este trabalho é apenas o pontapé inicial para posteriores abordagens de maior fôlego, entretanto, acredita-se que pela forma resumida e linguagem acessível apresentada neste ensaio o leitor obterá informações sistemáticas acerca de duas vertentes clássicas do conhecimento freqüentemente debatidas e analisadas no mundo acadêmico.

 

II - POSITIVISMO: Origem, fundamentos e expansão.

  

A palavra Positivismo foi utilizada inicialmente, por Augusto Comte (1798 – 1857), na França para definir uma diretriz filosófica marcada pela “adoração” à ciência e pela sacralização do método científico. Contudo, as bases positivistas foram lançadas muito antes com o advento dos fundamentos empiristas a partir do ideário da chegada do Estado Moderno desde o século XVI.

           

O positivismo, apesar de ter se apresentado de diferentes formas em todo o ocidente, a partir, sobretudo da segunda metade do século XIX, refletia no âmbito filosófico, a preferência do capitalismo pelo desenvolvimento da sociedade industrializada. Em outras palavras o positivismo defendia, confiavelmente, que o progresso por meio da industrialização guiado pela técnica e a ciência – tese do capitalismo - traria benefícios gerais para a sociedade contemporânea. Vale dizer em linhas gerais, que a tendência positivista, nos termos de COTRIM (1988), tem como característica geral à extração da ciência e a preocupação de defender as conquistas da revolução industrial, sem se importar com as conseqüências sociais que afetariam a vida de milhões de trabalhadores.

 

Opondo-se aos filósofos socialistas, que pregavam uma revolução das instituições sociais, o defensor do positivismo Augusto Comte, reivindicava a necessidade de uma reorganização completa da sociedade através de uma reestruturação intelectual das pessoas e a instituição da ordem de maneira soberana. Para isso, na filosofia positiva de Comte destacam-se: a lei dos três Estados, a classificação hierarquizada das ciências e a reforma intelectual da sociedade.

 

O positivismo Comtiano explica a Lei dos três Estados relacionando-a com a evolução histórica e cultural da humanidade. Essa Lei define cada concepção principal e cada ramo de nossos conhecimentos, os quais devem passar hierárquica e necessariamente por três Estados historicamente diferenciados: Estado teológico ou fictício, Estado metafísico ou abstrato e Estado científico ou positivo. O Estado teológico representa o ponto de partida da inteligência humana, o Estado metafísico é o Estado de transição entre o primeiro e o terceiro ou a modificação geral do primeiro, o terceiro é o último Estado, ou seja, é o cientifico ou positivo é o estágio maduro, fixo e definitivo da evolução racional da humanidade.          

 

Baseado na Lei dos três Estados, o ser humano é capaz de prever os fenômenos naturais, podendo assim modificar a realidade diante disso. Dito isto, a ciência positiva estabelece o lema: ver para prever, ciência daí previdência, previdência daí ação. Neste caso, o conhecimento cientifico possibilitaria não só a mudança da realidade, mas também a possibilidade do domínio do homem sobre a natureza. Essas transformações, proporcionadas pelo conhecimento cientifico tem como objetivo o progresso. Este, porém deve estar subordinado à ordem. Decorrente deste fato surgiu o novo lema positivista para a sociedade: Ordem e Progresso. Este lema, inclusive, impresso na bandeira nacional do Brasil, foi sugerido pelo republicano positivista, Benjamin Constant.

 

A segunda fundamentação da obra de Comte: a classificação das ciências que aborda a hierarquização das ciências partindo do Estado dos fenômenos mais simples e gerais em direção aos mais complexos e específicos, definindo a seguinte ordem: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia. Sem o estudo hierárquico dessa educação cientifica, o ser humano não atingiria o Estado maduro da racionalidade positiva. Caso o conhecimento não seguisse essa lógica e suscetibilidade corria o risco de se produzir uma perda irreparável na formação racional do ser humano.

 

Por último, a terceira fundamentação da obra Comtiana: a reforma da sociedade seguiria a reorganização intelectual, a moral e finalmente a política. Entre outras abordagens, a terceira parte da obra de Comte destaca que uma das tarefas da filosofia positiva seria restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial, que havia sido quebrada pela Revolução Francesa. De forma reacionária e conservadora, consoante o pensamento de QUINTANEIRO, BARBOSA e OLIVEIRA (2001), Comte defende a legitimidade da exploração industrial, concorda com a estratificação da sociedade em classes sociais, inclusive a existência de capitalistas e proletários.

 

Entretanto, o objeto a ser debatido neste ensaio não é só a filosofia positivista propriamente dita, mas o debate das concepções positivistas diante das ciências sociais, e, em particular, diante do Marxismo. Para isto, elencou-se três premissas básicas que estruturam o positivismo, segundo LÖWY (1987):

 

A sociedade é regida por leis naturais, ou seja, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, isto é, na vida social, reina uma harmonia natural.

A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela natureza (naturalismo positivista) e ser estudada pelos mesmos métodos e processos empregados pelas ciências da natureza.

As ciências da sociedade, assim como as da natureza devem limitar-se à observação e à explicação dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias, descartando previamente todas as pré-noções e preconceitos.

 

É neste sentido que o positivismo pretende tratar as ciências humanas, ou do “espírito”, ou seja, aplicando os mesmos métodos utilizados para as ciências naturais, ignorando as diferenças cruciais existentes entre matéria e espírito ou natureza e “materialismo histórico” da humanidade.

 

O positivismo pode ser compreendido como um amplo movimento que dominou grande parte da cultura européia a partir do século XIX até a Primeira Guerra Mundial. Essa corrente pode ser encontrada nas diversas esferas da sociedade Moderna e Contemporânea nas manifestações filosóficas, políticas, pedagógicas, literárias e historiográficas. Trata-se de um sistema filosófico que pretende imprimir uma orientação antimetafísica e antiteológica, pregando que a única maneira que se pode chegar ao conhecimento é através dos fatos e dados empíricos.

 

Em suma, o positivismo, através do modelo científico-natural procura explicar as esferas sociais humana, utilizando-se das mesmas categorias explicativas das ciências físicas e biológicas, tais como: materialismo, evolucionismo, mecanicismo, naturalismo, determinismo, neutralidade científica, entre outras. Portanto, o positivismo, num sentido metodológico, evoca o primado da ciência natural, isto é, o único método capaz de nos proporcionar o conhecimento é o método das ciências naturais. É neste sentido que a corrente positivista sugere que o método das ciências naturais (relação causa e efeito) seja aplicado também às ciências humanas e tende a considerar, a partir de uma tradição iluminista, os fatos empíricos como única base e meio para se chegar ao conhecimento verdadeiro e a fé na racionalidade científica como solução dos problemas humanos.

 

Vinculado ao idealismo, o positivismo além de delegar à ciência a função de resolver, no decorrer do tempo, o problema social da humanidade, está fundamentado nas seguintes premissas básicas: o positivismo, além de uma tendência vinculada ao idealismo filosófico representa nele parte do idealismo subjetivo; sua origem não é espontaneamente do século XIX, com Augusto Comte, as bases do positivismo remontam ao empirismo da Antigüidade. Todavia, segundo DIEZ e HORN (2004), suas pilastras sustentadoras são lançadas, sem dúvida, nos séculos XVI, XVII e XVIII, a partir do empirismo de Bacon, Hobbes e Hume, especificamente.  

 

III - MARXISMO: Origem, fundamentos e expansão.

   

 Karl Marx nasceu em Trier, Alemanha, a 5 de maio de 1818 e morreu em 14 de março de 1883. Marx faz parte do grupo seleto dos clássicos do pensamento sociológico. A análise que ele faz acerca da sociedade capitalista e suas formulações teóricas provocaram uma imensa influência no pensamento sociológico a ponto de ter se tornado um marco referencial no mundo ocidental. É a partir desse marco que inúmeros pensadores desenvolveram e, ainda, desenvolvem suas teorias no sentido de confirmar ou negar as questões elencadas por ele.

 

Marx era herdeiro do ideário iluminista e acreditava que a razão era um instrumento de apreensão da realidade e de construção de uma sociedade mais justa, capaz de possibilitar a realização de todo o potencial de perfectibilidade existente nos indivíduos.

 

No contexto temporal de Marx (séc. XIX), três referenciais teóricos influenciavam as idéias dos pensadores: o Positivismo idealista de Comte – doutrina filosófica de orientação antimetafísica e antiteológica, pregava que a única forma de se chegar ao conhecimento seria através de fatos concretos e dados empíricos -, a Filosofia especulativa de Hegel – baseada nas idéias universais fornecidas pelo espírito e a Economia clássica de Smith e Ricardo como expressão materialista positivista.

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