PÓS-MODERNIDADE E RELIGIÃO
Por AROLDO DA CRUZ LARA | 28/11/2012 | ReligiãoReligião, Filosofia e Pós-Modernismo
A expressão pós-modernismo surge após a crise de identidade das ideologias do século XX, como reação ao “moderno” (esteticamente, nas Artes e no Capitalismo). A Modernidade se identifica com a Revolução Industrial e com o Iluminismo. Portanto, a crítica que se faz ao pós-modernismo como “iluminismo” tardio é incorreta. Em Filosofia e Teoria Crítica, o pós-modernismo é a condição social que marca o fim da Modernidade. Ernest Gellner considera três pontos no debate atual das mudanças sociais: o Pós-modernismo, o Fundamentalismo religioso, e a Razão (o fundamento do Iluminismo). Estamos vivendo no meio do debate dessas três questões mesmo sem querer ou saber. O pós-modernismo, segundo ele, nega a existência de qualquer verdade universal e questiona a cosmovisão que alega a universalidade. Mas seu objetivo não é apenas rejeitar cosmovisões, senão rejeitar até mesmo a possibilidade de própria cosmovisão (exigindo coerência). A dialética com os demais autores consultados dará o entorno dessa síntese.
Segundo o filósofo alemão Jürgen Habermas, o único favorecimento da modernidade foi incorporar os princípios do racionalismo para dentro da vida pública e artística. Para Habermas, o modernismo supera a razão iluminista. O movimento pós-modernista representa a ressurgimento de longa duração de idéias contra-iluministas, reafirmando que o projeto moderno ainda não está terminado e que a universalidade não pode ser dispensada. Relaciona, por fim, a pós-modernidade às tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater idéias iluministas.
Jean-François Lyotard entendeu a modernidade como a condição cultural caracterizada pela constante perseguição (rumo à) ao progresso. O pós-modernismo, nesse caso, representa o auge desse progresso, onde a mudança constante se tornou o status quo e o progresso rapidamente se tornou rapidamente obsoleto. Ele ainda argumenta que várias metas-narrativas de progresso (positivismo, marxismo, estruturalismo) não mais se sustentam como motores do progresso. E ainda, os grandes esquemas explicativos caíram no descrédito (sistematização), posto que a ciência não poderia ser considerada como a única fonte da verdade experimental (assim, relativa a ciência).
Ludwig Wittgenstein, nessa linha de pensamento, critica a possibilidade de progresso e conhecimento absolutos. Outros identificam o pós-modernismo como “capitalismo tardio” ou “acumulação flexível” na “sociedade líquida” (Zygmunt Bauman). Este autor ainda utiliza o termo “modernidade líquida”: uma realidade ambígua, multiforme, cuja expressão foi inspirada na obra “Tudo que sólido se desmancha no ar”. Por outro lado, o autor Gilles Lipovetsky prefere o termo “hipomodernidade”, pois considera não haver ruptura com a modernidade, que contém características mais exacerbadas de individualismo, consumismo, hedonismo e fragmentação de tempo e espaço.
Enquanto o Modernismo e o Cristianismo chocam-se na alegação da verdade, o pós-modernismo ataca o próprio conceito de verdade. A verdade é aquilo que funciona para cada um (ortopraxia). Nesse mundo pós-moderno o homem não recebe passivamente o conhecimento sobre o mundo e a vida; é a chamada de “hermenêutica relativista”. A lógica, a ciência, a história, a moralidade não são absolutas, são produtos da experiência individual (subjetividade). A realidade é o que percebemos ser a realidade. Cada um faz a sua realidade e seu destino. Quando Gellner situa os três debates da sociedade atual, o aspecto mais contundente é o medo que o fundamentalismo religioso tem de perder o controle sobre as regras religiosas que mantêm os fiéis longe dos perigos do “mundo”. A pós-modernidade recoloca o homem no mundo (veja a oração de Jesus Cristo no Evangelho de São João 17,15: “Não peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal”.). A teologia pós-moderna não traz resposta, senão perguntas. O homem pós-moderno questiona as respostas prontas e desconfia dos modelos autoritários de liderança políticas e religiosas. Não existe fidelidade religiosa, partidária ou a algum produto. A religião não é mais pública, pertence agora à esfera privada. O Modernismo se caracterizava pela Transcendência; o Pós-modernismo, pela Imanência. O homem volta ao centro do universo e o comanda. O Transcendente está a serviço do homem. As pessoas querem optar pela sua própria forma de espiritualidade sem serem incomodadas, sem tentarem impor sua fé para ninguém, nem serem obrigados a aceitar a fé de ninguém. Aqui apresenta-se o desafio para uma nova Evangelização. Como fazer para evangelizar a Geração Y, que exige respostas imediatas, caso contrário mudam para outras opções rapidamente? Se funcionar para mim ótimo. E a Geração Z, que prefere os contatos virtuais aos encontros pessoais, que não vai mais à igreja? Quem pode dizer que os cristãos atuais obedecem apenas aquilo que lhes interessa nos textos sagrados, quando buscam em Deus (Iavé) o cumprimento das promessas que Ele fez algum dia? Na pós-modernidade, o Deus cristão é meramente um refém das promessas que fez. A Teologia da Prosperidade emerge na pós-modernidade com oferta de soluções rápida.
A Bíblia Sagrada, livro sagrado do Cristianismo, também pode ser lida de forma pós-moderna (existe um livro com esse título) e nos dá esclarecimentos sobre as diferentes formas de leituras. Chama a atenção a leitura marxista, a leitura de gênero, a leitura do ponto de vista do leitor. Essa leitura é subjetiva e existencialista. O indivíduo pergunta o que o texto diz para ele nesta vida, sem se importar com o que diz para o grupo. A verdade do texto é relativa a cada indivíduo. Não podemos responder questões atuais com respostas de dois ou três mil anos atrás. O mundo não é mais assim, existem outros problemas e questões não tratadas no livro sagrado dos cristãos. E como encaramos os livros sagrados de outras confissões de fé não-cristãs? O pós-modernismo entende todas as confissões de fé como partes de uma mesma e única Verdade.