Porcentagem
Por Romano Dazzi | 04/06/2009 | Crônicas
PORCENTAGEM
de Romano Dazzi
A porcentagem é uma das piores invenções da raça humana.
Fruto de uma mente doentia, ela revela, sob o seu aspecto racional,
uma intenção ilícita, desleal; pior: destruidora, vingativa.
Com certeza foi inventada por alguém muito, muito rico.
Alguém capaz de meter a mão do patrimônio do outro, apoderar-se dele, e ter pronta uma justificação matemática para o seu crime.
A porcentagem é apoiada em sólida teoria lógica, inteligente e desumana.
Imagine que você ganhe 1000 reais por mês; o seu chefe ganha 3000, naturalmente.
Os preços aumentam, tudo custa mais caro, a cada dia, ou a cada mês.
Alguém, lá em cima, calcula, recalcula, mede, controla, e decide:
Os preços aumentaram 100%.
Automaticamente (se tudo correr bem) seu salário sofre um aumento de 100% (normalmente dão apenas uns 60%, mas vamos ser otimistas).
Passa então de 1000 para 2000.
O do seu chefe, por uma questão de justiça, passa de 3000 para 6000.
Parece tudo igual, mas não é.
Ambos gastavam 400 para comer.
Do seu salário sobravam 600 ; no do o chefe , 2600
Agora gastam 800 .
Do seu salário sobram 1200; mas no do chefe, 5200
Quanto maior a distância inicial e quanto maior a porcentagem, maior o fosso, o buraco, a valeta que se forma entre os dois.
Resultado; você fica mais pobre e achatado, ele mais rico e abastado.
É uma regra sem nenhuma moralidade.
O que deve ser considerado são as suas necessidades básicas.
Não interessa se o pão aumentou 30%, os iates só aumentaram 3%; e os Mercedes até baixaram de preço; não há nada que os associe, nada que possa ser usado como metro, entre os dois.
Então: as necessidades básicas aumentaram de 30% ? Não:
Aumentaram de certo valor, não de uma porcentagem.
Quanto vale 30% no bolso de um trabalhador? 500 reais ?
Este é o valor que cada um precisa receber a mais, para manter inalterado seu poder de compra das necessidades básicas.
Um valor igual para todos; e nada mais.
Ambos, o rapaz das entregas e o diretor do banco, vão receber um incremento de 500 reais e comprar com ele as mesmas coisas básicas de antes.
Inflação não é lucro, riqueza, patrimônio de ninguém.
É uma doença, uma febre.
São os que têm dinheiro, que provocam a inflação.
Se o mercado consegue vender hoje por 200 o que vendia ontem por 100, começa a inflação.
O pobre não vai comprar, claro, a não ser que pense em dar um calote.
Mas para o rico, coberto pela lei da porcentagem, não faz diferença alguma.
Estou errado?