Por uma ordem de Ensinar Filosofia

Por Alceu Cordeiro Fonseca Junior | 02/10/2016 | Filosofia

Por uma ordem de Ensinar Filosofia: os impactos para a educação brasileira sem a Filosofia  

Alceu Cordeiro Fonseca Junior[1]

Resumo: Este artigo procura analisar o problema suscitado por Manuel Maria Carrilho (1951...), em sua obra Razão e Transmissão da Filosofia (1987), “procurar uma ordem que possibilite a transmissão da Filosofia.” A busca por uma ordem significa encontrar um método, um caminho que leve os jovens do Ensino Médio brasileiro a uma experiência concreta com a Filosofia. Este artigo quer refletir a existência ou não desta ordem. A partir desta problemática já suscitada por Carrilho, pretende-se neste artigo refletir, a relação existente entre a busca de uma ordem, que possibilita o ensino da Filosofia, com os impactos da desobrigação de seu ensino no currículo do Ensino Médio Brasileiro.

Palavras chave: Ensino da Filosofia; ordem; desobrigação.

 Considerações Iniciais

 Julgamos que o objetivo fundamental do ensino de Filosofia no ensino médio é a de favorecer uma condição tratada no âmbito da Teoria Crítica de que: "o que se almeja de forma alguma é apenas a mera ampliação do saber, ela intenciona emancipar o homem de uma situação escravizadora"2 , Aguçar no jovem estudante uma consciência crítica e emancipadora é poder contribuir para as suas descobertas, especialmente no que toca ao caráter problemático da realidade, marcada pelas tensões e as pelas mudanças, apreendidas nos diversos filtros mentais, culturais, etários, ideológicos de que dispomos cada um de nós ou que são impostos. É, enfim, inicia-lo em uma prática constante e progressiva que lhe poderá ser útil, como uma fiel companheira, em diversos momentos de sua existência, seja como indivíduo, seja como membro de uma coletividade ou cidadão do mundo.
 Concebendo esse objetivo para o ensino de Filosofia a ideia é contribuir para uma reflexão no âmbito da educação brasileira acerca de identificar que rumos esta tomando o ensino da Filosofia na educação escolar do nosso ensino médio. O referencial teórico proposto para tal reflexão pode nos parecer distante de nossa complexa realidade de ensino, pois se trata de uma obra imbricada na perspectiva de
 1 Membro do NESEF (Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre o Ensino de Filosofia). Professor de Filosofia da rede pública do Paraná e mestre em Educação pela UFPR. alceumsc@bol.com.br 2 HORKHEIMER, M. Filosofia e Teoria Crítica. P.156.
2 mundo europeu, porém vivemos em uma sociedade onde o processo de globalização se intensificou tornando estreita as relações sociais na qual, somos afetados diariamente por ideias e pensamentos os mais variados e confusos possíveis o que torna impossível isolar-se em nossos próprios problemas.
 Sem perder de vista este distanciamento entre a realidade europeia da nossa brasileira, nos parece pertinente de que por essência a proposta da Filosofia é conceber o real pela totalidade não se prendendo a um único local ou a uma única cultura ou mesmo a um único modelo de pensamento, isto demonstra que a Filosofia, desde seu nascimento serve aos homens para a busca da verdade, que consequentemente encontra a liberdade fazendo romper com os grilhões da servidão da ignorância e da opressão. Se no passado a Filosofia fora serva da teologia no presente ela é livre e quer permanecer livre de qualquer modelo de poder político, cultural, social, econômico ou religioso, que se pretenda fazer-se hegemônico, e, é sob esta égide que o ensino de Filosofia deve se orientar.
 A preocupação deste texto não recai simplesmente em ser mais uma reflexão ou sugestão do como se de deve ou não ensinar a Filosofia em sala de aula, longe disso, percebemos que já existe a disposição uma vasta construção teórica e metodológica de práticas e exemplos que exploram muito bem estas perspectivas, que vão desde encontros e seminários para as trocas de experiências entre os envolvidos com a educação filosófica até a constituição de uma base teórica de teses, dissertações, textos, artigos, resenhas, livros e periódicos que tratam do ensinar Filosofia. Muitas destas obras são de domínio público e estão disponibilizadas gratuitamente para a consulta e a pesquisa.
 Se por outro lado existe a disposição gratuita destes trabalhos ao público que tem a educação filosófica como uma preocupação também, devemos considerar de que existe uma realidade que aguça o apetite do mercado de se apropria deste conhecimento ofertando e transformando em produtos para as mais diversas demandas deste mercado, por exemplo, algumas instituições de ensino privado que investem em recursos tecnológicos que vão desde aulas gravadas em laboratórios por contratação de professores doutores e especialistas até a criação de espaços virtuais em rede que procuram de certa forma dar a sensação ao aluno de que ele esta aprendendo de forma  3 inovadora e moderna, slogan muito apropriado na guerra do marketing, contudo nos perguntamos: é possível vender Filosofia?
 As indústrias da educação enxergam no vazio do poder público uma oportunidade de lucrar alegando estarem contribuindo para a democracia quando na verdade estão apenas enchendo seus bolsos. A nosso ver, salvo raríssimas exceções, estes trabalhadores da educação demonstram a necessidade de sobreviver neste sistema do capital, contudo ensinar Filosofia é também fazer a critica e não se deixar usar por um sistema comerciário.
 Neste sentido, discutir o termo transmissão da Filosofia neste contexto, é procurar entender a lógica do capital que se apossou do ensino como produto de venda e de troca na esteira do lucro. Sabemos, de antemão, que investigar uma ordem como que um método para o ensino da Filosofia que assegure uma transmissão é algo difícil de se fazer, por isso, a nossa pretensão é mais modesta e se trata de refletir naquilo que afirma Carrilho: "...os verdadeiros problemas do ensino da filosofia não são de ordem pedagógica, mas filosófica."3
É a partir do reconhecimento dos problemas internos do ensino da Filosofia que devemos pautar a nossa reflexão, algo que a pedagogia não consegue atacar devido ao distanciamento destes problemas em sua prática epistemológica. Temos, portanto, uma reação à pedagogia explicadora e rígida quanto aos cumprimentos curriculares, nas quais o professor apresenta uma narração parcial de uma realidade fixa, sem vida nem movimento.

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