Por que utilizar o Software livre na educação?

Por Sinara Duarte | 11/06/2009 | Tecnologia

O software livre nasceu na universidade, todavia rapidamente vem se expandindo nos diversos setores da sociedade. Na educação, a adoção de softwares livres traz inúmeras vantagens frente ao software proprietário, destacando-se inicialmente a questão macroeconômica, pois os custos de manutenção de laboratórios de informática das escolas por meio de softwares livres são bem inferiores se comparados ao software proprietário.

Em alguns casos o software livre é compatível com equipamentos ditos “obsoletos”, garantindo assim o reaproveitamento de máquinas antigas, diminuindo os custos com compra de novos equipamentos ou upgrades, permitindo assim que comunidades mais carentes possam apropriar-se das novas tecnologias a baixo custo. Sem contar que tal iniciativa incide diretamente na questão socioambiental ao reduzir a carga de lixo tecnológico, que potencialmente seria descartado na natureza com baixas possibilidades de reciclagem.

Países desenvolvidos como a França e emergentes como China, por exemplo, já encorajam o uso de distribuições livres em instituições escolares e governamentais, na tentativa de reduzir a dependência de empresas americanas, em especial da Microsoft, fabricante do Windows. Desta forma, bem salienta Silveira (2003 p.41), ao invés de sermos eternos pagadores de royalties, “tais recursos poderiam ser canalizados para outros fins, como a compra de hardware ou empregados na formação, treinamento e educação digital”, pois tão importante quanto garantir o acesso as TICs é capacitar as pessoas, em especial, as comunidades mais desfavorecidas para a utilização da tecnologia em favor do exercício da cidadania.

No Brasil, o governo do Paraná conseguiu reduzir os custos de implantação de Laboratórios de Informática das escolas públicas por meio da adoção de softwares livres. Experiências como do governo paranaense estão sendo replicadas para outros estados, destacando-se São Paulo, com os Telecentros e o Rio Grande do Sul por meio da Rede Escolar Livre.

Atualmente o governo do Estado do Ceará e a Prefeitura Municipal de Fortaleza adotam o software livre como padrão nos laboratórios de informática educativa locais. A escolha de softwares livres traz inúmeras vantagens frente ao software proprietário, como argumenta Silveira (2003, p.38), destacando-se os fatores “macroeconômico, de segurança, de autonomia tecnológica, da independência de fornecedores e democrático”.

A filosofia do Software Livre é baseada, segundo Silveira (2003 p. 45), “no princípio do compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores”.

Corroborando com este pensamento, Nunes et al (2008, p.15) acredita que “as quatro liberdades propostas pelo software livre – conhecer, copiar, distribuir e modificar – favorecem sua adoção do contexto da escola pública”.

Para Ferro (2008), a adoção do software livre contribui também para o combate à corrupção, uma vez que a obtenção não onerosa de licenças elimina o processo licitatório e diminui a relação, nem sempre sadia, entre o setor público e empresas fornecedoras de software.

Outro aspecto descrito por Ferro (2008) é a questão ética. A opção pelo software livre representaria uma alternativa para todos aqueles recorrem à pirataria quando não podem ou não estão dispostas a adquirir licenças de software para uso doméstico, pois segundo o autor “a prática da pirataria de software tornou-se comum e criou um hiato ético que precisa ser corrigido”.

A segurança e a privacidade de informações também são fortes atrativos para a adoção do SL tanto no contexto educativo quanto doméstico, visto que não existe garantia plena de que os programas proprietários não possuam bugs (erros propositais ou não) em seu funcionamento e que os fabricantes (ou algum associado) tenham acesso não autorizado aos computadores e dados pessoais dos seus usuários.

Além das liberdades já conhecidas garantidas pela licença GPL, existe outra “liberdade” permitida ao usuário: a de escolha. O acesso ao código-fonte permite a disponibilidade quase ilimitada de aplicativos para todas as áreas, em especial os softwares educativos, permitindo a personalização, como também contribuindo para redução de dependências das empresas desenvolvedoras de softwares proprietários.

A cada ano cresce o número de software livres educativos em língua nacional. Grande parte deste sucesso deve ser creditada a interatividade das comunidades de software livre, que também tem colaborado para sua difusão na medida em que os projetos são mantidos por indivíduos de diferentes nacionalidades e distribuído na Rede Mundial de Computadores.

Um exemplo disso são as distribuições Edubuntu (Ubuntu), OpenSuSE Education (SUSE), Skolelinux (DEBIAN), Pandorga (Kurumin), versões customizadas da GNU/Linux exclusivamente de cunho educativo.

Com o advento e a velocidade da Internet, rapidamente defeitos nas distribuições livres são descobertos, corrigidos e disponibilizados em sites, fóruns e listas de discussão acessíveis a todos. A conseqüência desta construção coletiva tem sido a melhoria no desenvolvimento de software livres e a diminuição do preço das licenças de uso de software proprietário para os quais já existem alternativas de software livre de comprovada qualidade.

Segundo Silveira e Cassino (2003), o Software Livre representa uma opção pela criação, pela colaboração e pela independência tecnológica e cultural, uma vez que é baseado no princípio do compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores. Desta forma, o software livre apresenta um caráter libertário, pois permite a democratização do conhecimento, a construção coletiva, o estímulo à colaboração, à autonomia e a independência tecnológica, pois não podemos nos limitar a ser apenas consumidores de produtos e tecnologias proprietárias.

Dentre as limitações do SL, destacam-se: a falta de compatibilidade de alguns hardwares e/ou o desconhecimento do público em geral dos softwares e ferramentas livres, problemáticas fáceis de serem solucionadas a curto prazo. É, portanto, uma alternativa segura, eficiente, socialmente correta, ética, libertária, tecnologicamente sustentável, viável e praticamente está ao alcance de todos. Enfim, a adoção do software livre é imprescindível a qualquer projeto verdadeiramente comprometido com a inclusão digital das camadas mais desfavorecidas.

Ressalta-se que a opção pelo software livre em escolas deve-se, na maioria das vezes, a realidade das escolas públicas que não dispõe de recursos financeiros para regularização de software, elemento fundamental em políticas públicas de inclusão digital aliada a sua filosofia libertária. Segundo Silveira e Cassino (2003), não há porque gastar recursos com softwares proprietários se existem alternativas livres de qualidade similar.

Outra razão relevante na escolha do software educativo é o próprio conceito utilizado de inclusão digital, em uma perspectiva não apenas de acesso, mas também de ambiente colaborativo onde os envolvidos têm liberdade para expressarem seus pensamentos e opiniões. Desta a opção pelo software livre deve-se também a questão da autoria, da partilha, da cooperação e da colaboração.

O simples fato de disponibilizar o código fonte de forma aberta, já é uma ação significativa de exercício de cidadania. Quando este é compartilhado e aprimorado por diferentes pessoas passa a ser uma maneira de quebrar as barreiras impostas pelo capitalismo de hegemonia americana. Criar algo de forma coletiva, com custo reduzido, atrativo, criativo e bem elaborado é um meio de facilitar que mais pessoas tenham acesso as tecnologias digitais.

É, portanto, o Software Livre um instrumento de inclusão social. Em um país em que muitos vivem no limítrofe da pobreza existencial, a concentração de pesquisadores em torno de um projeto que está voltado para a diminuição dos custos de softwares sinaliza a solidariedade para com os excluídos, pois quanto mais a tecnologia estiver acessível a todos, mais teremos apoiadores nos projetos de inclusão social, que passa diretamente por ações educacionais.

Referências
FERRO, E. Software Livre: Avanço tecnológico e ético. Disponível em Acesso em 10.08.2008

PROJETO SOFTWARE LIVRE BRASIL. O que é Software Livre? Disponível em Acesso em 10.08.2008.

SILVEIRA, S. A.; CASSINO (Org.). Software Livre e Inclusão Digital. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2003.

fonte: http://softwarelivrenaeducacao.wordpress.com