POR QUE TEMOS UMA MEMÓRIA POLÍTICA TÃO CURTA?

Por ALEXANDRE RODRIGUES DE CARVALHO | 13/01/2016 | Política

É difícil de entender como as pessoas reagem de forma tão previsível quando o assunto é a nossa “memória política”. Pesquisas mostram que mais de 30% dos brasileiros não se lembram dos nomes dos deputados e senadores para quem votou nas últimas eleições, o mesmo acontecendo com os respectivos partidos. Mas, a percepção que temos quando conversamos com as pessoas é a de que esse número é muito maior.

Outro dado curioso é que muitos prefeitos enfrentam durante todo o seu mandato uma verdadeira avalanche de críticas, ofensas, manifestações de repúdio, tendo avaliações pífias de seus governos e mesmo assim conseguem marcas expressivas ao término de sua tentativa de reeleição.

Mas, por que nossa memória política é tão curta?

Talvez, a explicação para esse fenômeno já tenha sido dada por Sigmund Freud em um texto de 1923, intitulado: “Id, Ego e Superego”.

O psicanalista alemão diz que o aparelho mental do ser humano (também chamado de “psique”) é formado por essas três estruturas mentais, onde o “Ego” comanda o princípio da realidade, é a parte externa de nós mesmos. O “Superego” seria a convenção de regras de civilização que usamos para frear nossos impulsos instintivos e mais primitivos, que Freud chama de “Id” (“isso”, em alemão).

Segundo Freud, o Id é norteado pelo princípio do prazer. Quando nascemos, o Id nos governa quase que por completamente. Veja os bebês, que ao menor sinal de desconforto, começam a chorar compulsivamente. Entretanto, ao crescermos somos obrigados a aprender a controlar essa ânsia pelo prazer e pelo conforto em nome da sobrevivência em sociedade. Mas, o Id permanece lá, afinal ele nos é inato.

Ou seja, inconscientemente, travamos uma batalha monumental entre nosso Id e nosso Superego, um buscando o prazer e o conforto incessantemente e o outro nos pastoreando segundo as regras sociais.

Por isso, quando o Id consegue vencer, ou seja, quando obtemos algum tipo de prazer, tendemos a ignorar as dificuldades superadas para chegar até ele. Afinal, se houve prazer, esse prazer imediato se torna muito maior do que os sentimentos de dor que passamos para alcança-lo. Não os fatos em si, esses ficam na memória, mas sim os sentimentos ruins que os acompanharam e valorizaram o prazer maior que agora desfrutamos.

E o que tudo isso tem a ver com a política?

Na política, isso não é diferente. Podemos passar três anos sofrendo para conseguir uma consulta médica, mas se no quarto ano nós a conseguimos, tenderemos a esquecer das dificuldades que tivemos, pois a satisfação vinda da solução do problema é prazerosa e nos faz relevar tudo o que passou.

Podemos passar três anos vendo a cidade suja, abandonada e sem seus serviços essenciais, mas, se no último ano de um mandato, a cidade estiver limpa, bem cuidada e funcional, tendemos a apagar as agruras anteriores.

É óbvio que isso é uma distorção de valores. É óbvio que agir assim é ser vítima de si mesmo. Mas, somos assim! Temos uma preguiça inata para pensar e o que nos interessa é o prazer de agora, a satisfação do já e o conforto imediato.

Encaramos os problemas como meros vilões que sempre morrem no final e esquecemos que a morte desses vilões deveria nos ensinar algo, para que numa próxima oportunidade, o herói não sofra tanto para conseguir a vitória.