Por que os chefes ameaçam e fazem piadas sem graça?
Por Paulo Farias Castro Filho | 23/08/2009 | TecnologiaAlguns profissionais que ocupam posições de liderança comportam-se de forma autoritária para conseguir resultados mais rapidamente diante das contingências de TI. Ameaças diretas ou ironias tornam-se corriqueiras na ocorrência de qualquer urgência, importante ou não. Estas fazem parte do modus operandi do gestor que fica preso ao hábito da punição para obter um comportamento desejado dos seus subordinados. Mas ao longo prazo a sua equipe perde performance e se ele vacilar, o seu emprego.
Os líderes da tecnologia da informação lidam no dia-a-dia com um ambiente hostil. Devido a grande dependência de TI, as demandas são sempre superior a capacidade de entrega. Como consequência, o gestor se vê pressionado pelas áreas de negócio que cobram mais resultados e falaciam o tempo todo. Quando o seu repertório acaba, só resta pressionar os colaboradores por resultados imediatos, repassando na mesma intensidade a pressão das áreas de negócios. Neste momento, nasce o ditador.
Infelizmente, a forma mais eficiente de obter resultados no curto prazo é por meio da liderança autocrática. Nesta, existe apenas uma única opinião e os subordinados concentra-se em interpretá-la e executá-la. Os que não concordam prontamente e questionam são ameaçados e entram na lista dos bodes expiatórios. O gestor de TI ao ver o seu pedido atendido, mantém este modus operandi que vira um hábito e entende que este método molda mais rapidamente o comportamento da equipe e gasta menos tempo com a gestão de pessoal, aumentando assim a sua própria produtividade.
Esta gestão é com frequência composta de ameaças diretas ou por meio de ironias que sinalizam punições ou a perda de privilégios. Tudo isso aumenta o clima de tensão da equipe que não tem para onde extravassar, aumentando o estresse e a insatisfação de todos. Os colaborados gradativamente perdem a sua motivação pelo trabalho e em alguns casos, a auto-estima. A equipe que já não pode ser muito criativa, perde a produtividade e começa a adquirir resiliência às ameaças do chefe, passando a não responder ao seu estímulo. Assim, a rotatividade aumenta e instaura-se um clima que pode levar a demissão do gestor.
Quem já tem uma certa kilometragem, certamente já trabalhou com alguém que tenha este perfil - eu já perdi as contas dos chefes autoritários que tive. É realmente um situação de estresse ininterrupta. Tive um colega meio depressivo cujo chefe tinha o hábito de querer provar que ele não tinha conhecimento algum, mesmo sendo um especialista e um ótimo profissional. Um estudo realizado pelo Journal of Epidemiology and Community Health menciona que empregos com alto nível de exposição a ameaças de colegas, chefes ou clientes, aumentam em cerca de 50% o risco de depressão e 30% o risco de distúrbio relacionados ao estresse. Imagine, o impacto na produtividade e qualidade do trabalho. Em razão da criticidade do tema, foram aprovadas várias leis a nível municipal, estadual e federal no Brasil que visam coibir esta prática. A própria CLT já prevê a indenização por falta grave do empregador, inclusive ações categorizadas como assédio moral.
Observe que no dia-a-dia acontecem muitas situações de estresse com o seu chefe e colegas de trabalho. O que é normal. Muitas vezes, recorrem-se a ironia, por exemplo, durante as discussões mais acaloradas. Todavia, a situação, é diferente e pontual. Vocês está tendo um diálogo mesmo que o seu chefe não concorde com nada que você diga naquela conversa específica. O que não é normal é a repetição contínua de um mesmo comportanemto do seu chefe contra você. Ameças, piadas sobre a qualidade do seu trabalho, humilhações são exemplos de assédio moral que nada contribuem para a melhoria do trabalho e das relações dentro das empresas.
Um fato é certo com relação a esse processo: o comportamento do seu chefe é também moldado pelas suas respostas. Se o seu comportamento for o medo e atendimento cego as suas demandas sem questionamentos, ele manterá o seu comportamento pois conseguiu o que queria. A melhor saída é provocar discussões e demonstrar que a equipe tem conhecimento suficiente para encontrar soluções melhores e que estão em “sintonia” com a sua proposta. Tudo isso de uma forma amadurecida para fazer ele pensar que ele provocou este debate e criou um ambiente melhor de trabalho. Por exemplo, se o seu chefe determinar algo na sua coordenação de projetos de sistemas sem lhe consultar e de forma ameaçadora, proponha uma mudanda na metodologia e discuta com todos com base na sua “demanda”. Pois ele está, provavelmente, tentando fazer as coisas darem certo da maneira errada e cabe a equipe educá-lo.
Um alerta sobre chefes ditadores: tenham cuidado para não bater de frente e virar obstáculo. Estes, muitas vezes, são valorizados dentro da empresa pois são agente de mudanças e produzem resultados no curto prazo, normalmente não sustentáveis. Quanto às piadas sem graças, estas fazem parte da estratégia do seu chefe de assediar ou, provavelmente, usa as piadas sem graça para suavizar o impacto das ameaças e estragar o dia daqueles que possuem senso de humor.