POR QUE EDUCAR COM AFETO?

Por Maria Eunice Gennari Silva | 24/04/2016 | Educação

O verbo exigir é, com certeza, uma referência imprescindível de uma equipe com vocações particulares e específicas para a educação. Portanto, exige-se, desta equipe, habilidades que não são características de todos os que saem de uma formação acadêmica, apenas porque conseguiram um diploma que garante a ocupação de um espaço na escola. Acontece que, muito mais que um diploma, a educação exige competências e qualidades morais e éticas muito claras, para evidenciar o conhecimento que se tem dela (a educação), como uma arte na qual nunca se encerra o aprender. Um aprender que tem como princípio a importância da qualidade nas relações estabelecidas entre professores, alunos e comunidade escolar.

Falar, então, de afeto na educação, é propor, antes de qualquer coisa, atitudes de auto-educar para amar e educar com amor. E, para tanto, é preciso lembrar que o aprender e ensinar é um processo relacional, pois não há outro meio dele acontecer com eficácia, sem considerar sentimentos, desejos e diferenças individuais dos envolvidos nesta relação.

É pensando nesta possibilidade que a escola precisa se comprometer com a implantação de um projeto que visa mudanças significativas no relacionamento afetivo, entre alunos e toda a equipe escolar, diariamente, por meio de atividades que proporcionem o prazer de educar com afeto.

O gosto de gostar passa, certamente, pelo desejo de fazer o outro feliz, muito feliz. Entretanto, o que se percebe, cada vez mais, e numa proporção assustadora, é o desejo perverso do gosto pelo não gostar e que distancia do desejo de fazer o outro feliz.

No espaço escolar esta realidade é evidenciada, continuamente, numa triste demonstração da falta de interesse dos alunos pelas pessoas e das oportunidades que a escola oferece. O mais preocupante é que este desinteresse vem com a pasta, o uniforme, no semblante, no jeito de andar e se mistura com a equipe de profissionais da escola, que por sua vez, vem arrastando a tão conhecida “profissão de risco”.

Acontece que, ainda nos dias atuais, a escola é, sem dúvida, o local onde a família se sente, comodamente, tranqüila para entregar seus filhos, e/ou alunos que são, na verdade, de sua responsabilidade. Mas, a esperança é de que, ao retornar da escola, eles serão devolvidos completamente transformados, ou seja, o filho e o aluno que toda família gostaria de ter em casa - obediente, estudioso, consciente dos perigos do mundo e, por isso mesmo, sem nenhuma vontade de participar de aventuras que comprometam sua saúde, seus estudos, as finanças da família e, principalmente, livre dos comentários maldosos dos vizinhos e parentes.

Vale lembrar que o fato de deixar a criança ou o adolescente na porta da escola tornou-se um alívio temporário, em relação aos problemas que a maioria das famílias não sabe lidar, mas que ela conta, às vezes até exige, com uma solução por parte da instituição de ensino.

Neste apelo (ou desespero) que perpassa entre o ideal e o real, muitas famílias esquecem ou fingem não se lembrarem do compromisso de zelar e amar, continuamente, aqueles que foram colocados como participantes do seu convívio, seja em casa, no bairro ou na escola. Esquecimento, este, que precisa, urgentemente, da co-participação de uma escola integrada às necessidades do aluno, para reativar a memória destas famílias.

Afinal o que a escola tem a ver com tudo isso?

Através do privilégio e da oportunidade que escola tem como espaços do saber, do conhecimento e da reflexão, ela pode provocar formas de pensar um possível mundo, onde a não violência seja informação de aprendizagem, como referencial de vida. E, assim, compreender que os afetos, as emoções e os sentimentos são reais e precisam de conciliação com objetividade e lucidez, para alcançar o ser plural que há em cada um. Afinal, o intelecto e a razão caminham lado a lado com o sonho e o imaginário – características tão presentes dentro da escola.

Entretanto, é preciso ter plena consciência que inserir um projeto voltado para educação dos afetos, na escola, só será possível e eficaz se houver, por parte da equipe administrativa/pedagógica, apoio e propósito de continuidade. Ou seja, do início ao fim do ano letivo, com avaliações criteriosas para rever acertos e erros, além de propor correções, aperfeiçoamento e implementações necessárias, independentemente dos desafios.

Esta visão precisa alinhar-se ao respeito pelas diferenças, ao abandono de pré-conceitos, da vontade de aprender sem exercer poder e saber elogiar em lugar de priorizar erros. Esses aspectos são fundamentais na construção de uma relação afetuosa, e começa a partir do professor para com os alunos.

Conhecer e pensar a possibilidade de que podemos e precisamos oferecer um novo estilo de vida, para crianças e jovens, passa pela presença marcante de um educador gentil na vida deles.

Maria Eunice Gennari Silva