POR QUE E PARA QUE ESTUDAR FILOSOFIA NOS DIAS DE HOJE? “Uma reflexão inquietante em torno de um assunto pelo qual se fala e se escreve muito, mas pouco lê”.

Por Arlindo Nascimento Rocha | 10/03/2014 | Filosofia

“A mente que se abre a uma nova ideia, jamais volta ao original”. Albert Einstein


Arlindo Nascimento Rocha[1]

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 A filosofia exige um estudo contínuo, um “investimento a longo prazo” que depende do nosso empenho e das nossas reais motivações, uma vez que ela se configura como um saber eminentemente teórico. É um empreendimento pessoal que exige muitas horas de leitura, o domínio da exegese textual, e de certos conceitos que nos permite acessar progressivamente e em grau cada vez mais exigente em termos de abstração e de formulação de ideias novas a partir do acervo filosófico universal, e, até mesmo tentar ser original nas nossas colocações.

 Portanto, o estudo da Filosofia exige compreensão e não memorização dos conceitos, dado que os elementos essenciais da Filosofia são: os problemas, as teorias e os argumentos e os contra argumentos o que implica uma compreensão com vista à tomada de uma posição autónoma, radical e de conjunto, por forma a criarmos as condições necessárias, e, de modo racional, fazermos uma crítica a uma determinada realidade, sistema, objeto ou situação. É nesse âmbito que reside à atitude crítica do homem, fazendo o bom uso da razão, isto é, procurando descobrir o que está velado pelas aparências do cotidiano, e ancorados no conhecimento empírico do senso comum ou pelas dogmas existenciais. O estudo da Filosofia exige coragem para ir, a fundo, quebrar paradigmas, ser original, atento e perseverante na busca da verdade e aceitar o desafio da mudança e do crescimento dialético e intelectual. 

Segundo o senso comum, argumentar é vencer alguém, forçá-lo a aceitar a nossa verdade. Esta definição é errada! Seja na escola, na política, no trabalho ou numa simples conversa saber argumentar é, primeiramente, saber compreender o raciocínio do outro. Argumentar é também conseguir o que desejamos, mas de uma forma construtiva e num sistema de conversa, onde devemos sempre ouvir o que o outro tem para dizer. O principal objetivo da argumentação é passar a nossa verdade para a verdade do outro.

Devido a grande complexidade e o grau de reflexão e abstração, a grande maioria das pessoas que começam a estudar filosofia desistem facilmente por considerarem a disciplina cansativa, abstrata e sem valor prático. No entanto, se analisarmos as razões que nos levam a estudar e tentar perceber esta antiga disciplina, será mais fácil e menos duro fazê-lo.

Por isso, antes de abordar questões específicas da filosofia, enfatizarei algumas razões pela qual se considera fundamental para que o estudo da filosofia seja pelo puro prazer de aprender ou visando fins acadêmicos, políticos, religioso etc. Assim, analisarei alguns motivos que podem ser estímulos ao estudo da filosofia, uma vez que o estudo filosófico faculta o desenvolvimento da capacidade de argumentar, a capacidade crítica, o raciocínio lógico e melhora o desempenho profissional em qualquer área.

 Naturalmente, os seres humanos sempre valorizaram e cada vez mais a importância da argumentação na vida cotidiana bem como na vida profissional, seja na academia, na politica ou no dia-a-dia. Com o estudo sistemático da filosofia aumentamos consideravelmente a nossa capacidade de reflexão crítica e o nosso poder de argumentação, sobre vários assuntos, embora saibamos que carregamos um arsenal epistemológico limitado, por isso, a filosofia nos dá essa responsabilidade questionadora que nos leva numa aventura ao desconhecido mediante uma investigação profunda, metódica e isenta através de questões, ou seja, precisamos questionar o mundo, as pessoas e a nós mesmos para que possamos adequar nossas argumentações.

A procura do aprimoramento dessa competência remonta os primórdios da filosofia Grega em que os sofistas, considerados os mestres da retórica, já faziam o uso desse recurso para convencer os seus interlocutores sobre a relatividade da verdade factos em contraponto com o mestre Sócrates que defendia e acreditava numa verdade universal. 

Por outro lado, como se sabe, a filosofia não constitui um conjunto de saberes dogmatizadas e estanques, ela é uma área aberta a novas ideias, novos conceitos, novos desafios. Assim, essa abertura se traduz numa enormidade de diferentes formas de pensamento que consequentemente nos proporcionam as ideias e soluções para os problemas que se nos impõem.

 Portanto, para o estudante de filosofia é necessário uma atitude de investigação, reflexão crítica incessante valorizando a realidade, pois os filósofos  procuram resolver os problemas que surgem da experiência do dia-a-dia, para depois se aventurar na procura de soluções cada vez mais abstratas e difíceis de compreender. Isto acontece porque, se o filósofo não for além dos conceitos que foram deturpadas pelo senso comum e dos preconceitos presentes na sociedade, então ele não conseguirá elevar-se a novas ideias ou novas formas de pensamento.

 O estudante de filosofia necessita de ser uma pessoa aberta a novas ideias e formas de pensar, pois isso aumentará significativamente o seu capital intelectual. Nesse aspecto a filosofia é essencial, pois, almeja contribuir para estimular o desenvolvimento de cidadãos pensantes, reflexivos e críticos. Ao apostar no estudo sistemático da filosofia independentemente do tema ou assunto, as capacidades críticas de raciocínio vão sendo treinadas e aprimoradas. Isto acontece porque, ao analisar cada vez mais questões filosóficas ou enigmas lógicos, o nosso cérebro vai progressivamente aumentando a sua capacidade crítica. Ou seja, ao longo do tempo cada indivíduo será bem capaz de colocar questões e encontrar respostas mais eficazes aos problemas ao invés de se contentar apenas com uma simples solução baseado no senso comum e em soluções triviais para problemas inquietantes.

Por outro lado a filosofia também é uma ferramenta essencial a qualquer profissional que queira desenvolver as suas habilidades e competências intelectuais e alcançar o sucesso na sua área profissional. Ao dominar alguns conhecimentos do foro filosófico adquire-se e melhora-se como orador para grandes públicos que possam, eventualmente, colocar-lhe questões que não tinha nos seus planos. Com a ajuda da filosofia e da lógica aprende-se a argumentar corretamente, expressando e justificando nossas opiniões, bem como provocar a livre adesão dos nossos interlocutores às nossas ideias mediante argumentos sólidos e válidos.  Assim, podemos organizar racionalmente de forma coerente e congruente nossos pensamentos e  avaliar a validade dos argumentos que nos são apresentados, contribuindo assim para desenvolver a emancipação, a autonomia do espírito crítico e reflexivo uma vez que, vivemos em sociedade, precisamos de comunicar, expor as nossas ideias e defender os nossos pontos de vista.  Se o fizermos com rigor e clareza, tudo se torna mais fácil e conseguimos fazer com que as nossas ideias sejam melhores compreendidas e aceites intelectualmente pelos nossos interlocutores. 

 Após ter feito uma breve incursão teórica sobre a importância do estudo da filosofia e das vantagens que supostamente poderemos usufruir ao usarmos a filosofia como ferramenta de trabalho no campo investigativo, reflexivo e argumentativo, passo agora a fazer uma abordagem didática de como compreender e apreender conceitos filosóficos originários aos problemas filosóficos e éticos atuais. 

 A palavra Filosofia é formada por dois radicais gregos: Filo, que significa “amigo” e Sofia, que significa “conhecimento ou sabedoria”, o Filósofo é aquele que é amigo do saber, ou seja, amante da sabedoria. A Filosofia debruça sobre o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem. Ela é distinta da Mitologia e da Religião por sua ênfase em argumentos racionais; por outro lado, diferencia-se das pesquisas científicas por não recorrer a procedimentos empíricos em suas investigações. Entre seus métodos, estão à argumentação lógica, a análise conceptual, as experiências de pensamento.

Filosofar envolve uma mudança de atitude diante da vida, descartando as explicações que nos foram impostas como verdadeiras universais e atemporais. Ao filosofar passamos a ver o mundo de forma diferente, com um olhar mais atento, crítico e reflexivo, procurando conhecer além dos aspectos triviais do dia-a-dia, aproximando-nos de uma condição de vida mais racional e livre de preconceitos arraigados na nossa mente e na nossa alma.

Desde os primeiros filósofos, o método da Filosofia por excelência é uma reflexão, mas não é uma reflexão qualquer. A reflexão filosófica compreende três etapas, a saber: Ela é radical e profunda, porque é preciso que se vá até as raízes do problema, até seus fundamentos, por isso, é necessário abandonar o dogmatismo do senso comum e buscar as causas dos problemas; Ela é rigorosa, uma vez que se deve proceder criticamente, colocando tudo em dúvida. É preciso ousar e ir além das meras aparências, e do mundo empírico e penetrar em níveis cada vez mais abstratos; Ela é um conhecimento de conjunto porque o problema não pode ser examinado ou analisado de forma parcial. É necessário avaliar a totalidade do para depois tirar as conclusões, em outras palavras é preciso analisar o todo para depois se ater as partes, sob pena de um conhecimento de um conhecimento fragmentado e inconsistente.

 Existem vários fatores que estimular o ato de filosofar. Porém, a admiração é o ponto de partida para o ato de filosofar, pois nos leva a descoberta de nossa própria ignorância e aos questionamentos, em seguida vem a dúvida, que é a companheira dos homens desde os primórdios da sua existência e para a Filosofia é o ponto de partida para uma reflexão profunda, tentando chegar às raízes dos problemas, e, por último temos a insatisfação no que concerne a postura ético-moral, politica e social relativamente aos costumes, atitudes, valores que muitas vezes tocam a sensibilidade das pessoas e estimula o debate na tentativa de mostrar a insatisfação generalizada.

Desde os primórdios os homens tiveram a preocupação em dar explicações aos fenômenos que condicionavam a sua existência numa tentativa de entender, prever e até dominar a natureza. Porém, seu arsenal racional ainda na fase embrionária do seu desenvolvimento, não conseguia encontrar explicações racionais pela quantidade de fenômenos que aconteciam a sua volta. Por isso, o homem vai recorrer aos Mitos[2], à Religião e ao Senso Comum, como conhecimento a partir do cotidiano, que não exige maior aprofundamento ou investigação. É um conhecimento superficial, isto é, conclui a partir das aparências, e está imediatamente relacionado ao Mito e à Religião.

O Mito procura explicar e demonstrar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, a origem das coisas (do mundo; dos homens; dos animais; das doenças; dos objetos; das práticas de caça, pesca, enfim, de qualquer coisa que seja), a Religião é um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais, enquanto que, o Senso Comum encontra-se misturado com crenças e preconceitos, é um conhecimento ingênuo, ou seja, acrítico, fragmentário, assistemático, as vezes incoerente, conservador, isto é, resistente a mudanças. 

O Filósofo Herbert Marcuse, da Escola de Frankfurt, denunciou a criação do chamado homem unidimensional, ou seja, um indivíduo que consegue ver somente a aparência das coisas (homem empírico), nunca indo até a sua essência porque lhe falta as ferramentas necessárias. Ele caracterizou este homem como sendo um ser unidimensional, conformista, consumista, acrítico acomodado às situações do dia-a-dia.  A luz dos nossos dias, esse homem continua absorvendo indiscriminadamente e sem antes questionar tudo o que faz parte do domínio e do conhecimento comum e de fácil acesso, uma vez que é cultivado e transmitido de geração em geração.

 Em minha opinião, falta ao homem atual o desenvolvimento do senso crítico, que se opõem ao senso comum, uma vez que, contrariamente ao conhecimento comum, o pensamento crítico é uma forma de pesquisa aprofundada sobre a realidade, isto é, é fundamentada em fatos empíricos e teóricos, comprovado pela experiência ou através fundamentação teórica. O pensamento crítico ou senso crítico vai além das simples aparências do cotidiano, das explicações simplórias e da interpretação ingênua dos factos que se ocorrem em nossa volta. Ou seja, precisamos dar um passo em frente e superar o homem unidimensional  do Filósofo Herbert Marcuse.

 Por isso o pensamento crítico elege duas formas de conhecimento onde exerce um papel determinante no avanço e na quebra de ideias, dogmas e paradigmas cristalizados, pelo facto da sua incessante inquietação face aos novos desafios. Estas duas áreas são a ciência e a filosofia.  A ciência é uma forma de explicação racional, possui método e pretende ser profunda em suas explicações, por outro lado temos a filosofia, também como explicação racional, podendo não atingir todos os seres humanos uma vez que é uma disciplina que exige muita reflexão e muita abstração. Por isso, ela se preocupa em ter uma sistematização, um argumento que seja capaz de expressar a reflexão feita sobre a realidade, de maneira profunda que ultrapasse as narrativas do Mito.

 Mitos são narrativas utilizadas pelos povos gregos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e do homem, que não eram compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que realmente existiram. Um dos objetivos do mito era transmitir conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não havia explicado, através de rituais em cerimônias, danças, sacrifícios e orações. Um mito também pode ter a função de manifestar alguma coisa de forma forte ou de explicar os temas desconhecidos e tornar o mundo conhecido ao Homem.

A mitologia é o estudo do mito, das suas origens e significados. Alguns dos mitos mais conhecidos fazem parte da mitologia grega, que exprime a maneira de pensar, conhecer e falar da cultura grega. Fazem parte da mitologia grega os deuses do Olimpo, os Titãs, e outras figuras mitológicas como minotauros e centauros. Um mito é diferente de lenda, porque uma lenda pode ser uma pessoa real que concretizou feitos fantásticos, como Pelé, Frank Sinatra, etc. Um mito é um personagem criado, como Zeus, Hércules, Hidra de Lerna, Fênix, etc.

 A filosofia como área de conhecimento muito vasto, possui suas divisões ou subáreas, que se ocupam de objetos específicos que compõem todo o manancial filosófico. Essas subáreas são: Em primeiro lugar a “Razão”, que é a faculdade de pensar de modo crítico, reflexivo e contextualizado, e tem como auxiliar a Lógica que é uma ferramenta auxiliar que o ajuda a organizar sua forma de pensar e raciocinar. Em segundo lugar, a “Lógica”, que é o estudo da forma e da estrutura do pensamento, aprimorando o método coerente de  raciocinar, em terceiro lugar a “Ontologia” ou Metafísica, que é o campo da Filosofia que estuda o SER enquanto ser, ou seja a essência das coisas, que se escondem além da realidade empírica, em quarto lugar, a “Teoria do Conhecimento” que se dedica ao estudo da origem, natureza, limites, e possibilidades da validade do conhecimento humano. Quanto a origem, ela se estrutura em “empirismo” definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell) e o “racionalismo” corrente que assevera o papel preponderante da razão no processo cognoscitivo, pois, os fatos não são fontes de todos os conhecimentos e não nos oferecem condições de “certeza”. No que tange a natureza, ela se estrutura em “realismo” que representa a independência ontológica da realidade ou seja o sujeito em função do objeto. O realismo, pode ser subdivido em “realismo ingênuo” que é considerado como pré-filosófico, em que o homem aceita a identidade de seu conhecimento com as coisas que sua mente menciona, sem formular qualquer questionamento a respeito de tal coisa, e “realismo crítico” é aquele em que há uma indagação a respeito dos fundamentos, e procura demonstrar se as teses são verdadeiras, surgindo uma atitude propriamente filosófica. E em último lugar, destaca-se as possibilidades do conhecimento, ou seja o “dogmatismo” corrente que se julga em condições de afirmar a possibilidade de conhecer verdades universais e inquestionáveis, e o “ceticismo” que é uma atitude de questionamento para o conhecimento, fatos, opiniões ou crenças estabelecidas como fatos. Filosoficamente, é a doutrina da qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade. Um dos representantes do ceticismo de maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte. Estas áreas acima são as áreas-base da Filosofia, que sem as quais não é possível ter um entendimento abrangente das demais áreas.

A razão é um termo que vem do Latim “Ratio”, que é a faculdade de julgar e/ou pensar, que caracteriza o ser humano, isto é, a capacidade de distinguir o verdadeiro do falso e o bem do mal, ou seja, ter bom senso. “E esta faculdade é naturalmente igual em todos os seres humanos”. Conforme o Filósofo francês Descartes (1596-1650), em seu “Discurso do Método”. 

 Desde o começo, a Filosofia considerou que a razão opera seguindo certos princípios estabelecidos e que estão de acordo com a realidade, mesmo quando os empregamos sem conhecê-los, nós os respeitamos porque somos seres racionais e porque são princípios que garantem que a realidade é racional. São eles: Princípio de Identidade: “A” = “A” ou “o que é, é!”. Princípio da Não-Contradição: “A” é “A”, e é impossível que seja, ao mesmo tempo, e na mesma relação, “Não - A”. Princípio do Terceiro Excluído: ou “A é X ou é Y e não há terceira possibilidade”. Princípio de Causalidade:  tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma causa para existir ou para acontecer. “Partindo de A, necessariamente, houve B”.

 As Atividades Racionais dividem-se em três conceitos: Intuição, indução e dedução. A Intuição é a capacidade para entender, para identificar ou para pressupor coisas que não dependem de um conhecimento empírico, de conceitos racionais ou de uma avaliação mais específica (in dicionário on line de português), é um conhecimento claro, direto, imediato da verdade sem o auxílio do raciocínio, ou seja, uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento, sem necessidade de provas; a Indução, que é considerado o método de pensamento ou raciocínio com o qual se extraem de certos fatos conhecidos (particulares), mediante observação, alguma conclusão geral que não se acha rigorosamente relacionada com eles e a Dedução partindo de uma verdade já conhecida que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela.

Para o método indutivo apresentamos o seguinte enunciado como exemplo: “retirando uma amostra de um saco de arroz, observa-se que aproximadamente 80% dos grãos são do tipo extrafino. Conclui-se, então, que o saco de arroz é do tipo extrafino”. Enquanto para o método dedutivo apresentamos o seguinte exemplo: “Todo trabalhador merece respeito, Joana é trabalhadora. Então, Joana merece respeito.” A conclusão que se chega é que a Indução realiza um caminho aposto ao da Dedução. Com a Indução, partimos de casos particulares e procuramos o geral, e com a Dedução partimos de casos gerais para casos particulares.

 Para ambos os casos é preciso mobilizar determinadas competências e um modo de raciocinar com enfoques diferenciados e um modo de argumentar sui generis, uma vez que, raciocinar ou argumentar é o ato próprio da razão. Ou seja, é um tipo de operação do pensamento que consiste em estruturar logicamente juízos e deles tirar conclusões que poderão ser tanto do tipo indutivo quanto do tipo dedutivo. O raciocínio vai de um juízo a outro, passando por vários intermediários. Nesse sentido podemos afirmar que o raciocínio é um conhecimento mediato, ou seja, requer uma análise mais profunda e detalhada contrária da intuição que é um conhecimento imediato e não exige reflexão.

 O estudo da lógica iniciou-se com o Filósofo grego Aristóteles e foi reelaborada durante a Idade Média. Na segunda metade do século XIX a lógica teve um enorme desenvolvimento até chegar a seu estágio atual, a lógica matemática ou simbólica. Inicialmente Aristóteles desejava disciplinar e ordenar a linguagem e o pensamento. A lógica é um dos campos da filosofia, e pode ser considerada uma disciplina introdutória para qualquer estudo filosófico. Isso acontece porque a lógica lida com raciocínios e argumentos que fazem parte de qualquer reflexão filosófica, seja, ela no campo da teoria do conhecimento, da ética, da filosofia política ou da estética. 

Lógica é, também, o estudo da “amarração” feita entre as premissas, de modo a ter uma última afirmação (conclusão) sustentada pelas premissas. A finalidade é aplicar corretamente as operações do pensamento, quando usado como um instrumento para filosofar. Esse tipo de pensamento é baseado no silogismo em que um argumento do típico dedutivo, é composto por três proposições - Premissa Maior (P), Premissa Menor (p) e Conclusão. Um argumento deste tipo é formado por três partes básicas, a saber: 1- Premissas: afirmações iniciais que a partir das quais se concluirá outra afirmação; 2- Dedução: é um processo de raciocínio, por meio do qual chegamos a uma conclusão partindo do conhecimento geral para o particular; 3- Conclusão: afirmação nova feita a partir das premissas. Exemplo: Todo ser humano é racional. [Primeira Premissa]; Sócrates é um ser humano! [Segunda Premissa]; Logo: Sócrates é racional. [Conclusão].

 As Proposições classificam-se em:  Afirmativas ou Negativas e Universais ou Particulares. (Exemplos: a) Universal Afirmativa. Ex.: Todo aluno estudioso tira nota 10. b) Universal Negativa. Ex.: Nenhum gato é azul. c) Particular Afirmativa. Ex.: Algumas alunas são altas. d) Particular Negativa. Ex.: Alguns gatos não são brancos.

 Nos silogismos o termo médio deve estar presente nas duas premissas, uma vez, que sem ele o argumento torna-se inválido. Exemplo: Toda ave é bípede; O Tucano é uma ave. Portanto: O Tucano é um bípede. Na elaboração de um silogismo é preciso ter em conta algumas regras para que se possa considerar um pensamento válido ou inválido. 1) O Silogismo tem três termos: um termo médio e dois termos extremos; 2) Na conclusão não deve conter o termo médio; 3) O Universal pode gerar o Particular, mas o Particular não pode gerar o Universal; 4) A conclusão deve estar sustentada apenas no que as premissas afirmam; 5) De duas premissas negativas nada se conclui; 6) Duas premissas afirmativas não podem gerar uma conclusão negativa; 7) Se uma das premissas for particular, a conclusão deve ser particular. E se uma das premissas for negativa, a conclusão deve ser negativa; 8) Nada se conclui de duas premissas particulares.

  Contrariamente aos silogismos encontram-se os Sofismas que são raciocínios ilegítimos, geralmente com aparência de validade, isto é, um engano. Geralmente os Sofismas são classificados como: - Sofisma de Conversão: trata-se de uma conversão mal feita. Ex.: Alguns alunos passaram de ano, logo os demais não passaram. - Sofisma de Ambiguidade (Duplo sentido): baseia-se na duplicidade de sentidos. Ex.: O menino viu o incêndio do edifício. Dúvida: o menino estava localizado fora do edifício e viu o edifício em chamas? Ou o menino do edifício viu o incêndio ocorrer fora deste? - Argumentum Ad Baculum: Ocorre quando, cessada a força do argumento, recorre-se ao argumento da força. Ex.: Passe o dinheiro ou eu te mato. O assaltante está recorrendo à força como justificativa. - Argumentum Ad Hominem: ocorre quando, no lugar de discutir o argumento lançado, combate-se a pessoa que o formulou. - Argumentum Ad Misericordian: ocorre quando se apela para a emoção e o sentimento para que determinada conclusão seja aceita. Ex.: Um aluno que tirou nota baixa em cinco disciplinas, e pode ser reprovado. Nesta situação, ele perde a bolsa de estudos, pois para mantê-la deveria não ser reprovado em mais que duas disciplinas. O que o aluno faz? Chega para os professores das disciplinas, conta seu drama, diz que sem a bolsa não tem condições de estudar, que seu futuro está “jogado fora”, que está perdendo um ano de estudos, etc., e pede aos professores que “reconsiderem” sua nota, que conceda outra chance. A pergunta é: o que seu drama pessoal tem a ver com um possível auxílio do professor para a melhoria de sua nota? Nada!! Racionalmente falando. Uma coisa não justifica a outra. - A Pergunta Completa: é a conhecida expressão, cujo enunciado é “jogar verde para colher maduro”. Ex.: Onde está a arma do crime? Caso se responda sim ou não, está-se concordando que houve um crime e que existe uma arma desaparecida que foi utilizada no crime. - Ignorância no assunto: consiste em colocar numa argumentação algo estranho ao assunto. Ex.: Um Prefeito é acusado de se mostrar indiferente à onda de violência por que passa a cidade. Em resposta, argumenta contra o prefeito anterior, contra os salários dos policiais, etc. 

 A Dialética é um diálogo, em que há mais de uma opinião baseados em contraposição e contradição de ideias que levam a ouras ideias. É um constante movimento, em que tudo se transforma. A tradução literal significa “caminho entre ideais”. Basicamente existem três leis da dialética: 1.ª Lei: Da Passagem: é o processo de transformação dos seres. São mudanças mínimas que com o passar do tempo se tornam em grandes mudanças. Ex.: A água esquentando a 100ºC deixa o estado líquido e passa para o estado gasoso. 2.ª Lei: Dos Contrários: é a contradição que provoca o movimento e a transformação. Ex.: o ovo já tem sua negação, pois nele habitam juntas duas forças, uma que ele permaneça ovo e outra que ele se torne um filhote. 3.ª Lei: Negação da Negação: quando algo novo surge é Tese, depois vem a Antítese e a Síntese que é uma nova tese; aí recomeça i ciclo novamente com destino ao infinito. Ex.: Pré-Historia [Tese]; Idade Antiga [Antítese]; Idade Média [Síntese]. Tese, Antítese e Síntese explicam o movimento do universo, da vida, da humanidade e do pensamento, pois as coisas não são para sempre, nem tampouco definitivas.

 A metafísica designa o que vem depois ou está além da natureza, ou seja, da física.  É uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Um ramo central da metafísica é a ontologia, que é a investigação sobre as categorias básicas do ser e como elas se relacionam umas com as outras. Na Metafísica de Aristóteles, ele afirma que a Filosofia Primeira estuda os primeiros princípios e as causas primeiras de todas as coisas e investiga “o Ser enquanto Ser”.

As Causas Primeiras são aquelas que explicam o que o ser é, e também a origem e o motivo de sua existência. Para explicar as causas da existência do Ser, Aristóteles elaborou uma teoria, “A Teoria das Quatro Causas do Ser”, são elas: Causa Material: é aquilo que compõe a materialidade de ser. Ex.: água, barro, ar, madeira, vidro, carne, etc. Causa Formal: é aquilo que explica a forma que um ser possui. Ex.: o rio e o mar são formas da água; tijolo e o vaso são formas do barro; Causa Eficiente: é a causa que explica como uma matéria recebeu uma determinada forma, quem ou o que deu forma à matéria.

Ex: O Carpinteiro deu forma à madeira transformando-a em mesa ou cadeira; Causa Final: é a finalidade para o ser existir e aparentar-se como tal. Ex.: Cadeira para sentar-se, tijolo para a construção civil, grade de portão para proteger as residências...

 Todos os casos de entes acima citados são passíveis de outras mudanças, ou seja, na situação em que se encontram estão em Ato e as mudanças que possam vir a ocorrer com eles são a Potência. Isso significa que: Ato é a atualização de uma matéria, ou seja, aquilo que ela é no momento atual. Potência é o que está contida numa matéria e que ela poderá vir a ser. Ex.: Espiga de milho (ato); Pamonha (potência)

 A necessidade de procurar explicar o mundo dando-lhe um sentido e descobrindo as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem, que tem recorrido para isso à magia, ao mito e a religião, e atualmente à contribuição da ciência e da tecnologia. Mas é, sobretudo nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente aos domínios do conhecimento e da ciência. E se é certo que a preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e mais próximo daquele que lhe damos hoje.

 A teoria do conhecimento se interessa pela investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes. O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio cético? A Teoria do Conhecimento é uma área de fundamental importância para a Filosofia e tem como fundador o Filósofo inglês John Locke (1632-1704) quando surgiu com sua obra “Ensaio sobre o Entendimento Humano”. 

A Teoria do Conhecimento parte de quatro tópicos, quais sejam: 1- Possibilidades do conhecimento, que acompanha a pergunta: Pode o sujeito apreender realmente o objeto? 2- Origens do conhecimento. Há duas formas de conhecimento: a) o racionalismo, que é um conhecimento racional, teórico, especulativo e mediato; b) Empirismo, que é Intuitivo, sensível, imediato e depende muitas das nossas experiências. 3- A essência do conhecimento, que acompanha a pergunta: É o sujeito que determina o objeto ou o objeto que determina o sujeito? 4- Critério do conhecimento. Há um conhecimento verdadeiro, em caso afirmativo como podemos conhecer essa verdade?

 A representação, por sua vez, é o processo pelo qual a mente torna presente diante de si a imagem ou a ideia de algum objeto, então, para que exista conhecimento, sempre será necessária a relação entre os dois elementos básicos: um sujeito cognoscente (possui faculdade de conhecer)  e um objeto cognoscível (passível de ser conhecido), mediante a interação sujeito/objeto. Por isso, só haverá conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objeto, de forma empírica e representa-lo mentalmente na ausência do mesmo. Então, questionamos: Somos capazes de conhecer a verdade? É possível ao sujeito apreender o objeto? Afinal quais são as possibilidades do conhecimento humano? As respostas nos levaram ao surgimento de duas correntes de pensamento antagônicas na História da Filosofia: Ceticismo[3]: cuja ideia principal é a impossibilidade de conhecermos a verdade e o Dogmatismo[4]: que defende a ideia da possibilidade de conhecermos a verdade e que se subdivide em dogmatismo filosófico, ingênuo e jurídico.

O dogmatismo filosófico é a contestação do ceticismo, é quando as verdades são questionadas, para fazer com que os indivíduos não confiem e nem se tornem submissos perante as verdades estabelecidas. O dogmatismo filosófico pode ser compreendido como a possibilidade de conhecer a verdade, a confiança nesse conhecimento e a submissão a essa verdade sem questioná-la. Alguns dos filósofos dogmáticos mais conhecidos são Platão, Aristóteles e Parmênides.

Em termos filosóficos, a palavra dogmatismo inicialmente significava oposição, visto que era uma oposição filosófica, uma coisa referente aos princípios. Por esse motivo, a palavra “dogmática” significava "relativo a uma doutrina" ou "fundado em princípios".

O dogmatismo ingênuo é referente a alguém que acredita completamente nas possibilidades do nosso conhecimento, onde vemos o mundo tal como ele é; por outro lado, o dogmatismo crítico acredita na nossa capacidade de conhecer a verdade através de um esforço em conjunto dos sentidos e da inteligência, através de uma abordagem metódica, racional e científica.

O dogmatismo jurídico é o ato de observar, examinar e agir perante o Direito de acordo com diretrizes cujos pressupostos são provados de forma cognitiva ou são levantados por experiências reais que surgem através de casos específicos que ocorreram previamente. Há ainda a possibilidade de a orientação ser fundamentada em valores e princípios gerais do Direito.

Dessas duas correntes filosóficas, Ceticismo e Dogmatismo, surgiu a terceira, o Empirismo: segundo esta corrente todas as nossas ideias são provenientes de nossas percepções sensoriais, isto é, de nossos sentidos (audição, olfato, visão, paladar e tato). Coisa alguma nos vem à mente sem antes passar por um dos sentidos. Segundo Locke, o fundador do Empirismo e criador da Teoria da Tábula Rasa, “ao nascermos nossa mente é como um papel em branco”. Só a experiência nos dá o conhecimento. E finalmente o Inatismo: afirma que ao nascermos trazemos em nossa inteligência não só os princípios racionais como também algumas ideias verdadeiras, que, por isso, são ideias inatas.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Resumindo e concluindo o que foi escrito, embora de forma sintética, uma vez que, o objetivo não é esgotar o tema, mas sim, contribuir para uma reflexão necessária sobre o valor e o estatuto da filosofia para os iniciantes em filosofia. Tentei mostrar que o estudo da filosofia é muito valioso, ela nos dá o suporte reflexivo para que não aceitemos mais como evidentes as ideias, os fatos, as situações, sem antes refletir sobre eles; ou seja, a filosofia nos permite superar o senso comum através da atividade reflexiva, interrogando a nós mesmos e os outros a fim de sabermos por que cremos no que cremos. A filosofia contribui abrindo novos olhares para a sociedade emergente do séc. XVIII. Por isso, devemos estudar Filosofia porque só ela é capaz de nos transformar intelectualmente e até conceder nossos desejos, já que, por natureza, o homem é um ser desejante. Por isso, ele deseja ter amor tanto mais deseja a sabedoria, ou seja, quanto mais desejamos, mais amamos e mais sabemos... Estudar Filosofia porque tudo no mundo tem seu início e fim, e a filosofia é o caminho para se chegar aos princípios primeiros e últimos dispersos no tempo... Estudar Filosofia, porque ansiamos conhecer a verdade e nada é tão intacto como semelhante coisa... Portanto, embora pareça romantismo exagerado, estudar Filosofia não é algo que possuí um “por que” baseado em empirismo, porém, sim no pulsar de um coração ansioso por obter Razão “o coração tem razões que a própria razão desconhece” Blaise Pascal.

 REFERÊNCIAS

ABRÃO, B.S (Coord.). História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col. Os Pensadores)

ALVES, M.M. Lógica: Uma Introdução. Taubaté: Edição Própria, 2000.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13.ed.São Paulo: Ática,2005.

MARTINS, M.H; ARANHA, M.L.A. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2004.

TELES, A. X. Introdução à Filosofia. 21.ed. São Paulo: Ática, 1984.

WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4.ed. São Paulo: Martin Claret, 2001.

 [1] Diplomado em Pedagogia / Licenciado em Filosofia / Foi aluno especial da PUC-Rio; Pós-Graduado em Administração, supervisão e Orientação Pedagógica e Educacional; Mestrando em Ciência da Religião - PUC-SP. 

 [2] Narrativa de caráter simbólico-imagético, relacionada a uma dada cultura, que procura explicar e demonstrar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, a origem das coisas (do mundo; dos homens; dos animais; das doenças; dos objetos; das práticas de caça, pesca, medicina entre outros; do amor; das relações, seja entre homens e homens, homens e mulheres e mulheres e mulheres; enfim, de qualquer coisa que seja). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito

 [3]Ceticismo é um estado de quem duvida de tudo, de quem é descrente. Um indivíduo cético caracteriza-se por ter predisposição constante para a dúvida, para a incredulidade.

 [4] Dogmatismo é a tendência de um indivíduo, de afirmar ou crer em algo como verdadeiro e indiscutível, é um termo muito utilizado pela religião e pela filosofia. O dogmatismo ocorre quando uma pessoa considera uma verdade absoluta e indiscutível, o que é muito debatido nas religiões.

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