Polineurite : quando os nervos dão um grito de alerta

Polineurite  : quando os  nervos  dão  um grito de alerta

          Tiago tinha 35 anos e achou aquilo estranho, muito estranho : havia tropeçado em uma pedra e cortado o dedão do pé direito mas não havia sentido  nenhuma dor, não fazia sentido.

           Quando verificou melhor percebeu que também os todos os dedos do  pé também estavam amortecidos e além deles todo o pé e a metade da perna tanto  do lado direito como do esquerdo : tinha a sensação de estar usando uma bota em cada perna que o  impediam de sentir direito os estímulos  na parte inferior do corpo.              

            Além disso suas mãos também se apresentavam adormecidas, como se estivesse usando um par de luvas. Há algum tempo vinha percebendo uma fadiga maior, chegava em casa cansado e ia dormir logo, não sentia vontade de comer e havia emagrecido alguns quilos sem que precisasse fazer nenhum tipo de dieta. A esposa reclamara que ele não se interessava mais por ela. Não sentia muita vontade em sair nos finais de semana como sempre gostara de fazer, nem mais de jogar futebol  e encontrar os amigos aos domingos,  mas  atribuía tudo   ao ritmo de trabalho que aumentara bastante nos últimos meses. Foi a seu médico de família e após alguns exames descobriu estar com diabetes descompensado – logo após o início do tratamento sentiu-se bem melhor e após alguns meses os formigamentos dos pés e das mãos desapareceram como que por encanto.  

            Mônica notou uma queimação nas plantas de ambos os  pés, a princípio coisa leve, pensou no sapato novo que havia começado a usar, mas a queimação começou a aumentar muito e agora tinha a impressão de estar caminhando sobre brasas – uma coisa insuportável  e como facilmente descobriu : nada tinham a ver com seus sapatos novos. Olhando  melhor para suas pernas percebeu que  haviam afinado  um pouco   e as sentia como se estivessem geladas mesmo quando usava meias quentes. Suas pernas e pés estavam um pouco amortecidas e nas mãos tinha a sensação de estar usando luvas. Havia alguns meses vinha notando que tropeçava frequentemente e não conseguia com facilidade subir escadas quando não houvesse corrimão. Na consulta médica que fez  foram solicitados vários exames, mas todos estavam normais, o médico também não notara nada de anormal na história clínica, mas quando a interrogou um pouco mais profundamente, percebeu que Mônica  era um pouco mais que uma consumidora social de álcool como ela se havia considerado -  afinal de contas  três latinhas de cerveja no almoço e mais outro tanto no jantar representavam  um consumo muito...muito exagerado para uma etilista, que se auto-considerava  social .Com tato, Mônica foi convencida a tomar suco de laranja para acompanhar suas refeições e a usar algumas vitaminas e após três meses suas dores haviam quase completamente desaparecido e conseguia novamente subir escadas sem dificuldades. 

        Com Débora, a situação foi semelhante -  a sensação de estar usando botas e luvas, uma diminuição da força nas mãos  e nas pés, tropeções e quedas em número  acima do normal .Só que Débora, não era como Mônica – por ser evangélica nada bebia que contivesse álcool, tinha uma vida bem regrada, não fumava. Fez os exames de rotina e alguns mais específicos e nada de errado se encontrou...no exame clínico também nada se encontrou. Foi aconselhada a voltar mensalmente à consulta e a ficar alerta para qualquer coisa que lhe parecesse anormal,  mas tudo parecia normal...até que sete meses após ela descobriu um pequeno caroço, do tamanho de um feijão na mama. Fez uma radiografia da mama, a mamografia, não era sua imaginação. Fez a biópsia - era maligno .Porém era pequeno e tudo o que foi necessário foi a retirada de uma pequena parte de seu seio junto com algumas doses de quimioterapia  e após alguns meses, seu formigamento desapareceu. O formigamento salvara sua vida, permitindo-lhe viver e ver suas netas crescerem .

Assim é a polineurite : tem um grande número de causas diversas entre si- são conhecidas algumas dezenas delas.Nem sempre o diagnóstico da causa é fácil, podem ser por exemplo de origem tóxica, como intoxicações por chumbo, em geral adquiridas no trabalho, ou por infecções como a AIDS, ou ainda por problemas genéticos como uma síndrome chamada Charcot-Marie-Tooth.

          Às vezes apesar do esforço dispendido não se consegue diagnosticar a condição que deu origem a ela, mas quase sempre é possível aliviar de forma apreciável seus sintomas.Assim no caso de dores lancinantes, como de vez em quando ocorre quando os pacientes queixam-se de sensação de dor forte na planta de seus pés, como se estes estivessem sendo queimados, é possível melhorar-se muito os sintomas com uso de medicações anti-epilépticas e de alguns anti-depressivos – a vida antes insuportável torna-se normal e o paciente pode recomeçar novamente suas atividades habituais.Outras medicações são às vezes usadas dependendo da gravidade do caso e da dificuldade em melhorá-lo. 

             Em outras ocasiões quando predominam os sintomas de fraqueza para apanhar objetos ou dificuldades em subir escadas, são utilizadas várias formas de exercícios de fisioterapia que podem melhorar muito essas alterações motoras.Às vezes esses exercícios fisioterápicos podem ser realizados em uma piscina – a hidroterapia – ou então associados com exercícios realizados no solo.A melhora obtida com essas formas de reabilitação é em  muitas ocasiões notável e extremamente importante. 

           Uma questão quase sempre colocada pelos pacientes e seus familiares,  é a do uso da acupuntura nessas situações.A acupuntura tem efeito importante em quase todas as formas de dor e seu efeito na polineurite é quase sempre benéfico e sua ajuda em conseguir-se melhorar a qualidade de vida apreciável.

           Na prática o uso de medicações, fisioterapia, hidroterapia e acupuntura são combinados de modo a se oferecer a quem sofre de polineurite um restabelecimento mais rápido com mais conforto durante a recuperação. Valem aqui dois velhos adágios da Medicina : Cada caso é um caso.Aliviar a dor é um trabalho divino(“Sedare dolorem opus divinus est”).

          Nunca despreze a sirene de alarme dada por seu corpo – ela pode ser sua salvação.

           Este é um artigo apenas de divulgação e por isso não possui  Referências Bibliográficas.Todos são casos reais, mas obviamente tiveram seus nomes alterados para proteger a identidade dos pacientes.Pretende-se posteriormente publicar artigo científico a respeito desse grave, mas pouco reconhecido problema das polineurites.