Poligamia Rural versus Urbana

Por Felix Zacarias Mutombo Antonio | 19/05/2015 | Filosofia

Poligamia Rural vs Poligamia Urbana¹ Félix Zacarias Mutombo António² Resumo Em toda parte do mundo, há casamentos, mas não significa reduzir esses casamentos em poligamia. Os casamentos, envolvem homens e mulheres. Entretanto, não se pode confundir a poligamia com outras práticas. Verifica-se na Fisiologia que desde o tempo remoto, o número de mulheres é que tem vindo a ganhar a ''vitória''. Duma maneira generalizada, poderíamos citar como sendo as causas primordiais do aparecimento deste costume: Os princípios da sociedade e; as guerras. Poligamia rural influencia-se mais pelo êxodo rural, onde muitos homens saiem do campo, transitando assim para diversas cidades. Quanto à poligamia urbana, constatou-se que há menor percentagem da prática deste costume. É bem possível num Bairro não achar um polígamo. Palavras-chave: Poligamia, Mulher, Homem, Casamentos, Matrimónio Introdução O presente artigo, intitula-se à ''Poligamia rural Vs Poligamia urbana'' onde nesse, procura-se insinuar em torno das práticas poligâmicas em Moçambique, principalmente na Província de Sofala. ________________________ ¹Trabalho entregue ao Departamento de Ciências Sociais, Delegação da Beira, no Curso de Filosofia, no âmbito avaliativo na cadeira de Antropologia Cultural de Moçambique, sob orientação do Mcs. António Waya. ²Estudante - 2° Ano - da Universidade Pedagógica de Moçambique (UP), Delegação da Beira, licenciando em ensino de Filosofia com habilitações à História, na mesma Universidade. Natural de Gondola-Manica, Moçambique. Concluiu o nível Médio na Escola Secundária Geral Macombe-Gondola (2011-2012). São os principais títulos: a busca do conceito da poligamia, que interessa-se em discernir a poligamia de outras práticas: amantismo, concubinato, desejos momentâneos, pita-kufa e outras práticas e; a origem da poligamia, se assenta em apresentar as causas, a poligamia na representação rural e urbana, vantagens e as possíveis desvantagens das práticas poligâmicas. Portanto, são esses assuntos que farão manchetes neste artigo. Como método usado na investigação deste, foi o estudo do campo, mas estudo oculto³, ou seja, uma observação natural, onde consiste em fazer estudo do caso sem o estudado perceber que está sendo estudado. É contudo, ora dever as gratidões ao senhores e amigos, que pela sua simpatia, aceitaram, sem saber que estava sendo entrevistado, ceder algumas informações que indicavam sobre o costume estudado - a poligamia. A busca do conceito poligamia A palavra Poligamia, tem vindo a banalizar os pensamentos de alguns pela assaz extensão. Muitos, por sua vez, confundem a poligamia com outras práticas sociais, referem-se os casos do amantismo, concubinato e também desvios sexuais ou mesmo referir-se aos ''prazeres momentâneos''. Será que essa falta ou essa restrição de percepção, é pelo facto da amnésia? Não! Diríamos logo a priori que não. Referiu-se ''não'' porque nem todos têm amnésia, aliás, se tivessem, pensamos nós que não teriam assedentado por essa prática. Sendo assim, que seria então isso? Talvez possa ser a falta de sagacidade deste termo. Literalmente, o termo poligamia, vem de dois (2) termos: poli (muitos) + gamia (casamentos), porém, a poligamia, seria muitos contratos matrimoniais. Em toda parte do mundo, há casamentos, mas não significa reduzir esses casamentos em poligamia. Os casamentos, envolvem homens e mulheres. Entretanto, não se pode confundir a poligamia com outras práticas. __________________ ³A entrevista que se refere, é uma entrevista sem entrevista, isto é, aconteceu num chapa-cem, quando eu viajava – indo à faculdade - aproveitando assim perguntar sobre a prática poligâmica aos companheiros que ai havia. Poligamia Vs Amantismo A poligamia, não é amantismo. Refere-se amantismo àquele relacionamento de homem-mulher, onde nesse, o homem é casado ou a mulher é casada, mas mantendo assim um outro relacionamento, ou seja, uma relação com uma outra pessoa e essa relação é oculta, isto é, não aberta e sim fechada. Não há no amantismo o envolvimento de segundo marido ou segunda esposa, mas uma outra relação, onde é em língua Sena ''Chindi'', traduzindo, amancebo. Poligamia Vs Concubinato Muitos casamentos, é a característica da poligamia, entretanto, ela se distingue também do concubinato. Concubinato, seria uma forma convivencial entre homem e mulher, onde se identificam como cônjuges por enquanto não são. Poderíamos referir ainda como sendo um casamento civil, reconhecido como união estável. Poligamia Vs Desejos momentâneos (perversões) Os desejos momentâneos, referem-se à necessidade pelo qual um indivíduo tem para atingir uma satisfação sexual. Nessa linha de silogismo, há aqueles indivíduos que portanto, têm aquilo que é concebido como transtornos sexuais. Por sua vez, esses indivíduos, não são e nem podem ser concebidos como sendo polígamos. Ainda bem que se frisou, pois a poligamia não se refere, contudo, às práticas sexuais que os indivíduos fazem, por exemplo, os hábitos de ir às ''messis'', para puder superar seus desejos, mas refere-se à casamentos, à casamentos. Também, àquela prática social, o levirato vulgarmente chamado de pita-kufa, não é portanto considerado de poligamia. Muitos casamentos, e não casamento de muitos, é, portanto, poligamia. Falar da poligamia, é envolver a Poliginia e a Poliandria. A poliginia, refere-se a homem que contraiu mais de dois (2) matrimónios, ou seja, a homem casado com demasiadas mulheres, por outro lado, a poliandria, seria assim o casamento que envolve uma mulher casada por mais de dois (2) homens, portanto, ocultamos a palavra ''vários'', para reduzirmos a extensão, porque quando menos extensão é, maior é a compreensão. Parece ser absurdo referenciar o casamento de uma mulher casada por muitos homens, mas é nossa realidade e é regra dos termos. Na sociedade moçambicana e sobretudo na região centro e em particular a Província de Sofala, verifica-se com maior frequência e percentagem (quase 100%) a poliginia. No que toca a poliandria, segundo a investigação feita, não se constatou. Talvez possa ser a regra geral de desde os bantu não haver uma mulher casada por muitos homens, mas se referíssemos o ''amantismo'' ou a ''prostituição'', há sim. Por outro lado, o casamento homossexual, não sabemos onde enquadrar, nem na poliginia e nem na poliandria. Desde já, passamos a referenciar a poligamia apenas numa representação de homem casado por muitas mulheres, ou mesmo a poliginia. Origem da poligamia Segundo Junod (1996, p.260), podia pretender-se que, se trate dum vestígio do velho sistema de casamento por grupos. Seguindo a regra da história da natureza, a de que os homens são poucos em relação às mulheres. Verifica-se na Fisiologia que desde o tempo remoto, o número de mulheres é que tem vindo a ganhar a ''vitória'', sendo assim, ''o que seria das mulheres se todos os homens fossem monógamos?'' É óbvio que haveria solteironas. ''Mas com prática poligâmica, resolveu-se a questão solteirónica?'' Nem sabemos, mas reside e prevalece em nós uma presunção de que há minimização. Causas da poligamia Duma maneira generalizada, poderíamos citar como sendo as causas primordiais do aparecimento deste costume: - Os princípios da sociedade; - As guerras. No tangente dos princípios da sociedade, é extremamente confidencial referirmo-nos que a província de Sofala, como as outras, está rodeada de regras, p. ex., a de sucessão, que consiste em apaziguar a família. Morre um irmão, deixa uma viúva e essa é herdada por outro irmão, mesmo que esteja casado. No que concerne às guerras, importa versar que com as guerras que decorreram no nosso país, houve diminuição enorme de homens. Os homens são os que mais se identificam pela segurança do que as mulheres. Com essa razão, havia razões de as mulheres ficarem solteiras e como resolução fundamental, seria se casar com um já comprometido, ou seja, já casado. Assim, edificou-se a poligamia. Também é meramente essencial citar o Êxodo rural, onde muitos homens procuram melhores condições de vida, para tal, se emigram para outras áreas e lá, acabam por casar, deixando assim as mulheres de seu natal. Poligamia rural e urbana Refere-se poligamia rural, à casamentos de homem com muitas mulheres, sobretudo nas zonas ricôndidas, ou seja, no campo. Nessas zonas, tanto antiga e quanto actualmente, é que verifica-se mais o maior índice da implementação desse costume. Porém, influencia-se mais pelo êxodo rural, onde muitos homens saiam do campo, transitando assim para diversas cidades - deixando muitas mulheres - pelo facto de procura de melhores condições de vida ou mesmo por motivos de progressão de estudos. Contudo, com outra visão obtida na cidade, esses emigrantes, segundo as investigações, tomam preferência de casar com mulheres da cidade. Ainda nas zonas rurais, verifica-se que são na maior parte os chefes das aldeias, ou simplesmente referir os líderes, os ''feiticeiros abençoados'' (ou mesmo curandeiros), que possuem contrato com várias mulheres, não como amantes e sim, esposas. Quanto à poligamia urbana, constatou-se que há menor percentagem da prática deste costume. É bem possível num Bairro não achar um polígamo. ''Pode apenas encontrar na nossa cidade, em peculiar no nosso Bairro (da Manga), homem casado com uma mulher, mas contendo outras relações, ou por outra, aqueles homens casados com uma mulher, mas 'vadio', que procura satisfazer seus desejos sexuais nos bares...'', sublinhou o senhor Joaquim (um dos que aceitaram conversar comigo). Com efeito, presume-se que na cidade da Beira não tenha a prática poligâmica, mas se referir-se o amantismo, sim há, é claro com frequência máxima. Depois da menção feita, é extremamente essencial citar que, de acordo com Kabengele Munanga, ''a poligamia não se fundamenta no prazer sexual. A poligamia tem funções económica-social, política e religiosa importantíssima'' (1984, p.14, Apud SCARPARO, 2010, p.3). De tal maneira, segundo a indagação feita, a poligamia económica-social, seria, portanto, aquele costume que consiste em obter riquezas, onde o homem contrai matrimónio com mais de duas mulheres, com essas mulheres, há garantia de haver uma produção massiva e havendo assim a presença de ausência de ''seca'', ou seja, fome. No que toca à poligamia religiosa, porém, é praticada na maior com os muçulmanos, onde não há lei de proibição do contrato matrimonial com mais de duas mulheres, mas para tal, há uma condição, é preciso que o homem tenha uma situação financeira positiva, para puder sustentabilizar com mesma conduta à suas esposas. Para afora disso, também é necessário que o homem seja fiel, franco não apenas na sua fé, mas também nas suas esposas. Fazem isso, pela indicação do, portanto, profeta Maomé, onde teve amais de dois contratos matrimoniais. Nas outras religiões, indicou-se que é proibido o casamento com mais de duas mulheres. Só pode ter outro casamento, caso a esposa que a tempo prisco pereceu, ou houve um divórcio oficial. Admitem que embora na história de alguns antigos profetas possuírem mais de duas esposas, ''nós não podemos seguir o mesmo''. Desta feita, a poligamia política, refere-se a aquela, praticada por muita das vezes por chefes das aldeias, curandeiros, onde esses são visto como sendo os ''deuses da área''. O exemplo claro, é a indicação de Ngungunhana, de Binguane - que nem conhecia seus filhos -, Mbinguana - que teve centena de filhos e acabou por casar suas próprias filhas. Um outro alerta que se dá ainda, é de não puder confundir o contrato matrimonial com várias mulheres, onde se casa com essa, separam-se, casa outra, divorciam-se, e assim sucessivamente, com poligamia. Poderemos dizer que a poligamia - no sentido poligénico - é, portanto, uma união matrimonial de mais de duas mulheres. Vantagens e desvantagens da poligamia Como vantagens da prática do costume em causa, deveu-se assinalar: - A ausência de solteironas inconsolável (JUNOD, 1996, p.262). Mas nessa referência, podemos acentuar a redução ou a minimização do número de solteiras nas sociedades - apenas é uma hipótese; - É uma honra e glória para os chefes de aldeias (Líderes) ter várias mulheres, pois assim é respeito em relação ao número de mulheres que possui; - Gerar muitos filhos; - Não passa fome - pois com muitas esposas, cada uma produz, produz-se riquezas para as famílias, serve muito para os de campo. Como desvantagens (males) que assolam os polígamos, assinalamos: - Terrível desenvolvimento de paixões sexuais (Ibidem); - Conflitos domésticos, a poligamia, gera sérios conflitos entre as esposas, onde esposa, puxa o homem para seu lado, e com ciúmes que irão se ressentir por outras, gerando contudo a falta de apaziguamento. Com esses conflitos, pode se levar as famílias e conduzirem-se a uma ruína, por exemplo, uma pode ir atrás de curandeiro para puder matar a sua ''congénere''. O marido pode não possuir dotes para assim saber orientar, fiscalizar duma guisa condizente as suas esposas, correndo o risco de ser traído; - Há vulnerabilidade, onde é bem provável contrair doenças de transmissão sexual. Conclusão Consumado o trabalho, resta apresentar tudo quanto foi elucidado duma forma de epítome. Entretanto, foi deslindado que duma guisa lírica, o termo poligamia significa um contrato matrimonial que versa um homem casado com muitas mulheres, ou uma mulher casada por vários homens. Porém, em torno da poligamia referenciada neste trabalho, é concebida à luz de poliginia. Contudo, falar da poligamia não é falar de qualquer outra relação a não referir de casamentos de um indivíduo com mais de duas pessoas. Não se refere de homossexualismo, mas heterossexualismo sim. Poligamia não é amantismo, não é concubinato, e nem se devem confundir esses termos, pois não é também prostituição. Sim! A poligamia é algo benéfico para quem a pratica, aliás leva também a ruína do mesmo praticante. Constatou-se que, os que praticam esse costume, praticam por facetas diferentes, ou por livre arbítrio, ou por costumes da sociedade. Mas não se deve incutir o levirato, vulgarmente chamado pita-kufa. Bibliografia JUNOD, Henri-Alexandre. Usos e Costumes dos Bantu. Maputo, Arquivo histórico de Moçambique, 1996. SCARPARO, Dolares. Niketche: uma história de poligamia - a busca de subjectividade por meio da literatura. 2010. Disponível em . Acessado aos 27.09.2014 às 20h.

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