Polêmico frango da discórdia

Por Edson Terto da Silva | 27/04/2010 | Crônicas

Polêmico frango da discórdia

 

Edson Silva

 

Apesar do título sugerir e mais uma Copa do Mundo estar se aproximando, este “causo” não se refere à pendenga futebolística no Brasil ou em qualquer parte do mundo. Na verdade, ele teria acontecido numa das mais de 160 cidadezinhas paulistas com menos 5 mil habitantes, numa dessas onde só há notícia de governo do Estado quando o assunto é o pedágio mais próximo ou quando os moradores se reúnem assustados na pracinha da matriz, pois o “tar guverno” ta querendo trazer uma “tar” de penitenciária para o “locar”. Levando em consideração que Sumaré é a segunda maior cidade da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e nem o Alckmin ou Serra se dignaram a conceder uma audiência ao persistente prefeito Bacchim(PT), dá para imaginar o que acontece com as cidades menores.

 

Mas vamos ao “causo”, outra hora a gente proseia mais sobre política. Diz-se que na “tar” cidadezinha, havia uma família exemplar. O homem trabalhador desde a adolescência, com certa formação escolar e profissional e muito religioso. A mulher é uma dona de casa exemplar, prendada nas artes do lar, ótima cozinheira, dizem que teria sucesso profissional, mas abdicou a uma eventual carreira para dedicar-se ao marido e também era muito religiosa. O povo nem podia dizer se era bem feita de corpo, pois nas raras vezes que saia para a rua, que não era com a família para ir numa igreja própria, usava roupas tão discretas que nada deixava a insinuar. Mesmo o rosto, que diziam ser formoso, raramente era visto, um véu mais que fiel não permitia.

 

Da família, vale ressaltar que ela mantinha, com sacrifício, um casal de filhos em escola particular, pois a do Estado (olha a política aí de novo) não dava. Certo dia, um início de sábado, a campainha da casa tocou, era um entregador. Ele trazia algo numa embalagem térmica, disse que estava para pago e que tinha ordens para entregar sem entrar em detalhes. Feito isso, foi embora, deixando marido, mulher e filhos com cara de “ué?!”. Aberto o pacote, deram de cara com um delicioso frango assado que fez brilhar olhos infantis e adultos.

 

Embora cuidadosos, não acreditavam que nada cidade onde todo mundo se conhecia alguém iria querer prejudicá-los envenenando a família, mas por via das dúvidas antes de comer deram um naco da ave ao um rapaz que fazia um reparo na casa, que agradeceu, comeu e nada sentiu. Foi a deixa para a família se deliciar. Quando caiu na real, o marido resolveu investigar quem fez a “tar” cortesia, conversou com um, com outro, falou umas coisas, chegou até beliscar uma costela no boteco lotado, lógico que a carne foi acompanhada só por guaraná.

 

Desistiu da investigação, foi para casa e no dia seguinte, domingo, nova surpresa. Outro pacote, desta vez meio quilo de costela e o bilhete, que dizem ter sido escrito em computador: “Não gostam de frango, então mando costela. Já que só você comeu, segue um pedaço para a patroa e crianças...” Como a maioria dos homens da cidade não sabe se a “tar” mensagem era digitada, ninguém ousa escrever ao morador maldosamente apelidado de “rodízio em casa”, vai que ele faz exame grafotécnico, não é ?!...

 

Edson Silva. 48 anos, jornalista, Campinas,

Email: edsonsilvajornalista@yahoo.com.br