Poetas Contemporâneos - Abdias de Carvalho

Por José Nunez | 18/07/2009 | Literatura

Abdias de Carvalho poeta da estagnação, da poeira assentada, da falta de perpectiva, da baixeza moral, da atrofia, da revolta calada, do silêncio dos excluidos, da ruminação furiosa e secreta, da repugnação, da repetição angustiante, da falta de oportunidades, da linguagem repugnante, esse poeta representa o abondono, o deixar se onde está. Nesse poeta não há incertezas, e mas sim eterna imobilidade.       

 

Ralo

 

Por onde você entrou na minha vida?...

Pela porta do fundo,

Pela janela do quarto,

Pelo cano de esgoto,

Pela chaminé que não há,

Pelo sistema hidraulico,

Pela bactéria deste surto,

Pela turbulação de ar,

Pelos orifícios do corpo,

Pelo beijo sufocante,

Pelo vício que alimento,

Pelo sorriso que dou de graça,

Pelo tragos de absinto,

Pela carta sem remetente,

Pela conversa de amigo,

Pelo ombro que empresto,

Pelo ato de compaixão,

Pelo acaso do destino,

Pelo meu corpo largado á paixão,

Pelo olhar contagioso,

Pela parede que transpasso,

Pela música que não sei dançar...

Por onde você saiu da minha vida?

Pelo ralo do banheiro,

Pelo saco de lixo,

Pelo contraveneno,

Pelo cano de esgoto,

Pela porta da frente,

Pela saida secreta,

Pelo túnel de fuga,

Pelo perda do mistério,

Pela hemorragia que não para,

Por outra secreção,

Pela rotina sufocante,

Pelo aguaceiro deste dia chuvoso,

Pelo sentimento libertino,

Pelo purgação de um tumor,

Pela ferida que não cura,

Pelo olhar que não tenho,

Pela vida que não levo,

Pelos orifícios da derme,

Pelo tédio de sermos dois,

Por lágrima resentida,

Pela parede que transpasso...

 

                           Abdias de Carvalho

 

                              J.Nunez           16/12/06

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