Poeta Virtual - Abdias de Carvalho / J. Nunez
Por José Nunez | 03/08/2009 | LiteraturaA Internet não só esta suprindo o espaço que a poesia e a literatura perdeu em revistas, jornais e outras mídias como também representa um avanço gigantesco quando se trata de divulgação. Muito dos escritores e poetas que usam a Internet queixam que essa democratização do acesso que a Internet possui, acabou por ocultar talentos em um oceano de texto que nada têm de original, por essas razão o objetivo de Poetas Virtuais é buscar na poesia on-line o que há de original, significativo e representativo para o nosso tempo. Para iniciar o Poetas Virtuais, Abdias de Carvalho com um poema imprevisível e com uma temática e uma visão do amor um tanto original que revela muito sobre esse tempo de amores objetos.
Abdias de Carvalho poeta da estagnação, da poeira assentada, da falta de perspectiva, da baixeza moral, da atrofia, da revolta calada, do silêncio dos excluídos, da ruminação furiosa e secreta, da repugnação, da repetição angustiante, da falta de oportunidades, da linguagem repugnante, esse poeta representa o abandono, o deixar se onde está. Neste poeta não há incertezas, e sim eterna imobilidade.
Ralo
Por onde você entrou na minha vida?...
Pela porta do fundo,
Pela janela do quarto,
Pelo cano de esgoto,
Pela chaminé que não há,
Pelo sistema hidráulico,
Pela bactéria deste surto,
Pela tubulação de ar,
Pelos orifícios do corpo,
Pelo beijo sufocante,
Pelo vício que alimento,
Pelo sorriso que dou de graça,
Pelos tragos de absinto,
Pela carta sem remetente,
Pela conversa de amigo,
Pelo ombro que empresto,
Pelo ato de compaixão,
Pelo acaso do destino,
Pelo meu corpo largado á paixão,
Pelo olhar contagioso,
Pela parede que transpasso,
Pela música que não sei dançar...
Por onde você saiu da minha vida?
Pelo ralo do banheiro,
Pelo saco de lixo,
Pelo contraveneno,
Pelo cano de esgoto,
Pela porta da frente,
Pela saída secreta,
Pelo túnel de fuga,
Pela perda do mistério,
Pela hemorragia que não para,
Por outra secreção,
Pela rotina sufocante,
Pelo aguaceiro deste dia chuvoso,
Pelo sentimento libertino,
Pela purgação de um tumor,
Pela ferida que não cura,
Pelo olhar que não tenho,
Pela vida que não levo,
Pelos orifícios da derme,
Pelo tédio de sermos dois,
Por lágrima ressentida,
Pela parede que transpasso...
Abdias de Carvalho
J.Nunez