POESIA ELETRÔNICA: A INTERAÇÃO ENTRE FORMATOS ARTÍSTICOS PARA DIVULGAÇÃO DA POESIA NA INTERNET.
Por Rosangela Panerari | 17/04/2013 | TecnologiaFACULDADE CÁSPER LÍBERO
Poesia Eletrônica:
A interação entre formatos artísticos para divulgação da poesia na Internet.
Rosangela de Fátima Panerari
São Paulo
2010
Rosangela de Fátima Panerari
Poesia Eletrônica: A interação entre formatos artísticos para divulgação da poesia na Internet.
Trabalho de conclusão de curso de Pós-Graduação lato sensu apresentado à Faculdade Cásper Líbero como requisito parcial para especialização em Marketing.
Orientador: Prof. Dr. José Eugênio de Oliveira Menezes.
São Paulo
2010
“Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!”
Fernando Pessoa
RESUMO
Este estudo de caso é uma pesquisa sobre as experimentações no desenvolvimento de poesia no ciberespaço, advindas das interações com a poesia visual e com os suportes eletrônicos e demais interações que caminharam para a poesia eletrônica; definindo os termos relacionados a este universo e analisando as novas formas de divulgação literária na Internet para a poesia contemporânea e suas inter-relações hipermidiáticas, nas estruturas operacionais de que se utiliza e na percepção social que este novo formato causa.
O trabalho define os termos relacionados às linguagens poética, artística e tecnológica, e apresenta momentos importantes em que ocorreram as interações da poesia com estas diferentes linguagens, tratando também da inserção do uso do computador na produção da poesia eletrônica e de como o poeta dialoga com estes recursos tecnológicos disponíveis, utilizando-os para ampliar suas possibilidades de expressão poética e também de divulgação de suas obras; verificando ainda as características da leitura e imersão na linguagem tecno poética por meio de exemplos, e qual o grau de interação e participação do leitor com estas obras.
Palavras-Chave: Ciberpoesia. Ciberarte. Poesia Eletrônica. Poesia Visual.
ABSTRACT
This case study is a survey of the trials in the development of poetry in cyberspace, resulting from interactions with visual poetry and the electronic media and other interactions that came into the electronic poetry, defining the terms related to this universe and analysing the new formats of literary exibition on the Internet for contemporary poetry and their hypermidiatic interrelationships, in its operational sturcture and in the social perception that is caused by this new format.
The essay defines terms related to poetic language, artistic and technological languages, and presents important moments in which occurred interactions with these different languages, also dealing with the insertion of the computer use in the production of electronic poetry and how poets manage this technical resources, using them to expand their poetic expression and also to disseminate their work, checking also the characteristics of reading of this language and immersion in the electronic poetry, through examples, and what degree of interaction and participatory the readers can have with these poems.
Kei Words: Ciberpoetry. Ciberart. Electronic Poetry. Visual Poetry.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................10
2 POESIA EM MOVIMENTO .............................................................................12
2.1 Da poesia para a poesia visual, o caminho para a poesia eletrônica .....................12
2.2 As interações da poesia com diferentes formatos .................................................17
3 A INTERAÇÃO ENTRE AS LINGUAGENS .................................................21
3.1 As linguagens da poesia eletrônica .......................................................................21
3.2 A linguagem hipermídia .......................................................................................23
3.3 Denominações e conceitos da poesia eletrônica ...................................................25
4 POESIA E COMPUTADOR .............................................................................27
4.1 A Cibercultura e o Ciberespaço ............................................................................27
4.2 O computador como ferramenta e nova forma de divulgação literária ................28
4.3 Poesia e internet ....................................................................................................31
4.4 O leitor da poesia eletrônica .................................................................................33
4.5 Interação e co-autoria na poesia eletrônica ..........................................................35
5 EXEMPLOS .......................................................................................................38
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................42
REFERÊNCIAS .......................................................................................................44
ANEXOS ...................................................................................................................48
1 INTRODUÇÃO
Este estudo pretende analisar a relação entre poesia, artes, e novas tecnologias, aliadas para a criação de poesias eletrônicas, estudando os formatos utilizados nessa nova atividade poética, em seu caráter interativo e tecnológico, e a percepção e receptividade do leitor mediante o caráter lúdico e interativo das poesias neste novo formato, que é a extensão das transformações e experimentações percebidas nos meios visuais, verbais e sonoros ao longo do tempo.
Pretende-se relacionar ao surgimento da Poesia Eletrônica como uma continuidade dos movimentos poéticos que propunham uma mudança na visualidade das obras, como a poesia concreta, que surgiu por volta de 1950 pregando uma poesia experimentalista, que explora diferentes formatos na sua criação.
Serão também conceituados os termos tecnológicos envolvidos no processo da produção desta nova poesia, e demonstradas, por meio de exemplos, quais as características gerais e marcantes destes trabalhos.
As primeiras interações da poesia com outros recursos e formatos, inclusive os tecnológicos, advém do Movimento de Arte Concreta. Foi neste contexto que, futuramente e após diversas experimentações com diversos formatos, como a Poesia Holográfica e as poesias sonoras, desenvolvidas paralela e simultaneamente com a poesia concreta e a visual, que começou a surgiu a poesia eletrônica, em projetos e experimentalismos que buscavam novas formas de criação e projeção visual, culminando na veiculação de poesias nas redes digitais a partir de 1995.
Na literatura e especialmente na poesia, foi no final do século XIX que começaram a surgir as interações com suportes tecnológicos, pois apesar das poéticas visuais sempre terem sido representativas, nem sempre conseguiam se concretizar na totalidade de seu propósito artístico, pelo caráter restritivo da bidimensionalidade do formato escrito.
Com o surgimento de equipamentos eletrônicos e digitais e seu uso na produção de poesias, os poetas conseguiram ampliar seus horizontes, adicionando aos poemas tridimensionalidade e movimento, enriquecendo a significatividade de suas obras. A partir disso temos um outro tratamento do material poético, “tratamento esse que configura suas formas a partir de dentro e não como meros aparatos externos e estranhos à criação” (GUIMARÃES, 2004, p. 155).
O computador, inicialmente para o poeta apenas mais uma ferramenta para digitação e transcrição de poesia, passa a oferecer à linguagem poética os benefícios da linguagem tecnológica, o que aliado à preocupação artística visual, começa a gerar a produção de poesias eletrônicas, com expressiva visualidade e caráter interativo, desenvolvidas no ambiente da rede.
O concretismo poético transportado para o meio digital, ira aprimorar o trabalho de escritores de poesia contemporânea, que vinham buscando novas formas de criação poética e encontraram na divulgação pela Internet uma possibilidade atrativa, em que, usufruindo dos recursos tecnológicos disponíveis pelos diversos softwares e linguagens de programação, poderão produzir obras que irão além de simples poesias postadas na Internet da mesma forma que seriam publicadas num livro, para gerarem poesias eletrônicas animadas e interativas; trabalhos experimentais que envolvam outras linguagens artísticas: poemas sonoros, gráficos, cinéticos e interativos, dentro da linguagem tecnopoética.
O percurso da legibilidade à ilegibilidade da palavra em relação à imagem, através das múltiplas e variadas possibilidades da tecnologia, pode nos levar à poesia sem palavra, em que a figura geométrica substitui uma palavra inteira, tornando uma colagem de significados representados pelas figuras, como foi observada na poesia visual brasileira da década de 70 (MENEZES, 1991, p. 75).
Essa nova forma de se fazer poesia, construída com palavras, grafismos, imagens estáticas e animadas e sons que é veiculada no meio digital, suscita que analisemos os procedimentos dessa construção de acordo com suas interações semióticas, definindo as denominações conceituais e formatos estéticos desta criação poética, trazendo novas significações para a poesia tradicional por meio de suas interações.
2 POESIA EM MOVIMENTO
2.1 Da poesia para a poesia visual, o caminho para a poesia eletrônica
A poesia é um gênero literário que tem sua lógica própria, sua linguagem, sua forma de comunicar. Com sua forma lúdica que explora significados e formas, extrapola normas e formatos para chegar a um final expressivo único.
Um dos percursos da poesia para sua obtenção de significados é carregar a linguagem dos sentidos até o máximo grau possível, projetando o objeto na imaginação visual do leitor, e produzindo correlações emocionais por intermédio do texto, do som e do ritmo da fala, estimulando as associações (intelectuais ou emocionais), que permaneceram na consciência do receptor em relação às palavras ou grupos de palavras efetivamente empregados (POUND, 1990, p. 63).
A poesia visual é o resultado da combinação entre os recursos da poesia e elementos visuais que predominam sobre os demais elementos, sendo um gênero próprio, que pode ser puramente não-verbal. Pretende-se por meio da poesia visual uma ligação mais estreita para que a poesia se torne cada vez mais evocadora, experimental e próxima das emoções do leitor, utilizando o recurso visual para imprimir novas sugestões para o conteúdo do poema, ampliando a significação da mensagem poética.
O estudo da poesia visual analisa a disposição dos elementos gráficos e verbais, que se diferenciam da poesia convencional pelo uso dos espaços em branco, a forma com que o verso se distribui pelas linhas, a pontuação utilizada no texto e uso de diferentes tipologias, utilizando-se das tecnologias disponíveis, computadorizadas ou não, como ampliações, reduções, cópias, desenhos e colagens. Essas imagens dialogam com a palavra poética, e passam de imagens a elementos interagentes criadores de contextos, que dialogam com as imagens mentais geradas no leitor pela poesia, enriquecendo ainda mais a percepção de significados.
Alguns movimentos artísticos influenciaram a forma de se fazer poesia, modificando sua forma e sua proposta. Nos países de língua portuguesa, uma das primeiras possibilidades artísticas de intervenções com outras mídias e recursos tecnológicos veio com o Movimento Concretista, que defendia a racionalidade e era baseado na criação experimentalista e na busca de novas formas, rejeitando o intimismo e a preocupação com o tema, e valorizando os elementos constitutivos da palavra por meio da utilização de novos suportes, e trabalhando seu espaço gráfico de forma não-usual, eliminando a distinção entre forma e conteúdo para a criação de uma nova linguagem.
Essa diferenciação era aplicada, por exemplo, na criação de poesias com ideogramas e de poesias utilizando disposições diferentes do texto na página, como maneira de gerar outros significados às palavras, dando-lhes um sentido além do texto.
A tridimensionalidade deste novo formato criou uma visualização da poesia que os concretistas chamavam de “poema-objeto”, algo para ser contemplado como um todo, valorizando-se os elementos construtivos do poema como elementos agregadores de sentido aliados ao seu conteúdo literário; um poema para ser visto, que comunica no espaço em que se apresenta antes mesmo de ser lido, e é fisicamente assistido.
A visualidade na comunicação da linguagem poética é a manifestação plástica e imagética de uma letra, palavra ou verso, em sua relação com os diferentes espaços físicos bidimensionais, tridimensionais ou virtuais e, também, a relação da imagem com letras, palavras ou versos manuscritos ou tipográficos nos meios impressos e/ou eletrônicos para fins poéticos. (ANTÔNIO, 2008, p. 50)
A poesia concreta propunha aos poetas um trabalho com a arte da palavra, integrando som, imagem, e significado, como uma superação do verso simples, e faz com que a discussão poética avance do âmbito literário para questões relacionadas à visualidade e a sonoridade.
O poeta concretista está preocupado em produzir um objeto para ser percebido, visto mais como uma pintura que para ser lido, assim como os poemas sonoros são compostos para serem ouvidos como música.
Os idealizadores do movimento concreto no Brasil foram os poetas do chamado Grupo Noigandres, os paulistas Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos e José Lino Grunewaldt; responsáveis pela elaboração teórica e prática desse novo formato poético; em Portugal, o grupo PO.EX, que contava com o poeta Melo e Castro e mais alguns poetas da época foi também bastante representativo na criação desta poesia que se molda em múltiplos formatos artísticos.
A poesia concreta, segundo o plano piloto de 1958, "começa por tomar conhecimento do espaço gráfico". Propõe e consegue realmente a criação de uma sintaxe: novas estruturas lingüísticas no plano, ou seja, liberta-se, na medida do possível, da sintaxe oral, meramente linear. Porém, essa linguagem plana ainda se utiliza de signos provenientes da linguagem oral, cuja forma é própria para um processo de escrita linear. Portanto, isso limita as possibilidades dessa linguagem. É possível, assim, justaposição, desmembramento, uso de tamanhos e formas variáveis de palavras (…) (PINTO, PIGNATARI, 1964)
A alteração da disposição do texto, a visualidade das formas e a junção de imagens nos poemas visuais foram uma das primeiras interações da poesia convencional com outros formatos, o que motivou e permitiu novas interações. Após o surgimento das experiências gráficas do Concretismo, a poesia visual também foi representada na poesia semiótica, no poema / processo (movimento da poesia concretista que propõe a criação de poemas inacabados, para que o leitor os termine, participando como co-autor da obra, com prioridade para o processo de criação em detrimento da obra final), poema-praxis (construção de poemas com base numa rede semântica), arte-postal (forma utilizada para divulgação da poesia visual), body-art, minimal art, grafitti, instalações e performances artísticas.
Os poetas do início do século XX tiveram na publicidade a oportunidade de trabalhar a interação entre textos e imagens, a disposição da mensagem no espaço do anúncio, a utilização e o preenchimento dos espaços em branco, as diferentes tipologias, entre outros elementos que por si só transmitiam mensagens de acordo com seu formato, criando novos signos verbo-visuais, novas mensagens. “O cartaz, como poesia, sugere mais do que diz, evoca imagens memorizadas, mas nesta evocação atrai uma série de conotações que lhe constituem um campo estético superposto ao seu campo semântico”. (MOLES, 2005, p.56)
Fig. 2: Olavo Bilac, Bromil cura tosse, anúncio publicitário, Séc. XIX.
“Além das figuras de linguagem, passa a existir a espacialidade entre as letras e palavras que se distribuem de maneira a formar imagens , para, tempos depois, a imagem visual ser acrescida à letra ou à palavra, produzindo novos significados”. (ANTÔNIO, 2008, p. 54)
A poesia visual também pode utilizar imagens já popularmente conhecidas e transmutá-las para inserção da mensagem poética, como no exemplo abaixo,em Philadelpho Menezesutiliza a imagem da tradicional caixa de chicletes aproveitando a semelhança da palavra “Chicletes” com o neologismo “Clichetes” (clichê), e esrutura sua mensagem com mais elementos espalhados pela imagem que dão consistência à mensagem, como as frases “Goma de Mascarar”, e “Sabor Mental”:
Fig. 2: Philadelpho Menezes. Clichetes, 1995
Também é possível observar o diálogo entre a forma e o conteúdo no poema abaixo, em que se utiliza a forma de um soneto em linhas de arame farpado. O poema torna-se duplamente representativo pela imagem, e pelo título da obra:
Fig.3: Avelino Araújo. Apartheid Soneto, 1988
No Brasil e no mundo, outra importante forma de expressão visual de artistas plásticos e poetas visuais com grande manifestação nas décadas de 60 e 70, foi a Arte Postal, surgida da necessidade de divulgação de suas obras por artistas que se viam sem espaço para expô-las ou excessivamente oprimidos, no Brasil pelo período ditatorial vigente e em diversos outros países por conta da Guerra Fria, utilizando este suporte como expressão artística e também como uma forma de protesto.
Considera-se o ano de 1962 como sendo o marco do surgimento da Arte Postal (Mail Art). A partir da criação da “New York Correspondance School of Art”, pelo artista americano Ray Johnson, assumindo o correio como um veículo de comunicação e expressão para integrar artistas de diferentes lugares. O movimento artístico de Arte Postal surge do interesse dos movimentos vanguardistas em buscar a utilização de novas tecnologias e novas técnicas como uma extensão do corpo do artista para atualizar formatos e gerar novas percepções.
O artista Paulo Bruscky, de Recife, um expoente desta arte no Brasil, promoveu em1975 a1ª Exposição Internacional de Arte Postal, impedida de continuar aberta pelos censores do regime militar, por expor obras como a seguinte:
Fig. 4: Paulo Bruscky. Título de eleitor cancelado, 1980.
Os experimentalismos da poesia visual não findaram no Concretismo, tendo sido observadas diversas experiências poético-visuais de diversos autores até os dias de hoje.
Fig. 4: Ives Perrine. Arte Postal, França, 1999.
A diferenciação da poesia visual com a poesia eletrônica se dá da seguinte forma:
O poema visual e o ciberpoema possuem um conteúdo de indeterminação presente no objeto e/ou atribuído pelo leitor. No poema visual ambos estão imbricados, apesar da maior ou menor habilidade do leitor de perceber as ligações; entretanto, elas são finitas pela própria natureza do objeto.
Diferentemente do poema visual, o ciberpoema exige um leitor atento e possuidor de habilidades técnicas. Com a interatividade o leitor torna-se co-autor da obra. (...) No ciberpoema a autoria é coletiva. É possível pensar um ciberpoema em sistema aberto no qual leitores anônimos colaborariam como autores anônimos em uma obra coletiva que, por definição, seria uma obra inacabada, indeterminada,em progresso. Estapossibilidade está vedada ao poema visual, pois, por definição, ele mantém a marca, o rastro do objeto de arte tradicional. (CAPPARELLI, Gruszynski e Kmohan, 2000)
2.2 Interações da poesia com diferentes formatos
As interações da poesia com formatos que diferem de seu suporte impresso, farão com que a poesia passe, primeiramente, por um “incorporamento” deste novo espaço, uma adaptação ao novo formato, gerando uma troca que permitirá ao artista descobrir as possibilidades existentes nessa interação que permitirão à linguagem poética predominar frente a este espaço.
A primeira condição para conseguir interagir com os novos formatos poéticos é a abertura para objetos de não-lugar. Na verdade, assumindo-se uma postura mais consciente, é possível perceber que a arte, em si mesma, sempre operou por atravessamentos, nunca atuandoem nichos. Bastalembrar como a poesia surgiu; ela nasce com a música e ganha força na tragédia grega quando texto e música não eram distintos, mas um complexo da tradição oral poética que perdurou até a baixa Idade Média. Portanto, a pureza de gênero não passa de ilusão de artistas e críticos. Ao longo da história das artes, podem-se observar processos de fricções entre elas e, assim, empréstimos de procedimentos para a construção de processos impossíveis no isolamento de escaninhos. (FERREIRA, 2010)
O uso de meios técnicos de expressão no campo poético se iniciaram por volta dos anos 50, marcando uma nova fase de criação poética, sucessora das vanguardas e por ela influenciadas, gerando várias poesias experimentais, como a poesia sonora.
A classificação proposta por Melo e Castro (1993), formula um breve histórico percorrido pelas formas expressivas pelas quais passou a criação poética:
1. Poesia visual – Caligramas de Apollinaire (poemas representando imagens utilizando califgrafia e ideogramas); experiências gráficas do futurismo; concretismo (brasileiro e internacional). Visopoemas (Lisboa);
Fig. 5: Guillaume Apollinaire, Caligramas.
Fig. 6: Décio Pignatari, Beba Coca-Cola.
2. Poesia auditiva – Experiências com a voz humana tratada ou não com o magnetofone; poesia rítmica ou poesia melódica com palavras, sílabas ou sons puros. Algumas experiências dadaístas e letristas. Composição direta em trilha sonora.
3. Poesia tátil – O poema é um objeto. Todas as formas de colaboração com artistas plásticos. Ready-mades. Objeto poema e poema objeto. Todos os processos de construção que dão ao poema um corpo material.
4. Poesia respiratória – Experiência de Pierre Garnier com o sopro humano.
5. Poesia lingüística – E.E. Cummings, James Joyce, Ezra Pound e muitos outros. Tentativas de criação de palavras e línguas novas. Poesia poliglota.
6. Poesia conceitual e matemática – Cibernética. Métodos permutacionais e combinatórios. Estrutura numérica da obra de arte. Experiência de Raymond Queneau (livro contendo10 sonetos, cada verso numa filipeta cortada. Pode-se combinar os versos da forma que quiser, de modo que, matematicamente, tem-se em mãos um livro com 100.000.000.000.000 de sonetos)
Fig. 7: Raymond Queneau, Cent Mille Milliards de Poèmes.
7. Poesia sinestésica – desenvolvimento das sinestesias. Produtos híbridos dos tipos de poesia já referidos.
8. Poesia espacial – Poema de Mallarmé: Um coup de dés (poema de versos livres e tipografia revolucionária que constitui a declaração trágica da impossibilidade de atingir o estabelecido no livro).
De um modo geral, o sentimento espacial manifesta-se como denominador comum de todas as formas atuais do experimentalismo poético. (MELO E CASTRO, 1993, p. 35-36).
No Brasil, segundo pesquisa cronológica de Jorge Luiz Antônio (2008), a primeira experiência notificada com a interação poesia-computador se deu em 1964, com Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto, a respeito de uma análise estatística do estilo literário por meio do computador; outro fato importante aconteceu em 1968, com a criação “Beabá”, de Waldemar Cordeiro, uma experiência artística e computacional com letras, em parceria com o físico Giorgio Muscati, da USP.
Eduardo Kac também teve significativos trabalhos de interação entre poesia e novos formatos; ainda segundo a cronologia de Jorge Luiz Antônio, são de sua autoria o primeiro poema digital, intitulado “Não”, apresentado em videotexto, e em 1983 o poema “Holo/olho”, primeira poesia holográfica criada. Em 1984, Kac iniciou o projeto “Eletropoesia” no Rio de Janeiro, com a integração do circuito interno de rádio e dois monitores de vídeo.
Mediante a constantes intervenções na poesia, questiona-se a modificação do formato poético em sua linguagem num nascimento de um novo formato, moldado pelas interferências dos suportes eletrônicos, que passariam, dessa forma, a construir “formas e estilos através da mutação dos seus instrumentos, ou seja, quando as rupturas da discursividade acontecem” (CASA NOVA, 2001, p. 73).
Como afirma Ana Paula Ferreira, a poesia eletrônica não está mais somente fundamentada no gênero poético:
Essa poesia imantada cada vez mais do digital não se manifesta com os pré-requisitos literários de gêneros e regras de composição. São objetos do não-lugar e que contam com a convergência de fatores os mais diversos para acontecer, tais como, além de cinema e literatura, programação de softwares, diversos tipos de edição sonora, animação, recursos 3D e, em vários casos, até mesmo da participação de games; há uma preocupação com a fusão de sistemas semióticos, busca da hipertextualidade, o poema podendo surgir de equações matemáticas. (FERREIRA, 2010)
Assim como rompe os padrões da literatura e poesia tradicional, a poesia eletrônica também não apresenta um padrão claro dentro de um gênero específico em meio digital, podendo se reinventar a cada criação, dependendo dos recursos e intenções do autor e dos formatos com os quais irá interagir. Podendo ter diferentes linguagens em conjunto, o poema eletrônico irá interagir com recursos visuais, sonoros, cinéticos, hipermidiáticos, de games, 3D, entre outros, concomitantemente ou não.
3 A INTERAÇÃO ENTRE AS LINGUAGENS
3.1 As linguagens da poesia eletrônica
Entendemos por linguagem qualquer conjunto de signos e o modo de usá-los, isto é, o modo de relacioná-los entre si (sintaxe) e com referentes (semântica) por algum intérprete (pragmática).
Nessa definição, enquadram-se não só todos os idiomas como também qualquer processo de sinalização de tráfego (rodoviário, marítimo, aéreo, espacial); linguagens de esquemas e diagramas (diagramas de bloco, diagrama de Venn etc.); linguagens de computadores; linguagem matemática e de lógica simbólica; linguagens audiovisuais, como o cinema etc. (...) As letras, palavras etc. são signos adequados à sintaxe de uma linguagem escrita linear. Esses signos – letras, palavras etc. – podem, em muitos casos, ser usados em uma linguagem não-linear; porém, as limitações são maiores do que as possibilidades. (PINTO, PIGNATARI, 1964)
A poesia eletrônica é uma forma híbrida que combina características das artes, da tecnologia e da poesia, fazendo a mediação entre elas, transportando, intervindo e intercambiando signos de uma linguagem para a outra, trazendo de todas as linguagens sua significação poética, de forma que isso resulte numa transmutação das três linguagens em uma linguagem nova, a linguagem tecnopoética (FUNKHOUSER, 1993; DAVINIO, 2002).
A partir dessa significação poética, a linguagem artística é reutilizada com função predominantemente poético-artística, e a linguagem tecnológica sofre intervenção da linguagem poética para passar a produzir a linguagem tecnopoética, e a linguagem tecnopoética transmuta a linguagem tecnológica com o auxílio da linguagem artística. A linguagem poética é uma forma particular de expressão, sem vínculos com a objetividade e com a realidade como ela é, mas sim com uma linguagem submetida ao gênero lírico: polissêmica, de formato não convencional, mais conotativa que denotativa, metafórica, metonímica, e que se desvia das normas estritas da linguagem em busca da expressividade; características que, na transcrição para a linguagem tecnopoética, favorecerão o uso das analogias sintáticas da intratextualidade, o espaço textual múltiplo da intertextualidade e os caminhos da leitura eletrônica não linear da hipertextualidade, por meio da sugestão lúdica de que o leitor faça conexões e explore links e hiperlinks. (ANTONIO, 2008, p. 36-70)
Assim como a linguagem poética se desvia das normas estritas da linguagem verbal, a linguagem tecnopoética veio de interferências na linguagem tecnológica por meio de figuras de linguagem poético-tecnológicas, que produzem novos significados particulares ao seu formato, reunindo suas possibilidades em experimentações sonoras, escritas, visuais e de significados.
A linguagem artística complementa esta poesia com imagens, cores, formas, o uso dos espaços, a tridimensionalidade e o atrativo da visualidade para produzir poemas visuais; e a linguagem tecnológica complementa essa poesia com sons, imagens, grafismos e animações, chegando à linguagem tecnopoética, que é o produto dessa poesia artística e tecnológica no espaço simbólico do computador e no ambiente da web.
Embora sejam categorias com elementos distintos, poesia e artes se encontram na mediação sígnica, na intervenção de uma forma na outra e na transmutação de uma em outra, pois a linguagem poética é essencialmente icônica e interdisciplinar, aspectos deste entrelaçamento que estão diretamente ligados ao saber e ao nível do fazer artístico do poeta, com sua possibilidade de utilizar os recursos da arte na poesia, seja como tema, vocabulário ou técnica artística aplicada à poesia.
O que deve predominar é um tratamento poético da linguagem artística, singularizando o objeto poético para oferecer-lhe novos significados, atraindo a atenção do leitor-operador (ANTONIO, 2008, p. 44-48)
Segundo Faustino, o poeta é aquele que é capaz de perceber os fenômenos naturais e sociais de modo especialmente sintético, e é também capaz de exprimir em palavras organicamente relacionadas, essa visão totalizadora de um mundo e de uma época. (FAUSTINO, 1977, p. 44)
Assim, o poeta que passará a fazer uso da tecnologia em seus poemas, inicialmente terá de entrar em contato com a tecnologia, mesmo sem dominá-la, passando a agir como um usuário, que aos poucos, de acordo com seu envolvimento, irá assimilando o conceito e as formas de uso das ferramentas tecnológicas, e passará, então, a dialogar semioticamente com estas tecnologias, quer utilizando-as em sua temática ou propriamente na formatação de seu trabalho poético pela infinidade de possibilidades expressivas que encontrará, e assim vai passar a produzir suas próprias poesias eletrônicas, e se deixar levar, assim como a sua obra, pela interação gerada pela inserção destas obras em rede.
Como homem de seu tempo, o poeta precisa entender os conceitos da tecnologia para uso pessoal e, em muitos casos, profissional. Passa a existir o uso da tecnologia e da máquina como signo, tema e possibilidade poética (ANTONIO, 2008, p. 30-31).
A tecnologia, tendo sido constantemente atualizada e renovada, gera também em torno de si, uma linguagem que constantemente se renova, e também necessita traduzir-se em seus termos para gerar significado, ou seja, necessita se fazer entendível, em termos mais técnicos ou mais simplificados, para quem a busca e interage com ela.
A possibilidade do uso apenas da temática tecnológica, mas sem ainda a interferência na forma das poesias, não as caracteriza como poesias eletrônicas, mas só o fato de se utilizar à linguagem comum do meio tecnológico, já representa uma mediação com a tecnologia, uma aceitação e valorização de sua existência para o meio poético, e até mesmo uma tradução do sentimento que a linguagem evoca: velocidade de comunicação, interatividade, conectividade, entre outros.
Quando utilizada para produzir a linguagem caracterizadamente tecno-artístico-poética, o poeta irá interagir com o uso lúdico da imagem tecnológica, pois seja pelo jogo, pelo experimentalismo, pela interatividade, aparecendo nos meios hipermidiáticos por meio de interfaces, para estimular o leitor a brincar com as palavras e delas vir a criar elementos construtivos da poesia eletrônica experimental apresentada, trazendo ao poeta o conceito de projeto em andamento, de obra aberta, que é o conceito da poesia eletrônica.
3.2 A linguagem hipermídia
Numa definição concisa, hipermídia, significa a integração sem suturas de dados, textos, imagens de todas as espécies e sons dentro de um único ambiente de informação digital (FELDMAN, 1995, p. 4).
De acordo com Vicente Gosciola, hipermídia é o conjunto de meios que permite acesso simultâneo a textos, imagens e sons de modo interativo e não linear, possibilitando fazer links entre elementos de mídia, controlar a própria navegação e, até, extrair textos, imagens e sons cuja seqüência constituirá uma versão pessoal desenvolvida pelo usuário, e os elementos audiovisuais de uma obra hipermidiática contam uma história, desenvolvem uma narrativa pela qual se molda única na sua expressividade, utilizando diversos meios e expondo diversos conteúdos interligados de forma simultânea (GOSCIOLA, 2003, p.18).
A hipermídia se configura como uma linguagem por não ser um mero suporte transmissor de mensagens, mas sim por ter características próprias a seu formato, como a forma gramatical de seu hipertexto, inclusive.
A hipermídia pode ser considerada uma extensão do hipertexto, incluindo além da palavra, elementos sonoros, visuais, animados, etc. de forma interativa, por uma fusão de meios que partem de elementos não lineares, e vai além do conceito de multimídia, que apenas reúne os meios existentes.
O conceito da interatividade está envolvido na linguagem hipermídia assim como está presente em toda a observação de arte, caracterizando a obra como artística no momento em que ela é percebida, em tosas as suas possibilidades de leitura.
Isso reforça a idéia da convergência das mídias para o mundo virtual, que já comporta, entre outros, filmes, jornais, programas de TV, livros e também poesias.
Esse conteúdo informacional hipermidiático se distribui e se multiplica pelo universo da rede, transmutando-se em versões que permitem ao internauta certa co-autoria na mensagem veiculada, incorporando a ela informações novas, opiniões, remodelagens e situando-a em novos contextos e em novos hiperlinks.
Lúcia Leão (2005) define para a produção artística na internet o conceito de obra em potencial e de literatura em potencial: “Nesse tipo de poética, os elementos constitutivos estão empilhados, e é só no ato da leitura que a obra se realiza”.
Este conceito vai além do conceito de obra aberta (ECO, 1971), que fala sobre a multiplicidade de leituras na mensagem artística de uma obra de arte, e amplia a possibilidade de leituras de uma obra pela ampla possibilidade de criações dentro dela mesma, por meio da interação do leitor, que vê a obra sendo criada e recriada diante de seus olhos de acordo com suas ações diante da tela.
As possibilidades do hipertexto na poesia eletrônica vão muito além da convergência de diferentes linguagens. Elas abrem também uma janela para a interatividade, isto é, a participação do navegador no poema, numa interação que tem por base um processo de controle e resposta entre o usuário e o computador (Quéau, 1991; Cotton, 1995; Longhi, 1999).
Segundo o artista canadense David Rokeby (1997), a interatividade pode ser compreendida como uma forma de expressão artística, pois se define no momento em que a obra reflete de volta para nós as consequências de nossas ações e decisões, afirmando ainda que a parte mais importante da descoberta da obra interativa é o próprio reflexo do self que a obra de arte lhe apresenta após a experiência. É nesse processo de quase auto-conhecimento por meio da arte que a interação na web trará ao leitor o sentimento de expressividade artística que o fará atuar como co-autor da obra potencial em rede.
3.3 Denominações e conceitos da poesia eletrônica
A poesia eletrônica define-se por um formato construído com as linguagens técnica, artística e poética, acontece no computador e normalmente em rede, e é caracteristicamente contemporânea, podendo conter, além de seu texto poético, a junção de imagens animadas ou não, grafismos, sons, interatividade, hipertextos e conexões hipermidiáticas. Essas junções passam a produzir novos significados, novas sequências de leitura e novas percepções de uma mesma obra em diferentes apreciadores.
A poesia eletrônica também recebe outras denominações comumente encontradas ao se pesquisar o assunto: ciberpoesia, poesia cibertextual, poesia interativa, poesia digital, tecnopoesia. A terminologia varia de autor para autor, e alguns termos são criados ou recombinados frequentemente, não permitindo aindaa definição deum termo fixo para estudo.
Segundo pesquisas de Jorge Luiz Antônio (2009), mais de 80 termos foram listados, e cada nome corresponde a um estágio da tecnologia, sendo os mais utilizados “computer poetry” para a maioria das línguas, exceto o francês, que normalmente conceitua o termo como “poésie numérique”, sendo também muito utilizados os termos “poesia digital” e “ciberpoesia” nos primeiros momentos.
“Poesia eletrônica”, segundo ele, é o termo mais frequentemente utilizado nos ambientes acadêmicos responsáveis pelo estudo e desenvolvimento do tema, e é, portanto, mais comumente reconhecido no meio poético de quem cria seus trabalhos neste formato e busca caracterizá-lo em seu contexto histórico.
A poesia eletrônica é uma continuidade da poesia em seu formato tradicional, sendo uma poetização das tecnologias computacionais existentes, e o termo “eletrônica” indica uma poesia híbrida, que envolve poesia, artes e tecnologia, culminando numa consumação do que a poesia propunha antes somente ao nível do imaginário.
Jorge Luiz Antônio mostra ainda com sua pesquisa que a poesia eletrônica teve seu início em 1959, com a experiência textual “Stochastische Texte” (textos estocásticos), de Theo Lutz, que consistia na escolha das 100 primeiras palavras de “O Castelo”, de Franz Kafka, partindo para a criação de novos textos a partir delas, utilizando um programa computacional que produzia as novas frases em alemão.
A hipermídia é o termo utilizado para definir a tecnologia que engloba recursos de outras mídias (multimídia) e o hipertexto, que é o tipo de documento digital que permite ligações cruzadas entre diversas partes de um mesmo documento ou de documentos diferentes, e estas ligações são realizadas por meio de hiperlinks ou links (elos) entre os diferentes pontos do sistema hipertextual.
A hipermídia, pois, é uma forma combinatória e interativa da multimídia, onde o processo de leitura é designado pela metáfora de “navegação” dentro de um mar de textos polifônicos que se justapõem, tangenciam e dialogam entre si. Abertura, complexidade, imprevisibilidade e multiplicidade são alguns dos aspectos relacionados à hipermídia. A partir do momento em que o usuário pode interagir com o texto de forma subjetiva, existe a possibilidade de formar sua própria teia de associações, atingindo a construção do pensamento interdisciplinar. (PLAZA, 1990)
Um sistema hipermidiático tem como principais características, a organização, a articulação e a complexidade; as buscas não-lineares só são possíveis porque houve um trabalho previamente organizado sequencialmente. (LEÃO, 2005)
Estas ligações hipertextuais promovem o acesso ao conteúdo de forma não-linear e múltipla, dando ao leitor a possibilidade da descoberta da mensagem como em um labirinto. Não é possível ao poeta ou programador prever o caminho do leitor neste labirinto, mas ele pode criar combinações de links e caminhos que farão com que o leitor possa apreciar a obra da forma completa e lógica.
O ciberpoema (ou poema eletrônico) possui em si mesmo todos os recursos necessários para a navegação através dele.
Sua interface gráfica – modelo interativo que envolve sistemas que trabalham sobre os indicativos de tela baseados em janelas (windows), ícones, menus e ponteiros – compreende um jogo entre frames que se seguem em uma janela principal. Nas duas primeiras partes, conforme apresentado anteriormente, o leitor pode apenas “assistir” à seqüência de frames (pensando aqui nos recursos do próprio hipertexto). (CAPPARELLI, Gruszynski e Kmohan, 2000)
A interface é o elemento que gera ferramentas para a ligação física ou lógica ente partes de dois sistemas de informações para obter um resultado que é comum a estes sistemas; as interfaces semióticas conectam os signos das linguagens tecnológica e poética, culminando na linguagem tecnopoética.
4 POESIA E COMPUTADOR
4.1 A Cibercultura e o Ciberespaço
“Ciberespaço é o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”. (LÉVY, 1999, p. 92).
Pensar a linguagem poética no meio informacional que dá vida ao ciberespaço é abrir-se para uma nova epistemologia dos processos cognitivos envolvidos quando se trata dos elementos que dão sustentação para a poesia na contemporaneidade. (FERREIRA, 2010)
Trata-se de um novo espaço de comunicação e troca, envolvendo sociedade, tecnologia e cultura, e que difere das mídias convencionais, trazendo potencialidades de interconectividade a serem exploradas em diversos âmbitos, sendo a comunicação literária um dos principais terrenos para a expansão desta comunicação cibernética.
Para entender o ciberespaço, necessitamos definir o que é cibercultura, que de acordo com Lévy, é o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, lugar onde se desenvolvem tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam diversas funções cognitivas humanas, como a percepção, a memória e o raciocínio, e ainda:
A cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura. De acordo com a tese que desenvolvi neste estudo, a chave da cultura do futuro é o conceito de universal sem totalidade. Nessa proposição, "o universal" significa a presença virtual da humanidade para si mesma. O universal abriga o aqui e agora da espécie, seu ponto de encontro, um aqui e agora paradoxal, sem lugar nem tempo claramente definíveis....
O horizonte de um ciberespaço que temos como universalista é o de interconectar todos os bípedes falantes e fazê-los participar da inteligência coletiva da espécie no seio de um meio ubiqüitário. (LÉVY, 1999, p.247)
Assim, a rede é um universo que poderá ser culturalmente enriquecido, de acordo com as interações e experimentações nele realizadas dentro de suas principais característica, que são a constante atualização de informações e a interatividade. Em seu contexto de universalidade, a web gera a idéia de uma comunidade global, ainda que desigual, como a própria sociedade é, mas interligada por meio digital.
O conceito de Lévy de “universalidade sem totalidade”, é algo novo se comparado aos tempos da oralidade primária e da escrita. A web é universal, pois gera a interconexão em grande escala, mas possui em si a pluralidade de sentidos, dissolvendo a totalidade. A interconexão mundial de computadores forma a grande rede, mas cada nó dela é heterogêneo e diverso em assuntos, abordagens e discussões, que estão em constante mudança.
O desenvolvimento deste sistema universal sem totalidade que é o ciberespaço, segundo Lévy, partindo do mais básico até o mais elaborado, possui três princípios que orientaram o seu crescimento inicial: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. (LÉVY, 1999, p.127)
A cibercultura não é apenas um cultura que é fruto da tecnologia, mas sim uma cultura que incorpora elementos tecnológicos constantemente, imprimindo na comunicação características de atemporalidade e quebra dos limites espaciais, como afirma Lemos:
O ciberespaço é a encarnação tecnológica do velho sonho de criação de um mundo paralelo, de uma memória coletiva, do imaginário, dos mitos e símbolos que perseguem o homem desde os tempos ancestrais. Nos tempos imemoriais, a potência do imaginário era veiculada pelas narrações míticas, pelos ritos. Eles agiam como um verdadeiro ‘media’ entre os homens e os seus universos simbólicos.
Hoje, o ciberespaço funciona um pouco dessa forma. Ele coloca em relação, ele incita a abolição do espaço e do tempo, ele transforma-se em lugar de culto secular e digital. (LEMOS, 2004)
O padrão midiático de envio de mensagens passa do antigo modelo “um para muitos” para o diálogo de “todos para todos”, dentro da amplitude de canais para esta comunicação, com blogs, chats, redes sociais, fóruns, etc.
Além da multiplicidade de canais de comunicação, com a popularização da internet pessoal e móvel em celulares, notebooks, e redes wi-fi em todos os lugares, a comunicação cibernética está presente para o indivíduo em tempo real, acompanhando- em todos os momentos.
A arte, neste contexto, se insere não mais da forma tradicional, contemplativa e estática, mas sim móvel, interativa, navegável e mutável.
4.2 O computador como ferramenta e nova forma de divulgação literária
Para o poeta, sempre foi necessária a incorporação de alguma ferramenta ou artifício para que sua mensagem fosse transmitida, fossem as remotas penas e tinteiros, ou as canetas e os papéis, a máquina de escrever ou os computadores e impressoras, os poetas sempre lidam com as novidades de forma a incrementar e facilitar sua produção poética, acompanhando os avanços tecnológicos e indo de encontro aos anseios de seu público.
Como cada época apresenta novos meios de produção da arte, o artista também se vê diante de um outro desafio que é o de “enfrentar a resistência ainda bruta dos materiais e meios do seu próprio tempo, para encontrar a linguagem que lhes é própria, reinaugurando as linguagens da arte” (SANTAELLA, 2005, p. 250).
Com a internet isso não seria diferente; num mundo em que a informação viaja cada vez mais rápido mundialmente, e a infinidade de possibilidades de entretenimento estão cada vez mais acessíveis, a sobrevivência e a expansão da informação, também valendo para a mensagem poética, estão em parte condicionadas a sua capacidade de divulgação, e a rede vem sendo, para muitos poetas, a melhor forma de sair do “escuro” e poder ter seus trabalhos publicados, ou simplesmente reconhecidos.
O aparecimento da poesia digital transcorreu como uma tradução intersemiótica (passagem de um sistema de signos para outro por meio de uma recriação da linguagem), que utiliza a hibridização de diversas linguagens, aproveitando-se da convergência das mídias para o meio digital.
O autor tem, no computador, as vantagens da rápida transcrição, da multiplicidade de formatos de armazenamento e da facilidade de editoração como escolhas certas para criar e manter seus trabalhos, mas ao se familiarizar com a linguagem computacional e da web, muitos autores passam a enxergar nelas também as possibilidades de retrabalhar sua obra e acrescentar a ela recursos que a farão mais representativa e mais rica em significados.
Explorar as ‘possibilidades’ de um sistema significante implica precisamente colocar-se no limite, submeter-se à lógica do instrumento, endossar o seu projeto industrial, e o que faz um verdadeiro poeta dos meios tecnológicos é justamente subverter a função da máquina, manipulá-la na contramão de sua produtividade programada. (MACHADO, 1996, p. 15)
Jorge Luiz Antônio fala sobre como se dá este envolvimento do autor com as possibilidades de uso do computador e suas diversas linguagens de programação:
O convívio do poeta com a linguagem de programação vai sendo incorporado ao fazer poético, produzindo uma linguagem ininteligível, que apresenta formas e sugere significados diversos. É um material que o sistema produz e acaba sendo reaproveitado pelo poeta como forma de comunicação poética e se assemelha às experiências concretistas com letras e espaços em branco ou o uso de jornal nas colagens. (ANTONIO, 2001, p. 187-208)
A web apresenta grandes vantagens para os autores de poesia, que além de poder utilizar o computador para redigir e armazenar seus trabalhos e incrementá-los com softwares específicos para que possam expressar todas as potencialidades do texto, também poderão divulgar seu trabalho para reconhecimento mundial, em quantas línguas e endereços da web desejarem, conseguindo ali, muitas vezes, sua única chance de ter sua obra publicada, face às poucas oportunidades do saturado mercado editorial.
O poeta tem, pela internet, além da capacidade de poder se fazer ser visto, a possibilidade de ver outros poetas, de diversos lugares, com as mais variadas idéias e formas de apresentação de suas poesias, e pode também se afiliar a sites que abrigam comunidades virtuais de poesia, e interagir para criar novos projetos colaborativos em co-autoria com artistas de diversas localidades, criando um trabalho que muitas vezes poderá ser visto, lido e entendido independentemente das barreiras da linguagem e da distância, por um público muito mais amplo.
Essa é a tendência mais representativa da poesia contemporânea, e podemos constatar isso pelo fato de que não há muitos poetas novos sendo publicados por grandes editoras, mas há uma vastidão de poetas na web, com trabalhos significativos, parcerias notáveis e com diversos projetos sendo desenvolvidos dentro e fora da rede.
Alguns grupos de poetas com sites e comunidades próprios expandem seus trabalhos do que foi criado por meio do computador para a publicação de antologias, pois apenas assim, co-participativamente, é que tiveram facilitado o seu acesso à publicação de livros impressos, desta forma, a internet também atua como facilitadora da perpetuação da criação e divulgação literárias convencionais, mantendo viva a expressão poética pela facilidade de comunicação na internet e também a ajudando a permanecer viva em seu formato tradicional.
O interesse dos poetas tecnológicos por gerar obras interativas está normalmente mais focado no processo de criação artística e na exploração estética do que na produção de obras acabadas (PLAZA, 1990). As interações semióticas com a tecnologia são o fruto de uma busca do poeta pelo novo e por se atualizar de acordo com seu tempo, podendo utilizar sua criatividade em meio às possibilidades deste universo para prover novos signos e novos significados para a poesia.
A poesia sempre buscou, em diversas épocas, a reinvenção e o novo; e seja qual for sua forma, a linguagem, ou o meio em que essa poesia se apresente, o poeta continua sendo sempre o poeta, com ou sem a tecnologia, e independente do suporte, há a leitura da poesia, que continua sendo sempre poesia. A palavra poética está presente em todas as poesias eletrônicas, e determina a configuração do poema; e a utilização dos recursos tecnológicos é uma experimentação que pode possibilitar o desenvolvimento de inúmeras potencialidades e vocações naturais da poesia há muito inexploradas, pelas restrições da linguagem escrita.
4.3 Poesia e Internet
Um dos grandes atrativos da apreciação da poesia eletrônica via internet, é o que a interação acrescenta a esta experiência. O leitor, que necessita realizar ações propostas pelo site para por fim contemplar o poema, aceita o convite para ser também um pouco artista, e pode ver no resultado final de seus cliques uma obra que é um tanto sua, seja pelo que foi acrescentado ao poema, ou pelo simples fato de se ter guiado o poema ao seu resultado final.
A interatividade como relação recíproca entre usuários e interfaces computacionais inteligentes, suscitada pelo artista, permite uma comunicação criadora fundada nos princípios da sinergia, colaboração construtiva, crítica e inovadora. (PLAZA, 1990)
De acordo com Domingues (1997), quando falamos em interface, temos que pensar no contato de superfícies diferentes que se conectam de alguma forma, o que faz com que corpos diferentes partilhem de uma mesma decisão. No caso das tecnologias interativas, “estão conectados o corpo biológico e o corpo sintético das máquinas, a mente do homem e a mente de silício do computador” (DOMINGUES, 1997, p. 25).
Além das poesias eletrônicas construídas em meio digital, que muitas vezes não encontrariam suporte em outros meios, como o impresso, há na rede diversas releituras de poemas consagrados, que são encontradas reformatadas em poesias eletrônicas, fazendo um elo com o passado e convidando novos leitores, que além de apreciar o trabalho tecnológico atrativo dos poemas, também irão sentir o envolvimento com a poesia por seu conteúdo simbólico.
Os novos meios tecnológicos passam de ferramentas a processos, que deverão ser desenvolvidos pelo usuário, ou leitor co-autor, e que passam a ser mais um trajeto que um sujeito no processo criativo.
A poesia tradicional transportada para o formato eletrônico poderá revelar muito mais de seu potencial de despertar significados simbólicos, e também encontrar um caminho para todo o seu potencial inovador, que já carregavam em seu formato escrito em suas respectivas épocas, e nem sempre conseguia expressar-se da forma com que seus autores as imaginavam.
O uso da web para a divulgação das poesias eletrônicas, criadas ou recriadas com recursos gráficos, sonoros e interativos, pode ser um convite ao leitor que não se interessa tanto pela leitura de livros impressos e nem por poesia, para que se torne, além de leitor, co-criador destas poesias.
O processo de criação de poesias na internet necessariamente muda, é diferente por requerer algum conhecimento técnico em programas de computador específicos, sejam mais simples ou mais complexos, mas as intenções da poesia não deixam de prevalecer, pois o poeta irá buscar recursos e técnicas no computador e na web para que a poesia fique como imagina.
Jorge Luiz Antônio disserta sobre a diferença primária entre a poesia que é redigida no computador e a poesia eletrônica, feita com os recursos computacionais:
Há dois momentos das negociações da poesia com a tecnologia computacional: uma poesia que é feita no espaço simbólico do computador isoladamente, e uma poesia que passa a ser feita na rede de computadores. A primeira limita-se a apresentar o resultado no monitor do micro em forma impressa, mesmo que em várias partes, ou parcialmente; a segunda, por ser hipertextual, hipermidiática e animada, é somente reproduzida nos mais diferentes monitores dos computadores ligados em rede e sofre as variações e limitações característica destes receptores. (ANTONIO, 2008, p. 155)
Todas essas facilidades de um espaço aberto oferecido pela internet também acabam sujeitam a poesia a um problema que atinge a maioria das informações em rede: a qualidade do que é escrito, já que não há critérios nem restrições ao conteúdo publicado, geralmente, há mais quantidade do que qualidade. No entanto, em termos gerais, essa produção é o que vai deixar frutos para a categorização da poesia contemporânea e sua identidade no meio digital, e dados o volume de criação, será possível, com o tempo, parametrizá-la.
O meio impresso, para a literatura poética ainda é mais acessível, embora sua forma estática seja limitadora, pois a poesia em meio virtual ainda requer que o leitor possua o equipamento adequado, conexão a internet, e muitas vezes ainda pode necessitar de aplicativos e softwares específicos para a completa visualização de uma obra.
4.4 O leitor da poesia eletrônica
“Leitura” é um termo que abrange o decifrar dos elementos textuais transcorridos, ou a visualização completa de todo o elemento emissor de significado presente no material a ser
lido, e também a compreensão de suas inter-relações.
(…) a leitura é um processo cognitivo que envolve aptidões auditivas e visuais e as suas inter-relações dialéticas. Em nenhuma circunstância se pode pensar na leitura em termos exclusivos de percepção visual, nem mesmo até em termos de um processo cognitivo-visual (FONSECA, 1999).
Além do leitor no espaço dos livros, há ainda o leitor de várias linguagens: de imagens, de jornais, de gráficos, de mapas, dos signos e símbolos da cidade, do cinema e de múltiplos meios. A esses leitores, soma-se o leitor das imagens da computação gráfica e o leitor de textos escritos das telas eletrônicas, que transita pelas redes virtuais, navegando no ciberespaço (SANTAELLA, 2004, p. 18).
Dentre os poemas eletrônicos, existem os que são apenas visualizados pelo leitor automaticamente ao se digitar um endereço eletrônico ou abrir-se um CD-ROM, e ainda os que são parcialmente ou totalmente abertos à interação.
Face aos crescentes novos formatos e suportes de visualização de textos escritos, que vão muito além do livro impresso no meio da internet, faz-se necessário entender as diferenças na percepção e no processo de entendimento desse ciberleitor, ao defrontar-se com hiperlinks, links, imagens, sons, associações e combinações cognitivas, que requerem uma visualização não somente das palavras, mas também das imagens e signos plurissignificativos destas mensagens.
A leitura de mensagens hipermidiáticas requer, além da capacidade de compreensão do texto escrito convencional, a capacidade de navegar pelo espaço multidimensional do sistema. (LEÃO, 2005)
Segundo Santaella (2004), o termo “interatividade” apareceu na França no final dos anos 70 em meio a discussões que buscavam diferenciar, no âmbito da telemática, os serviços interativos dos serviços difundidos, e significa um processo pelo qual duas ou mais coisas produzem um efeito uma sobre a outra ao trabalharem juntas, processo que favorece o “tornar-se autor”, pois reformula os espaços de leitor e editor, que “trabalham” juntos no amibente virtual.
Dentro do conceito de leitor, Lúcia Santaella (2004) define três tipos de leitor: o contemplativo, o movente e o imersivo, meditativo da era pré-industrial, o leitor da era do livro e da imagem expositiva. O leitor contemplativo é o que nasce no Renascimento e perdura hegemonicamente até meados do século XIX. O leitor movente é o leitor do mundo em movimento, dinâmico, mundo híbrido, de misturas sígnicas, um leitor filho da revolução industrial e do aparecimento dos grandes centros urbanos, o homem na multidão. Esse leitor, que nasce com a explosão do jornal e com o universo reprodutivo da fotografia e cinema, atravessa não só a era industrial, mas mantém suas características básicas quando se dá o advento da revolução eletrônica, era do apogeu da televisão. O terceiro tipo de leitor, o leitor imersivo, é aquele que começa a emergir nos novos espaços incorpóreos da virtualidade.
O leitor imersivo é o que está em meio ao fluxo de conteúdo gerado pela internet, criando um trânsito de informação constante em uma alternância entre os papéis de receptor e emissor.
Mesmo que as interfaces mudem, o leitor imersivo continuará existindo, pois navegar significa movimentar-se física e mentalmente em uma miríade de signos, em ambientes informacionais e simulados. Portanto, as mudanças cognitivas emergentes estão anunciando um novo tipo de sensibilidade perceptiva sinestésica e uma dinâmica mental distribuída que essas mudanças já colocaram em curso e que deverão sedimentar-se cada vez mais no futuro. (SANTAELLA, 2004, p. 184).
As mensagens geradas por essas trocas advindas do fluxo de informações tem como característica a rapidez de sua difusão e vastidão de conexões (hiperlinks), processo que requer do leitor certa rapidez cognitiva e sensorial para acompanhar o labirinto da internet, e nesse processo, o leitor acaba criando um documento digital com o resultado de suas pesquisas e descobertas, ou seja, um universo particular trilhado na rede.
A leitura da poesia eletrônica torna ainda mais sensorial a percepção da mensagem poética recebida pelo meio digital, pois é criada para extremar o conteúdo simbólico pela visualidade e interatividade envolvidas.
Alguns trabalhos ainda são meramente explorações ilustrativas. Mas há que se pensar que uma boa parte deles foi elaborada ainda numa época primária em termos de soluções tecnológicas. Naqueles de tendência mais concretista, o verbivocovisual salta aos sentidos sensoriais realizando de modo pleno (em vários casos) as maiores aspirações do poetas concretistas. (FERREIRA, 2010)
A não-linearidade é uma característica constante no processo da leitura da poesia eletrônica na Web, a leitura não apresenta uma sequência fixa. Numa pesquisa, por exemplo, ao consultar o termo poesia eletrônica, o leitor se depara com uma infinidade de endereços, tendo entre os resultados, normalmente, hiperlinks diferentes para uma mesma obra, além de resultados de imagens, vídeos, o que gera, ao final, uma resposta vastíssima do buscador, que poderá trazer resultados que nem se imaginava encontrar, e que não será possível se repetir da mesma maneira em sua próxima busca, mesmo que se utilize o mesmo tema, pela rotatividade da informação disponível, e por se encontrar na Web infinitas opções de hiperlinks, ficando difícil até para o usuário estabelecer um caminho na rede para determinada informação.
O entendimento desta não-linearidade pode ser mais facilmente assimilado se comparado, na literatura tradicional, a alguns artifícios há muito utilizados como quebras de estrutura pelos autores, como notas de rodapé, referências bibliográficas, índices de imagens, entre outros.
A literatura na Web vem como um facilitador para que o autor possa ampliar o espectro do que transplanta de sua imaginação para seu texto, mantendo as antigas possibilidades de não linearidade, trazendo novas possibilidades de combinações sinestésicas e trazendo a vantagem da constante possibilidade de recombinar-se um texto e de deslocar-se quase instantaneamente por seus trechos.
Os componentes básicos do hipertexto – lexias, “links” e a estrutura da página web - permitem realizar aquilo que vários poetas, desde as vanguardas, procuraram fazer no espaço físico (bidimensional e tridimensional): liberar a poesia do meio impresso e lhe dar a autonomia do diálogo ‘direto’ com as linguagens não vitais. (ANTONIO, 2008, p.67)
Essa linguagem tecnológica utilizada para recriar as referências não-lineares presentes em obras literárias é muito favorável na transcrição da linguagem poética para a linguagem tecnológica, pois a não-linearidade é uma das principais características do sentido da poesia, além da multiplicidade de significados e de conexões de idéias que a poesia expressa pelas características da linguagem poética.
4.5 Interação e co-autoria na poesia eletrônica
Este perfil de leitor que interage com os espaços virtuais e descobre uma obra literária de acordo com suas ações e cliques, acaba criando seus próprios “labirintos” na rede. Isso faz do leitor um agente ativo no processo de atualização da obra hipermidiática. (LEÃO, 2005)
Autor, leitor e obra não ocupam espaços delimitados como na leitura de uma obra estanque, mas invertem papéis constantemente, modificando a estrutura e a visualização da leitura poética.
“Os textos eletrônicos se apresentam por intermédio de suas dissoluções. Eles são lidos onde são escritos e eles são escritos ao serem lidos.” (JOYCE, 1995, p.235)
Isto se reafirma por ser impossível prever, dentre os caminhos pré-programados em HTML ou outras linguagens, qual será a ordem das escolhas do leitor interagente.
A interatividade para este leitor virtual o permite também explorar e manter diversas “identidades”, representado variados papéis em cada ambiente virtual em que estiver presente por meio das conexões e mensagens que cria, lê, comenta e distribui.
Esse universo colaborativo da rede aumenta o envolvimento do leitor com a obra poética digital, e propicia uma experimentação única, com uma participação efetiva e imaterial à poesia digital:
A interatividade como relação recíproca entre usuários e interfaces computacionais inteligentes, suscitada pelo artista, permite uma comunicação criadora fundada nos princípios da sinergia, colaboração construtiva, crítica e inovadora. (...) Os conceitos de “artista”, “autor” e “poética”, a imaterialidade da obra de arte, a recepção, as artes de reprodução e mesmo o conceito de reprodutibilidade encontram-se, atualmente, revolucionados. (...) O artista da comunicação e sua obra interativa só existem pela participação efetiva do público, o que torna a noção de “autor”, conseqüentemente, mais problemática. O estado de coisas nos conduz à absoluta necessidade de redefinir”, também, o conceito de artista.
À materialidade da obra, sua diferença, está no novo modo de apreensão, na sua gênese, sua estrutura aberta ao público e na reprodutibilidade sem limites. (PLAZA, 1990)
A criação poética passa a ser “um processo, não uma inspiração, o criador não está mais ‘envolvido’ por sua obra, ele está na sua origem; e o pensamento artístico tem direito de precedência sobre sua realização”. (MOLES, 1990, p.111)
Neste pensamento, qualquer poesia pode ser recriada em formato de poesia eletrônica, dada a infinidade de artifícios e recursos digitais da Web e de programas gráficos e de editoração existentes.
Assim, uma obra poética clássica pode ser recriada digitalmente e ter um co-autor para seu projeto gráfico-poético, e ainda permanecer suscetível à interatividade, permitindo extensões gráficas, sonoras e textuais de mais algum ou até mesmo de vários autores, que acrescentem cada um uma nova característica ao trabalho, deixando-a uma obra inacabada, em constante processo de modificação.
Para Roy Ascott (1991), a arte interativa designa um amplo espectro de experiências inovadoras que se utilizam diversos meios, sob a forma de performances e experiências individuais em um fluxo de dados (imagens, textos, sons), ainda com diversas estruturas, ambientes ou redes cibernéticas adaptáveis e inteligentes de alguma forma, de tal maneira que o espectador possa agir sobre o fluxo, modificar a estrutura, interagir com o ambiente, percorrer a rede, participando, assim, dos atos de transformação e criação.
Julio Plaza discorre sobre o aprofundamento das funções do leitor por meio da interatividade, culminando na participatividade no seu resultado final:
No hipertexto, o leitor é também um pouco escritor, pois, ao navegar pelo sistema, vai estabelecendo elos e delineando um tipo de leitura.
O principal problema da leitura, agora transferido para as questões da interatividade, é o da qualidade da resposta, qualidade da significação, ou seja, qualidade do interpretante. É aqui que reside o nó da questão, pois todo leitor escolhe e é escolhido. Neste sentido, o leitor interativo deve escolher as melhores opções que lhe convêm para se manifestar, como leitor criativo ou não. (...) Entre escrita (produção de sentido) e leitura (apropriação de sentido) há diferenças, pois ler é reescrever para si o texto, e escrever é o encadeamento de leituras. Entretanto, a navegação interativa não é, ainda, uma escrita, já que toda a leitura é uma reescrita interna do texto lido. Leitura e escrita, mesmo em suportes estáveis, não podem ser isoladas uma da outra, pois entre a apreensão do sentido e a criação, na escrita, interpõem-se a capacidade e a competência com a linguagem. (PLAZA, 1990)
Sob este ponto de vista, uma obra poética digital está aberta para ser moldada por várias mãos, mas continuará a ter distintos a sua estrutura (poética) do seu desenvolvimento criativo (estético) ao longo de suas releituras, e mesmo tendo o papel de autor apropriado pelo leitor, a autoria não deixa de existir, pois ao interferir na obra, este exerce a função de autor, empregando sua linguagem própria no processo. Este paradoxo não delimita quem cria e quem usufrui, ninguém e autor e todos são autores, e a obra se cria no decorrer do diálogo.
5 EXEMPLOS
Os poemas eletrônicos normalmente oferecem um sistema de ícones para guiar a navegação, mas alguns experimentos poéticos também podem formular seus poemas ocultando estes ícones, fazendo da busca por um direcionamento, parte da interatividade e da proposta do poema.
Um exemplo da interatividade e da possibilidade de co-autoria pelo leitor, é o "Cent mille milliard de poémes" baseado no projeto de 1961, de Raymond Queneau, que propunha a combinação aleatória de versos em um soneto, de uma base de dez páginas com catorze versos recortados, e que hoje pode ser visualizado em um site na internet que embaralha os versos randomicamente pelo simples acessar da página, e gera um novo poema a cada clique para recarregá-la. Aqui se visualizam os conceitos de obra potencial já explicitados, e também a visão da co-autoria e participação do leitor na obra final, pois mesmo não a tendo re-escrito, foi necessário seu acesso à página para que a obra pudesse acontecer.
Fig. 8: Raymond Queneau, Cent mille milliards de poèmes.
A co-autoria de trabalhos poéticos clássicos para versões em poesia eletrônica é frequente, como exemplo da poesia abaixo, de Paulo Leminski:
Fig. 9: Paulo Leminski, Charme.
A interação do leitor é feita ao sugerir que o interruptor da imagem acima seja acionado com um clique do mouse, o que resulta na navegação para a parte restante do poema visualizável:
Fig. 10: Paulo Leminski, Charme
Desta forma, foi inicialmente feita uma co-autoria do poema ao se recriá-lo de forma interativa com o uso das imagens e hiperlinks, mas também se necessita da visualização e interação de cada leitor para que o entendimento a obra aconteça, exemplificado o conceito de “Obra potencial”, a obra só acontece com a participação ativa do leitor.
A obra a seguir é de Jordons Francisco, artista brasileiro, e contém hiperlinks para duas diferentes poesias eletrônicas:
Fig. 11: Jordons Francisco, link para Autocidade e Blind.
Ao clicar-se na figura da esquerda, o leitor é guiado ao poema “Autocidade”, e visualiza uma animação gráfica que traz repetidamente a mensagem com sons “AutoCidadeProximidadeJuntoColadoBeijoAutomóvelGestoCongestionadoTrânsitoApertoAladoAtadoAbraçoFechadoCidade”:
Fig. 12: Jordons Francisco, Autocidade.
Ao clicar na figura da direita, o leitor é direcionado ao poema “Blind”, e visualiza uma nova tela com várias imagens clássicas, em que ao se passar o mouse, revelam letras, que formam a frase “Knowlege still reamains blind!”:
Fig. 13: Jordons Francisco, link para Autocidade e Blind.
6 CONCLUSÃO
Num momento em que a cultura é reconfigurada com as inserções e avanços tecnológicos, há que se repensar todas as formas de arte dentro do ambiente tecnológico da web, que pulula de opções e ferramentas para se ver e fazer a arte, com todo o contexto de uma nova linguagem e uma nova forma de comunicação artística.
É esta nova linguagem que vai ditar os caminhos da poesia eletrônica, que se delimita ao espaço do computador, mas se estende infinitamente pelos espaços da rede.
A apreciação, assim como a criação destas poesias eletrônicas ainda está sujeita ao domínio técnico de tantos recursos tecnológicos, e esse pode ser um fator ainda muito restritivo, ou, num problema contrário, ser apenas atrativo como mais uma forma de entretenimento pela função tecnológica apenas, desprezando-se o caráter poético.
Desta forma, a poesia eletrônica requer um caráter mais crítico do que flexível, para que se valorize a linguagem poética em detrimento de qualquer outra forma, admitindo da hibridização das tecnologias apenas suas características agregadoras de sentido, e não excludentes.
Segundo Santaella (2003), os artistas questionam o conceito de arte todas as vezes em que se apresentam novas propostas quanto à natureza da arte. Sempre que o artista começa a falar uma outra linguagem, distinta das que o precederam, as fronteiras, as funções, o lugar social e, sobretudo, o conceito de arte tem que ser renegociados. Quando novos suportes tecnológicos aparecem, são os artistas que sempre tomam a iniciativa de explorar as possibilidades que se abrem para a criação.
O uso da tecnologia para a poesia propicia, por sua disseminação e atualização constantes, a conquista de muitos leitores em potencial, atraídos pela modernidade das novas formas de pensar, fazer e apresentar a poesia. A interdisciplinaridade antes objetivada pelos poetas visuais hoje em dia tornou-se muito mais fácil. Um poeta com suficiente domínio da linguagem tecnológica pode criar sozinho uma obra poética com sons e imagens, o que antes, para realizar, necessitava de uma parceria com um músico e um pintor, e ainda assim tinha a limitação do suporte para abranger a simbiose entre estas artes.
A pesquisa em poesia eletrônica ainda revela poucos referenciais históricos que a permitam qualificar exatamente em todas as suas características e engessar seu formato numa fórmula. Até mesmo as criações encontradas refletem o uso de diversas ferramentas operacionais diferentes, apresentando resultados imensamente diferentes, que vão do simples ao complexo, e do vago ao estruturado.
Isso se dá pelo fato de o início das atividades ter sido recente, e pelo próprio caráter da Internet, de se renovar constantemente e implementar seu formato. O que se pode constatar, finalmente, mesmo numa simples busca em sites de pesquisa, é que esse já é um fenômeno contemporâneo da poesia, que aparece como uma continuidade da produção poética e de todas as suas experimentações já vividas. Os poetas continuam ávidos para deixar sua marca na contemporaneidade e na história da poesia, e principalmente para fazer da poesia o que ela busca ser, seja com as ferramentas e suportes que forem: uma expressão dos sentimentos do autor.
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Anexo A - Cronologia da poesia eletrônica no Brasil
Por Jorge luiz Antônio
1964
Décio Pignatari relata duas experiências, em parceria com Luiz Angelo Pinto, a respeito de análise estatística do estilo literário por meio do computador.
1966
Erthos Albino de Souza usa o computador para levantar o vocabulário de autores como Gregório de Mattos, Pedro Kilkerry e Carlos Drummond de Andrade.
Pedro Xisto, Erthos Albino de Souza e Bernardo C. Kamergorodski publicam o “Vogaláxia”, utilizando linguagem de programação para a produção de poesia. Esse mesmo livro-poema foi transformado em espetáculo de multimídia na Universidade de Buffalo em março de 1968, no Festival de Primavera.
1968
Waldemar Cordeiro cria o “Beabá”, uma experiência artística e computacional com letras, em parceria com o físico Giorgio Muscati, da USP.
Dezembro - E. M. de Melo e Castro, poeta português que atua com freqüência no Brasil, cria a videopoesia “Roda Lume”, em preto e branco, nos estúdios da RTP.
1969
Gilberto Gil cria a letra da música “Cérebro eletrônico”.
1972
“Le Tombeau de Mallarmé”, de Erthos Albino de Souza (1932-2000), gráfico, poeta, engenheiro e editor da revista Código, que circulou de1974 a1989/1990, com doze números. É considerada como a primeira poesia computacional brasileira
1973/1974
Erthos Albino de Souza publica “Cidade/City/Cité” na revista Código. Trata-se de um poema visual feito com cartões perfurados e, depois, pintados.
1974
Mallarmé, tradução e estudos de Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos. Além do texto de Un Coup de Dés, em francês, numa separata, o livro contém dez variações do poema “Le Tombeau de Mallarmé”, datado de 1972, de Erthos Albino de Souza.
1978
Paulo Leminski publica “Poesia”, reunindo conceitos poéticos variados, entre os quais um que homenageia Erthos Albino de Souza.
1980
Silvio Roberto de Oliveira inicia suas experimentações poéticas com o computador, primeiro com um CP-200 e, depois, com um SHARP Hotbit.
Albertus Marques começa a trabalhar com um micro da IBM e a linguagem Basic, e a criar poemas em que as palavras formam sentidos múltiplos em aparições aleatórias programadas.
1982
“Não”, primeiro poema digital (eletropoesia ou poesia em videotexto) de Eduardo Kac.
- 5 de novembro - Daniel Lima Santiago, poeta, artista e performer, inicia suas experimentações poéticas com o computador, produzindo o “Soneto Só Pra Vê”, elaborado com o auxílio do programador Luciano Moreira, no Sistema Cobra 400/II, em Recife (PE).
1983
“Holo/olho”, primeira holopoesia de Eduardo Kac. O termo “holopoesia” foi cunhado pelo autor nesse mesmo ano.
Início das atividades de João Fernando de Oliveira Coelho, quando se aproximou do computador e dos manuais de BASIC, por curiosidade.
1984
Início do uso do computador Macintosh por Augusto de Campos.
Eduardo Kac inaugura o projeto “Eletropoesia” no Centro Cultural Cândido Mendes, RJ, no qual integra o display de eletrotela, o circuito interno de rádio e dois monitores de vídeo.
22 de novembro a 2 de dezembro – “Pulsar”, primeiro videopoema brasileiro, de Augusto de Campos, com música de Caetano Veloso, é apresentado na mostra Level 5, realizada no MASP e organizada por José Wagner Garcia e Mário Ramiro.
1986
Outubro – Participação de Augusto de Campos com o poema CODIGO no evento “Sky Art Conference”, organizado por Wagner Garcia, durante o qual mensagens artísticas via satélite foram enviadas entre São Paulo e os EUA (MAC-USP e CAVS-MIT), utilizando o sistema “slow scan”.
Dezembro - Holograma RISCO (projeto de Augusto de Campos, com arte-final de Julio Plaza e Omar Guedes, realização holográfica de Moysés Baumstein), na exposição TRILUZ, inaugurada em 2/12/86 no Museu da Imagem e do Som (SP).
1987
Primeiras experiências de Luís Dohlnikoff com poesia digital, usando um Macintosh, nas primeiras versões de PageMaker.
1987/1988
“Quando? / When?”, primeiro holopoema digital de Eduardo Kac.
1990
André Vallias cria o poema “Nous n’avon pas compris Descartes”.
Arnaldo Antunes começa a usar o computador para fazer um trabalho gráfico com poesia, o que resultou no livro Tudos (1993).
1992
Agosto - Realização de ilustrações gráficas computadorizadas de Augusto de Campos, em colaboração com Arnaldo Antunes, para o livro Rimbaud livre.
Janeiro de1992 amaio de 1994 - Trabalho desenvolvido no LSI - Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP, São Paulo, com o título de “Vídeo Poesia - Poesia Visual”. Seis poemas, que foram originalmente pensados na bidimensionalidade do papel e em preto e branco, fizeram parte desse projeto: “Bomba” e “SOS”, Augusto de Campos; “Parafísica”, Haroldo de Campos; “Femme”, Décio Pignatari; “Dentro”, Arnaldo Antunes; “O arco-íris no ar curvo”, Julio Plaza. O resultado final foi uma ediçãoem fita Betacamde todos os poemas.
1993
Arnaldo Antunes, Célia Catunda, Zaba Moreau e Kiko Mistrorigo publicam Nome, projeto que envolve vídeo de animações computadorizadas, cd e livro.
Neide Dias de Sá, uma das fundadoras do Poema-Processo, dá continuidade ao projeto Poemãos, iniciado anos anos 70 e que não se esgotou até os dias atuais, com o auxílio do computador. Nos anos 90, ela participa, com um grupo de seis artistas, da discussão sobre as possibilidades do uso das imagens digitais na arte. Foi uma troca de 180 imagens, que foram enviadas por CD-Rom e pela internet. Quando a troca de imagens foi finalizada, uma exposição aconteceu no SESC de Copacabana.
1995
Lucio Agra inicia a produção de poesia digital, com obras como Mais ou menos (1995-2001), poemas em disquete 3 ¼, depois em cd-rom, e o uso do Microsoft Powerpoint. A partir de de Explosão sem som (1995-2002), buscou tornar sistemática a pesquisa com meios digitais, impondo-a como exercício o uso de software que não fossem originalmente destinados à autoria, particularmente o Power Point. Seu sítio Agrarik tem início em 2002.
Segundo semestre - “Moebius”, primeiro poema digital feito por Alckmar Luiz dos Santos e Gilbertto Prado. Outras criações foram surgindo e formaram o sítio Poemas em computador.
Novembro – Philadelpho Menezes coordena na web o “Verso Universal”, um projeto de poema infinito que usa a potencialidade de expansão comunicativa das redes informacionais. O poema se desenvolve com a contribuição da cadeia de poetas de diferentes países, em diferentes línguas.
1995/1996
Poemas animados em Macintosh por Augusto de Campos.
1995-1997
Elaboração de .Gif poems: coletânea eletrônica de poemas visuais digitais, de Elson Fróes, publicado em cd-rom em 1996. O kit de acesso STI (ao sistema BBS, na época em uso no Brasil) foi publicado em cd-rom em 1997.
1996
Goulart Gomes - Fractais - primeiro livro virtual de poetrix, que se encontra atualmente acompanhado de Trix, Poemetos Tropi-kais, 27 poemas Powerpoint, de 1999.
Elson Fróes inicia a distribuição dos gif poems na BBS nº 1 e em cd-rom.
Junho – Blocos on Line: Portal de Literatura e Cultura, coordenado por Leila Míccolis e Urhacy Faustino, um ciberespaço de divulgação e um arquivo de diferentes tipos de poesia.
Outubro - EPE - Estúdio de Poesia Experimental – PUC-SP - coordenado por Philadelpho Menezes. Pesquisadores participantes: Alessandra Vilela, Ana Aly, Carolina Tenório, Marcus Bastos, Sabrina Rosa e Wilton Azevedo. Trata-se de um arquivo de poesias visuais, sonoras e digitais e de videopoesia.
Gilberto Gil cria a música e letra “Pela Internet”.
1997
“Clip-Poemas”, instalação com 16 animações digitais de Augusto de Campos, na exposição Arte Suporte Computador, na Casa das Rosas (SP).
Março a julho – Curso de Infopoesia e Poesia Sonora, na PUC SP, por E. M. de Melo e Castro.
18 a25 de junho - Exposição de uma seção de Infopoesias na Biblioteca Central da PUC SP, sob a curadoria geral de Ana Cláudia Mei Alves de Oliveira, e coordenação de E. M. de Melo e Castro.
Agosto a dezembro - Curso de Ciberpoéticas de Transformação e de Movimento – PUC SP - E. M. de Melo e Castro.
11 a18 de agosto – Exposição dos alunos do Curso de Infopoesia e Poesia Sonora (1º sem. 1997), PUC SP.
1997-1998
Cd-rom Interpoesia Poesia Hipermídia Interativa, de Philadelpho Menezes e Wilton Azevedo.
Primeiros videopoemas de Amarildo Anzolin, que foram reunidos em Única Coisa (2000).
1998
Maria Inês Simões cria seu primeiro poema - “C@lice Cibernético”.
Museu imagINário em eTERNo rETorno - Julio Plaza.
Primeiras poesias digitais de Fred Girauta, que foram reunidas no sítio Palavrórios, a partir de 2001.
Entrelinhas, de Vera Mayra (Ierecê Rego Beltrão).
Abril – “Do impresso ao sonoro e ao digital”, curadoria de Philaldelpho Menezes, SP, Paço das Artes. Foi apresentado o cd-rom Interpoesia: poesia hipermediática interativa, de Wilton Azevedo e Philadelpho Menezes.
5 a29 de maio - Exposição de Infopoesia e Animações Infográficas - Salão Vermelho do Campus Trujillo da Universidade de Sorocaba.
1999
Início de Acarambola, obra de aLe (Alexandre Venera dos Santos), poesia digital.
29 de junho - Rodrigo de Almeida Siqueira cria o sítio Projeto Poesia, uma obra poética coletiva e colaborativa, à semelhança do henka japonês, um poema de versos alternados entre diversos compositores.
Setembro – Lançamento do sítio oficial de Augusto de Campos na Universo OnLine, contendo biografia, poemas, sons, textos, links e clip-poemas.
2000
Hugo Pontes, autor do poema visual “Nós”, de 1978, em parceria com Victor Hugo Manata Pontes, apresenta a versão digital do poema para download.
Única Coisa, de Amarildo Anzolin, videocassete, cd e livro, com apresentação de Ricardo Corona, direção de vídeo de Marcelo Borges, direção musical de Lúcio Machado e projeto gráfico de Amarildo Anzolin e Renato Larini. São 33 videopoesias / poesias verbais no meio impresso / poesias sonoras.
Sígnica: um Balaio da Era Pós-Verso (Apesar do Verso), revista eletrônica elaborada pelos alunos da disciplina Poética e Criação de Textos, do Instituto de Artes da Unesp, Campus de São Paulo, do Prof. Omar Khouri. Foi idealizada em 1998 e lançada em 2000, sob a edição de Omar Khouri e Fábio Oliveira Nunes.
Maio - I Mostra Interpoesia – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.
Setembro – Criação da revista eletrônica Arte on Line, no Rio de Janeiro, editada inicialmente por Regina Célia Pinto, Marcelo Frazão e Paulo Villela, que depois da quinta edição (2002), se chamou Museu do Essencial e do Além Disso, edição de Regina Célia Pinto.
Novembro – Brazilian Digital Art and Poetry on the Web, coordenação de Jorge Luiz Antonio.
2001
A poética de Philadelpho Menezes / Philadelpho Menezes´s Poetics, filme dirigido por Jurandir Müller e Kiko Goifman, realização da Rede Cultura.
Outubro – II Mostra Interpoesia – Universidade Presbiteriana Mackenzie, Campus SP, organizada por Wilton Azevedo, Priscila Arantes e Jorge Luiz Antonio.
2001/2002
A Fundação Cultural de Curitiba promove, em 2001 e 2002, o Concurso Nacional de Clipoemas, idealizado por Décio Pignatari, com assessoria de Rosana Albuquerque e equipe.
2002
Carlos Vogt publica Ilhas Brasil, seu sexto livro de poesias, contendo um CD-Rom, com desenho e composição visual de João Baptista da Costa Aguiar e preparação da versão digital dos poemas,em programa Flash, de Evelina Azeredo Rios.
Panorama de arte e tecnologia no Brasil, pesquisa de Arlindo Machado, Silvia Laurentiz e Fernando Iazzetta, na qual consta o capítulo “Poesia e novas tecnologías”. – “E-poemas”, de Ferreira Gullar, por volta de 2002, animações digitais de cinco poemas, escritos e publicados em 1958.
16 de maio - Sítio da Imaginação, de Álvaro Andrade Garcia.
2003
I´m not book no! 2.0, palestra-performance de Lucio Agra, com uso de tecnologias computacionais, na Casa da Palavra,em Santo André.
Novíssima Canção do Exílio - Virtualidade Sabiá, de Regina Célia Pinto.
Novembro - Cortex Revista de Poesia Digital, edição de Lucio Agra, Thiago Rodrigues e Guilherme Ranoya, SP.
Artéria 8, revista editada por Omar Khouri e Fabio Oliveira Nunes, faz releituras digitais de poesia visual.
2004
Gabriela Marcondes inicia a produção de videopoesia a partir do aprendizado com o Macintosh, usando o programa LiveType.
Sérgio Monteiro de Almeida, passou a usar processos digitais para criação e divulgação de poesia a partir de 2000, cria uma série de poesias digitais com o PowerPoint.
5 a29 de agosto - Marcelo Mota faz uma exposição de dez poesias digitais no Centro Cultural Carlos Fernandes de Paiva, em Bauru.
2005
Quando assim termino o nunca, videopoesias de Wilton Azevedo em DVD.
Outubro - Projeto Di(per)Versões Eletrônicas (Brasi), de Patrícia Ferreira da Silva Martins, Frederico Assunção Martins e Wilton Cardoso Meira, poesia e computador, 44 colagens digitais, apresentação pública, com alguns computadores, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás.
4 a18 de novembro – Mostra Internacional de Poesia Visual e Eletrônica, curadoria de Hugo Pontes, Jorge Luiz Antonio e Roberto Keppler.
3 de novembro, a palestra-performance I´m not a book no 2.0, de Lucio Agra, no Museu da Energia, Núcleo de Itu, uma das atividades da Mostra Internacional de Poesia Visual e Eletrônica.
2006
Faixa compartilhada, A preferência é do Poeta, de Regina Célia Pinto, minilivro eletrônico de artista, em que poesia e imagens se tornam um trabalho hipermidiático.
Início de Estúdio U.N.D.E.R.L.A.B., de Wilton Azevedo.
7 abril - Nóisgrande Revista-Objeto Digital, concepção e organização de Fábio Oliveira Nunes.
21 de junho - Folha Online publica a série E-Poemas Inéditos.
Novembro - Kinopoems, de Sylvio Back, e-book (Cronópios Pocket books).
Dezembro - lançamento de 6X, em formato cd-rom e na rede, coletânea de poesias hipermidiáticas colaborativas e interativas organizada por Juliana Teodoro e Alexandre Venera, em Blumenau.
Dezembro - Condomínio Poético, organizado por Joesér Alvarez, projeto aberto de intervenção urbana / site specific que utiliza poemas em grande formato, apropriando-se da linguagem publicitária e propondo uma poesia não só para ler, mas também para olhar.
2007
Videopoesia “A$$alariado” - Goulart Gomes.
Guto Lacaz cria RG enigmático, a partir do poema “Tatuagem enigmática”, de Duda Machado, para a exposição Viagens de Identidades, na Casa das Rosas, SP.
Maio - Cânone, de Amarildo Anzolin, poesia verbal e videopoesia.
8 de maio – Ana Aly faz uma homenagem ao Dia do Artista Plástico, apresentando, em versão animada de Felipe Machado, o seu poema visual “Soma”, como tributo à poética de Philadelpho Menezes (1960-2000) e a Julio Plaza (1938-2003).
4 de dezembro - Trajetória Infopoética: Poeta Experimental E. M. de Melo e Castro, Academia de Ensino Superior, exposição organizada por Maria Virgilia Frota Guariglia, com exposição de infopoemas do homenageado, da organizadora e de alunos.