Podocarpus
Por Vlademir Nei Suato | 25/01/2015 | CrônicasVizinhos de ambos os lados têm uma planta esbelta e alta, como seria o sonho de todos caso pensássemos no corpinho... É óbvio que também quero, tanto a planta quanto o corpinho. Já que mexer na estatura é meio difícil nesta altura do campeonato, melhor correr atrás do arbusto.
Passei a procurar em sites de paisagismo e, depois de anos de pesquisa, descobri que a planta tem um nome simples: podocarpus. O problema é que há dois tipos e aí foram mais cem anos, não tão sozinho, para descobrir qual seria aquela igual a do vizinho; ainda mais que a grama do maldito é bem mais verde e cuidada que a minha!
Feita a pesquisa criteriosa, fui às compras. Tarde de sol de apenas quarenta graus com sensação duzentos e quarenta, dirigi-me ao Ceasa. Acreditam que fui em busca de sementes? Achei que pudesse cultivar a planta com muito amor desde o nascedouro, para que ficasse melhor que a do habitante da casa ao lado. Ilusão.
Não encontrei as sementes, apenas mudas e, ressalte-se, caras mudas.
Depois de negociar por horas infindas com o vendedor que relatou naquele dia estar meio atrapalhado com números, cheguei a um bom desconto. Não titubeei, comprei. Ao sair da loja, assim previu o profeta vendedor: eu profetizo que essas plantas irão vingar...
Seria preciso muita reza mesmo. Vamos pra frente.
Variáveis do problema: sol, muito sol, calor demais e vinte mudas de podocarpus em torrão para que eu me tornasse o fiel jardineiro.
Encontrei uma colega de trabalho no Ceasa e ela, sem querer, tornou-se testemunha da compra de uma escavadeira. O que eu não sabia é que aquele equipamento era muito frágil para um solo tão duro. Disso resultou mãos ferradas e cheias de bolhas, mas o pior estaria por vir.
Vinte mudas para um espaço de seis metros e meio. A dificuldade inicial foi o cálculo da distância das manequins. Na passarela teria de colocar três mudas por metro, segundo orientação do comerciante que, repita-se, no dia não estava bem com as contas. A minha dúvida era: se são três, a primeira é no marco zero e a terceira no marco de um metro. No entanto, o seu trio sucessor começaria onde? No marco zero não dava mais... Vida dura. Não segui a orientação do vendedor, em vez disso, achei melhor basear-me no seu testemunho de vida: eu não meço, vou no olho mesmo... Lá fui eu, olho aberto e olho fechado, de perto e de longe, acertando aquele desfile de podocarpus ao lado do muro... Imediatamente do outro lado do muro estavam os imponentes podocarpus do vizinho: altos, fortes, esguios.
Começando.
Haja pedra no terreno, que dureza! Trinta centímentros de profundidade, diâmetro de também uns trinta centímetros e lá se foi a primeira muda. Outro desafio apresentava-se, a planta ficava meio torta. Como endireitar para que ficasse ereta como a do q u e r i d o vizinho? Vira pra lá, vira pra cá, consegui (mais ou menos).
Sete plantadas. Mãos estourando. Sol escaldando.
Vamos, isso é só o começo, persevere. Serão vinte mudas, conforme determinou o mercador de plantas. Eu repetia esse mantra...
Plunct, plact, zum: chafariz!
Isso mesmo, estourei o cano. Por que não contratei um jardineiro?
Fiquei meio desnorteado. Passo um, desligar o registro, mas e se não parar a água? Senti contrações.
Ufa! Deu certo, a água cessou.
Sem saber muito o que fazer naquela sexta-feira fatídica, em férias, resolvi seguir com a plantação.
Acabei de fazer o buraco daquela que teria a função de, com suas raízes, abraçar o cano, e prossegui.
Plantei a vigézima e o que percebo ao olhar para o monte das mudas do podocarpus? O negociante havia me dado uma muda a mais, ou seja, vinte e uma!!!!! Ele tinha avisado que não estava bom nas contas naquele dia... E agora?
Enquanto pensava, fui comprar emendas e cola para o cano, evidentemente com a ajuda de universitários...
Depois de uma tarde de conflitos com as plantas e com os encanamentos, rendi-me e chamei o encanador, não sem antes encaixar a derradeira muda naquele desfile clorofilado.
Enfileiradas, miradas para cima, verdes entusiasmadas, desviando de pedras e rodeadas de muito esperança, assim ficou minha plantação de podocarpus...
Talvez também a minha vida....