PLATÃO (UM) DESCONHECIDO PARA NÓS

Por Alexandre Gazetta Simões | 13/09/2018 | Filosofia

PLATÃO (UM) DESCONHECIDO PARA NÓS

 

Platão escreve seus livros em forma de diálogos. Em tais diálogos, Sócrates, seu mestre, ocupa um papel central.

Seus diálogos são consubstanciados em perguntas. Suas perguntas são consubstanciadas em questionamentos viscerais. Tão viscerais que as respostas, quando alcançadas, após um processo cognitivo árduo e transformador, nunca são definitivas.

Assim, em um de seus diálogos, o Etífron, apresenta-se um dilema. Pergunta Platão: o correto é definido: i) como o que é ordenado pelos Deuses? ii) Os Deuses ordenaram o que é correto por si?

(....) Qual a resposta crível, fundada argumentativamente e filosoficamente?

Fato é que a maioria da humanidade vive em dolorosa ignorância, junto ao domínio das coisas sensíveis e longe do domínio das ideias, como explica Platão, no livro V, da República.

A infelicidade deriva da ignorância. A ignorância é a razão ignorada da infelicidade. Assim, por não se saber conhecer, e somente se saber ver, vive-se no domínio ilusório das coisas sensíveis.

Verdade maior: tudo o que é seu não te pertence! Assim, quando se irá perder tudo que lhe foi dado pelo mundo, ter seu valor naquilo que é transitório, é causa crescente de desespero e infelicidade; já que, dia a dia, perde-se algo de si (derivação estoica de matriz platônica).

Quer dizer, Platão, em uma abordagem pós-moderna (obvia) àqueles iniciados de outros tempos, que soa, hoje, descabida, pergunta: para que se valorizar tanto a juventude e a beleza, se ambos serão os primeiros atributos que iremos perder, pela ação devastadora do tempo em vida?

Assim, sem se falar da morte em si, aborda-se a morte em vida. Quando aquilo que nos faz ter vontade de estar vivo é externo à nossa condição espiritual. Se o ser está no ter, o existir (des)iste de ser. Ou pior, o ser existe?

A aptidão para ver e aptidão para conhecer, ou seja, o exercício da visão e exercício da razão e entre faculdade da visão e faculdade da razão é o dilema que nos apresenta o filósofo grego.

Assim, o que temos é uma relação entre o mundo visível e o mundo inteligível. No entanto, mundo visível é bem iluminado, facilmente perceptível, por suposto. O mundo das ideias é sútil, facilmente ignorado. Azar daqueles que não ousaram saber. O mundo iluminado das coisas sensíveis é o reflexo da realidade, encoberta pela penumbra significada “no invisível aos olhos”, como essência da realidade

A partir dessa constatação, pode-se afirmar que, durante a narração do mito (alegoria da caverna), a descrição metafóricas das fases de transmutação, pelas quais a visão do filósofo passa, tem a significação das fases pelas quais passa, na verdade, a sua razão cognitiva.

Antes da luz do sol, é preciso enfrentar a escuridão do fundo da caverna, quando nos afastamos da luz artificial das fogueiras, que aqueles que eram iguais a nós fizeram para que nós ficássemos imóveis, no lugar predeterminado a nós, na ordem das coisas social/institucional pré-constituída a nós.

Somente com muito esforço, e alguma dor, o sujeito (filósofo) atinge o conhecimento (episteme). O resto é publicidade sócio construtivista (ir)realista. (Ir)realidade (ir)racional de um mundo meticulosamente construído, sensitivamente, pelas imagens projetas em nossa consciência coletiva.