Plástico: a grande ameaça aos oceanos
Por Ricardo Ernesto Rose | 02/03/2018 | EcologiaO polímero sintético produzido a partir de derivados de petróleo e conhecido comumente como "plástico" teve seu uso popularizado depois da 2ª Grande Guerra. As pesquisas aumentaram a oferta de diferentes tipos de plástico, o que ampliou bastante seu campo de aplicação. Hoje seu uso se estende aos mais diversos setores da economia - infraestrutura, indústria, lazer e medicina, entre os principais. Dois dos setores da economia que mais se desenvolveram graças à popularização do plástico foram a indústria alimentícia e a de bens de consumo em geral.
Atualmente, a economia mundial produz aproximadamente 8,3 bilhões de toneladas de plástico de todos os tipos. Deste volume total, segundo estimativas, 9% são reciclados e 12% são incinerados - em grande parte para geração de energia. Os restantes 79% acabam em aterros, lixões ou, no pior dos casos, diretamente no meio ambiente. Os impactos do plástico ao meio ambiente são inúmeros, desde o entupimento de bueiros e canalizações, poluição de rios e lagos, até a formação de criadouros de mosquitos transmissores de doenças no ambiente urbano. Segundo um estudo elaborado pela ONU e publicado em 2014, os prejuízos ambientais relacionados ao plástico - as externalidades negativas, segundo os economistas - excedem os US$ 75 bilhões, dos quais 30% são referentes às emissões de gases de efeito estufa e à poluição durante a fase de produção.
No entanto, é nos oceanos que o plástico exerce seu maior impacto ambiental. Em 2010, quando se realizou o até agora mais completo estudo sobre o assunto, já se estimava que aproximadamente oito milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos anualmente. A maior parte deste volume de detritos não é jogada lá diretamente, mas carregada através dos rios. 90% de todo este plástico, apontam estudos, são jogados nos mares por dez rios: rio Yangtze (China); rio Indo (Paquistão); rio Amarelo (China); rio Hai (China); rio Nilo (Egito); rio Ganges (Índia); rio das Pérolas (China); rio Anum (Gana), rio Níger (Nigéria) e rio Mekong (Vietnã). Provavelmente, se fluísse em direção ao oceano Atlântico o rio Tietê também seria incluído nesta lista.
Todos estes rios têm algo em comum. Percorrem regiões densamente povoadas (e alguns países), que na maior parte dos casos não dispõem de serviços adequados de coleta de lixo e de reciclagem, aliado ao baixo nível da educação ambiental das populações. Na América Central ocorre um fato que, noticiado recentemente pelo site BBC Brasil, é um exemplo desta situação. O rio Motagua nasce na região Oeste da Guatemala e em seus últimos quilômetros, antes de desembocar no mar do Caribe, faz divisa com Honduras. O rio recebe descargas tão volumosas de lixo, que ao longo da região costeira, tanto da Guatemala quanto de Honduras, se estende uma imensa ilha de embalagens plásticas. Honduras acusa a Guatemala de ser o poluidor do rio porque os municípios guatemaltecos jogam nele seus resíduos. A Guatemala, por sua vez, também não quer assumir toda a culpa. A discussão entre os países continua.
O acúmulo de plástico nos oceanos começou a ser percebido como impacto ambiental a partir dos anos 1970. De lá para cá os indícios são cada vez maiores. A maior parte do plástico que vai para os oceanos acaba retornando às praias onde, se não recolhida, o resíduo pode permanecer por várias décadas, até se desfazer. No ambiente natural, os fatores que mais contribuem para a degradação do plástico são a luz do sol, o oxigênio e a água. No entanto, através deste processo de desintegração permanece um resíduo de micro ou nanopartículas do material, que podem causar grandes danos aos organismos.
A parte do plástico que, levada pelas correntes não retorna a terra, é muitas vezes confundida com alimento pelas diversas espécies que vivem no mar, causando acidentes no sistema digestivo e respiratório que muitas vezes resultam em morte. Em grandes quantidades e levadas pelas correntes este material se degrada transformando-se em uma "sopa concentrada" de pequenas partículas plásticas de tamanho menor que cinco milímetros.
Nas regiões onde ocorre o encontro de correntes marinhas, como no Pacífico Norte, na região do Caribe e na parte Sul dos oceanos Atlântico e Índico, a rotação das águas forma imensas ilhas de plástico, com centenas de quilômetros de extensão. A maior parte destas ilhas não é formada por resíduos grandes, como garrafas e potes de iogurte, mas por partículas que já sofreram um processo de desgaste, de poucos milímetros de tamanho e até menores. Existem evidências de que gradualmente estas partículas micrométricas afundam e juntam ao solo marinho. A maior destas formações até agora avistadas, a Grande Ilha de Lixo do Pacífico possui, segundo fontes talvez exageradas, um tamanho equivalente ao território dos Estados Unidos.
O problema está se tornando cada vez mais sério e as consequências a médio e longo prazo são imprevisíveis. É certo que o volume de plástico continuará aumentando cada vez mais e o tempo de degradação do material é relativamente longo, podendo variar de 50 anos, no caso de um copo de isopor, até 600 anos para a linha de pesca. Enquanto isso aumenta a quantidade de plástico finamente dissolvido na água, afetando toda a cadeia alimentar dos mares. Na Inglaterra, por exemplo, já foi constatado que um terço dos peixes capturados tem resíduos de plástico em seus tecidos, na forma de micropartículas.
Em dezembro de 2017 mais de 200 países presentes à Assembleia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Nairóbi, se comprometeram a reduzir gradualmente o descarte de embalagens plásticas nos oceanos. O problema, no entanto, é bem mais custoso e complicado do que parece, já que envolve a implantação de planos de gestão de resíduos em todos os municípios que tenham alguma ligação com o mar, como vimos acima.
O Brasil, segundo um estudo da revista Science de 2015, ocupa o 16º lugar entre os países mais poluidores dos oceanos. A pesquisa levou em conta o número de habitantes dos países vivendo em regiões litorâneas, o tamanho da costa e o nível de desenvolvimento dos programas de gestão de resíduos. É previsto que a partir desse ano (2018) as regiões metropolitanas já comecem a implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Sucessivamente, até 2022, todos os 5.570 municípios brasileiros deverão ter instaurado a política.