Pior que um cão sarnento
Por Moussa Simhon | 09/08/2012 | SociedadePior que um cão sarnento.
Olhe e recorde. Você que é sem teto, sem abrigo;
Perambulando de um local para outro de mão estendida.
Muitas vezes recebendo o adjetivo de vagabundo, alcoólatra, louco.
O que você escuta? O que lhe dizem as pessoas?
A rua está bastante movimentada, não atrapalhe, o semáforo abriu. Aqui não é sua casa
Olhe e recorde. Olhe para este céu;
Olhe mais adentro para o límpido azul aéreo,
O ilimitado, o têrmo do suplicante.
Fale então e fale à santificada cúpula.
O que você escuta? O que o céu lhe responde?
Os céus estão ocupados. Aqui não ê a sua casa.
Olhe e recorde. Olhe para este mar; Olhe mais abaixo para a incansável maré. O que há sobre a vida submersa, uma vida interior. Um túmulo, um berço na encaracolada espuma?
As ondas levantam-se; ò vento e o mar concordam: As águas estão ocupadas. Aqui não é a sua casa.
Olhe e recorde. Olhe para esta terra, Olhe mais e mais longe por entre fábrica e relva.
Lá, certamente, lá, deixarão você caminhar.
Fale então e pergunte à floresta e à marga.
O que você escuta? O que a terra lhe ordena? A terra está ocupada. Aqui não é a sua casa.
Olhe e recorde. Você é uma espécie, uma classe do infortúnio.
Sujo, exaurido e faminto, vasculha no lixão um pão.
Escuta a voz do guarda, que lhe ordena – sai daí! Aqui não é sua casa.