Peripécias de um menino que se recusava a crescer.
Por Luzimar Paiva | 31/07/2009 | SociedadeEm meio à comoção causada pela morte do "rei da música pop" recentemente (25-6-2009), li a biografia não oficial: Michael Jackson: a magia e a loucura, de J. Randy Taraborrelli. Segundo está explicado na obra, são trinta anos de pesquisas em noticiários e bibliotecas, além de centenas de entrevistas. Algumas delas com o próprio Michael Jackson. O autor elabora um mosaico com detalhes sobre a carreira do astro e, principalmente, seu histórico pessoal e familiar. Escrito de forma bastante atraente, o livro é bastante abrangente. Não há como se desvencilhar dele até o ponto final posto por Taraborrelli.
A pergunta que não sai da minha mente: Por que não consegui parar de pensar no Michael Jackson? Por que essa sensação de vazio com se tivesse perdido um ente querido muito próximo a mim? Por que o pesar de não ter estado perto para falar ou trocar segredos?
Nascida em 1965, adorava os Jackson Five, que despontaram no Brasil no longínquos anos 70 em apresentações e desenhos animados. Michael era uma garoto bonito de sorriso singelo, que arrasava ao lado de seus irmãos. Continuou fazendo parte da minha vida até os idos de 1996. Depois nos desvinculamos, seguimos os nossos caminhos: ele como um megastar da música norte-americana e eu assumi meu lugar no mundo adulto: trabalho, relacionamentos etc. Saber de sua morte tão repentina foi um susto! Algo inacreditável!
Ao debulhar a biografia, percebi algumas coisas que faziam com que me identificasse com ele. Negro, maravilhoso, sensual, apaixonado. Ele era grande! Cativante! A narrativa descreve sua personalidade, seus amores, seus percalços, sua família, sua sensibilidade. Simplesmente maravilhoso!
O que ele tinha a ver comigo? A sensibilidade, o isolamento, o medo, a fantasia, o limite no céu. Ele foi além, mergulhou e se esqueceu que não sabia nadar em algo desconhecido.
Rever suas fotos, seus clipes, sua dança, sua beleza, sua energia no palco foi uma redescoberta de mim mesma. Saber de sua intensidade, de seus medos, de suas fraquezas, aproximou-me dele. Percebi ali descrito um ser humano: cheio de neuroses, de medos, de quereres e de frustrações. Alguns conjeturaram acerca de sua vida; outros, acerca de sua morte. Pessoas mentiram, outras talvez tenham falado a verdade.
O que é o fenômeno Michael Jackson?
A criança prodígio que se perpetuou num homem com uma carreira relativamente longeva? A perspicácia de se camaleonar e se reinventar em gestos, caras e mudanças moldadas a bisturi? O estabelecimento de um mito perpetuado com mais de 750 milhões de discos vendidos em sua carreira? Os pecados e as mentiras forjadas para manter-se na crista da onda? A sensibilidade inata e cristalina que, de tão frágil, precisava se refugiar no "maravilhoso mundo de Michael": a Neverland, a Terra do Nunca? A inspiração para acreditar que numa sociedade segregacionista, as barreiras podiam ser rompidas e um novo tempo podia ser estabelecido?
Talvez todas essas coisas juntas amalgamem o mito Michael Jackson e massacrem o homem que se vê no espelho e não gosta do que se tornou: o homem por trás da máscara, triste, solitário e essencialmente humano.
Perceba isso, observando seu olhar nas fotos. Há uma tristeza patente e profunda. Choramingava a infância perdida... Mas e daí? Seria possível no final das contas separar o mito do homem?
O fato marcadamente certo em sua vida era a obstinação, a clareza em meio à loucura e a desdita de não aceitar-se humano e, portanto, falho e sujeito a erros.
Era virginiano de 25 de agosto de 1958, nascido em Gary, Indiana – nos Estados Unidos –, em uma família pobre, negra e numerosa em época de apartheid social. O que aquele garotinho esperava da vida? O que teria sonhado para si e sua família? Descobriu-se, ou descortinou-se, um cavalheiro, um homem delicado, frágil.
O que fascina mais: o poder da fragilidade ou a fragilidade do poder? Michael Jackson (ou para os tablóides ingleses Jacko Wacko – Jack Doido) é a superação que assusta e fascina.
Nós atacamos aquilo que não compreendemos e alvejamos aquilo que não podemos alcançar. Ele estava além do nosso entendimento, além do seu tempo e, portanto, não mereceu compreensão ou tolerância. Mas ele se foi... incompreendido, incompleto!
Ele buscava o perfeito, a Perfeição. Talvez a tenha encontrado agora que não está mais aqui. Adeus Michael!