Perdão e a "Lei de Gérson"

Por Edson Terto da Silva | 01/03/2011 | Crônicas


Edson Silva

Antes do artigo em si, talvez convenha explicar ao leitor mais jovem quem foi Gérson e o porquê da expressão "Lei de Gérson" para definir quem tenta levar vantagem em tudo e de qualquer maneira. Com ajuda da Wikipédia é possível saber que Gérson é carioca de Niterói, nasceu em 1941, e foi jogador de futebol (meio-campista) capaz de fazer lançamentos precisos de mais de quarenta metros. Ele destacou-se em equipes como Botafogo, Flamengo e Fluminense (do Rio) e no São Paulo FC. Na Seleção Brasileira de 70 (Tricampeã, no México), o jogador protagonizou lindos lançamentos, alguns aproveitados pelo Rei Pelé, que dominava a bola no peito, a fazia descer na grama e em seguida a mandava para o fundo do gol adversário.

Conhecido por "Canhotinha de Ouro", Gérson continuou "famoso" nos anos 70, mas ao protagonizar campanha publicitária de cigarros (o quê, convenhamos não foi politicamente correto para um atleta), na qual a mensagem era "Gosto de levar vantagem em tudo", resumindo suposta malandragem brasileira. E o que seria só bordão de propaganda, virou cultura popular e mesmo em época de pouquíssima liberdade de expressão, o jargão virou espécie de símbolo do "jeitinho" desonesto de ser e de corrupção, originando o que se chama de "Lei de Gérson". Vale frisar que o atleta lamentou publicamente, pois os supostos defeitos do povo brasileiro não combinariam com jeito de ser dele.

Dadas explicações sobre Gérson e a lei que leva injustamente o nome do ex-jogador, vamos à parte do perdão ou seria do pecado? Acredito que os dois. Eu já tinha ouvido a piada, mas recente a li e não teve como não associar com o lado pejorativo do levar vantagem em tudo. Após décadas sem ir numa igreja, o cara vai ao confessionário e diz ao padre que manteve um fugitivo de guerra escondido no porão de sua casa. O padre fala ao "bom samaritano" que aquilo não era pecado, era sim gesto humanitário, pois ele salvou uma vida.

Entre aliviado e sem jeito, o cara diz que não fez de graça, pois cobrou "aluguel" do refugiado. O padre muda o semblante e diz que assim a situação era diferente e que ele devia fazer penitência para ser perdoado. O cara parece achar justo, mas antes de sair do confessionário pergunta ao padre: "O pecado fica mais grave se eu confessar ao senhor que não contei pra ele que a Guerra acabou faz mais de 60 anos e continuo cobrando aluguel?" Cada um pode até pensar o que o padre deve ter dito pro cara...

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

edsonsilvajornalista@yahoo.com.br