PENSAMENTO EDUCACIONAL E MULTICULTURALISMO
Por Adilson Boell | 11/04/2010 | EducaçãoAdilson Boell
30/11/2007
RESUMO
O presente trabalho é uma singela tentativa de analisar, o sistema de ensino da ESCOLA MUNICIPAL PROFESORA ANA LÚCIA HIENDLMAYER. Nesta análise, levou-se em conta principalmente o projeto político pedagógico (PPP) da escola, o tipo de multiculturalismo ali identificado e ainda, se a escola estabelece algum tido de política educacional que se relaciona com as idéias de Marx, Bourdieu e/ou outros pensadores. As ferramentas de investigação utilizadas foram à análise bibliográfica e documental e as entrevistas, semi-estruturadas. Ao final deste estudo foi possível identificar além dos limites desta pesquisa, o esforço e o compromisso da maior parte dos educadores da escola estudada, com as melhorias no processo educacional.
Palavras-chave: Educação; Sistema de Ensino e Plano Político Pedagógico.
INTRODUÇÃO
Este estudo é mais uma tentativa de elencar elementos que possam auxiliar na construção de um maior entendimento sobre as concepções e tipos de práticas pedagógicas que permeiam os espaços escolares na atualidade. Pretende-se neste trabalho identificar a influencia do pensamento filosófico na condução das políticas educacionais da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER. Utilizou-se de uma metodologia de pesquisa qualitativa, com caráter explicativo para se buscar atingir os objetivos deste estudo
No presente trabalho fez-se um rápido histórico do perfil da escola e dos moradores da comunidade, em seguida, inicia-se a apresentação dos principais pontos do PPP, relacionando-os com os pensadores em questão e o multiculturalismo. Na parte final deste estudo são feitas as análises das entrevistas, seguidas das considerações finais.
PERFIL DA ESCOLA MUNICIPAL PROFESORA ANA LÚCIA HIENDLMAYER[1]
QUADRO DE PROFISSIONAIS
PROFESSORES:
NOME |
TURMAS |
Carmelita Mª Moser de Oliveira |
5 e 6 anos |
Márcia Feliciano Bachmann |
7 anos |
Andréia de Souza |
8 anos |
Michelle Gorgisk |
8 anos |
Cacilda Ângela Rudolf Dalponte |
9 anos |
Andréia de Souza |
10 anos |
Jucelma Germani |
Português |
Ademir Moretto |
Matemática |
Ademir Moretto |
Ensino Religioso |
Marli França |
Artes |
Catia Krug |
História |
Catia krug |
Geografia |
Josselene Walter |
Ciências |
Lúcia Helena de Oliveira Batista |
Educação Física |
Janice L. Giovanella Scipecz |
Educação Física |
Fabiana Zarling |
Educação Física |
Sullen Kretz |
Inglês |
NÚMERO DE EDUCANDOS
Número de Educandos: 197, dispostos em 11 turmas.
DIREÇÃO
Sherley Simone Jennerich Kubiack
SECRETÁRIA
Neuza Maria da Silva Schuck
COORDENADORA DE CICLOS
Roseli Schure
SERVENTES e MERENDEIRAS:
Isanete Maria Zabel e Eliete Silveira Bento
PERFIL DA COMUNIDADE[2]
Sentindo a necessidade de conhecer melhor a comunidade, a escola montou uma entrevista (todos os funcionários participaram da elaboração da mesma) que foi enviada a todas as famílias dos alunos.
Coletados os dados, passaram para o processamento e a interpretação dos mesmos, construindo o Perfil da comunidade que a escola está inserida (Bairro-Estrada das Areias/ loteamento Panini).
Das 110 famílias atendidas nesta Unidade Escolar:
l67,11% possuem casa própria.
l32,89% não possuem casa própria.
A sua Renda Familiar é de (Salário):
l1 a 3 – 55,26 %
l3 a 5 – 26,32 %
l5 a 7 – 13,16 %
l7 ou mais- 5,26 %
A Composição Familiar (Número de pessoas na família):
l3 pessoas- 19,74 %
l4 pessoas- 31,58 %
l5 pessoas- 21,05 %
l6 pessoas- 14,47 %
l7 pessoas ou mais- 13,16 %
Com quem moram os alunos:
lPais biológicos (pai e mãe)- 75 %
lOutros (avós, tios, pais adotivos,...)- 25 %.
Religião:
lCatólica- 76,32 %
lOutras- 23,68 %
CONCEPÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
Quando perguntados sobre qual o maior desafio e qual o papel do projeto político pedagógico, a direção da escola respondeu da seguinte forma: Há um grande desafio: O de contribuir com o transformar do nosso trabalho diário com nossa comunidade escolar, oportunizando em suas interações, tecendo seus conceitos.
Não podemos ignorar que diferentes processos históricos de constituição e desenvolvimento das sociedades humanas marcam a heterogeneidade dos modos de vida, a pluralidade nas expressões das relações sociais, a multiplicidade de culturas. É a idéia de culturas que permite assinalar a singularidade histórica social de um grupo.
Quanto ao papel do Projeto Político-Pedagógico é o plano global da nossa Unidade escolar, elaborado em um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoará e se concretizará na caminhada, que define claramente a ação educativa que se pretende realizar.
Será um instrumento para a intervenção e mudança da realidade, elemento de organização e integração da instituição. Buscando contribuir para a formação de seres humanos mais solidários, interativos, cooperativos e felizes.
O OBJETIVO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA ANA LÚCIA HIENDLMAYER
- Favorecer o desenvolvimento nos aspectos físico, motor, intelectual, criativo e social, complementando a ação da família e da comunidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Contribuir para que a interação e convivência na sociedade sejam produtivas e marcadas pelos valores de solidariedade, liberdade, cooperação, autonomia e respeito.
- Propiciar o desenvolvimento, resgatando seus valores culturais, situando-o como sujeito histórico e agente da construção do seu próprio conhecimento.
- Desenvolver a auto estima atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações.
- Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, desenvolvendo, valorizando hábitos de cuidado com a saúde e bem estar.
- Estabelecer vínculos afetivos, ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social.
- Ampliar e conhecer as relações sociais e culturais, aprendendo a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração.
- Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação.
- Brincar expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades.
- Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral, cênica e escrita) de forma a expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos.
ESCOLA MUNICIPAL PROFESORA ANA LÚCIA HIENDLMAYER E A COMUNIDADE
A escola está localizada junto ao loteamento PANINI, um loteamento onde existem diversas casas populares e a maioria da população é de origem humilde. Quase em sua totalidade a população do bairro está empregada; o que contribui para a melhor qualidade de vida das famílias. O lado negativo é que geralmente não é somente o marido ou a mulher que trabalha fora, geralmente são os dois. Este fato ocasiona que a família raramente tenha tempo para se reunir, ficando a educação dos filhos comprometida. Aponto este fato, pois como afirma Lahire. "As famílias e os indivíduos não se reduzem á sua posição de classe". O pertencimento a uma classe social, traduzido na forma de Habitus de classe, pode indicar certas posições mais gerais que tenderiam a ser compartilhadas pelos membros da classe. Cada família, no entanto, e, mais ainda, os indivíduos tomados separadamente, seriam os produtos de múltiplas escolhas e em parte, contraditórias influências sociais (Lahire, Charlot, 2000). Com certeza ele não deve ser desconsiderado na avaliação do aprendizado na escola em questão e nas relações sociais da comunidade.
Observando o quadro de professores que apresentamos neste trabalho podemos verificar que em vez de dividir os alunos em séries a Escola Ana Lúcia utiliza um sistema de agrupamento por idades, esta proposta nasceu nas administrações populares do Rio grande do sul e foi batizada de CICLOS.
Na proposta original, além do agrupamento por idades, a avaliação não é mais feita por meio de provas e notas mais sim de forma descritiva, descrevendo-se quais foram os avanços e retrocessos dos alunos avaliados.
Na experiência da Escola Ana Lúcia, a avaliação e feita das duas formas: da tradicional, através de provas e notas e de forma descritiva. A nota final do aluno é o mesclo destas duas propostas.
Entre professores e alunos não existe um consenso se a proposta é boa ou não, as opiniões estão divididas.
O preconceito étnico e racial embora esteja presente não é um fator determinante nesta escola, que tem no seu corpo administrativo e docente, direção e professores bem preparados, com uma visão aprofundada de escola democrática e popular, com suas raras exceções.
Quando perguntei à professora de artes Marli França, como era o tratamento da escola referente às questões étnicas e raciais, ela me respondeu: "devemos fornecer o apoio e os recursos necessários para que não haja assimetria e desigualdade nas oportunidades e no acesso aos recursos escolares". A forma de tratamento proposto pela professora Marli, identifica-se o proposto por pensadores como, Taylor (1994:64) "Para aqueles que têm desvantagens ou mais necessidade é necessário que sejam destinados maiores recursos ou direitos do que para os demais", e Bourdieu (1998, p. 53), que afirma que "Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais."
Perguntei ainda a professora Marli, o que ela entendia por multiculturalismo e que tipo de multiculturalismo ela defendia para a sua escola. Ela me respondeu:
"Entendo e defendo para a minha escola o tipo de multiculturalismo que questiona crítica e busca modificar as relações de discriminação existentes". Segundo Stuart Hall (2003) existe pelo menos seis tipos de multiculturalismo: conservador; liberal; pluralista; comercial; cooperativo e crítico. Entre estes tipos de multiculturalismo o que mais se identificou com a descrição da professora Marli, é o multiculturalismo crítico. Segundo Hall (2003:35) "O multiculturalismo crítico questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política". As formas de privilégios e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. "Apóia os movimentos de resistência e rebelião dos dominados".
Finalizei a entrevista perguntando à professora Marli se ela era adepta de alguma corrente de pensamento, e ela me respondeu de pronto, "sou Marxista convicta, para mim a prática é o único critério da verdade e o que importa não é somente entender o mundo, mas ter a capacidade de transformá-lo". De fato, em suas ultimas palavras verificamos a influência de Marx na forma de pensar desta professora "os filósofos se limitam a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa é transformá-lo (MARX E ENGELS, 1997, P. 128)".
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No geral a escola Ana Lúcia me pareceu bem organizada, com um quadro técnico competente e com vários investimentos por parte da prefeitura. Na escola está sendo construída uma nova área com quase 700m2, o que vai dobrar a capacidade da escola, além da ampliação do campo de futebol. A qualidade da merenda é muito boa e o controle é feito por uma nutricionista. Os alunos são tranqüilos, a comunidade apóia a direção e os professores da escola e têm orgulho que seus filhos estudem nesta escola municipal.
Tanto no Planejamento Político Pedagógico, quanto nas conversas com os professores e direção, não foi difícil verificar, que existe uma grande parte do quadro da escolar, que se interessa de fato com a qualidade do ensino da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER.
Sobre a pesquisa penso, são tantas intempéries que perpassam nossa atividade; são tantas variáveis; são tão curtos os prazos; tão grande o tempo gasto com explicações dos conceitos de um determinado autor; são tantos os feudos; a política inevitável; as exigências de nossa escolha; o compromisso institucional; a afinidade a corrente teórica que nos forma que acaba sobrando pouco espaço para tentarmos encontrar a resposta para as questões que permeia o nosso trabalho. Talvez esta seja uma de minhas suposições: o reconhecimento do limite de nossa pesquisa não tem sido suficiente para superá-lo, mas sim para acatá-lo.Bourdieu afirma a este respeito "Penso que, em sociologia, muita gente trabalha em caixas vazias Porque o essencial dos fatores explicativos está do lado de fora, muito longe. Por exemplo: você estuda os problemas escolares num subúrbio, mas o problema está na escola nacional de administração (ENA). Se você estuda violência numa favela ou num subúrbio de Amsterdã, o problema pode estar no FMI. Sei que estou exagerando, mas acredito que é preciso chamar a atenção para esses fatos (BOURDIEU, 2002, p.33)".
Apesar dos esforços individuais como o da escola Ana Lúcia, os problemas da educação não poderão ser resolvidos se pensados individualmente, e sem levar em consideração vários fatores de ordem social e econômica, de qualquer forma a pesquisa demonstra, seus próprios limites e que muito ainda precisa ser feito para se transformar a realidade da educação no nosso país.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A reprodução. Rio de janeiro: Francisco Alves, 1992.
BOURDIEU, Pierre. "Campo intelectual e projeto criador". In: POUPOLLON, Jean (org.) Problemas do estruturalismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber. Elemento para uma teoria. Porto alegre: Artmed, 2000.
LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares,as razões do improvável. São Paulo: Ática, 1997.
NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI. A. M.. Uma sociologia da produção do mundo cultural e escolar. In: BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998 (6º ed.: 2004), p. 7-15.
[1] Todas as informações contidas neste item foram gentilmente cedidas pela direção da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER
[2] Todas as informações contidas neste item foram gentilmente cedidas pela direção da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER